quinta-feira, 3 de novembro de 2011

LEVIANDADE, IDEOLOGIA E ÓDIO

Vera Olinda Sena

Trago alguns esclarecimentos sobre a “Carta do Acre”. A carta até motivou para que colocássemos pontos adormecidos para a sociedade e aquecer o debate responsável; contribuir com a informação e com a transparência. É, portanto, bastante oportuno esclarecer que a carta não reflete o pensamento de uma parcela pró ativa do movimento social do Acre, nas questões colocadas a revelia do debate amplo sério e democrático sobre o nosso estado. Lamentavelmente os signatários da carta perderam o foco de um evento que poderia ter sido muito bom para a formação de opinião sobre REDD e perderam o bonde da história. Não participamos da oficina,  mas percebemos isso pela carta que ora circula em nossa rede e em outras.

Acho leviano que alguns signatários da carta, os que nunca tinham estado no Acre antes, apresentem um documento, como resultado do evento, opinando sobre a mudança de governo em nosso estado no ano de 1999.  Como podem chegar pela primeira vez em um estado e já emitir opinião segura e juízo de valor sobre um projeto de governo? Como podem não colocar a parcialidade na visita que fizeram, supostamente de poucas horas, em uma comunidade e já publicarem certezas sobre as condições de vida da comunidade visitada? Que matriz de desenvolvimento sustentável estas instituições querem construir com base exclusiva em ideologia e ódio ao governo da Frente Popular?

Os signatários desta carta, os que não conhecem nossa realidade acreana, não podem chegar ao Acre desmontando o que levamos anos, e custou vidas, para construirmos. Nós que trabalhamos muito para dar institucionalidade ao Acre,  sabemos muito bem o que foi construir essa sociedade. Estamos até hoje, e já se passaram mais de 30 anos, buscando aprimorar nossas ações públicas em diálogo aberto com os diferentes setores que compõem uma nação. Os signatários que não conhecem o Acre não sabem que nas décadas de 1970 e 1980 estávamos ameaçados, juntos com seringueiros, ribeirinhos, agricultores sem terra e indígenas, lutando pela sobrevivência, nossa e da floresta.  E os  que conhecem, deveriam aceitar as diferenças e saber que, com o tempo mudanças ocorrem e assim o projeto original muda também, embora os princípios permaneçam.

Quanto ao governo, sim, claro, tem falhas, problemas e as dificuldades são muitas, mas não se compara ao que vivemos com os anteriores aos 3 mandatos da Frente Popular do Acre (FPA).  O Acre hoje tem governabilidade e tem institucionalidade, coisa que não tinha antes e fomos nós, o movimento social, organizado e responsável,  que deu.  Para quem não vive aqui informamos que, hoje, temos oposição desqualificada e ainda defensora do desmatamento. É enorme  nossa tarefa e missão para mostrar que floresta em pé gera riqueza.

Fizemos no passado, e no presente fazemos muito mais: fomos nós que construímos políticas públicas, que são referência para a Amazônia sustentável. Vou citar alguns exemplos, e já peço desculpas porque, agora mesmo, não terei tempo para mostrar em números o que vou elencar. Posso fazer nos próximos dias, mas está disponível em sites  e publicações como Acre em Números, CPI-Acre, Sefaz, ZEE e Biblioteca da Floresata.

Alguns exemplos de politicas públicas:

Povos Indígenas – políticas públicas específicas de gestão territorial  e ambiental produção, educação e cultura. O Acre é o único estado do Brasil que tem um programa de formação de agentes agroflorestais indígenas com reconhecimento oficial do Conselho Estadual de Educação;

Políticas Públicas Ambientais - redução do desmatamento no Acre, comparado a outros estados amazônicos e crescimento PIB do Acre; ordenamento Territorial que, por meio do ZEE ( Zoneamento Ecológico Econômico) planeja melhor o uso dos recursos naturais e considera para isso os modos de vida e culturas dos povos indígenas e tradicionais;

Política Pública  Cultura e Sociedade – temos sim, fortalecimento  da governança  nos espaços de participação da sociedade - conselhos e comitês.

