Tombada como patrimônio histórico nacional e gerenciada pelo governo do Acre, o principal ponto turístico da cidade não paga as contas de água e luz há 10 meses.
A viúva Ilzamar Mendes esteve na semana passada em Xapuri e encontrou os guias do lado de fora da Casa Chico Mendes.
- Eles me disseram que estavam impossibilitados de atender os visitantes porque a chave estava perdida há mais de uma semana. Arrombei as portas, instalei novas fechaduras e levei as chaves para o gabinete do governador
Recentemente, o governo estadual revitalizou o entorno da Casa de Chico Mendes, agregando um café, uma loja de artesanato e um memorial destinado aos seringueiros, que também permanecem inoperantes. O trabalho de revitalização não incluiu a sede da Fundação Chico Mendes, que abriga o acervo do ecologista.
- Constatei verdadeiro descaso com a memória do Chico Mendes. Vai acabar tudo se a família tirar os olhos de lá. Embora o governo do Acre demonstre amor pela memória do Chico, nós da família amamos muito mais – afirma a viúva.
Ilzamar e os filhos Elenira e Sandino já se reuniram com o presidente da Fundação de Cultura, Dircinei Souza, para tratar da gestão da Casa e da Fundação Chico Mendes.
O governo estadual se comprometeu a renovar um termo de cooperação que possibilitará a reforma e conservação do acervo que se encontra na Fundação Chico Mendes.
Uma equipe do Departamento Estadual do Patrimônio Histórico e Cultural foi destacada para conceber novo projeto de conservação e revitalização dos espaços mais famosos da cidade.
No ano passado, a família do seringueiro chegou a fechar a Casa de Chico Mendes porque o governo estadual não estaria apoiando financeiramente a Fundação Chico Mendes. Porém, o governo esclareceu que não renovou o convênio porque não havia recebido a prestação de contas da entidade.
Há dois anos, Ilzamar Mendes, a filha Elenira e o genro Davi Cunha foram denunciados pelo Ministério Público Estadual por atos de improbidade administrativa na gestão de R$ 685 mil oriundos de convênios do governo do Acre com o Instituto Chico Mendes, da Fundação Chico Mendes, presidido por Elenira.
Uma cidade em crise
Localizada a 188 quilômetros de Rio Branco, Xapuri tem pouco mais de 14 mil habitantes. Por causa de Chico Mendes, virou símbolo do movimento ambientalista, mas o cenário de pobreza e desemprego permanece inalterado.
De meca do socioambientalismo, Xapuri atualmente é a expressão do atraso e da estagnação econômica na periferia da Amazônia. A sua população, descontente e descrente com os governos, é só lamentação.
Aqui não há trabalho, não há emprego, não há nada para fazer, todos estão indo embora. Os turistas sumiram e o governo parece que nem temos mais. É esse basicamente o rosário de lamentos que se ouve dos moradores.
Xapuri representa a contradição de uma política econômica de construção e adaptação do território para projetos alheios aos interesses da maior parte da comunidade que nela reside.
Nos últimos 12 anos, os governos do PT em âmbito estadual e municipal viabilizaram a instalação de novas infraestruturas na cidade –vide o Pólo Moveleiro, a Fábrica de Camisinhas e a Fábrica de Taco– com vistas a tornar a região apta e competitiva para um mercado de trabalho e produção moderno, amparado por uma estratégica ideologia ambientalista.
No entanto, esta ação já acontece como processo de modernização em crise. Os projetos na área não são orientados para as necessidades próprias do lugar, resultando numa situação antagônica: de um lado, ações e agentes impõem um uso corporativo do território endereçado às lógicas externas, e, de outro lado, os agentes locais realizam atividades simples voltadas para os interesses próprios do lugar.
