sexta-feira, 12 de agosto de 2011

REZAR É PRECISO

POR ELSON MARTINS


Nos anos 70 e 80, na época sem chuvas que vai de abril a outubro, o Acre ardia com as queimadas e fedia a pólvora com os conflitos entre seringueiros e fazendeiros, pela posse da terra.

Com incentivos do governo federal, grupos empresariais chegados do sul e sudeste compraram 1/3 da floresta acreana e trataram de desmatar as áreas para criar bois, tendo que expulsar os tradicionais ocupantes, os seringueiros.

Os sindicatos organizados por João Maia e a igreja progressista de D. Moacyr apoiaram a resistência dos trabalhadores que perderam seus principais líderes - Wilson Pinheiro (em 1980) e Chico Mendes (em 1988), assassinados de emboscada a mando de fazendeiros.

Essa luta ganhou repercussão nacional e internacional, e o Acre virou referência ambientalista com seu povo da floresta. Hoje, decorrido 30 anos de embates, embora algumas conquistas possam ser apontadas em favor dos trabalhadores, o risco das queimadas e de exclusão social permanece.

Com um agravante: os dois ícones da resistência acreana, João Maia e D. Moacyr, estão fora de combate. Maia sofreu um AVC e perdeu a fala e parte do movimento das mãos. E o bispo, vítima de dois acidentes de carro em Rondônia, também se desloca com dificuldades, tendo que se apoiar numa bengala.

Na terça-feira (9), os dois tiveram um encontro emocionante no sítio de João Maia, no Quinari, a 30 quilômetros de Rio Branco, no qual só D. Moacyr falava, lembrando momentos históricos das lutas do passado, enquanto Maia confirmava com gestos e olhos avermelhados.

Antes de despedir-se o bispo, em pé, rezou um Padre Nosso e uma Ave Maria. Na estrada, de volta a Rio Branco, comentou:

- Ele precisa falar. Tem tanta coisa a nos dizer sobre aqueles tempos difíceis.

Elson Martins é jornalista acreano

5 comentários:

Ana de Longe disse...

Eles tem tanto a dizer, pena que tão pouca gente disposta a ouvir...que linda foto.

. disse...

Com incentivos do governo federal, grupos empresariais chegados do sul e sudeste "compraram" 1/3 da floresta acreana. Se alguem compra algo, se torna dono correto? Se eu sou dono permito apenas aquilo ou aqueles que eu quero na propriedade, certo? Se eu sou dono faço com o que é aquilo que eu bem entender, em todo o mundo é assim, quer dizer quase todo o mundo, Cuba, Bolivia, Venezuela é diferente. No Brasil NINGUEM quer respeitar o direito de PROPRIEDADE!

aurelio disse...

Personagens vivos da nossa história acreana... =)

Janu Schwab disse...

Claro, claro...Vc compra a sua propriedade com o seu dinheiro, mas descobre que dentro dela moram famílias há um bom tempo.

Mas a propriedade é sua, comprada com o seu dinheiro, em um acordo liso entre as partes. Portanto há nisso carta branca para serrar, queimar e matar árvores e - a propriedade é sua, oras - pessoas.

O discurso contra a propriedade é velho e tacanho. O discurso da posse absoluta também.

Os seringueiros serviram pra sustentar um momento econômico, o "ciclo da borracha". Aí, lá pelas tantas, vem outro momento, o "do ocupar para não entregar", e diz que todo mundo no meio do mato não vale nada? "Dá um tiro nesse aí que tá impedindo a gente de ganhar dinheiro!" Não é bem assim, né?

O que se queria na época era o manejo responsável ("sustentável" já virou termo sem sentido) das pessoas e recursos. Se o Governo vendeu as terras em nome de um "progresso", que se responsabilizasse em assentar, realocar, reposicionar, que seja, as pessoas que já estavam lá?

- Eram tempos obscuros!

Quando se está por cima da carne seca é muito fácil bradar pelo direito da propriedade como argumento contra garantias da Constituição (que parece também ser um termo sem sentido).

Nem oito nem oitenta. Ou seja: não precisa ser soviete, nem entreguista. Basta ter bom senso.

Altemar disse...

Janu, quem és tú?