sexta-feira, 30 de abril de 2010

PREFEITO VISTORIA OBRAS


No sábado (24), me equivoquei ao anotar neste blog que o prefeito de Rio Branco Raimundo Angelim (PT) parecia ter exagerado ao enviar uma quantidade de máquinas e homens superior à de buracos na Estrada Irineu Serra. Angelim veio conferir nesta quinta-feira (29) os serviços da operação tapa-buracos e mandou que as equipes retornassem nesta sexta-feira (30) para aperfeiçoar o trabalho. O movimento de máquinas e homens continua intenso aqui e em vários bairros da cidade.

DANIELLE MITERRAND NA FPA


Com a presença da ex-primeira-dama francesa Danielle Miterrand, a coligação Frente Popular do Acre (FPA) apresentou na manhã desta sexta-feira (30), em Rio Branco, os seus candidatos aos cargos majoritários.

- Estou Aqui em nome dos princípios inaugurados por Francois Miterrand, que buscava a união das esquerdas - disse a ex-primeira.

Leia mais no Portal Terra.

OS ÚLTIMOS SOLDADOS DA BORRACHA

POR CÉSAR GARCIA LIMA

Encontrei José Alves Costa no balcão de seu bar na beira da rua, em Plácido de Castro. Aos 86 anos, sem camisa, ele não parece ter se esquecido de nada do que passou como soldado da borracha.

Desfia as histórias sobre a perseguição do submarino alemão ao navio em que vinha para o Acre como se tivesse acontecido ontem. Diz que tirava de 30 a 35 latas de leite (látex) por dia.

E, dedos em riste, não acredita que a aposentadoria (dois salários-mínimos, sem décimo-terceiro) vá ser equiparada a dos pracinhas (sete salários).

Quando pergunto sobre os bichos da mata nos tempos em que viveu no seringal, abre o verbo:

- Onça não faz medo, faz medo é cobra e cabra ruim.

Digamos que seu José sabe se defender.

Realizando pesquisa para um documentário, o jornalista acreano César Garcia Lima relata seus encontros com os últimos sobreviventes do esforço de guerra. Mais de 50 mil nordestinos viraram seringueiros para ajudar os países aliados durante a Segunda Guerra Mundial. Leia mais no blog Soldados da Borracha.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

NO PAÍS DA SUSTENTABILIDADE

POR HILDEGARD WILLER

Três horas dura o vôo de Brasília a Rio Branco no extremo noroeste brasileiro, no meio da selva amazônica. A cidade de Rio Branco tem cerca de 350 mil habitantes e é a capital do Estado do Acre, que apenas chega à população de 680 mil. Pouca gente dos centros urbanos de São Paulo ou Rio de Janeiro chega até aqui. Entretanto, o Acre tem um lugar garantido na recente história brasileira. Aqui, na fronteira entre Brasil, Peru e Bolívia, se originou o movimento ambiental brasileiro.

Fui no início dos anos 80 do século passado. O seringueiro Chico Mendes não se cansou de protestar contra a colonização irregular e a depredação da selva amazônica por parte de pecuaristas e madeireiros, que acabaria também com as seringueiras. Chico Mendes pagou por seu compromisso com a selva amazônica com sua vida. Em 22 de dezembro de 1988 Chico Mendes foi assassinado por um criador de gado. Sua morte destapou inicialmente uma preocupação internacional pela selva amazônica.

Chico Mendes segue onipresente no Acre, 22 anos mais tarde. Uma reserva de seringueiras leva seu nome e sua estátua adorna a Praça dos Povos da Floresta. O seringueiro ascendeu ao posto de herói popular em uma Rio Branco onde o boom econômico se percebe por todos os lados. Carros novos enchem as ruas recém-asfaltadas; dois novos parques ecológicos embelezam a imagem da cidade; novas bibliotecas e praças públicas que estão conectadas via rede sem fio gratuita para todos os cidadãos. Crianças e jovens passeiam com seus uniformes escolares depois da aula, quase não se vêem mendigos. Só poucos acreanos vivem hoje em dia do látex. A tradição antiga de tirar o látex foi transportada ao museu da cidade, onde jovens guias mostram a turistas como se produzia, então, a borracha, a bola de látex.

O boom econômico tem nome e sobrenome: Brasília e Lula. “90% do nosso orçamento são transferências de Brasília”, diz o jornalista acreano Altino Machado. Com seu pacote nacional de aceleração do crescimento econômico, o Estado está onipresente: controi colégios, praças públicas, avenidas, parques. Não deve assustar frente ao grande investimento estatal que os acreanos elogiem a seus representantes estatais: primeiro o presidente Lula, depois o governador Binho Marques e seu prefeito. Os três servidores pertencem ao Partido dos Trabalhadores (PT), o partido brasileiro com mais bases e estruturas em todo o país.

Hildegard Willer é jornalista alemã.

Leia o artigo completo no Blog da Amazônia.

terça-feira, 27 de abril de 2010

É O QUE VEJO



Por entre dois pés de açaí, sobre a castanheira gigante plantada pelo velho Juramidã.

