sábado, 30 de abril de 2011

RELATÓRIO DENUNCIA SITUAÇÃO DA PF NO ACRE


Recheado com documentos e fotos, relatório da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) classifica como “calamitosa” as condições de trabalho da Polícia Federal no Acre, onde os postos e delegacias na fronteira com Peru e a Bolívia operam com precariedade em decorrência da falta de telefone, agentes, carros e até coletes.

O diretor de Relações do Trabalho da Fenapef, Francisco Sabino, encaminhou denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) e aos congressistas do Estado.

Segundo o relatório, a situação da PF no Estado não difere muito do quadro de abandono em que se encontram dezenas de unidades e delegacias Brasil afora.

Sabino e o presidente do Sindicato dos Policiais Federais no Acre, Guilherme Delgado Moreira, visitaram delegacias e postos da PF.

O superintende da Polícia Federal no Acre, José Carlos Calazane, contesta o relatório.

- Existem muitas meias verdades na denúncia - afirmou Calazane.

No extremo-oeste

Cruzeiro do Sul, no extremo-oeste do país, é considerada uma cidade importante na rota do narcotráfico. Segundo a Fenapef, o plantão da delegacia da PF, durante grande parte do dia e da noite, não conta com presença de um policial federal.

Por volta das 12 horas, o agente de plantão passa o comando do seu posto a um vigilante de empresa terceirizada. Acompanhado de um policial militar, o agente segue para o aeroporto, onde realiza a fiscalização dos vôos.

É o policial militar quem executa a tarefa de fiscalizar as bagagens e opera o aparelho de raio-X instalado na sala da Polícia Federal, enquanto o agente da PF trabalha nos trâmites imigratórios.

Neste caso, o relatório da Fenapef critica, além da falta de funcionários, a execução das tarefas por um policial militar despreparado para a tarefa porque não teve formação adequada para tal finalidade.

Isolamento

No município de Santa Rosa do Purus, a 300 quilômetros de Rio Branco, a capital do Estado, acesso mais fácil até a cidade é de avião. O vôo demora 1h15. A viagem de barco dura em média 12 horas.
O posto da PF está localizado às margens do Rio Purus, tendo de um lado o Brasil e do outro o Peru.

Como se trata de local de difícil acesso, a Fenapef assinala que está errado quem imagina que sejam abundantes os recursos disponíveis aos policiais para o enfrentamento ao crime.

Apenas um agente federal fica no posto para fazer frente ao narcotráfico, à guerrilha, ao tráfico de armas e, ainda, cuidar da imigração. O policial não conta com nenhuma retaguarda do Estado.

- A única proteção que ele tem é a divina - afirma Sabino.

A Fenapef denuncia que o único meio de transporte da PF na cidade é um veículo que está quebrado. O único meio de comunicação é um telefone, que só pode fazer, “chamadas a cobrar”.

Na fronteira Brasil-Bolívia

Apesar das boas condições, a delegacia da PF em Epitaciolândia, a 235 quilômetros de Rio Branco, a situação não é diferente. O material a serviço dos policiais é considerado precário. A cidade é separada pelo Rio Acre de Cobija, capital do departamento boliviano de Pando.

O posto da PF conta apenas com três policiais para cuidar de um lugar por onde entram imigrantes paquistaneses e haitianos. Os agentes fazem apenas o controle imigratório. Segundo relatório, não há controle ou repressão ao tráfico e outros crimes.

- Considerando que aquela é uma fronteira com um país considerado o segundo maior produtor de cocaína no mundo, é no mínimo estranho que a Polícia Federal não reforce esta linha de contenção aos criminosos.

O relatório da Fenapef alerta sobre a rota alternativa de Brasiléia, outra cidade acreana separada de Cobija apenas pelo Rio Acre:

- Mas se o traficante quiser andar um pouco mais, pode entrar no Brasil por Brasiléia onde um único posto da Receita Federal marca a presença do estado. Um prato cheio para a bandidagem que atua na fronteira.

Nas três fronteiras

O relatório da Fenapef afirma que o Brasil, em termos de combate ao narcotráfico com países produtores e distribuidores, está 100% ineficaz, pois desconhece a porta de entrada para armas, drogas e contrabando.

A 100 quilômetros de Epitaciolândia, está a sede Assis Brasil, na fronteira com o Peru e a Bolívia. Do outro lado do Rio Acre está a cidade de Iñapari, no Peru.

Apenas três agentes federais fazem o procedimento imigratório. Além deles, a Receita Federal e alguns membros da Policia Militar, cujas atribuições não preveem fiscalização de fronteira, fazem a verificação dos veículos que por ali transitam.

Segundo a Fenapaf, a ineficácia, não pode ser atribuída aos policiais que estão nas fronteiras do país, mas à administração federal.

Plácido de Castro

A Fenapef visitou o posto da PF de Plácido de Castro, a 100 quilômetros de Rio Branco. Do lado boliviano, o município de Puerto Evo Morales. Segunda a organização, o posto situa-se a um quilômetro da fronteira, quando deveria estar na fronteira.

O absurdo chega ao ponto de o posto ter horário de funcionamento, afirma a Fenapaf. Das 8 horas às 18 horas, dois policiais se dedicam única e exclusivamente ao controle imigratório. Segundo fontes ouvidas pela Fenapef, além do tráfico de cocaína, o contrabando de cigarros é intenso na região.

A Fenapef assinala que, mesmo arriscando as próprias vidas, os dois agentes efetuam prisões e apreendem cocaína e contrabando. Os dois policiais têm à disposição para as “operações” uma viatura Blazer cujo ano de fabricação é 2001, sem qualquer tipo de manutenção e que “deveria estar num museu”.

Superintendente contesta denúncias

O superintende  José Carlos Calazane disse que policiais federais estão atuando nos postos de fronteira juntamente com a Força Nacional da Secretaria Nacional de Segurança Pública. Na avaliação dele, tem havido, nos últimos anos, aumento do efetivo da Polícia Federal e melhorias das condições de trabalho dos agentes no Acre.

- Dizer que os coletes balísticos estão vencidos há mais de três anos e que isso parece norma é outra meia verdade. Alguns coletes estão vencidos porque tem prazo de validade. Já solicitamos à Brasília que fosse autorizada a compra de novos coletes. A direção da Polícia Federal já nos comunicou que será feita uma grande licitação e que o Acre vai receber um lote expressivo de coletes para seus agentes.

Calazane disse que foi surpreendido pelas denúncias e admitiu que a superintendência da PF no Acre enfrenta carências.

- Temos carências, claro, mas não estamos em situação calamitosa. É uma injustiça dizer que a nossa administração é ineficaz no combate aos crimes por conta dessas carências. Constantemente, em todos os postos mencionados como calamitosos, temos agido e conseguido aumentar o numero de prisões e apreensões.

Calazane acrescentou que o relatório da Fenapef não dispõe de nenhuma foto que realmente demonstre situação calamitosa dos postos da PF na região de fronteira com Peru e Bolívia.

- Nós evoluímos tanto nos últimos que em quatro postos contamos com sistema de raio-x para averiguar o transporte de bagagem de passageiros. Não quero me manifestar sobre os motivos políticos que possam ter impulsionado pessoas a agirem dessa maneira.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

VOTAÇÃO DO CÓDIGO FLORESTAL

Marina Silva

O presidente da Câmara dos Deputados, deputado Marco Maia, disse à imprensa que colocará o relatório do Deputado Aldo Rebelo que propõe mudanças viscerais  no Código Florestal Brasileiro em votação na próxima terça-feira, dia 3 de maio. O relator confirma que apresentará o texto final na próxima segunda-feira, dia 2, para que a votação ocorra no máximo até quarta-feira, dia 4. Sem tempo para a sociedade analisar e se manifestar sobre a proposta.

A falta de transparência e o açodamento na votação não são coerentes com a democracia em que vivemos, com a importância e o aprofundamento que o tema merece. Não existe consenso ainda na proposta defendida pelo relator. Por isso, mais uma vez, é necessário que os cidadãos se manifestem sobre o que está sendo feito em seu nome.

