sexta-feira, 4 de novembro de 2011

CORPO

José Augusto Fontes

Não interessam tuas proezas
Teus amores
Tuas mão dadas
O sorriso entregue, teus rancores
Não preciso do teu abraço levado
Do teu suspiro embriagado
Do teu jeitinho enfeitado.

Não sonho com teu pecado
Mas não querer é pecar
É ficar em ilusão e romance
Coisas em que se perde o prazer
E romance não interessa.

Não interessa tua beleza
Tua certeza, teus temores
Não serve a bondade dispersa
Não valem as mentiras caladas
Nossas baladas, nada disso expressa
A acesa paixão.

Aquele teu gemido sincero
O teu voltar que não espero
E não preciso nem de inspiração
Para dizer que não interessa o carinho
Que não importa nem um pouquinho
Tua saudade em exposição.

Não desejo tua nobreza
A esperteza das pernas morenas
Não pronuncio tua boca pequena
Deixei o sabor, não vigio teu humor
Nem lembro de como é inconstante
A cor dos teus cabelos, não interessa.

Agora vou ter pressa
Vou calar teu ai, o depois já vai
Vou sair, precisando ficar
Aparar teu gesto que cai
Vou apenas olhar um instante
Dois instantes, três, espreitar, atacar
Mesmo sem interessar amar.

Não interessa te seguir
Ouvir teu canto, teu falsete
Nem o lembrete no perfume
Teu gosto, perdi no ciúme.

Mas quero teu corpo
Dele sai tudo isso, aquele grito
Esse prazer, daquele, preciso
Enquanto tudo não sai disso
Quero apenas teu corpo
Para entrar e ficar
Repetir mentiras, certezas
Apenas teu corpo
E nem é preciso amar.

José Augusto Fontes é poeta, cronista e juiz de direito acreano

4 comentários:

Francisco Cândido Dias disse...

Eu já gostei de usar palavras difíceis
Em volta do pescoço
Rimas coloridas nos pés dos versos
Daquelas que todo mundo tem
Daquelas que se repetem
Alguma ironia, alguma comparação
Pra descobrir se estava bom.
- Não sei não. Acho que hoje saio sem
Minha chave de ouro da ultima estrofe
Pra parecer alguma coisa sem fim
Sem solução
As reticências numa mão
Na outra uma exclamação
Sobre a cabeça a interrogação
E o guarda-chuva
Que não combina com nada.
Vou sair de verso branco e básico
Pra não ser muito notado
Pra ninguém notar a poesia que apagaram
Por estar fora de moda.
Infelizmente no Brasil esqueceram o mais importante; a EDUCAÇÃO, o EDUCANDO, o amor pela leitura.

GiselleXL disse...

Que legal, Altino! Lembro do meu pai me mostrando uma crônica do José Augusto, no jornal Página 20, me mandando ler e dizendo: "esse cara é meu amigo", e depois me apresentando ele num supermercado. Quase num clima: "taí, tu quer escrever, então conheça gnt q escreve direito!". Gostei de ler esse poema aqui, conhecia apenas o lado cronista dele. Manda mais coisa boa pra gnt, Altino! até mais!

Pietra Dolamita disse...

Muito bem escrita! Gostosa de ler e ainda pensar...

Vera A. Martins disse...

Maravilhoso! Embriaguei-me com este poema. E pensar que nem mesmo conhecia o autor! Sinto vontade de um bis!