MAIS ARTE


Repórter fotográfico Odair Leal apresenta seu trabalho no Tribunal de Justiça do Acre. O público é convidado a conhecer as duas exposições mais recentes do fotógrafo: “Os Sem Terras da Amazônia” e “Povo Yawa”. Saiba mais aqui.

TIÃO VIANA


Portal Terra publicou na semana passada entrevista (leia) que fiz com o senador Tião Viana (PT-AC). Ficou longa e tivemos que suprimir cinco perguntas.

Como sempre, o senador havia me recebido muito bem e respondido a todas as perguntas sem fazer cara feia. Eu que falhei ao esquecer de perguntar a respeito do referendo popular que decidirá sobre o fuso horário do Acre. Eis as perguntas:

O que se convencionou chamar de governabilidade exige mesmo que se faça alianças tão contraditórias para a história dos partidos e dos políticos?
A disputa pela hegemonia política de um país, de um estado, envolve política de alianças. O sistema de eleição proporcional no Brasil criou distorções graves, procedimentos muito perigosos até pra formação da unidade. Quando o sistema proporcional brasileiro diz que você ao disputar uma eleição você vai competir com um quadro do seu lado, que é do seu partido, e não com os adversários, basicamente se rasga os valores ideológicos que devem fazer parte das concepções programáticas de partido. Isso é da natureza da Constituição de 89. Isso quer dizer que não se governa no Brasil sem política de alianças. Quem for com uma cor única, sem uma visão política de alianças, não vai conseguir governar. O que importa é que, na disputa pela hegemonia do projeto, você preserve os melhores valores do seu projeto para construir uma oportunidade de mudança com a sociedade. Dá para dizer que o presidente Lula é dominado pelos partidos que não tem a mesma qualidade ideológica do PT ou que têm diferença com o que o PT pregava até recentemente? Não. Eles não dominam e não têm uma influência capaz de atrasar o que o presidente Lula tem feito pelo Brasil. Criam retardos nos avanços das melhores políticas. Não se governa sem alianças, diz Iatamar Franco, Fernando Henrique. A reforma política pode corrigir isso. Ela pode dizer que, para ter uma posição programática, uma identidade partidária, é necessário ter conteúdo e compromisso ideológico. Ou seja: você tem que ter claros os caminhos que você vai apresentar para a sociedade, que você não vai confundi-los, misturando com projetos dos que serão os vencedores, mas preservar as metas e políticas de longo prazo. Isso pode mudar efetivamente a qualidade da representação política e partidária no Brasil. O debate que existe hoje entre Republicanos e Democratas, nos Estados Unidos, é um debate muito mais avançado do que ocorre hoje na democracia brasileira. Ali existe clareza ideológica.

Isso também se estende aos estados? No Acre, o PT fez alianças com gente como o ex-governador Orleir Cameli, que era acusado como exemplo do que havia de pior na política.
O PT não fez aliança com o ex-governador Orleir Cameli. Ele viveu o seu calvário na política, todas as dificuldades de governar o Estado, passou por toda a crise, o Acre vivia sem perspectiva naquele momento. O projeto da coligação Frente Popular do Acre foi vencedor e o ex-governador apoiava os adversários naquele momento. O ex-governador entendeu que a melhor perspectiva para o desenvolvimento do Acre e o melhor caminho político que se tem para o Acre é o da Frente Popular. E é por isso que ele se diz simpático e respeitoso. Isso é da natureza da política. O voto você respeita de onde ele, mas você não pode falar em aliança.

O senhor é o maior entusiasta dos estudos para prospeção e exploração de petróleo e gás no Acre. Com a descoberta do pré-sal não é conveniente um recuo dessa atividade no coração da Amazônia?
Não. O que acho que devemos ter é um inventário mineral dentro do estado do Acre. Há informações, que não correm nos corredores formais da inteligência brasileira, que temos alguns itens que precisam ser identificados na Amazônia e a região do Acre é uma região estratégica. O gás e o petróleo são derivados fósseis que têm uma participação importante na economia mundial hoje e na base de desenvolvimento de qualquer sociedade. Como nós estamos focados com uma forte influência ambiental, acho que as coisas podem estar conciliadas: o diagnóstico, o levantamento situacional, as potencialidades, os compromissos de preservação ambiental. Temos que ver se é mais interessante para nós dizer que será um item da bolsa de armazenamento de carbono ou se vamos explorar. O que importa é que o preconceito seja diminuído. Estamos sendo iluminados nessa sala por luz a partir de diesel sujo lá em Rondônia. Se nós estivéssemos usando gás natural, estaríamos emitindo 40% a menos de enxofre e outros gases poluentes. O pré-sal não vai afetar em nada o desenvolvimento estratégico do Brasil. Qualquer fazenda de gado no Acre é muito mais degradante para o meio ambiente do que uma plataforma de gás de Urucu, no Amazonas.