O Código Florestal diz respeito a todos nós. É a principal lei que protege nossas florestas e biodiversidade. Já perdemos 93% da Mata Atlântica, mais da metade do Cerrado e da Caatinga e quase 20% da Amazônia. As perdas de florestas são tão assustadoras em todo o mundo que a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu 2011 como o Ano Internacional das Florestas. A intenção é fazer uma convocação aos governos, empresários e cidadãos do mundo para a responsabilidade de recuperar as áreas já degradadas e  protegermos adequadamente o que ainda nos resta.

Padecemos também de graves problemas de contaminação dos rios e aquíferos por agrotóxicos e adubação excessiva. E para piorar, a maior parte de nossa contribuição para o agravamento da crise climática vem da forma como produzimos carne e grãos, ou seja, de como usamos nossas terras e florestas. Fontes que respondem por quase 70% das emissões de gases de efeito estufa.

Na última década conseguimos importantes conquistas na luta contra o desmatamento. O ritmo de destruição da Amazônia caiu cerca de 70% nos últimos seis  anos, evitando que fossem lançadas na atmosfera mais de quatro bilhões de toneladas de CO2. Em decorrência disso, o Brasil pode criar uma Política Nacional de Mudanças Climáticas e assumir compromissos de redução das emissões de gases de efeito estufa. Metas assumidas pelo Brasil na Conferência de Copenhagen pelo próprio Presidente Lula.

Mas esses promissores resultados são apenas o começo de uma mudança gigantesca que precisamos fazer para conseguir desenvolvimento com sustentabilidade. Podemos fazer nossa economia crescer, mas sem destruir nosso meio ambiente. E a maior garantia que a sociedade pode ter de que continuaremos avançando é a existência de uma forte governança ambiental no país, da qual o Código Florestal é o principal esteio. Ele estabelece os limites para o uso do nosso solo, de modo a permitir que todas as atividades econômicas possam acontecer de forma cuidadosa para preservar a qualidade de vida de todos nós e das próximas gerações.

No lugar de discutir a atualização do Código Florestal para diminuir a proteção das florestas e conferir anistias aos que descumpriram a lei, deveríamos debater uma política florestal que melhore a proteção das florestas, que crie políticas de incentivo para promover o desenvolvimento do setor agrícola e florestal e a geração de empregos e melhoria da renda no setor rural numa escala muito maior. E, obviamente, discutir os ajustes necessários e as políticas de apoio para que os produtores possam superar os passivos ambientais e para que nossa agricultura possa ganhar em qualidade.

Somos uma potência ambiental, detemos mais de 20% das espécies vivas conhecidas, 11% da água doce e a maior floresta tropical do mundo, que produz mais de 20 bilhões de toneladas de água por dia, além de uma rica diversidade de biomas. É essa riqueza natural que nos permite ser um dos campeões mundiais de produção agrícola.

Não podemos decidir sobre o futuro de nosso desenvolvimento dessa forma. A dificuldade de se chegar a um consenso entre o governo e o relator do projeto, a falta de transparência e participação social com que ambos estão discutindo demonstram, claramente, a falência desse tipo de negociação. Os cientistas nacionais estão clamando por participação, assim como os agricultores familiares, entidades ambientalistas e profissionais de vários setores.

Todas essas razões me levam a fazer um apelo à Presidente Dilma Rousseff e aos deputados pelo adiamento, por alguns meses, da votação anunciada para a semana que vem. Para tanto, poderíamos adiar o prazo de averbação da reserva legal previsto para 11 de junho, de forma que tenhamos um ambiente menos açodado para o diálogo.

Marina Silva, 53, ex-senadora do Acre pelo PV, foi candidata do partido à Presidência da República em 2010 e ministra do Meio Ambiente do governo Lula (2003-2008)

HILDEBRANDO JULGADO EM ÚLTIMO PROCESSO

Ex-deputado ainda responde no Piauí denúncia de ter degolado assassino do irmão dele


Preso há 14 anos por liderar um grupo de extermínio e por envolvimento com o narcotráfico, o coronel aposentado da Polícia Militar do Acre e ex-deputado Hildebrando Pascoal voltará ao banco dos réus na segunda-feira (2), quando será julgado em Rio Branco no último processo que tramita contra ele na justiça do Estado.

O ex-deputado responde pelos crimes de seqüestrado e cárcere privado contra Clerisnar dos Santos, mulher de José Hugo Alves Júnior, o Mordido, que matou a tiros o tenente da PM Itamar Pascoal, em 1996, por desavenças envolvendo dinheiro de propina para libertação de um traficante.

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Clerisnar, que morreu há 10 anos, foi seqüestrada juntamente com dois filhos. A mulher e as crianças ficaram três dias em poder do bando liderado por Pascoal. Ela foi amarrada e espancada para que revelasse o destino de José Hugo após o assassinato do imão do ex-deputado.

Após os dias de tortura, no quartel da Polícia Militar e na casa de Hildebrando Pascoal, a mulher e os filhos foram embarcados em avião com destino a São Paulo, acompanhados pelo policial Manoel Maria Lopes, o Coroinha, um dos homens mais violentos do bando liderado pelo ex-deputado.

Clerisnar e os filhos foram resgatados e Coroinha preso pela polícia de São Paulo logo que desembarcaram graças a ação de procuradores do Ministério Público Federal. O bando estava presente em todas as esferas da vida pública do Acre e ameaçava de morte quem surgia no caminho.

O coronel aposentado Aureliano Pascoal Duarte Pinheiro Neto, primo de Hildebrando, comandava a Polícia Militar. Além de Aureliano, foram acusados de participação direta no seqüestro o ex-sargento da PM, Alex Fernandes Barros, o soldado Marco Antonio César da Silva e o empresário Nei Ari Bandeira Roque.

Os irmãos Arelc e Hávila César Santos Alves, filhos de Clerisnar, atualmente com 22 e 25 anos de idade, possivelmente serão apresentados pelo Ministério Público do Acre como testemunhas de acusação.

O último processo contra Hildebrando Pascoal foi aberto em 1999. A defesa tentou impedir o julgamento sob a alegação de que a justiça teria perdido prazos. O juiz Leandro Gross, titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio, indeferiu o pedido de extinção da punibilidade.

Segundo o magistrado, os prazos que constam no processo são inferiores ao previsto para a prescrição da pretensão punitiva, não havendo lapso temporal para o reconhecimento da prescrição em abstrato.

Hildebrando Pascoal ainda falta ser julgado na Justiça do Piuaí, onde é acusado de ter degolado o assassino do irmão dele com uma faca.

De acordo com a denúncia do Ministério do Piauí,  José Hugo Alves Júnior foi localizado e seqüestrado por Hildebrando Pascoal, em janeiro de 1997, na fazenda Itapoã, no município de Parnaguá. De lá, foi levado para o município de Formosa do Rio Preto (BA), onde foi torturado e assinado, sem chances de defesa e com requintes de crueldade.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

FRIGONORTE ASSINA ACORDO COM MP

Frigorífico de Cruzeiro do Sul é o primeiro do Acre a ajustar a conduta em defesa da pecuária sustentável

O frigorífico Frigonorte, de Cruzeiro do Sul (AC), assinou, nesta quinta-feira (28), acordo judicial no âmbito da ação civil pública movida para impedir que as empresas processadoras de carne bovina continuassem a comercializar carne oriunda de áreas com embargo ambientais ou com casos de ações judiciais por prática de trabalho semelhante ao escravo.

O acordo segue a mesma linha do que foi firmado com JBS-Friboi, mas foram feitas pequenas adaptações para a realidade da empresa acreana. O acordo judicial assinado com a JBS foi homologado pela Justiça Federal nesta quinta.

Com a homologação, o processo fica extinto para o frigorífico signatário do acordo, passando a valer as cláusulas acordadas, inclusive no tocante à punição em caso de descumprimento.

O termo firmado com o Frigonorte, ainda pendente de homologação judicial, foi negociado pela procuradora de Justiça Patrícia de Amorim Rêgo e pelo promotor de Justiça Leonardo Honorato Santos, ambos do Ministério Público do Acre.

