domingo, 9 de outubro de 2011

O SONO DE CADA UM

José Augusto Fontes

O sono a cada um pertence. Compartilhamos sonhos, mas o sono tem porções individuais, assim como a falta dele. No sem jeito para dormir, o passado nos acorda e a perspectiva de futuro nos espreita, tornando incerta a inocência dos sonhos, diante da certeza de que o despertar é passageiro, na viagem que se quer percorrer e num destino que não se quer alcançar. E nisso, o sono foge.

Cada um carrega suas dúvidas, na bagagem personalíssima que lhe cabe. A alça que conduz cada mala nem imagina o conteúdo dos nossos pesos, nesse sono leve que não quer chegar. E no sem jeito de adormecer, o caminho que nos faz inquietar parece sempre o mesmo, para frente ou para trás, como se tudo sempre estivesse fingido, num descansar mal dormido. E isso, é melhor ver para crer.  

É assim que se engana a noite. É assim que se ilude o dia, fazendo de contas que despertamos para ele, como se um novo amanhecer pudesse mudar o sem jeito para acreditar, já passando da hora de sonhar, agora mesmo, em cada porção proibida de permanecer, em cada perspectiva inacabada de devanear, nesse sono individual que não se pode compartilhar, pois isso logo mais vai acabar.

José Augusto Fontes é cronista, poeta e juiz de direito acreano

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