sexta-feira, 23 de março de 2012

A HORA DA DEMOCRACIA NO ACRE

POR ISRAEL SOUZA

A hora oficial do Acre voltou ao debate com força renovada. A Frente Popular do Acre (FPA), através do senador Aníbal Diniz (PT), propôs novo referendo para decidir se a hora oficial do estado volta ao que era ou se fica como está.

O tema é delicado. Quando o então senador Tião Viana (PT-AC) mudou a hora sem consultar a população, a coisa fedeu. Quando veio o referendo proposto pela oposição, a população desfez o que o senador fez. Então, como sabemos, o referendo foi jogado na lata do lixo. A coisa fedeu um pouco mais. Agora essa. Novo referendo... A coisa vai feder ainda mais.

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Para nós, o tema é emblemático sobre a situação da democracia no Acre. Ficou claro que democracia, para a FPA, é o resultado de um pleito que lhe é favorável.

Consideremos, hipoteticamente, que a proposta de outro referendo seja aprovada e que o resultado desse outro referendo seja igual ao primeiro. Quem garante que também este não será desrespeitado? Talvez fique a FPA a propor referendos sem fim, até conseguir o resultado que ela acha “democrático”, isto é, que lhe favoreça.

Há, contudo, a possibilidade de que a FPA saia vitoriosa em outro referendo. Certamente, dessa vez, ela dispensaria muito mais tempo e esforços para isso. Além do mais, a força do hábito que, no primeiro momento, foi-lhe desfavorável, agora, já passado bom tempo desde a mudança da hora, poderia pesar a seu favor.

Mas também pode ser que não. Pode ser que o eleitor bem guarde a proporção do desrespeito à sua vontade que isso representa e opte, mais uma vez, pela hora como era. De qualquer forma, independentemente do resultado, a proposta de outro referendo representa, já, uma derrota para a democracia no Acre.

A FPA parece obstinada a acumular trapalhada sobre trapalhada. Em que outro momento mostrou-se ela mais antipopular como agora? Em que outro momento ela jogou tanto contra si mesma? Quando, nesses últimos doze anos, fomos tão tentados a pensar que a única saída para a democracia seria tirar o poder estatal da coalizão?

E mais: se não respeitaram o resultado das urnas sobre o referendo, aceitarão perder a prefeitura de Rio Branco ou o governo do Estado que, politicamente, pesam bem mais?

Mais do que por virtude própria, a oposição tem crescido em cima disso. Sim. Infelizmente, muitos são os que passaram a ver nela uma alternativa.

Alegra-nos, porém, que a população volta outra vez a se organizar, a protestar e reivindicar seus direitos por fora de partidos e sindicatos. Parece buscar nas ruas a força que lhe falta nas urnas.

Nosso tempo é, assim, um misto de sombra e luz. O momento é de desconstrução e construção. Parece ideal para um acerto de conta com a história. Acertemos nossos ponteiros. É hora da democracia no Acre.

Israel Souza é cientista social, membro do Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental (NUPESDAO) e do Movimento Anticapitalista Amazônico (MACA). Escreve no blog Insurgente Coletivo.

3 comentários:

Albuquerque disse...

"Infelizmente, muitos são os que passaram a ver nela uma alternativa."
Frase infeliz nesse bom texto Israel, mostra seu preconceito pela oposição. Há na oposição pessoas capacitadas.

alisson disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pimenta de Cheiro disse...

Caro Altino

Acompanho a discussão sobre o fuso horário do Acre.Aproveito a oportunidade para informar que o relator da matéria,a pedido de senadores do Acre,retirou o projeto para que seja realizada uma audiência pública à respeito.Vamos aguardar e torcer para que prevaleça a decisão da população.

Sandra Regina