No Acre, antes de chegar ao poder, o PT fez campanhas contra a aposentadoria para ex-governadores. O partido hoje domina a política estadual, mas o benefício da aposentadoria aos ex-governadores permanece. O sr. é a favor ou contra esse benefício aos ex-governadores?
Esse não é um assunto simples. Fico pensando o que seria do presidente Lula se ele não tivesse o amparo da estrutura partidária nacional, de um estrutura de segurança para ele, que enfrentou cartéis e máfias, esquemas de corrupção marcantes no Brasil. Como seria para ele sobreviver com um salário de R$ 4,5 mil? Como ele viveria se não tivesse direito sequer à segurança? É o caso de um governador como o Jorge Viana, que foi ameaçado pelo esquadrão da morte e continua ameaçado, de acordo com os relatórios de inteligência. É de alto risco a situação dele dentro do Estado. Não tratamos disso publicamente e tomamos os devidos cuidados. Veja o caso de esposas de ex-governadores, que não têm qualquer fonte de renda, passariam a viver com um salário mínimo. Será que é injusto para o Estado conceder o benefício a um agente público envolvido em ações complexas, que enfrenta organizações criminosas, mas não tem direito depois a poder pagar o estudo de um filho ou não dispor de uma segurança mínima? Esse é um debate que tem que ser travado pela sociedade. No meu plano pessoal, sou professor universitário concursado afastado, sou médico do Estado. O meu salário não seria em nada incompatível com a minha condição básica de vida. Um ex-presidente dos Estados Unidos passa a ter a mesma condição de segurança do presidente a vida toda. Conheço viúvas de ex-governadores que estariam pedindo dinheiro nas esquinas se não tivessem essas pensões dos maridos.

Mas no Acre mesmo existem políticos que recebem aposentadorias como ex-senadores e ex-governadores.
Neste caso não pode. No Senado graças a Deus isso acabou. Não existe mais senador ou deputado que possa ter aposentadoria. O estado tem que ter responsabilidade com aqueles que o representam em situações complexas e adversas. Se uma pessoa tem renda compatível com as suas necessidades, não tem razão de recorrer a esse direito. Não é salário que enriquece ninguém. O que dá uma condição de vida econômica é o setor privado, a luta empresarial.

domingo, 25 de abril de 2010

A CERCA


Vocês nem podem negar que sou bom pintor de parede. Tanto que a referência do endereço da casa passa a ser "na cerca mais bonita da Estrada Irineu Serra."

Agora é sério: o governo estadual se diz da floresta, defensor da sustentabilidade ambiental, mas não incentiva nem facilita o acesso da população local à madeira que é explorada até de áreas públicas para exportação. E quando constrói, o próprio governo prefere alvenaria.

AVISA QUE ESTÃO MATANDO O MINDU

POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE

Quinta feira, 22 de abril. Oito horas da manhã. Toca o telefone. Atendo. Ligação interurbana. É de Manaus. A voz de alguém que não conheço geme, angustiada, do outro lado da linha, pedindo socorro:

- Estou agorinha presenciando um assassinato daqui da janela da minha casa, no Parque Dez!! Eu, minha mulher e minha netinha!!!

Alarmado, aconselho que chamem a polícia. Justifico minha omissão:

- Moro no Rio de Janeiro. Não posso fazer nada.

- Pode sim! Pode escrever. Escreve. Avisa que estão matando o Mindu. Denuncia o crime. Dá o nome dos bandidos - segredou a voz, num cochicho, como se temesse ser ouvida.

Depois, continuou descrevendo, lance por lance, o que via através da janela indiscreta. Narrativa tensa, cheia de suspense, como num filme de Hitchcock. Transcrevo o que ouvi, na esperança de que os criminosos sejam identificados e punidos. Duvido, no entanto, que a violência contra desconhecidos, hoje tão banalizada no Brasil, possa comover alguém.

Afinal, quem é que está preocupado em saber se um tal de Mindu está morrendo num bairro de Manaus? Azar o dele! Se a vítima fosse uma celebridade, vivesse na Islândia, se chamasse Eyjafjallajoekull e cuspisse fogo, vapor e fumaça preta, zoneando assim o tráfego aéreo, o mundo inteiro se agitaria. Mas Mindu, o inofensivo? Quem é Mindu no jogo do bicho? Ninguém sabe.

Parque Zero

Ninguém, vírgula! Os manauaras sabem. Conhecemos o Mindu, o maior igarapé da área urbana de Manaus. Ele nasce numa floresta próximo ao Jardim Botânico Municipal e atravessa toda a zona leste da cidade, num trajeto de mais de 20 quilômetros, correndo por um leito pedregoso. Vai se juntando a outros igarapés até desaguar no Rio Negro. Durante décadas, abrigou muitas espécies diferentes de pássaros, insetos, mamíferos, répteis, tartarugas e plantas e deu água fresca aos abundantes buritizais que, em troca, lhe proporcionavam sombra.