Na CPI-Acre não trabalhamos diretamente com economia, mas posso afirmar que o Acre avançou na economia de base florestal (castanha, madeira e borracha). Avançamos na produção familiar e temos o programa de certificação da propriedade rural, baseada em experiência das ONGs de produção em base agroecológica.

Poderia citar vários outros exemplos, mas a hora está adiantada.

Por fim, minha sugestão é que vejam vários outros documentos que circularam a respeito desta “Carta do Acre” referente a esclarecimentos e contraponto sobre o Acre. Também sugiro a leitura da carta da  Rede Acreana de Mulheres e Homens esclarecendo que não foi consultada  e que não autorizou a inclusão de seu nome como signatária da “Carta do Acre”. Vejam em anexo.

Somos a favor do debate aberto e transparente. A questão não é ser a favor ou contra REDD, a questão é debater, construir e mostrar saídas e soluções que garantam  os direitos plenos e vida melhor para todos, com a floresta em pé.

Vera Olinda Sena é da Comissão Pró-Índio do Acre

7 comentários:

joao disse...

O problema está exatamente na última parte de seu artigo, Vera: "Manter a floresta em pé". Do jeito que vai, pela política pública de desenvolvimento que você defende, a floresta tá se ajoelhando em nome da exploração ecocapitalista. Abra o olho.

Aguerrida disse...

Vera, quem diria que você fosse capaz de escrever um texto desses...é muita pressão, tá tudo dominado!!! Que vergonha para as instituições e povos que você "representa", lamentável...

Dantas disse...

Fico com a Floresta em Pé + Replantar o que foi destruído.

Aguerrida disse...

Replantada por quem? Pela Empresa do Secretário de Florestas e do sócio, Adjunto da Secretaria de Indústria? Povo é esperto, defendem reflorestamento para alimentar os milhões que estão caindo nas suas contas, através de "laranjas". Tem gente que vai estourar esse balão, to só esperando a cacetada...de camarote!

Francisco Nazaré disse...

Quando querem achar um culpado pelo fracasso, sempre recorrem colocando a culpa nos governos passados e desqualificando a oposição. A de hoje é uma oposição limpa, porque a turma que fazia parte no passado, está iserida na folha e nas licitações do atual governo. Desafio a fazerem um levantamento nas fichas dos que estão no governo e dos que estão na oposição. Quem mais tem limpa?
Além do mais, a realidade econômica do nosso país era outra. Todos os problemas que tinhamos antes, temos agora e em maior numero. Insegurança, Desemprego, falta de Habitação, Saúde, etc...

caos disse...

O que é "pro-ativa"? (parece marca de iogurte pra mulheres...). O que é "desenvolvimento sustentável"? Enquanto as pessoas se escondem atrás dessas palavras vagas e desses clichês, empresas, governos, secretários e lobbistas operam agendas muito claras (ainda que não para o público geral) e bem definidas, e conduzem as políticas de apropriação e de acumulação capitalista. A desmobilização dos movimentos sociais, a necessidade dos acordos, dos salários, dos recursos pros projetos, continuam manetando a ação direta contra esses que vendem as florestas acreanas, favorecem os grandes e dão migalhas pra população. O governo do estado já é refem do pior tipo de politica, mas traveste essa situação como uma conquista. Isso sem falar no fato da política acreana estar de joelhos na frente dos pastores e etc. As ONGs devem transformar radicalmente sua prática. Vender carbono, articular PSA, dar esmolas em prêmios de cultura, nada disso vai parar essa imensa locomotiva que se dirige para o abismo. Petróleo do Juruá, exploração madeireira descriminada, a maior população carcerária proporcional do país, composta de jovens que sem alternativa vão trabalhar no narcotráfico... Não estamos nada bem. A srta. Vera deveria rever o discurso da CPI, adotar uma postura mais clara e mais crítica, largar o pequeno lobby. A época é de conflito, e não de ficar bebendo vinhozinho na casa de que manda há mais de 12 anos nesse Estado.
Ou seja: de que lado vocês estão?

Aguerrida disse...

Urra CAOS...belíssimo argumento! Me manda um e-mail, p gente trocar Face...já ví que temos mt opiniões e interesses similares!