POR ISRAEL SOUZA
A hora oficial do Acre voltou ao debate com força renovada. A Frente Popular do Acre (FPA), através do senador Aníbal Diniz (PT), propôs novo referendo para decidir se a hora oficial do estado volta ao que era ou se fica como está.
O tema é delicado. Quando o então senador Tião Viana (PT-AC) mudou a hora sem consultar a população, a coisa fedeu. Quando veio o referendo proposto pela oposição, a população desfez o que o senador fez. Então, como sabemos, o referendo foi jogado na lata do lixo. A coisa fedeu um pouco mais. Agora essa. Novo referendo... A coisa vai feder ainda mais.
Leia mais:
O PT precisa aprender a perder
Coice na democracia
Para nós, o tema é emblemático sobre a situação da democracia no Acre. Ficou claro que democracia, para a FPA, é o resultado de um pleito que lhe é favorável.
Consideremos, hipoteticamente, que a proposta de outro referendo seja aprovada e que o resultado desse outro referendo seja igual ao primeiro. Quem garante que também este não será desrespeitado? Talvez fique a FPA a propor referendos sem fim, até conseguir o resultado que ela acha “democrático”, isto é, que lhe favoreça.
Há, contudo, a possibilidade de que a FPA saia vitoriosa em outro referendo. Certamente, dessa vez, ela dispensaria muito mais tempo e esforços para isso. Além do mais, a força do hábito que, no primeiro momento, foi-lhe desfavorável, agora, já passado bom tempo desde a mudança da hora, poderia pesar a seu favor.
Mas também pode ser que não. Pode ser que o eleitor bem guarde a proporção do desrespeito à sua vontade que isso representa e opte, mais uma vez, pela hora como era. De qualquer forma, independentemente do resultado, a proposta de outro referendo representa, já, uma derrota para a democracia no Acre.
A FPA parece obstinada a acumular trapalhada sobre trapalhada. Em que outro momento mostrou-se ela mais antipopular como agora? Em que outro momento ela jogou tanto contra si mesma? Quando, nesses últimos doze anos, fomos tão tentados a pensar que a única saída para a democracia seria tirar o poder estatal da coalizão?
E mais: se não respeitaram o resultado das urnas sobre o referendo, aceitarão perder a prefeitura de Rio Branco ou o governo do Estado que, politicamente, pesam bem mais?
Mais do que por virtude própria, a oposição tem crescido em cima disso. Sim. Infelizmente, muitos são os que passaram a ver nela uma alternativa.
Alegra-nos, porém, que a população volta outra vez a se organizar, a protestar e reivindicar seus direitos por fora de partidos e sindicatos. Parece buscar nas ruas a força que lhe falta nas urnas.
Nosso tempo é, assim, um misto de sombra e luz. O momento é de desconstrução e construção. Parece ideal para um acerto de conta com a história. Acertemos nossos ponteiros. É hora da democracia no Acre.
Israel Souza é cientista social, membro do Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental (NUPESDAO) e do Movimento Anticapitalista Amazônico (MACA). Escreve no blog Insurgente Coletivo.
A hora oficial do Acre voltou ao debate com força renovada. A Frente Popular do Acre (FPA), através do senador Aníbal Diniz (PT), propôs novo referendo para decidir se a hora oficial do estado volta ao que era ou se fica como está.
O tema é delicado. Quando o então senador Tião Viana (PT-AC) mudou a hora sem consultar a população, a coisa fedeu. Quando veio o referendo proposto pela oposição, a população desfez o que o senador fez. Então, como sabemos, o referendo foi jogado na lata do lixo. A coisa fedeu um pouco mais. Agora essa. Novo referendo... A coisa vai feder ainda mais.
Leia mais:
O PT precisa aprender a perder
Coice na democracia
Para nós, o tema é emblemático sobre a situação da democracia no Acre. Ficou claro que democracia, para a FPA, é o resultado de um pleito que lhe é favorável.
Consideremos, hipoteticamente, que a proposta de outro referendo seja aprovada e que o resultado desse outro referendo seja igual ao primeiro. Quem garante que também este não será desrespeitado? Talvez fique a FPA a propor referendos sem fim, até conseguir o resultado que ela acha “democrático”, isto é, que lhe favoreça.
Há, contudo, a possibilidade de que a FPA saia vitoriosa em outro referendo. Certamente, dessa vez, ela dispensaria muito mais tempo e esforços para isso. Além do mais, a força do hábito que, no primeiro momento, foi-lhe desfavorável, agora, já passado bom tempo desde a mudança da hora, poderia pesar a seu favor.
Mas também pode ser que não. Pode ser que o eleitor bem guarde a proporção do desrespeito à sua vontade que isso representa e opte, mais uma vez, pela hora como era. De qualquer forma, independentemente do resultado, a proposta de outro referendo representa, já, uma derrota para a democracia no Acre.
A FPA parece obstinada a acumular trapalhada sobre trapalhada. Em que outro momento mostrou-se ela mais antipopular como agora? Em que outro momento ela jogou tanto contra si mesma? Quando, nesses últimos doze anos, fomos tão tentados a pensar que a única saída para a democracia seria tirar o poder estatal da coalizão?
E mais: se não respeitaram o resultado das urnas sobre o referendo, aceitarão perder a prefeitura de Rio Branco ou o governo do Estado que, politicamente, pesam bem mais?
Mais do que por virtude própria, a oposição tem crescido em cima disso. Sim. Infelizmente, muitos são os que passaram a ver nela uma alternativa.
Alegra-nos, porém, que a população volta outra vez a se organizar, a protestar e reivindicar seus direitos por fora de partidos e sindicatos. Parece buscar nas ruas a força que lhe falta nas urnas.
Nosso tempo é, assim, um misto de sombra e luz. O momento é de desconstrução e construção. Parece ideal para um acerto de conta com a história. Acertemos nossos ponteiros. É hora da democracia no Acre.
Israel Souza é cientista social, membro do Núcleo de Pesquisa Estado, Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental (NUPESDAO) e do Movimento Anticapitalista Amazônico (MACA). Escreve no blog Insurgente Coletivo.
3 comentários:
"Infelizmente, muitos são os que passaram a ver nela uma alternativa."
Frase infeliz nesse bom texto Israel, mostra seu preconceito pela oposição. Há na oposição pessoas capacitadas.
Caro Altino
Acompanho a discussão sobre o fuso horário do Acre.Aproveito a oportunidade para informar que o relator da matéria,a pedido de senadores do Acre,retirou o projeto para que seja realizada uma audiência pública à respeito.Vamos aguardar e torcer para que prevaleça a decisão da população.
Sandra Regina
Postar um comentário