Sombra e água fresca: o Mindu era isso. Era quase um paraíso. Em uma de suas margens, terminava a cidade, em outra começava a floresta. De um lado, o bicho urbanóide. De outro, o bicho do mato. Foi ali, naquela região de fronteira, que suas águas foram canalizadas, em 1938, para formar uma piscina natural. O balneário, onde aos domingos as famílias faziam piquenique, foi batizado como ‘Parque Dez de Novembro’.

Hoje, poucos sabem as razões do nome. Era uma homenagem à data do golpe. Um ano antes, 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas fechou o Congresso Nacional, suprimiu as liberdades democráticas, instaurou censura férrea e prendeu e torturou os opositores. Dessa forma, o interventor no Amazonas, Álvaro Maia, puxava o saco do criador do Estado Novo.

Durante algum tempo, o Parque Dez e a boate Acapulco foram os últimos bastiões urbanos. Dali, saía uma estradinha de terra, carroçável, conhecida como V-8 (atual Efigênio Sales), acompanhando o sentido do igarapé, ao longo do qual se situavam pequenas chácaras transformadas em balneários ou ‘banhos’, como a gente chamava. Havia, entre tantos outros, o ‘Pecos Bill’, o ‘Tucunaré’ e ‘As Pedreiras’, da dona Dirce Ramos, viúva rica, que o repassou aos padres redentoristas.

Suas águas, onde meu irmão de dois anos morreu afogado, eram límpidas, cristalinas e potáveis. Mas depois do golpe militar de 1964, a censura impediu criticas ao modelo econômico dominante, que se lixava para o meio ambiente. Foi quando a Companhia Habitacional do Amazonas (COHABAM) construiu com recursos federais o conjunto residencial Castelo Branco - nome dado em homenagem ao marechal ditador. Manaus tinha, então, uns 300 mil habitantes. Aí começou a lenta agonia do Mindu.

Se o Mindu falasse

De lá para cá, a cidade cresceu. A mata foi devastada. Dezenas de novos bairros surgiram sem uma política ambiental e de saneamento básico. As residências passaram a despejar seus dejetos no leito do igarapé, transformando-o num fétido esgoto a céu aberto. A feira do bairro Amazonino Mendes joga nele todo seu lixo. A criação, em 1992, do Parque Municipal do Mindu, como área de interesse ecológico, foi uma tentativa de preservar o último refúgio verde do bairro. Mas o Mindu, “um rio que passou em minha vida”, já estava ferido de morte.

Para tentar salvá-lo, o então prefeito de Manaus Serafim Correa (PSB) aprovou, em 2007, o Projeto de Revitalização do Mindu, com a criação de estações de tratamento de esgoto e de um corredor ecológico. O objetivo era, de um lado, evitar que as suas nascentes fossem ocupadas, e de outro, transformar em área de lazer o espaço do parque. Pouco antes de sair da Prefeitura, garantiu, em 2008, um contrato de 128 milhões de reais, para realizar a obra pelo PAC- Plano de Aceleração do Crescimento.

No entanto, o atual prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB - vixe, vixe!) engavetou o corredor ecológico e decidiu substituí-lo pela construção de uma pista às margens do Mindu, seguindo o exemplo da Marginal do Tietê, em São Paulo. O Ministério Público Federal entrou com ação na Justiça, tentando recuperar o projeto original e, com ele, uma sobrevida para o Mindu. Até hoje, ninguém sabe o destino dos recursos, porque “desde que assumiu, Amazonino não divulga os gastos da Prefeitura”.

De qualquer forma, o crime que o leitor viu, de sua janela, ao lado da esposa e da netinha, quando se celebrava o Dia Mundial da Terra, dá a dimensão de que a estupidez humana não tem limites. Ele viu tratores, caminhões e caçambas trafegando pelas ciclovias, pelos gramados e pelo calçadão, que agora servem de lixeira para entulhos das obras, com muita sujeira, lama, poeira e lixo. Parece uma praça de guerra. Tudo em nome da especulação imobiliária e do lucro rápido.

Com 66 anos, aposentado, a testemunha do crime não se conforma com a agressão ao Parque, onde podia passear antes com a neta. Ele fotografou o processo criminoso: são mais de duzentas fotos nos últimos anos. O Mindu, hoje, como Itabira, é apenas um retrato na parede. Mas como dói! Nós e nossos filhos pagaremos caro por esse crime, se o poeta Thiago de Mello tiver razão, quando diz que não é só quem brinca com fogo que se queima. Quem polui a água, acaba se afogando no lodo, na cinza e na merda.

Mindu´u em língua guarani, significa mastigar, comer devagar, ruminar. O Mindu, em sua agonia, está ruminando. O quê? A reposta é dada pelo poema abaixo de Javier Heraud (1942-1963), o poeta-guerrilheiro peruano, que morreu aos vinte anos, baleado numa balsa no rio Madre de Dios, afluente do Beni, que deságua no nosso rio Madeira. Dois anos antes de morrer, aos 18 anos, publicou seu primeiro livro - El rio. Reproduzo aqui para os leitores um pequeno trecho do poema.