O documento também foi assinado pelo procurador da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, do Ministério Público Federal, e pelos procuradores Tiago Ranieri de Oliveira e Marielle Rissanne Guerra Viana, do Ministério Público do Trabalho.

CONTROLE DA CADEIA DE SUPRIMENTOS

Sérgio Abranches, Ecopolítica

O frigorífico JBS-Friboi, processado com mais outros 13 pelo Ministério Público Federal do Acre por comprar carne de fazendas embargadas por desmatamento ou trabalho escravo, assinou ontem um Termo de Ajuste de Conduta, TAC. É parte do acordo judicial que interrompe o processo. É bom para a empresa, porque a livra do processo. Na negociação ela acaba conseguindo condições muito favoráveis para atingir padrões de responsabilidade e qualidade que, por seu porte, por ser financiada por recursos públicos e ter o BNDES como sócio, tinha obrigação de já praticar.

A empresa diz que pretende ser a mais sustentável na Amazônia. Mas o presidente de seu Conselho de Administração, Joesley Batista, disse à colunista Míriam Leitão, que a empresa não consegue ter controle sobre seus fornecedores. Só tem condições de deixar de comprar daqueles já embargados pelo governo. Não comprar de empresas embargadas por práticas ambientais e sociais ilegais é o mínimo que se espera de uma grande empresa. Mas assim está no TAC. Nele, a empresa se compromete, a partir de 2012, a não comprar de fazendas que não tenham o Cadastro Ambiental Rural ou a Licença Ambiental Rural. Ao final de 2012 terá que exigir os dois. Não estou dizendo que o TAC seja um mal acordo para a sociedade. Ele garante um mínimo de responsabilidade por parte da empresa e isso é bom. Mas empresas desse porte podem e devem fazer muito mais.

Recentemente, estive ouvindo empresários e especialistas sobre cadeias de suprimento sustentáveis. O que ficou claro dessas conversas é que hoje qualquer grande empresa tem condições técnicas de controlar sua rede de suprimentos e garantir que seja sustentável. Vale para empresas industriais, grande varejo, como supermercados e lojas de departamento e vale também para frigoríficos. Vale para qualquer empresa.

Não existe empresa ‘sustentável’, ‘verde’, ou ‘socialmente responsável’, em cadeias de suprimento contaminadas por práticas ambiental e socialmente danosas.

Hoje, a maior parte das empresas no Brasil – e em várias partes do mundo – faz marketing sobre sua sustentabilidade, porém só dá conta de suas atividades do portão para dentro. Mas como uma empresa pode se dizer sustentável, se não tem controle sobre o que compra e de quem compra seus suprimentos e sobre o percurso de seus produtos do consumo ao descarte dos resíduos? Como pode assegurar, sem esse controle, a qualidade de seus produtos aos consumidores?

No ano passado, estive em uma empresa de TI, que está adaptando seus produtos, para retirar componentes tóxicos, não recicláveis ou não reutilizáveis por exigência de suas duas maiores compradoras. A empresa é global. As duas empresas que usam seus produtos, nacionais.

A idéia da empresa isoladamente sustentável já foi abandonada tanto nas análises de sustentabilidade empresarial, quanto de responsabilidade corporativa. Principalmente as grandes empresas não podem se eximir de responsabilidade sobre o ciclo completo de produção de suas mercadorias.

Toda cadeia de suprimento (supply-chain), toda cadeia de valor, tem uma ou mais empresas líderes que polarizam as atividades das demais. São as maiores fornecedoras ou compradoras na cadeia. Essas empresas têm responsabilidade por toda a cadeia. Elas podem ajudar as demais a desenvolver programas de sustentabilidade e têm poder – de mercado – para excluir as recalcitrantes da rede. É parte da obrigação corporativa de grandes empresas. Isso vale para cadeias de suprimento locais (nacionais) e globais.

Sérgio Abranches é mestre em Sociologia pela UnB, PhD em Ciência Política pela Universidade de Cornell e Professor Visitante do Instituto Coppead de Administração, UFRJ.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

ASSUERO ACUSA BNDES DE COAGIR JBS


Do vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Assuero Veronez, sobre o termo de acordo judicial (leia) que compromete o frigorífico JBS-Friboi a não comprar carne originária de áreas embargadas em decorrência da exploração de trabalho e crime ambiental na Amazônia:

- JBS assinou por falta de coragem. Rabo preso mesmo. Coação do BNDES que é dono de 22% da empresa. Foi obrigado a assinar - afirmou.

Veronez, que é presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre, comemorou:

- Deputados e senadores do Acre apoiando os frigoríficos e pecuaristas. Parabéns. Sabem que a pecuária é um patrimônio do Acre.

O pecuarista se manifestou no Twitter após ser questionado pelo blog. Ele continua coerente com o que sempre defendeu, ao contrário de seus novos aliados políticos, que discursavam em defesa da necessidade da legalidade na exploração dos recursos naturais do Estado.

A indagação é: se é verdade o que Veronez diz a respeito do JBS-Friboi e do BNDES do governo Dilma Roussef, por que o governador Tião Viana (PT) e os parlamentares do Acre são contra o acordo?

Além de conseguir encerrar o processo contra si, o JBS-Friboi se livrou da possibilidade de ser multado em R$ 57,8 milhões. Veja o comunicado da maior empresa de proteína animal do mundo:

- Para a JBS, esse acordo (válido em todo o território nacional) materializa sua permanente conduta e práticas sustentáveis na região amazônica, e reafirma seu compromisso com a transparência e com o desenvolvimento socioambiental. Esse compromisso está alinhado com os principais acionistas da JBS, incluindo o BNDES, com os quais a companhia já tem um acordo de práticas ambientais avançadas e que contempla toda a cadeia produtiva.

A parvoíce da polêmica ficou por conta de nossos três senadores e sete deputados federais que enviaram um pedido aos procuradores e promotores de justiça para que a ação civil pública (leia) ajuizada contra 13 frigoríficos seja suspensa.

Que esperem a volta do cacique Touro Sentado.

ACONTECEU O QUE ALGUNS NÃO QUERIAM

JBS assina acordo com validade nacional contra comércio ilegal de carne

O frigorífico JBS-Friboi assinou nesta quarta-feira (27), em Rio Branco (AC), um termo de acordo judicial em que se compromete a deixar de comprar carne oriunda de áreas embargadas por órgãos de fiscalização ambiental, desde que o embargo conste em lista oficial disponível e acessível a todos na internet.

O acordo judicial contém as mesmas cláusulas do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) apresentado antes do ajuizamento de uma ação civil pública pelo Ministério Público Federal no Acre, Ministério Público do Trabalho e Ministério Público do Acre contra 14 frigoríficos da região.

O compromisso assinado pelas partes, no âmbito da ação civil pública e passível de homologação pela Justiça Federal, tem validade nacional, exceto nos estados do Pará e Mato Grosso, onde continuarão valendo os TACs específicos assinados com o MPF e o MPT.

A JBS, maior exportadora de carne bovina do mundo, se compromete a não manejar para fins comerciais carne de área que tenha sofrido autuação por órgão ambiental, desde que a autuação lhe seja comunicada, ou cujo desmatamento ilegal tenha gerado condenação penal ou cível em ação proposta pelo Ministério Público.

A JBS também assumiu o compromisso de não comercializar carne oriunda de terra indígena já declarada oficialmente, ou proveniente de unidade de conservação, a menos que o plano de manejo da unidade autorize a criação de gado.

Também não será comercializada carne produzida em fazendas que já tenham sofrido condenação por prática de trabalho escravo ou que estejam relacionadas na lista do trabalho escravo do Ministério do Trabalho.

A partir de maio de 2012, a JBS só poderá comprar carne de quem apresentar o cadastro ambiental rural ou a licença ambiental para o uso econômico da propriedade rural. A JBS poderá comprar carne apenas de quem já tiver cadastro ambiental rural e licenciamento ambiental, a partir de setembro de 2012.

