segunda-feira, 19 de setembro de 2011

EXPEDIÇÃO NAZISTA NA AMAZÔNIA

POR EDILSON MARTINS


A história do Brasil é curiosa, como toda história nacional, mas não prima pela transparência. Não é à toa, certamente, que ainda agora assistimos a dois ex-presidentes, José Sarney e Fernando Collor - de memória nada grata, unidos, e se merecem - recorrerem a medidas protelatórias para impedir a abertura de documentos passados de nossa história oficial. Vai ver que sabem muito bem porque assim procedem.

Pois bem, é possível acreditar que a Amazônia, às vésperas da II Grande Guerra, recebeu, hospedou e recepcionou uma expedição nazista dita científica, e que de científica, acredita-se hoje, nada tinha?

Durante os anos de 1935 a 1937 - dois anos depois o mundo mergulharia de cabeça numa guerra mundial - essa expedição, poderosa, robusta conforme se diria hoje, instala-se ao longo do Rio Jari, na foz do Amazonas, entre os estados do Pará e atual Amapá.

Vieram com um apoio logístico invejável, um número expressivo de participantes, militares, principalmente, barcos, aviões, e uma tecnologia que, à época, era assustadora. E o mais bizarro de tudo é que foram guiados, durante esse período, por índios isolados, sem nenhum contato com o estado brasileiro, que lhes serviram de cicerones nas incursões pelos rios, brenhas de mato, varadouros, e principalmente selva.

A revelação desse episódio, dessa incursão nazista em um país soberano, na calada da selva e dos rios de então, permaneceu no limbo por mais de 75 anos e só agora sabemos dela. O mais contundente é que essa revelação não resulta da descoberta de documentos, achados, vamos dizer assim, por acaso, ou de um ou vários testemunhos oculares. O que em si já seria uma baita revelação.

O que vemos são imagens, takes que resistiram ao tempo, e que foram produzidos pela máquina de propaganda do estado nazista. Essas imagens, e são mais de duras horas de gravação, têm o DNA de Joseph Goebbels, o talentoso e diabólico chefe da propaganda nazista de Hitler e seus seguidores. Algo nos pode levar a acreditar, que este filme deve ter sido exaustivamente exibido para o povo alemão.

Não menos patético, e ao mesmo tempo assustador, é hoje sabermos que o estado nazista, no seu empenho de dominar o mundo, tinha absoluta consciência da importância estratégica da Amazônia, e que Hitler, em nenhum momento fez segredo, sendo prova disso o envio da expedição. Patético, dito um pouco atrás, é o recurso aos selvagens mais primitivos que a Amazônia ainda guardava, liderando militares, cientistas, espiões, enfim, tudo o que era necessário para um projeto dessa envergadura.

Como foi possível tudo isso? O nosso Congresso, as lideranças políticas, as Forças Armadas desconheciam essa invasão? Certamente, sim. Mais isso é outra história.

O Brasil estava entre a cruz e a suástica. Corria a segunda metade dos anos 1930, e a guerra se tornara inevitável. O Partido Nazista tornara-se hegemônico, Hitler fora alçado à chancelaria alemã, e o Brasil, inclusive Getúlio Vargas e as Forças Armadas, não escondiam admiração pelo III Reich.


A simpatia não tinha pejo de aparecer e se manifestar. Nas Forças Armadas, tínhamos chefes militares de peso: Eurico Gaspar Dutra, ministro da Guerra entre 1936 e 1945, e logo depois presidente da República; general Góis Monteiro, ministro da Guerra em 1934; Filinto Muller, chefe de Polícia da Capital Federal, responsável pelo serviço de Inteligência da ditadura getulista, e assim por diante.

No baú dos intelectuais a coisa foi curiosa, senão bizarra, vista com os olhos de hoje. Tivemos San Tiago Dantas, Gustavo Barroso, Plínio Salgado, o líder maior dos “camisas verdes”, Câmara Cascudo, Alfredo Buzaid, Augusto Frederico Schmidt, Adonias Filho, e pasmem, Dom Helder Câmera. Até o poetinha, Vinicius de Morais, que tive a honra de ter como amigo, revelava ter sido ele, também, picado pela sedução do movimento fascista brasileiro.

Getúlio Vargas, notável e maquiavélico estadista, gostemos ou não, dançou na corda bamba dessas duas nações – Alemanha e Estados Unidos –, dissimulou, fez jogo de cena, deu um golpe de Estado, prendeu, torturou, mas terminou por tirar partido dessa disputa internacional, fez a opção correta, mandou Hitler para a calendas, e iniciou o processo de industrialização do País, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ). Tudo isso, antes e pós 2ª Grande Guerra.

