sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

AOS JOVENS DO PRESENTE

Marina Silva

Na noite de 6 de dezembro, faltando 16 dias para o 23° aniversário da morte de Chico Mendes, o Senado aprovou o maior retrocesso na legislação ambiental brasileira. Representantes do ruralismo, como a senadora Katia Abreu e os senadores Waldemir Moka, Jaime Campos e Ivo Cassol, faziam ruidosos elogios ao texto aprovado. Reverenciavam os relatores Jorge Viana e Luiz Henrique por terem deixado de fora os radicais ambientalistas.

Naquele momento, vieram à memória dois importantes empates feito por Chico Mendes: o da fazenda Bordon e o do seringal Cachoeira. Nestas ocasiões, com base no mesmo Código Florestal hoje fragilizado, Chico conseguiu a suspensão temporária do desmatamento, após insistente batalha judicial. Mas não teve tempo de ver o nascimento da primeira reserva extrativista, que foi citada no Senado como se sua criação, para acontecer, não lhe tivesse custado a perda da vida.

Para proteger a floresta e defender seus direitos contra a sanha dos que matam e desmatam, tombaram também Wilson Pinheiro, Calado, Ivair Higino, Irma Dorothy, José Claudio e sua esposa Maria do Espírito Santo, só para rememorar alguns que, como os radicais ambientalistas, também foram deixados de fora pelos contemplados radicais ruralistas e seus novos aliados. Essas pessoas acreditavam ser o Código Florestal uma lei pela qual valia a pena perder prestigio e admiradores de conveniência e até mesmo arriscar a própria vida.

Foi a um só tempo triste e interessante ouvir, contra os socioambientalistas, os mesmos argumentos que durante anos foram usados contra Chico e seus aliados, entre eles Jorge Viana: os de que as preocupações com o aumento de desmatamento, com a redução da proteção ambiental e com a anistia para desmatadores refletem apenas o medo da perda do discurso de vítima.

Triste por ver a continuação de um passado que Chico acreditava profundamente não mais existiria no século 21, quando, sonhando acordado para evitar os pesadelos da difícil realidade, escreveu sua melancólica carta aos jovens do futuro.

Interessante por ver que a força dos seus ideais continuam atuais e revolucionárias, a ponto de atravessar o tempo e continuar falando até mesmo aos que a eles se opõem. Como disseram Oscar Cesarotto e Marcio Peter, qualquer doutrina original e revolucionária, depois de ser ferrenhamente contestada, vai aos poucos sendo integrada e aceita, até ser recoberta por noções e idéias anteriores que tudo fazem para neutralizá-la.

Infelizmente é o que acontece, pelo menos por enquanto. Mas isso não me impede de seguir acreditando que a presidente Dilma possa honrar o sonho de Chico Mendes e homenagear sua memória, vetando os artigos que afrontam sua luta em defesa da floresta e do desenvolvimento sustentável.

Marina Silva escreve às sextas-feiras na Folha de S. Paulo

10 comentários:

Unknown disse...

Ser vítima é diferente de um discurso sobre a vítima que é diferente de um discurso contra a vítima que também é diferente de um discurso da vitima e que ainda é diferente de um discurso de vitima.
Desejo que a morte de Chico não tenha sido só mais uma morte em vão.

Francisco Nazaré disse...

JV só defendeu os ideais de Chico Mendes enquanto era conveninete usar seu nome e suas idéis para se promover politicamente. Depois que chegou ao poder e constituiu patrimônio digno de um grande capitalista, passou a defender os pecuáristas que hoje são seus sócios!!!

Altemar disse...

Pergunto a autora do texto:
Cara conterrânea, como ainda não sou filiado a nenhum partido mas gostaria de sê-lo para tentar contribuir mais para nosso estado e país, me darias 01 UM motivo para eu entrar no PV?

Beneditino disse...

Desafio aos que são contra o código: localizem no mapa as cidades do arco do desmatamento na Amazônia e comparem o IDH delas com as cidades fora do arco (excetuando as capitais, claro). A diferença á brutal. Por exemplo: IDH Cacoal-RO = 0,76 IDH Feijó - AC = 0,54. O novo código é bom e atende a desenvolvimentistas e ambientalistas não radicais.

Gregório D. Mendes disse...

"E eles venceram e o sinal está fechado pra nós que somos jovens"


Belchior

Altemar disse...

Ai monge, tu é o cara.

Pietra Dolamita disse...

...AINDA USAM O FINADO CHICO MENDES!
Será que lembram dele quando fazem o Acre uma monarquia?
E ao jovens, apenas o fraca ideologia! Pq um dia acreditei que seria melhor, e quando chegaram lá, fizeram pior.

alisson disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
alisson disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Renaldo disse...

Lembrem-se, foi no governo da FLORESTA de Jorge Viana que mais ocorreu desmatamento no ACRE, segundo a revista VEJA, então?!. Jorge Viana "verdinho", hahahaha.