O acordo faz uma ressalva para as propriedades que tenham dado entrada em pedido de regularização e cujo processo já esteja em andamento por pelo menos quatro meses sem a decisão final do órgão ambiental.

O termo firmado ainda contém itens que possibilitam que a JBS comercialize com produtores que tenham assinado acordos com os órgãos ambientais para a continuidade da comercialização em suas áreas durante sua regularização.

Também poderá haver comercialização normal com fornecedores que tenham conseguido decisão judicial ou administrativa que os absolvam de irregularidades ou haja a opção, por parte do fornecedor, pelo programa de regularização previsto em lei.

Caso o acordo judicial seja descumprido, a JBS pagará a multa prevista em lei, ou seja, R$ 500 por cada quilo de carne comercializada. Outros frigoríficos arrolados na ação civil pública ainda podem procurar o Ministério Público para assinatura de acordo.

IMPORTANTE

Francisco Braga

Eu sempre fui um parasita. Nunca deitei sob um teto que não fosse de alguma pessoa que me tivesse amparado. Tenho meio século de vida, menos algumas horas. Sou egoísta, trapaceiro e mentiroso. Por ser desprovido de honra, vergonha na cara e moral suporto ofensas, agressões, desprezo e escárnio sem problemas. Tenho preguiça, sou incompetente e irresponsável. Fujo do trabalho. Sou folgado.

Rude, grosseiro, cruel esnobo quem me ama. Também nunca amei verdadeiramente pessoa alguma. Frequentemente, sem o menor remorso, desprezo minha família e exalto meus amigos por conveniência. Sou perdulário, hipócrita e dissimulado. Sou invejoso, aproveitador, cínico e covarde. Não tenho escrúpulos nem remorso quando engano, desrespeito e humilho quem não me convém.

Roubo, trapaceio, exploro e abandono qualquer pessoa. Seja mãe, irmãos, filhos, amigos. Sou ingrato, falso, perverso, infiel e insensível. Não tenho respeito por ninguém, sou inconveniente, indiscreto e mal educado. Sou orgulhoso e vingativo. Não sinto pena de ninguém. Sou destemperado, deselegante e violento. Sem controle, indisciplinado, não tenho metas, sou desastrado. Não tenho discernimento.

Sou feio, mal arrumado, fedo. Fumo, bebo, jogo. Sou pervertido. Ando mal acompanhado. Sou arruaceiro, desqualificado, detestável, tosco, doente, ordinário, insignificante. Mas, ainda assim, com todos esses atributos desprezíveis e abomináveis alguém foi maravilhosamente bondoso comigo. Me fez acreditar que sou importante, quando morreu em meu lugar, pregado numa cruz.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Francisco Braga é o ex-chagista Braga, que virou poeta e cronista. Escreve no blog Cartunista Braga.

terça-feira, 26 de abril de 2011

A PONTE DO JORGE VIANA

"Foi construída com a intenção de ser utilizada prioritariamente por pedestres"

Somente nesta terça-feira (26) tive o prazer de ler a cartinha do senador Jorge Viana (PT-AC) sobre nota deste blog (leia) transcrita no Blog do Noblat:

"Caro Noblat,

Fiquei surpreso quando vi publicada ontem (19) no teu blog uma nota que, certamente, até pelo nível, não foi produzida pelos profissionais que trabalham contigo. Muito provavelmente foi escrita por alguém que não tem compromisso com o bom jornalismo e, muito menos, com a verdade.

A nota publicada é agressiva à verdade, ao ex-presidente Lula, ao povo do Acre e também aos bolivianos que moram em Cobija. A ponte inaugurada em 2004 leva o nome de Wilson Pinheiro em homenagem ao trabalhador rural assassinado porque lutava em defesa dos seringueiros da região, em 1980. É uma obra carregada de simbologia porque integra duas pequenas cidades de dois países, separadas apenas pelo Rio Acre. Daí também ser conhecida como Ponte da Amizade Brasil Bolívia.

Pela foto publicada, fica evidente que a ponte foi construída com a intenção de ser utilizada prioritariamente por pedestres. A idéia era estabelecer uma ligação mais fácil e próxima entre os bolivianos de Cobija e os brasileiros de Brasiléia que, afinal, são quase um só povoado. Seis anos depois, vemos nossos objetivos alcançados, com melhoria de qualidade de vida para as duas populações.

Na época, o próprio Presidente Lula e o Chanceler Celso Amorim insistiram em fazer um grande ato de inauguração, com a presença do então Presidente da Bolívia, Carlos Mesa, tal a importância da obra para a união dos dois países. Nas fotos que envio, é possível perceber nossa alegria com a entrega da obra e ainda a importante presença do presidente do Peru, Alejandro Toledo.

Faço estas observações em respeito a você e aos teus leitores. E, de forma especial, em respeito ao ex-presidente Lula, que sempre foi um grande amigo do Acre. A ele devemos muito do que somos e do que fizemos. Não é justo, portanto, tentar atribuir a ele frases que nunca foram ditas em relação ao Acre e ao seu povo.

Com admiração e um abraço".

JBS-FRIBOI

Após processo milionário, maior empresa do mercado aceita acordo contra comércio de carne ilegal


O frigorífico JBS-Friboi decidiu assinar nesta quarta-feira (27), em Rio Branco (AC), um acordo judicial se comprometendo com o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) proposto pelo Ministério Público Federal, Ministério Público do Estado e Ministério Público do Trabalho.

A partir do acordo, que terá abrangência nacional, a maior empresa do mundo no setor de carne bovina assume o compromisso de não comprar, permutar, receber em doação, processar industrialmente, vender, ou doar produtos bovinos oriundos de áreas embargadas em decorrência de desmatamento e de exploração do trabalho escravo no Acre.

O TAC foi apresentado em março por procuradores e promotores de justiça durante audiência pública, mas os frigoríficos se recusaram a assiná-lo. Por causa disso, foi ajuizada uma ação civil pública de R$ 2 bilhões em multas e danos morais ambientais contra 14 frigoríficos e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama).

A ação pede que o Ibama cumpra o dever de multar os frigoríficos, nos valores levantados durante investigação, ou seja, mais de R$ 1 bilhão, além de indenização por danos morais ambientais no mesmo valor.

A pecuária é a atividade econômica que mais desmata na Amazônia e a que mais se beneficia com o lucro advindo do trabalho semelhante ao escravo.

Investigação do MPF do Acre identificou que frigoríficos continuam comprando carne de fazendas que já sofreram embargos, o que é ilegal e gera multa de R$ 500 por quilo comercializado.

Durante a investigação, entre 2007 e 2010, o JBS-Friboi foi flagrado comprando carne de fazendas embargadas por danos ambientais e cujos donos respondem a processos por trabalho escravo.

A ação civil pública contra os frigoríficos que atuam no Acre vem sendo coordenada pelo procurador da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes. Segundo o procurador, o frigorífico JBS é o que tem demonstrado maior disposição para o diálogo, preocupado em atender a legislação sem comprometer o empreendimento.

Reação

No Acre, onde nasceu e morreu o líder sindical e ambientalista Chico Mendes, políticos e o governo estadual tem criticado duramente a atuação dos procuradores e promotores de justiça. O governador Tião Viana (PT) acionou a Procuradoria Geral do Estado para defender os interesses dos pecuaristas e dos frigoríficos.

Os senadores Jorge Viana e Aníbal Diniz, ambos do PT, ocuparam a tribuna nesta segunda-feira (25) para criticar o Ministério Público Federal, Ministério Público do Estado e o Ministério Público do Trabalho.

- Adotou-se uma medida extrema, uma medida que tenta trazer de novo o medo para o Acre, o medo e a insegurança que o Acre, há muitos anos, superou - afirmou Viana, que evitou defender diretamente os frigoríficos e os pecuaristas da região.

Segundo Viana, a ação dos procuradores e promotores de justiça “mexe com a vida do povo acreano, das pessoas simples, do pequeno produtor, daquele que tem na sua criação a sua poupança para uma emergência no caso de saúde”.

- São exatamente essas pessoas; não são – e não estou fazendo nenhum juízo – os grandes proprietários, os grandes criadores - acrescentou.

