terça-feira, 24 de maio de 2011

NA BR-364, VIAGEM NO TEMPO GEOLÓGICO

Construção da rodovia revela Acre pré-histórico


De Rio Branco a Cruzeiro do Sul, no Acre, a BR-364 corta em muitos pontos sedimentos da Formação Solimões de idade terciária, cuja fonte de deposição foi a Cordilheira dos Andes, em decorrência do seu processo de elevação.

Trata-se de um processo iniciado a partir do período Cretáceo (65 m.a), período em que os dinossauros estavam se extinguindo na Terra e teve seu ápice no período Mioceno (8 m.a).

- Após a morte, plantas e animais que viveram no Acre pré-histórico foram soterrados e passaram por processo de fossilização, que é lento e natural, permanecendo enterrados por milhões de anos - assinala o paleontólogo Jonas Filho, da Universidade Federal do Acre.

Atualmente, quando as máquinas fazem cortes ou refazem os antigos cortes, os fósseis aparecem e revelam uma história escondida pelo tempo.

- O achado de um simples dente, escama ou garra, podem oferecer pistas extraordinárias sobre o ambiente e o hábito dos animais pré-históricos - acrescenta Jonas Filho.

Embora não existindo mais, os animais pré-históricos são, nos dias atuais, objeto do estudo dos paleontólogos para subsidiar o entendimento dos processos evolutivos da natureza.

Pesquisadores e acadêmicos de biologia da Ufac, coletaram fósseis de peixes, caranguejos, répteis e mamíferos, datados de oito milhões de anos, na BR-364, no município de Manuel Urbano.



Os achados foram efetuados na semana passada, durante uma atividade prática da disciplina Paleontologia da Amazônia, ministrada pelo professor Jonas Filho, com a colaboração do professor Edson Guilherme, ambos do Centro de Ciências Biológicas e da Natureza, e com o apoio técnico do Departamento de Estradas e Rodagens do Acre.

Nos últimos três anos, pesquisadores da Ufac, em parceria com o Deracre, acompanham e monitoram as obras realizadas na BR-364, no trecho que compreende os municípios de Manuel Urbano e Feijó.

O objetivo é identificar novos sítios paleontológicos e fazer o salvamento de material fóssil, oportunidade em que os estudantes podem participar como atividade prática do curso.

As pesquisas paleontológicas ao longo da BR-364 vêm sendo realizadas pelos paleontólogos da Ufac e colaboradores desde a década de 1970 e dezenas são os sítios já catalogados.

O sítio Lula, localizado a 8 Km da margem esquerda do Rio Caeté, em Sena Madureira, foi um dos primeiros registrados para a ciência com grande potencial fossilífero.

Dele resultou a publicação do jacaré Caiman brevirostris (jacaré de rosto curto), descrito em 1977 pelo paleontólogo Jonas Filho e do gigantesco peixe Acregoliath rancii (Golias do Acre), descrito pela paleontóloga Marta Richiter, do Rio Grande do Sul, prestando homenagem ao paleontólogo Alceu Ranzi.

Outro destaque mapeado na rodovia, que apresenta grande quantidade de fóssil, é o sitio Morro do Careca, em Feijó.

O sítio tem recebido a visita dos pesquisadores da Ufac e está se transformando em verdadeiro laboratório a céu aberto para os acadêmicos de biologia do Campus Floresta de Cruzeiro do Sul.

Os nomes dos sítios são referidos ou oferecem homenagem aos donos das localidades onde estão situados ou são nomes de localidades já conhecidas pela comunidade.

- Quando a BR-364 for concluída, uma viagem poderá se transformar em uma grande aventura pelo tempo geológico. Com apoio, será  possível transformar algumas das localidades fósseis ao longo da rodovia em museu aberto e a disposição do público viajante. Além do esqueleto em sito, na condição natural de preservação, réplicas em tamanho original poderão se confeccionadas, dando um realismo ao local onde viveram no passado. Este é um sonho meu - conclui Jonas Filho.

Fotos: Jonas Filho/Ufac

2 comentários:

Enzo Mercurio disse...

E petroleo nao acharam ? se tem fossil tem petroleo ou estou errado ?

Rodrigo disse...

Pré-histórico mesmo é esse ônibus da UFAC... e pela cara dele ele ta menos conservado que os fósseis encontrados.