El rio

1
Yo soy un río,
voy bajando por
las piedras anchas,
voy bajando por
las rocas duras,
por el sendero
dibujado por el viento.
Hay arboles a mi
alrededor sombreados
por la lluvia.
Yo soy un río,
bajo cada vez más
furiosamente,
mas violentamente
bajo
cada vez que un
puente me refleja
en sus arcos.

2
Yo soy un río
un río
un río
cristalino en la
mañana.
A veces soy
tierno y bondadoso. Me
deslizo suavemente
por los valles fértiles,
doy de beber miles de veces
al ganado, a la gente dócil.
Los niños se me acercan de
día,
y de noche trémulos amantes
apoyan sus ojos en los míos,
y hunden sus brazos
en la oscura claridad
de mis aguas fantasmales.

3
Yo soy el río.
Pero a veces soy
bravo
y
fuerte,
pero a veces
no respeto ni la
vida ni la
muerte.
Bajo por las
atropelladas cascadas,
bajo con furia y con
rencor,
golpeo contra las
piedras mas y mas,
las hago una
a una pedazos
interminables.

4
Los animales
huyen,
huyen huyendo
cuando me desbordo
por los campos,
cuando siembro de
piedras pequeñas las
laderas,
cuando
inundo
las casas y los pastos
cuando
inundo
las puertas y sus
corazones,
los cuerpos y
sus
corazones.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti .

sábado, 24 de abril de 2010

TAPA BURACOS


Prefeito de Rio Branco Raimundo Angelim (PT) parece ter exagerado. A Estrada Irineu Serra, onde moro, amanheceu com uma quantidade de máquinas e homens superior à de buracos. Três equipes da Emurb chegaram em boa hora.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

TRE INOCENTA JORGE VIANA

O Tribunal Regional Eleitoral do Acre rejeitou nesta quinta-feira, 22, o recurso do Ministério Público Eleitoral que pedia a condenação do ex-governador Jorge Viana (PT), pré-candidato ao Senado, por propaganda eleitoral antecipada durante entrevista à uma emissora de TV.

A representação demonstrava que o ex-governador aproveitou a entrevista para divulgar sua candidatura, bem como a do irmão dele, o senador Tião Viana (PT-AC), pré-candidato ao governo do Estado, nas eleições gerais deste ano.

Embora Jorge Viana tenha pedido o apoio da população nas eleições e deixado claro o interesse de ser eleito, apelando para que o público o acompanhe e ao irmão, o relator do processo, juiz federal David Pardo, entendeu que não houve quebra da isonomia.

De acordo com o juiz, a emissora de TV realizou entrevistas não somente com o pré-candidato Jorge Viana, mas também, com adversários políticos dele.

"A disputa eleitoral deve ocorrer de forma a que todos os candidatos disponham, na forma da lei, das mesmas oportunidades, cuja expressão máxima é o tratamento isonômico, fato comprovado no caso em questão", afirmou o juiz.

David Pardo assinalou as mudanças na legislação eleitoral e destacou a Lei 12.034/2009, que introduz a permissão de que trata o novo artigo 36-A da Lei das Eleições.

Segundo o magistrado, o novo dispositivo permite a pré-candidatos, expressa e literalmente, expor suas plataformas e projetos políticos em programas de televisão, rádio e internet.

"Na verdade, a lei agora permite ao político se apresentar em programas de televisão como candidato postulado (pré-candidato), antes do período da propaganda. A lei já parte desse ponto", escreveu David Pardo.

Recurso
O Ministério Público Eleitoral recorreu da decisão. Alega que o principal ponto da representação é a antecipação da campanha. Segundo o MPE, a lei diz claramente que não é preciso haver pedido claro e expresso de voto para que seja considerada propaganda eleitoral antecipada.

De todas as representações de propaganda eleitoral antecipada apresentadas pelo MP Eleitoral até o momento, todas foram julgadas procedentes, exceto as duas que envolveram os irmãos Jorge e Tião Viana.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

MARINA MAIS FORTE QUE DILMA


O senador Tião Viana (PT-AC) poderá estar ocupando a cadeira de governador do Acre quando completar 50 anos, em fevereiro. Pré-candidato favorito nas eleições de outubro, o doutor em Medicina Tropical pela Universidade de Brasília, nesse caso, estenderia de 12 para 16 ou 20 anos a permanência consecutiva do PT à frente do governo estadual. "É a mais longa representação do partido na política nacional", afirma.

Como liderança forte no Estado e conterrâneo da senadora Marina Silva, Tião Viana afirma que o nome da pré-candidata do Partido Verde (PV) à presidência da República é "sagrado" e, no momento, o "mais forte" no Acre. No entanto, ele se mostra cauteloso e afirma que a petista Dilma Rousseff reúne as "melhores condições para ser a presidente do Brasil".