No site do Superior Tribunal Eleitoral, os grandes pecuaristas do Acre ocupam posições de destaque na lista de doadores das campanhas do PT no Estado.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

CONVERSA PRA BOI DORMIR

Balela a ameaça reverberada pela imprensa de desabastecimento de carne no Acre por causa da ação civil pública (leia) contra 14 frigoríficos que comercializam carne ilegal, oriunda de áreas embargadas em decorrência de desmatamento e exploração de trabalho escravo no Estado.

A ação, ajuizada na Justiça Federal por procuradores e promotores de justiça do Ministério Público Federal, do Ministério Público do Trabalho e do Ministério Público do Estado, soma mais de R$ 2 bilhões em multas e danos ambientais.

A outra ameaça, segundo a qual serão usados abatedouros clandestinos, continuará sendo um problema a desafiar a Vigilância Sanitária Estadual.

Na verdade os pecuaristas não conseguem viver sem ganhar dinheiro fácil, nem a população sem comer carne.

O bom desse imbróglio é ver aqueles que se dizem companheiros do líder sindical e ecologista Chico Mendes na defesa intransigente do agronegócio no Acre. Lembram do virtual Comitê Chico Mendes? Controlado pelo governo estadual, cumpre silêncio obsequioso.

Até a Procuradoria Geral do Estado foi acionada pelo governador Tião Viana (PT) para defender os interesses dos pecuaristas e dos frigoríficos.

Para que se possa compreender melhor a mudança de paradigma do "governo da floresta" é necessário conferir no site do Superior Tibunal Eleitoral a posição destacada dos pecuaristas na lista de doadores das campanhas do PT no Acre.

domingo, 24 de abril de 2011

TIÃO, DEVOLVE LOGO A TÃO ESPERADA HORA

Sérgio Souto


Só voltei pra lhe lembrar
Do post de antigamente
Quando fiz alguns versinhos
Em nome da nossa gente.

Que até lhe tem carinho
Pelo menos por enquanto
Se ninguém pisar na bola
Ou não escutar meu canto.

Só quero que o senhor saiba
Que eu sou povo todo dia
Com alegria e certeza
De também ser maioria.

Se pra frente é que se anda
Porque o senhor atrasou
Nossa vida em uma hora
Me explique governador.

Portanto enquanto protesto
Exercito a minha escrita
Bebo todos os meus versos
Comendo batatas fritas.

Conheço meus destemperos
Apesar dos pés no chão
Transpiro água de cheiro
Mas às vezes sou trovão.

Exalo floresta e chuva
E essências de humanidade
Sou meio bicho do mato
Perdido aqui na cidade.

Não quero ocupar o espaço
No blog do meu amigo
Pra não causar embaraço
E do quanto corro perigo.

De viver amordaçado
Vigiado noite e dia
Como era antigamente
Antes da democracia.

Dois mil e doze está aí
Dizem que o mundo se acaba
Eu vou pagar pra assistir
Da varanda da minha taba.

Ouvindo o Pink Floyd
Bebendo um PINOTAGE
Dançando um chá-chá-chá
Curtindo a minha viagem.

Vestido todo de branco
Na esperança do fim
Ou quem sabe o recomeço
Do “eu” voltando pra mim.

Tocando um bumbo leguero
Ou recitando Rimbaud
Compondo um lindo bolero
Só pra falar do amor.

Que a cada dia carece
Parece trocou de nome
Mudou pra outro planeta
Só pra não passar mais fome.

Fiquei tão emocionado
Com essa possibilidade
Que até fugi do intento
Dessa dura realidade.

Mas não vou deixar pra lá
Nem que o papa me peça
Nem que o Obama me implore
Com um monte de promessas.

E por falar em promessa
Ainda espero um chamado
Pra cantar pra “Minha Aldeia”
Com o Teatrão lotado.

Aí eu “Puxo a cadeira”
Vôo feito um “Albatroz”
Singro os rios caudalosos
Da nascente até a foz.

Mas devolve a nossa hora
Porque senão não me calo
Senão nem o Papai do céu
Haverá de perdoá-lo.

Faz um gracejo pra nós
Mas por favor não demora
Devolve logo pra gente
A tão esperada hora!

sábado, 23 de abril de 2011

AGORA VAI

Piada pronta


A Secretaria de Saúde do Acre ganhou nova dinâmica desde o dia 8 de abril, quando o governador Tião Viana (PT) nomeou o humorista Antonio Klemer para o cargo de Coordenador de Projetos e Processos.

- De tds as coisas que abomino em Politica, o desapego de alguns `a palavra empenhada e a que mais ressalta. Num do pra isso! - tuitou o humorista um dia antes do decreto de nomeação.

JUSTIÇA LIBERTA ÍNDIO EM TARAUACÁ

O juiz substituto da comarca de Taraucá (AC), Manoel Pedroga, deferiu nesta sexta-feira (22) o pedido de liberdade provisória apresentado pela Defensoria Pública em benefício do pajé indígena José Guilherme Nunes, flagrado pela polícia da cidade com 17 trouxinhas de maconha.

De acordo com a decisão, a despeito de ter sido indiciado por tráfico de drogas e a lei vedar a concessão de liberdade provisória, o juiz entendeu que José Nunes pode responder o processo em liberdade, “já que o magistrado deve analisar a Lei de Drogas juntamente com os dispositivos do Código de Processo Penal e estando ausentes os requisitos da prisão preventiva deve o agente ser colocado em liberdade”.

Na quarta-feira (20), pintados para guerra e armados com arcos e flechas, mais de 200 índios se deslocaram de Feijó para Tarauacá, onde realizaram um protesto contra a prisão de Nunes em frente ao fórum, forçando o juiz a pedir proteção policial.

Na decisão, Pedroga assinala que “o Poder Judiciário decide de acordo com as provas apresentadas e não sob pressão popular, fazendo a justiça no caso concreto, mantendo ou não a prisão.”

O pajé disse, em depoimento à polícia, que fabrica um chá que é ministrado aos doentes e que ele é o único que fuma maconha na tribo. A defesa alegou que existem dois laudos toxicológicos da substância vegetal, sendo que apenas o primeiro constata presença de maconha.

O magistrado afirma na decisão que o laudo com resultado negativo refere-se ao frasco contendo uma substância medicinal denominada “dalcunhe”. Segundo Pedroga, a materialidade vem confirmada no primeiro laudo, sendo o resultado positivo para maconha. Ele não acolheu a alegação e considerou legal a prisão do indígena.

Durante interrogatório, Nunes disse que pagou R$ 80 pela droga, mas imaginava que a maconha era natural, sem produto químico misturado. Nunes alegou que a “maconha é utilizada para curar as pessoas que estão doentes”.

Ele alegou que pretendia levar a maconha para a aldeia, pois no dia 19 de abril, Dia do Índio, quando aconteceria festividades.

QUEM É GORE?

Fátima Almeida

Vi o filme Amelia Earhart, lançado no Brasil em março do ano passado, sobre uma mulher que nos anos 30 pilotava avião, ficando famosa depois de atravessar o Atlântico num bimotor, morrendo pouco antes de realizar o grande feito de dar a volta ao mundo. Fui praticamente abduzida pelo filme, de uma fotografia esplendorosa, sem contar que algumas cenas pareciam fac-símile de Casablanca, o que deve ter sido proposital, tipo uma homenagem ao clássico, ambientado na mesma década. Os closes de Amélia Earhart são inovadores,  os atores expostos como peças de arte, cabeças e bustos aos quais você olha por todos os ângulos. Faz ecoar também a memória de outro filme: Entre Dois Amores.

Após a projeção perguntei ao meu filho se ele sabia quem era o garotinho que ao final de uma palestra estendia sua mãozinha à Amelia Earhart, pedindo-lhe um autógrafo. Ele respondeu que não e eu já esperava essa resposta. Então lhe disse que em cinema e teatro nada é casual, e que por isso, nesse filme, a Amélia pergunta ao garoto ele: what's your name? Ao que ele responde: "Gore", porque o diretor quis fazer um link entre a vida dela e a de Gore.  Então, peguei um livro na minha prateleira e o mostrei ao meu filho que completa hoje, dia de São Jorge, 23 anos.  Juliano, o livro de Gore Vidal, um dos escritores norte-americanos mais lidos em todo o mundo e um dos perseguidos por McCarthy.