Dona Cármen Veloso, de 90 anos, é a doceira mais famosa de Xapuri. Vive da aposentaria e da venda de mariolas, cocadas, biscoitos de goma, cajuína, broas e de licores de variados sabores de frutas tropicais. Ela não hesita quando indagada se a vida em Xapuri mudou após o assassinato de Chico Mendes e das gestões do PT na prefeitura.
- Xapuri está uma merda. Meu único cliente é o João Soares. Ele paga R$ 200,00 pelo café e almoço, metade a cada quinze dias, para que eu tenha condições de garantir a comida na mesa – afirma.
A população realmente não reconhece melhorias na cidade, como a instalação e funcionamento das fábricas.
- O que é gerado por elas vai tudo pra fora. Elas empregam pouca gente e levam as nossas riquezas naturais.
Quero ver o que será de nós quando nossos bens naturais acabarem, quando não existir mais madeira aqui – avalia o morador João Soares, o único cliente da pensão da dona Cármen.
Xapuri está sendo administrada pela segunda vez por um prefeito petista, Ubiracy Vasconcelos. O primeiro foi Júlio Barbosa, por dois mandatos, de 1997 a 2004.
Ex-companheiro de Chico Mendes na presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, a gestão de Júlio Barbosa é considerada um desastre.
O ex-prefeito foi condenado pelo Tribunal de Contas do Estado, perdeu os direitos políticos e se notabilizou por se dedicar mais às viagens e pescarias em rios e igarapés da região.
Com o prefeito Ubiracy Vasconcelos não está sendo diferente. A população reclama de sua ausência constante da cidade. A reportagem tentou entrevistá-lo em vão.
- Estamos fazendo de tudo para não incomodar o prefeito. Ele está na capital porque o pai dele adoeceu.
Quando pode, vem a Xapuri rapidinho. Quando não pode, enviamos para Rio Branco os documentos que necessitam da assinatura dele – explicou o assessor de imprensa da prefeitura Haroldo Sarkis.
Xapuri, conhecida no Estado com o apelido de Princesinha do Acre, é berço de gente tão famosa quanto Chico Mendes: o médico Adib Jatene, o ex-ministro Jarbas Passarinho e o falecido jornalista Armando Nogueira.
7 comentários:
kd os Europeus que tanto querem a floresta em pé.
E o povo come o que ?
Sou a favor da questão ambiental mais antes temos que melhorar a vida do povo.
Se fosse só xapuri ainda se poderia dar um jeito, mas o problema é que o Acre inteiro está uma merda!!! E ainda tem gente que fala que é o melhor lugar pra se viver... Mas na verdade pra quem tá se fartando nas tetas do governo realmente é o melhor lugar... lamentável...
Um secretário ganhando R$19.000,00 um assessor especial R$17.000,00 é o melhor lugar do mundo pra enriquecer a custa da miséria dos outros!!! Aínda tem pensão vitalicia, secretário vitalicio, etc. etc. etc..
O nosso ACRE é tanto o melhor lugar para se viver na Amazônia, que quem disse esta frase está vivendo e se dando bem fora do nosso querido ACRE.
Não posso concordar com a afirmação de Dona Cármen Veloso de que “Xapuri está uma merda”. Mas aceito incondicionalmente seu argumento, pois, realmente, a “velha princesa” passa por “tempos tristes”. Tempos de desesperança, saudosismo e melancolia
Nos últimos meses tenho visitado com certa freqüência Xapuri, minha terra natal. Por determinação da UFAC/CCJSA estou orientando as Monografias dos alunos do Curso de Economia de lá. Processo bastante rico por sinal, principalmente de aprendizados. Inclusive, após as defesas dos trabalhos, a idéia é organizar um livro contendo os 10 melhores artigos dos alunos da “princesa que virou plebéia”.