Essa expedição nazista na foz do Amazonas de patética não tinha nada. Ela tinha objetivos claros. Não é nenhum exercício de teorias conspiratórias imaginar a importância dessa ocupação, a dimensão estratégica desse enclave. O não previsto foi o açodamento da máquina de guerra alemã, precipitando a anexação da Áustria, a invasão da Polônia e, já um pouco antes, a experimentação da aviação nazista na guerra civil espanhola.

A expedição permanece, portanto, durante três longos anos na Amazônia. Alguns de seus membros -cientistas, militares e espiões -, a terra comeu seus pés no vale do próprio Rio Jari. As imagens das cruzes com as suásticas são mostradas. Tiveram que sair batido, a toque de caixa, já que, a partir de 1937, a Europa começa a pegar fogo.

O não menos curioso, e nada nessa história é irrelevante, é que 30 anos depois, exatamente em 1967, o magnata norte-americano Daniel Ludwig, aos 80 anos, um visionário, é levado, pelas mãos de Roberto Campos, ao gabinete então presidente, general Castelo Branco, em plena primavera ditatorial. Ali, a ditadura lhe garante segurança, e ele compra a maior extensão de terra até então da Amazônia –mais de 2 milhões de hectares – na mesmo região antes ocupada pela expedição nazista.

Ludwig implanta o projeto Carajás, assusta o País, as forças ditas nacionalistas e de esquerda denunciam que, enfim, definitivamente, a Amazônia começa a ser internacionalizada, e o Brasil passa, então, a contar com um enclave norte-americano na foz do Amazonas. Eram os vaticínios. Tudo bobagem. Os movimentos nacionalistas, além da xenofobia inerente, sempre foram mestres em teorias conspiratórias.

Numa coisa Ludwig estava certo, e o terceiro milênio está provando: a partir de agora, o desafio do mundo é alimento e energia. E o magnata apostou nas duas coisas no projeto Jari. Perdeu.

Agora, ainda na linha das teorias conspiratórias, que essas duas presenças históricas, todas duas consentidas pelo Estado brasileiro, não podem ser apenas coincidências, lá isso leva a pensar. Que deve ter coisa aí, lá isso devem...

Até porque hoje acordei com a forte impressão que estou sendo seguido. Em verdade não é impressão. Estou mesmo. Ha ha ha.

Edilson Martins é jornalista, escritor e documentarista. Nesta segunda-feira (19), às 23 horas, na TV Brasil, estreia a série “AmazôniAdentro”, de quatro capítulos, com direção de Edilson Martins e Bruno Martins.

Foto: Edilson Martins

4 comentários:

Enzo Mercurio disse...

A verdade é que tinha gente no governo da época que admirava a suástica .
Como seria o Brasil hoje se tivesse ficado do lado dos NAZIS ?

Janu Schwab disse...

Maninho, será que foi por isso que a judeuzada toda virou cristão-novo?

Fátima Almeida disse...

Assisti ainda há pouco, já iniciada, uma entrevista com uma cientista política russa, Natascha...no programa Milênio, sobre ditaduras. Entre tantas coisas ditas sobre tantas ditaduras em todo o mundo, o fato de que no Brasil houve uma "transição negociada" entre civis e militares que queriam voltar aos quarteis, sem perder suas promoções, seu acesso às armas, sua autonomia, de tal maneira que "eles permanecem no poder sem governar", disse ela. Isso explica a longevidade do poder de Sarney ou seu poderoso escudo. E tb o retorno de Collor e muitas outras coisas. Recomendo essa entrevista a todos os interessados, bastando acessar o site da globo news.

Fátima Almeida disse...

Muitos judeus viraram cristãos novos ainda no período colonial.Desse período anos 30, sabe-se que oficiais brasileiros faziam seus treinamentos na Alemanha de Hitler. Havia acordos comerciais. A guinada de Vargas pelos EUA se deu por uma questão geográfica, dificilmente Hitler poderia defender o Brasil com toda a distancia que existia naquele período. Outra coisa: já tive notícias de nazistas no Guaporé. Acho que eles estão por toda parte. O integralismo de Plínio Salgado não tinha a menor consistência, coisa de papagaio ou mimetismo. Mas o conservadorismo que o alavancava permanece muito forte na sociedade brasileira, hoje em dia sob a fachada das igrejas evangélicas. E isso é que conta. Na História do Brasil o que se move são apenas as fachadas e isso confunde a todos, dá aquela impressão ou ilusão de que o país foi pra frente...