Meu filho é um privilegiado. Aos 23 atrás já possui crivo crítico em matéria de cinema. Quando ele me diz “veja, é bom”, ou, “não veja, não presta”,  eu o sigo.  Quando criança estava sempre ao meu lado nas locadoras, passávamos os finais de semana vendo filmes. Um dia ele percebeu que eu gostara muito de Drácula, de Bram Stoker, dirigido por Francis Ford Coppola, diretor, aliás, dos filmes que ele mais viu nos últimos anos -a trilogia de O Poderoso Chefão- e daí me pediu para assisti-lo também, quando respondi que ele era muito novo para ver esse filme, que tem cenas horripilantes. Mas ele insistiu tanto que eu o deixei ver. Até hoje ele tem a trilha sonora desse filme em seu computador - às vezes ouço aquela música ecoando do seu quarto.

O fato de ele não saber quem é Gore Vidal é compreensível porque a sua geração é a do víde-ogame, da internet, da Sky, ao contrário da minha, cuja inexistência sequer de televisão era propícia ao deleite literário. Mas agora, ele já sabe quem é Gore Vidal.

A maioria dos jovens de hoje em dia, contudo, não apresenta nem mesmo crivo crítico com relação a cinema, não teve irmão mais velho, pai, mãe ou um professor aficcionado ao cinema e à cultura em geral para assimilar fatias da cultura geral. Acredito que nos Estados Unidos o clima é bem melhor. Lá, por exemplo, um escritor vive da venda de seus artigos, onde existe até mesmo faculdade para ser roteirista, dramaturgo, escritor etc. Imaginem se aqui no Brasil fosse possível um escritor viver de seus livros. Li na Veja ano passado que um filho de pai judeu chegando em sua casa após o ultimo dia de aula depara com vinte livros sobre a mesa, os quais deverá ler durante as férias, com o pai a pedir relatos da leitura, em datas programadas. Bom, os judeus parecem ser os mais inteligentes da terra.

No Brasil, a ditadura militar fez estragos terríveis em seus vinte anos, tais como censurar filmes e peças inteligentes porque os governos militares achavam que obras inteligentes fossem ameaçadoras e perigosas. Mas permitiram a invasão de filmes de baixo nível no mercado do entretenimento, tais como as pornochanchadas e os de “kung fu” tipo violência pela violência, muito distantes da original série de Kung Fu, com um dos irmãos Carradine, projetada pela Globo em 1974, onde o clima era filosófico e não havia truculência. A indústria de cinema norte-americana produz filmes tipo A, B e C. Esses são filmes com explosões, excesso de velocidade e uso de armas, numa propaganda nítida, descarada, da indústria armamentista. O governo federal não deveria elevar as taxas alfandegárias sobre esses filmes? Visitei um blog sobre o filme Amelia Earhart e percebi que pessoas de 19, 28, 33 anos, acharam o filme chato. Pessoas de 58, 65 e uma de 39, acharam ótimo. Eu tenho 55 anos, amei o filme.

Fátima Almeida é historiadora

CHET BAKER - My Funny Valentine

quinta-feira, 21 de abril de 2011

EU TE PERDOO, WELLINGTON

Marco Antonio Salgado Mendes

Em nome da minha humanidade eu te perdoo, Wellington, ao compreender teu desespero, a falta de esperança e perspectiva, os desejos sublimados, massacrados. Perdoo tua ânsia por ser compreendido, escutado, aceito. A necessidade de amor e carinho que o levou ao maior non sense abjeto que estava ao alcance das mãos. A carência de sexo; bom, farto, seguro; o desejo inconsciente, insatisfeito, por um gozo espumante e vívido.

Nós ajudamos a esculpi-lo com a cultura da violência; a ti entregamos os instrumentos que o transfiguraram num animal feroz, selvagem e despeitado, que foi em busca da revanche pelos beijos recusados ou pelas zombarias que tanto o espezinharam. A ti distraímos nos momentos de lazer, ensinado-o a cultuar o valor da força bruta, da guerra, do sangue, do ódio, da violência, em detrimento do amor, da sabedoria, da libido ou da cumplicidade generosa. A ti presenteamos, por intermédio de Papai Noel, com joguinhos letais enaltecendo a destreza em liquidar "o outro", um ser desalmado e sem coração. A ti louvamos a insensatez da castidade, num mundo permeado por infindáveis apelos eróticos.

Não deixamos que a tua sexualidade se manifestasse tal como a sentias; pior, sequer permitimos que a tua sexualidade aflorasse. Ela foi convenientemente subjugada, é possível, pelos ditames grotescos de doutrinas religiosas despreparadas para auxiliar o homem a expressar-se com toda a humanidade hedonista que lhe é inerente; e quiçá também foi sufocada por possíveis constrangimentos vividos no universo familiar ou escolar. Fostes execrado por companheiros e colegas que mal compreendiam a própria pulsão, jovens também desorientados ou espezinhados, que inevitavelmente transmutariam em violência e ódio, a latência de seus múltiplos desejos imanentes.

Fostes violentado?

Solidão, timidez, rejeição, estranheza, carência... Vivestes rodeado pela intolerância e preconceito, e ainda por cima nem eras um gato "lindo e gostoso", que pudesse compensar com visual estereotipado, a dificuldade que tinhas (apesar do desejo certamente incontestável) de aproximar-se de garotas e garotos da tua idade.

Te assumistes um paria. Ao desvencilhar-te da tua humanidade abristes mão de pertencer à casta onde se encontram homens e mulheres tranquilos, permitindo-se viver as peculiaridades que lhes são inerentes, mas onde também se escondem os que vingam com violência sorrateira e muda, as insatisfações ou frustrações, sobretudo quando superpostas aos apelos da sexualidade.

Nos ensinastes, menino. Contigo aprendemos a nos observar, e a conhecer melhor os teus semelhantes, embora eu não esteja totalmente seguro de que tão cruéis ensinamentos se reverterão em lições duradouras. Possível que em breve as esqueçamos, no afã de nossas vidas velozes, displicentes e fúteis, sem tempo para atentar que bem ao lado escondem-se anônimos Wellingtons, clamando pela compreensão de si e necessitando aceitação e calor humano; carecendo expressar-se com todos os atributos e potencial que definem uma personalidade e caráter.

Não te transformes garoto, num ídolo da apologia do apocalipse, pois temo que muitos estarão dispostos a seguir o exemplo, prontos para derramar ódio insano, se também eles concluírem que nada mais vale a pena, a não ser a premência por saciar o anseio de vingança, como que num plágio grotesco: parem o mundo porque vou descer e levarei comigo os que me molestaram e humilharam.

Especulamos: possuías uma carga genética que o predestinava ao mal? Os transtornos da personalidade te eram peculiares? Um psicopata? Paranoico? Neurótico? Esquizofrênico? Psicótico delirante? Portador de distúrbio bipolar, transtorno de personalidade antissocial ou de delírio crônico? Pervertido? Louco? Devemos encará-lo como um predestinado ao mal, ou fostes condicionado através de infindáveis e cruéis influências mundanas, sorrateiras e solertes? Tua vida transcorreu em ambiente onde os males que afligem a alma e o inconsciente eram percebidos como passíveis de tratamento? Ainda que não fosse possível a cura de tais doenças do espírito, não teremos desenvolvido, em pleno terceiro milênio, o conhecimento e os meios para tratá-los e controlá-los, neutralizando os efeitos nefastos?

Execrá-lo é caminho para fechar os olhos às motivações do trágico desfecho de vidas inocentes. Perdoá-lo - talvez uma nobre postura adequada à nossa humanidade - é compartilhar responsabilidades pelo que aconteceu em Realengo, em 7 de abril de 2011.