Em entrevista ao Terra, o parlamentar trata sobre a hegemonia política no Acre, a disputa pela presidência da República no Estado e aborda a crítica ao presidente Lula feita após ser derrotado por José Sarney (PMDB-AP) no Senado.

Leia na página Eleições 2010 do Portal Terra.

EDUCAÇÃO ACREANA


Pessoal do Sindicato dos Professores Licenciados do Acre não deveria deixar as escolas para gritar nas ruas de Rio Branco por melhoria salarial. A fotógrafa Sabrina Soares, de A Gazeta, flagrou comovente faixa onde pespegaram "enrrolação" e "resposicão".

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A GENTE LUTA MAS COME FRUTA


Trailer do premiado filme indígena "A gente luta mas come fruta", de Bebito Piyãko Ashaninka e Isaac Piyãko Ashaninka.

domingo, 18 de abril de 2010

UM FILHO TEU FUGIU À LUTA

POR JOSÉ BESSA FREIRE

A gente não sabe se chora ou se ri com as declarações ameaçadoras feitas por dois generais octogenários que hoje, na reserva, vestem pijama e usam dentadura, mas já pertenceram ao alto escalão da ditadura militar brasileira (1964-1985), quando tinham dentes bem afiados. A velhice arrancou-lhes os dentes do siso, mas conservou-lhes a vontade de morder. Entrevistados recentemente pelo jornalista Geneton Moraes para a Globo News, eles desembainharam a espada e feriram de morte a memória nacional.

Um deles, o general Leônidas Pires Gonçalves, 89 anos, foi chefe do DOI-CODI do Rio de Janeiro, comandante militar da Amazônia e ministro do Exército do Governo Sarney. O outro, o general Newton Cruz, 85 anos, chefiou o SNI (Serviço Nacional de Informações), e comandou a repressão às manifestações realizadas em Brasília na época do movimento ‘Diretas Já’.

Com o dedão de proctologista sempre em riste, o general Leônidas nos ofereceu essa pérola:

- Não tivemos exilados no Brasil. Tivemos fugitivos. A palavra ‘exilado’ não serve para eles. Exilado é alguém que recebe um documento do governo exigindo que se afaste. Tal documento nunca houve. A minha sugestão é: fugitivos

O general alega que ninguém foi obrigado a sair do país, e a prova disso é que não existe qualquer papel com o carimbo: “Vai-te embora”, assinado: “Ditadura”, com firma reconhecida. Então, quem saiu, o fez por livre e espontânea vontade. Ele insinua que quem saiu é covarde e fujão, ao contrário dele, que é macho pacas. Dessa forma, o general, que nunca cantarolou “O bêbado e a equilibrista”, debochou do “choro das Marias e Clarisses” e de “tanta gente que partiu num rabo de foguete”.

Exilado ou fujão?

A bravata do general coloca duas questões: uma de forma e outra de conteúdo. Formalista, o ex-chefe do Doi-Codi confunde cinto com bunda e cipó com jerimum. Para ele, todo bebê não registrado em cartório é non nato. É isso aí: não nascido. A criança pode chorar e berrar, mamar, molhar as fraldas: não nasceu. As lágrimas e os berros não constituem prova cabal de sua existência. A única prova aceitável é uma certidão afirmando que ela existe. Da mesma forma que, sem papel, exilados não existem, só fugitivos.

Enquanto o general, dedão em riste, nos chamava de fujões, eu ouvia a voz bêbada da cantora Vanusa entoando “verás que um filho teu não foge à lu-uta!”. Acontece - e aqui vem a segunda questão - que quem foge, foge de alguém ou de alguma coisa. Nós, exilados, fugimos de quê?

Da repressão e da tortura? Ora, o Diário Oficial não publicou portaria nomeando torturadores, portanto, eles não existiram. Houve apenas “pequenos excessos”, como justifica o general Leônidas:

- Guerra é guerra. Guerra não tem nada de bonito - só a vitória. E nós tivemos. A vitória foi nossa. As torturas lamentavelmente aconteceram, mas para ser uma mancha ela foi aumentada. Hoje todo mundo diz que foi torturado pra receber a bolsa-ditadura.

O general Leônidas, fanfarrão que não sabe nem ganhar porque tripudia sobre os vencidos, coloca em dúvida até o assassinato na prisão do jornalista Wladimir Herzog:

- Eu não tenho convicção que Herzog tenha sido morto. Porque sei o que é uma pessoa assustada e não preparada (…). Nitidamente, Herzog não era preparado para isso. Às vezes, estive pensando, um homem não preparado e assustado faz qualquer coisa, até se mata. Até se mata.

Deixando de lado esse insulto à memória - um escárnio - cabe perguntar: quem matou dona Lyda Monteiro, secretária da OAB, vítima dos atentados à bomba contra alvos civis que aterrorizaram o Rio de Janeiro em 1980-1981? Na época, o governo militar culpou os radicais de esquerda, negando aquilo que logo ficou provado e hoje o general Newton Cruz confessa: militares radicais da ativa promoveram atentados para impedir o processo de abertura política em andamento.