Constatações sobre Xapuri que podem provocar reflexões:
1) A população urbana reclama de tudo e de todos, principalmente do Prefeito. O adjetivo mais utilizado quando falam do Prefeito é “sem iniciativa”. Com freqüência os Xapurienses urbanos, quando perguntados, afirmam: “o prefeito é uma pessoa boa, não é brigão como o anterior, fala com todo mundo, mas não tem iniciativa para Administrar Xapuri. É muito devagar, não está sabendo aproveitar o Governo de seu próprio partido”. Fiz várias entrevistas informais com populares e pude constatar a afirmação.
2) O sentimento dominante do povo urbano é o do “já teve”. Já teve praias limpas propicias para banhos e festivais; já teve uma vida noturna com tradicionais bailes; já teve bom futebol nos finais de semana; já teve as melhores festas juninas do Acre; já teve o melhor carnaval do interior; já teve até movimento social rural...já teve.
3) Praticamente não existe opções de alimentação na cidade. São raros os locais onde se pode degustar algo, principalmente durante a noite. Em Xapuri, pelo menos é o pude constatar, somente existe um lanche/bar, que inclusive está localizado/construído em local não apropriado. No meio de uma praça pública. Durante o dia, somente em um local é possível se alimentar no estilo comida rápida. Muito pouco para uma cidade que se diz “turística”.
4) O comércio está praticamente falido devido à influência da ZOFRA Boliviana. A população compra fiado o mês todo no comercio local e, no final do mês, quando sai o pagamento, vai comprar cash na Bolívia. Isso já é resultado das monografias dos alunos de Economia.
5) Praticamente não existe opções de emprego para os mais jovens na cidade. As tão propaladas fábricas localizadas na região pouco tem contribuído nesse sentido. Mais a esse respeito, prefiro aguardar as duas monografias dos alunos de Economia de Xapuri cujo objetivo é esclarecer “os reais impactos na Economia do Município” desses investimentos.
O MAIS GRAVE:
6) O índice de jovens (maioria filhos e filhas de ex-seringueiros) se prostituindo e se drogando é alarmante. Se o leitor quiser comprovar é só visitar o “Mirantes Bar” após meia noite de qualquer final de semana.
Por conta de tudo isso (e outras coisas que não comentei), os xapurienses novamente pensam tirar o PT do poder municipal. Do mesmo modo como fizeram para eleger Wanderley. Foi o que pude concluir com minhas "pesquisas informais" na cidade. A bola da vez se chama Marcinho Miranda - PSDB. Muitos também afirmam que Manoel Morares, o Deputado, será “o cara” que decidirá as eleiões municipais.
Carlos Estevão
Xapuriense/Professor da UFAC
Visitei Xapuri, realmente eh lastimavel a situação da cidade.
Acredito que quem quer melhorar de vida precisa produzir, investir , usar bem os recursos ...o problema de xapuri eh que nunca teve, a exemplo de outros municipios um prefeito trabalhador e cheio de ideias , de alternativas aos problemas , os prefeitos de xapuri , sempre foram de certo modo subservientes e extremamente dependentes.
O Acre eh na minha modesta opinião o melhor lugar pra se viver sim, moro na Zona rural de senador guiomard, não sou secretario de coisa alguma e muito menos ASPONE de ninguem, mas acordo cedo e vou trabalhar todos os dias... problema de muitos no meu Querido ACRE eh mesmo ficar esperando por mamatas ou ate, dar razão demais a discursos de pseudos ecologistas (que nada produzem alem da reprodução dos discursos de ONGS)
Lamentável.. Eis a razão pela qual o Acre é o pior lugar pra se viver na Amazônia, tendo em vista o desrespeito com a nossa história recente! Enquanto isso, Sebastião Viana pega um emprestimo de quase 700 milhões. O Acre está arrendado... Nosso futuro comprometido, e o estado, daqui uns anos, inviável de se gerir!!! Será que o Brasil e o mundo ligam pro nosso esforço no que diz respeito a economia sustentável? Ou seria necessário desmatar, acabar com todo o verde pra darmos qualidade de vida aos nossos habitantes?
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