Marco Antônio Salgado Mendes é jornalista. Foi presidente do Instituto do Meio Ambiente do Acre e atuou como especialista do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), responsável por acompanhar os projetos financiados no Brasil, na área ambiental. Atualmente, tem trabalhos como escritor. O artigo gerou mais de dois mil comentários na revista eletrônica Terra Magazine.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

"SOLDADOS DA BORRACHA" ESTRÉIA NOS EUA


O filme “Soldados da Borracha”, dirigido pelo acreano Cesar Garcia Lima, terá estréia mundial no 14º Cine Las Americas International Film Festival, em Austin, Texas, nos Estados Unidos.

“Soldados da Borracha” integra a mostra competitiva de documentários e será exibido no festival nesta sexta-feira (22).

Premiado com o ETNODOC, edital para filmes sobre grupos e manifestações culturais brasileiras, o documentário também vai estrear na TV Brasil em 9 de junho.

Realizado em Rio Branco, Plácido de Castro e Xapuri no ano passado, o documentário mostra a vida de quatro ex-soldados da borracha de diferentes origens, todos moradores do Acre, que narram sua vida de luta por uma aposentadoria melhor.

Os quatro ex-soldados da borracha aparecem na tela em momentos com a família e no forró do Centro Cultural Lydia Hammes, no Aeroporto Velho, em Rio Branco.

O filme foi produzido pela Modo Operante, do Rio de Janeiro, empresa que tem colecionado uma série de prêmios em festivais e eventos sobre cinema.

Durante este ano, “Soldados da Borracha” deverá também ser exibido em Rio Branco, Rio de Janeiro e São Paulo, entre outras participações em festivais.

CARNE BOVINA DO ACRE

Vejam as condições sanitárias, em Rio Branco (AC), do frigorífico JBS-Friboi, maior empresa global de carne bovina. Imaginem como é a situação nos frigoríficos menores ou clandestinos do Estado. Merece fiscalização dos ministérios do Trabalho e da Saúde. Clique nas imagens.








DANTINHA FOI BODE EXPIATÓRIO

Jannice Dantas

Li o artigo "Dantinha e sua casta acreana", de autoria da historiadora Fátima Almeida, onde ela questiona o plano de desenvolvimento econômico que vigorou durante o governo de Francisco Wanderley Dantas, no período de 1971 a 1974.

“Que idéia estranha foi aquela de Francisco Wanderley Dantas, o Dantinha, que governou o Acre no período 1971-1974, de atrair pecuaristas do Centro-Sul, com a oferta de terras baratas, sem nunca ter passado pelo seu pensamento, entre um gole e outro de uísque, que nos seringais desativados habitavam famílias às centenas? Para onde elas iriam? Como viveriam? Ele nada pensou sobre isso”.

Eu não sou historiadora. Sou jornalista, formada pelo Instituto de Ensino Superior do Acre (Iesacre), mas pelo pouco que sei, o governo Dantas, foi em meio ` ditadura, sendo o próprio governador, nomeado pelo presidente, que era militar.

Num governo militar não se toma decisões nem se vai colocando em prática, porque, ao que parece, os militares são extremamente respeitosos com uma coisa chamada hierarquia, não sendo possível um governador de um até então pequeno, longínquo e desconhecido Estado resolver elaborar e colocar em prática um plano de expansão econômica sem que isso tenha sido uma ordem que veio de cima.

Durante o período em que passei levantando dados para a minha monografia, constatei que a economia do látex já estava falida, o que conseqüentemente, levou a falência os seringais deixando as pessoas que lá viviam sem expectativa de um futuro melhor. É fácil de saber que depois da falência, ficaria praticamente impossível viver em um local sem educação, saúde e alimentação. Essa população já estava fadada ao êxodo rural muito antes do governador Dantinha assumir o poder.

Outro dado importante do qual tive acesso, foi o de que existia à época um plano de desenvolvimento para o País e que vinha sendo cumprido etapa por etapa. Durante o governo de Dantinha estava em andamento o econômico e o destino do nosso Acre já estava traçado, não pelo nosso governador, como colocou a historiadora, mas pelo então presidente Emílio Garrastazu Médice.

O governo do presidente Médice ganhou força popular justamente com o crescimento econômico que ficou conhecido como Milagre Brasileiro. Nesse período houve um enorme crescimento da classe média e aumento do consumos de bens duráveis tais como, televisão e geladeira.

Talvez Fátima Almeida não se lembre mas a campanha publicitária do governo federal era: Brasil, ame-o ou deixe-o. E que nessa época entrou em vigor o Plano de Integração Nacional (PIN), responsável pela construção das rodovias Santarém-Cuiabá, Transamazônica e a Ponte Rio-Niterói. Grandes incentivos fiscais a indústria e a agricultura foram à tônica daquele período.

Relatado tudo isso, fica mais claro de perceber que realmente o Acre fazia parte de plano maior de desenvolvimento, vale ressaltar também que nos início dos anos 70 não se falava de meio ambiente com a mesma visão que se tem hoje. Até pouco tempo atrás, ainda se achava que os recursos da natureza eram inesgotáveis, por tanto, o uso consciente dela era uma coisa muito distante e as pessoas que defendiam isso muitas vezes eram tratadas como loucas.

Acredito que se vivemos hoje uma áurea época de desenvolvimento no estado do Acre, isso também é fruto de um governo arrojado e visionário que Dantinha fez. Digo isso porque algumas de suas obras ainda estão funcionando a pleno vapor e servindo aos acreanos. Dantinha foi o bode expiatório de uma briga política que infelizmente o transformou em vilão na história acreana.

Para finalizar, gostaria apenas de esclarecer a historiadora Fátima Almeida, que Francisco Wanderley Dantas, bacharelou-se em filosofia pela Faculdade de Filosofia da Universidade do Rio de Janeiro, hoje Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e não, em engenharia conforme afirmou em seu artigo. Foi um político dedicado a educação, tanto que, quando ainda era deputado federal foi o relator e autor do projeto que criou o Movimento Brasileiro de Alfabetização – Mobral, que tantos e inestimáveis serviços prestou ao Brasil e também ao nosso Acre.

Jannice Dantas é jornalista e sobrinha neta do ex-governador Francisco Wanderley Dantas

ÍNDIOS PROTESTAM EM TARAUACÁ

Juiz Manoel Pedroga pede proteção policial



Mais de 200 índios das etnias katukina e kaxinawá se deslocaram nesta quarta-feira (20) de Feijó para Tarauacá, no Acre, para protestarem contra a prisão do pajé José Guilherme Nunes Ferreira, preso desde sábado (16), quando foi flagrado com 17 trouxinhas de maconha.

Pintados para guerra e armados com arcos e flechas, os índios estão desde às 12h30 (11h30 no horário local) em frente ao fórum de Tarauacá. O juiz substituto Manoel Pedroga, que responde pelas comarcas das duas cidades, pediu proteção.

O defensor público Paulo Michel São José apresentou pedido de liberdade provisória para José Guilherme Nunes Ferreira na terça-feira (19).  Segundo o defensor, a maconha do pajé seria utilizada para curar doentes da Terra Indígena Katukina-Kaxinawá, no baixo Rio Envira.

O pajé, durante o depoimento que prestou à polícia, disse que fabrica um chá de maconha que é ministrado aos doentes e que é ele é o único que fuma maconha na tribo.

Existem dois laudos preliminares de contestação de natureza toxicológica da substância vegetal. O primeiro acusa a presença de maconha, mas o segundo laudo aponta para inexistência dela. Segundo o defensor, o laudo preliminar foi negativo e não há qualquer hipótese autorizadora da prisão preventiva.

- Estou tentando permanecer tranquilo. Os autos foram remetidos para manifestação do Ministério Público. Vou dialogar com os índios e dizer que o Judiciário não funciona sob pressão. Depois vou analisar o pedido de liberdade provisória apresentado pela defesa - disse o juiz.

Policiais que estavam de folga foram convocados para reforçar a segurança do magistrado. Pedroga disse que a direção do Tribunal de Justiça do Acre já foi comunicada sobre o protesto dos indígenas e deu orientações para lidar com a situação.