O ataque frustrado ao Riocentro - Deus castiga! - matou um dos terroristas, quando uma das bombas explodiu no colo do sargento Guilherme, dentro do carro do capitão Wilson Machado. Com os olhos esbugalhados durante toda a entrevista, Newton Cruz confessou que tinha prévio conhecimento de que alguns militares preparavam o atentado e - esse é um dado novo - que ele próprio transmitiu ao seu superior general Octávio Medeiros. O entrevistado contou ainda que ele, por conta própria, impediu novo atentado que havia sido preparado por militares do Doi-Codi do Rio.

Tortura e anistia

Um terceiro militar, não entrevistado, mostrou o lado íntegro das Forças Armadas. Trata-se do major brigadeiro Rui Moreira Lima, 91 anos, piloto de combate da esquadrilha verde da Força Aérea Brasileira durante a Segunda Guerra Mundial, quando executou 94 missões. Ele é um dos três heróis brasileiros da guerra que combateu o nazi-fascismo. Nesta segunda-feira (12/04), o nonagenário general protocolou no STF um pedido para que a lei de Anistia não beneficie os crimes de tortura.

Na petição assinada, o brigadeiro Lima, que também preside a Associação Democrática e Nacionalista de Militares (ADNAM), diz com extrema lucidez: “A anistia não pode significar que atos de terror cometidos pelo Estado através de seus agentes e que ensejaram verdadeiros crimes contra a humanidade não possam ser revistos”.

Nas próximas semanas, o STF decidirá sobre essa questão. De qualquer forma, o brigadeiro mostrou, corajosamente, qual é o discurso que representa a Pátria Mãe Gentil, protetora, que nos faz sentir filhos deste solo. Esse sim é um herói que continua honrando a farda que veste. Fez com o discurso aquilo que já havia feito com os aviões de caça: lutar pela liberdade.

A Lei de Anistia aprovada há trinta anos pelo Congresso Nacional concede o perdão a quem cometeu crimes políticos entre 1961 e 1979. O que é um crime político? O STF já decidiu que crimes políticos são os delitos praticados contra a ordem estabelecida com finalidade ideológica. Ou seja, os militares que pegaram em armas e deram um golpe em 1964 estão anistiados, bem como os militantes de esquerda que combateram a ditadura com armas na mão. No entanto, os delitos praticados pelos torturadores nos porões da ditadura não se enquadram nessa situação.

Não se trata de buscar vingança ou revanche, como sinaliza o jurista Dalmo Dallari, mas de dizer claramente que o Brasil é contra o crime hediondo da tortura. A identificação e julgamento dos torturadores é uma demonstração de que historicamente “a sociedade brasileira jamais compactuou com as práticas de um regime que limitou criminosamente a oposição e a liberdade de expressão, mesmo que tais práticas não possam mais ser punidas pela prescrição”.

Se o general Leônidas conhece algum espertalhão sem escrúpulo que se aproveitou da chamada bolsa-ditadura tem o dever de denunciá-lo, prestando um serviço à memória da nação. Aliás, a apuração dos crimes de tortura colocaria isso em pratos limpos.

De qualquer forma, esse suposto fato não apaga o crime dos torturadores que, pagos pelo contribuinte, atuavam fora da legalidade da própria ditadura. Só para não pensar que estou legislando em causa própria, aproveito para informar que, embora tenha legalmente direito, não requeri o que o general está chamando de “bolsa ditadura”.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti .

CERCA DE CUMARU


Uma semana de trabalho para renovar o visual da velha cerca de cumaru-ferro e cumaru-cetim. Tendo em média 1,5 m de altura, ganhou reforço de parafusos e da base de tijolos aparentes. É madeira de primeira, caríssima, oriunda de manejo florestal, que o Acre exporta basicamente para a construção de decks dos bacanas, dentro e fora do país. Além da cerca, a casa de cumaru e angelim, os pés de mogno, munguba, açaí, jambo, dendê, buriti, limão e a palmeira imperial.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

AOS MESTRES DA AYAHUASCA


A Assembléia Legislativa do Acre realizou nesta quinta-feira, 15, sessão especial em homenagem aos fundadores das três organizações religiosas originais e mais tradicionais no uso da ayahuasca no país: Centro de Iluminação Cristã Luz Universal - Alto Santo, Centro Espírita e Culto de Oração Casa de Jesus Fonte de Luz e União do Vegetal.

Por sugestão do deputado Moisés Diniz (PC do B), foram concedidos títulos de cidadãos acreanos (in memorian) aos mestres Raimundo Irineu Serra (maranhense), Daniel Pereira de Mattos (maranhense) e José Gabriel da Costa (baiano).

Dona Peregrina Gomes Serra, esposa de Irineu Serra, dona Pequenina, esposa de Gabriel da Costa, além de dois filhos de Daniel Pereira de Mattos, receberam as homenagens.