Pedroga condenou nesta quarta-feira (19) o indígena João Nunes Hunikui Kaxinawá, da etnia kaxinawá, a cinco anos e quatro meses de prisão por tentativa de estupro contra uma crianças de três anos de idade.



Nota atualizada às 13h48 para inserção de fotos da manifestação e da reunião do juiz com líderes indígenas. Saiba mais no Blog do Accyoly.

terça-feira, 19 de abril de 2011

DANTINHA E SUA CASTA ACREANA

 Fátima Almeida



Que idéia estranha foi aquela de Francisco Wanderley Dantas, o Dantinha, que governou o Acre no período 1971-1974, de atrair pecuaristas do Centro-Sul, com a oferta de terras baratas, sem nunca ter passado pelo seu pensamento, entre um gole e outro de uísque, que nos seringais desativados habitavam famílias às centenas? Para onde elas iriam? Como viveriam? Ele nada pensou sobre isso.

À semelhança dos coronéis que mandavam localmente, por séculos, neste país, e que enviavam seus filhos para estudar em Lisboa ou Coimbra, os “coronéis de barranco” do Acre enviavam seus filhos para estudar no Rio de Janeiro. Aqueles, bacharéis, de retorno à pátria iam compor o corpo dirigente da nação.

Dantinha, filho de coronel de barranco, formado engenheiro no Rio segundo essa tradição, feito governador, promoveu o maior descalabro social, ambiental, cultural que já pode ter ocorrido no Acre. Mas o nome de seu pai, o coronel Sebastião Dantas, ainda infunde respeito, nas massas, e é nome de ponte e de corrida pedestre. Como explicar essa contradição?

As castas dirigentes lançam mão do recurso eleitoral com seus pacotes embrulhados com propagandas, distribuem cargos menores às camadas médias, instruídas, cabos eleitorais em potencial, estruturando desse modo um tipo de gestão pública que prioriza a manutenção do status quo.

Ficam de fora dessa esfera as massas que crescem como se nelas houvessem colocado fermento, perdidas nessa obscuridade que é a exclusão dos negócios rendosos estabelecidos no Estado.

Mas os muros de contenção estão cheio de fendas por toda parte, por onde a barbárie invade e vez por outra vem ceifar a vida dos bem nascidos, como ocorreu com Ana, assessora parlamentar assassinada em sua casa. Em seu próprio meio a violência é lugar comum, natural, diuturna, preponderante, constante. A barbárie põe seus ovos.

O coronelismo  estará também botando os seus?

A Roma antiga, baluarte da civilização, não teve forças para barrar as invasões bárbaras e caiu. Em parte, a corrupção e sua companheira, a decadência, contribuíram internamente para que isso acontecesse. Da desagregação emergiu o império da fé cega.

Do mesmo modo como a expansão da consciência ilumina as zonas escuras do inconsciente de um indivíduo, as políticas educacionais deveriam ter como mote o alcance maior das luzes da arte e da ciência no meio das massas bárbaras. Mas as castas dirigentes não podem traçar estratégias no sentido da inclusão de fato pelo risco de vir a desaparecer.

Esse dilema é histórico e marca registrada da evolução histórica do país. Muitas ilusões ainda deverão vir abaixo, tais como a de se colocar um sociólogo da USP ou um metalúrgico sindicalista na presidência, ou ainda uma ex-militante de esquerda.

As práticas políticas ainda dão sustentação aos velhos quadros e por extensão ao latifúndio, hoje denominado com o pomposo nome de agronegócio. As massas continuam sendo deslocadas para um lado e para outro, porque, no Brasil, falar em migrações internas é eufemismo.

Teatro, cinema, literatura, música, ciência, não estão acessíveis às massas condenadas ao escravismo do salário mínimo, ao teto precário ou sem teto entregues a própria sorte.

Tanto progresso científico-tecnológico e a barbárie ganhando terreno!

As páginas policiais atestam isso todos os dias. Não será a sentença de um juiz que irá mudar esse estado de coisas porque é pontual ou casual. Mas foi a idéia estranha do governador Wanderley Dantas que quase acabou com o Acre que nada teve de casual.

Fátima Almeida é historiadora acreana

MINGUANTE CONVEXO

ÍNDIO CONDENADO POR TENTATIVA DE ESTUPRO

Vítima tinha 3 anos de idade


O indígena João Nunes Hunikui Kaxinawá, da etnia kaxinawá, foi condenado pela Justiça do Acre nesta terça-feira (19), Dia do Índio, a cinco anos e quatro meses de prisão por tentativa de estupro. A sentença é do juiz substituto Manoel Pedroga (foto), que responde pela comarca do município de Feijó.

João Kaxinawá foi denunciado por tentativa de estupro de vulnerável. Em dezembro do ano passado, ele tentou manter relação sexual com a menina D. X. D. S., de apenas três anos de idade.

O estupro só não foi consumado porque o índio foi surpreendido por Suely Ximendes dos Santos, mãe da criança, no Pólo Indígena, no bairro Bela Vista.

A mãe contou que ao chegar ao local encontrou a filha deitada, sem roupas. Segundo consta nos autos, o índio também estava despido, em circunstâncias que favoreciam a prática do delito.

Como o indígena já estava integrado à sociedade, não poderia ser tutelado pela Fundação Nacional do Índio (Funai), tendo de responder pelos seus atos.

Manoel Pedroga destacou o caráter pedagógico de sua sentença.

- A decisão serve para demonstrar que a Justiça não tolera abusos sexuais contra crianças e adolescentes e visa combater principalmente a pedofilia, tão comum em nosso Estado. Infelizmente, no Vale do Juruá é comum esses tipos de crime, envolvendo principalmente pessoas com poucos instrução escolar e poder socioeconômico - assinalou o magistrado.

A audiência de instrução ocorreu segunda-feira (18), quando foram ouvidos o réu, a mãe da menor e outras testemunhas.

Por envolver um indígena, algo atípico, o fórum ficou lotado de parentes da vítima, amigos do acusado e até de indígenas que se deslocaram da Aldeia Paroá, que fica às margens do Rio Envira, distante duas horas de barco da cidade de Feijó.

Ao final da audiência, para evitar tumulto ou revolta entre os indígenas, o juiz determinou que o processo fosse concluso para sentença.

CRIANÇA MORRE COM SUSPEITA DE OVERDOSE

Uma criança, de apenas um ano e oito meses, morreu na madrugada desta terça-feira (19), no Pronto Socorro de Rio Branco (AC), com suspeita de que tenha sido vítima de overdose de cocaína.

A mãe do menino, Gildenes Fernandes de Oliveira Souza, de 28 anos, primeiramente alegou que um irmão da criança teria achado dois pepelotes da droga numa rua próxima de sua casa, no bairro Bahia Nova. O irmão teria oferecido a droga para a criança, que engoliu sem saber do perigo.

Posteriormente, a mulher contou que guardou na bolsa dela a droga encontrada pelo filho, mas uma filha, de quatro anos, encontrou  e entregou para o irmão.

Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Emergência (Samu) foi acionada quando a criança começou a sofrer convulsões. O menino deu entrada no Pronto Socorro em estado grave, após sofrer duas paradas cardiorrespiratórias.

O corpo da criança foi levado para o Instituto Médico Legal para o exame que apontará a causa da morte.

A mãe e os médicos que atenderam a criança prestaram depoimentos nn Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher.

A mãe recebeu acompanhamento de uma assistente social e foi liberada após o depoimento. Ela poderá ser convocada a prestar novo depoimento a partir do resultado do exame e será indiciada por crime doloso ou culposo.

VÂNDALOS INVADEM IGREJA DE SENA MADUREIRA


A visita do "governo itinerante" de Tião Viana (PT) seria a notícia mais importante do dia em Sena Madureira caso vândalos não tivessem arrombado a igreja Nossa Senhora da Conceição.

Eles furtaram imagens históricas e destruíram a de São Sebastião. A igreja é dirigida pelo padre Paulino Baldassari.

Confira relato, fotos e vídeo no blog do Gilberto Vieira, morador da cidade.