Também participaram da solenidade o padre Luiz Mássimo, o pastor Francisco Albino de Souza, da Faculdade de Teologia Batista Betel, o ex-padre e ex-deputado estadual Manoel Pacífico da Costa, os deputados federais Fernando Melo (PT-AC) e Perpétua Almeida (PCdoB-AC), além do juiz federal Jair Facundes.

- Eu nasci pelas mãos de dona Peregrina Serra - lembrou o juiz federal, que toma daime desde quando estava no ventre da mãe dele.

Quando os pais de Jair o apresentaram ao mestre Irineu Serra, este segurou o bebê nos braços e disse:

- Este será um juiz.

- O que realizamos hoje é um marco na história do Acre e tenho certeza de que contribuirá para ampliar o respeito e a tolerância religiosa existente em nosso Estado - afirmou o deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB), presidente da Assembléia.

As Comunidades Tradicionais da Ayahuasca, que realizaram durante a semana o seminário "Construindo Políticas Públicas para o Acre", entregaram a Edvaldo Magalhães uma carta (leia aqui) sobre a realidade das mesmas no Estado.

- Vamos trabalhar para que seja transformada em lei boa parte das sugestões contidas no documento - afirmou Magalhães.

A homenagem aos fundadores dos três troncos das doutrinas da ayahuasca foi aprovada pela unanimidade dos deputados estaduais.

O deputado Moisés Diniz, autor do projeto, leu o discurso intitulado "Profetas da Floresta".

- Mestres Irineu, Daniel e Gabriel, profetas da floresta, antes de tudo, eram homens, na sua beleza e na sua perversão, pecadores como nós, como qualquer um, como Buda, como Maomé, como Jesus.

Clique aqui para visualizar fotos da solenidade histórica na Assembléia Legislativa do Acre.

DESAPARECE CORPO DE ÍNDIO ISOLADO

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) pediu ao superintendente da Polícia Federal no Acre, José Carlos Chalmers Calazane, informações sobre o desfecho de um inquérito que apurava o assassinato de um indígena em situação de isolamento, ocorrido há 10 anos, no igarapé D’ouro, no Alto Rio Tarauacá.

Um grupo de trabalhadores invadiu uma área ocupada por indígenas ainda sem contato com a sociedade nacional para retirar madeira para Auton Dourado de Farias, que era vereador no município de Jordão.

Os trabalhadores foram surpreendidos pela presença de três índios isolados e, por reação, um dos indígenas foi assassinado. Acionada pela Fundação Nacional do Índio (Funai), a PF se deslocou até o local e comprovou que o indígena havia sido morto por arma de fogo.

O corpo do índio isolado foi encaminhado para Rio Branco e instaurado inquérito no qual aparecia como suspeito José Lourenço da Silva, o Trubada.

Leia mais no Blog da Amazônia.

VOLTE SEMPRE TAMBÉM


quarta-feira, 14 de abril de 2010

VOLTE SEMPRE

"MUITA QUANTIDADE"


Como está chegando a hora de viver da generosa aposentadoria de ex-governador do Acre, Binho Marques (PT) participou na terça-feira, 13, de três longas entrevistas nas emissoras do Sistema Público de Comunicação. Ouviu tantas perguntas elogiosas que se revelou hiperbólico. Podemos resumir assim: o Acre é um paraíso que está sendo aperfeiçoado pelo PT. A imprensa que o governo estadual financia vai evitar expor o que o governador pensa a respeito dela. Leia alguns trechos:

8 em 4
"A gente está conseguindo concluir esses quatro anos dando conta de uma agenda de, no mínimo, oito anos. Eu falei: vamos fazer oito anos em quatro. Mas eu acho que se a gente fizer um balaço mesmo, eqüivale a muito mais de oito anos."

16 em 4
"Quando você trabalha numa seqüência, no mesmo projeto, o [governador] que vem a seguir consegue fazer ainda mais porque o anterior criou as bases para isso. Sei que o futuro governador vai trabalhar bem acelerado e, quem sabe, fazer 16 em quatro."

Boicote das chuvas
"Provavelmente a gente não consegue concluir a obra [BR-364, que liga Rio Branco a Cruzeiro do Sul], mas, não concluindo, vai faltar muito pouco e o futuro governador conclui no ano que vem. (…) Nós vamos concluir o governo com investimento de mais de R$ 1 bilhão na estrada. A gente foi boicotado pelas chuvas, por um regime de chuvas extraordinariamente agressivo. (…) O trabalho que a gente fez pela BR-364 é heróico. Uma obra prometida por Juscelino Kubitschek e que ficou parada tanto tempo. Nunca se fez tanto pela BR-364 como agora."

Imprensa
"Acho que o jornalismo no Acre tem muita quantidade e pouca qualidade. E com pouca qualidade, muitos profissionais se escoram na desculpa que não tem liberdade. Gosto de críticas bem feitas na imprensa."

terça-feira, 13 de abril de 2010

SOLDADOS DA BORRACHA


Selecionado entre mais de 700 projetos, o documentário “Soldados da Borracha”, do diretor acreano Cesar Garcia Lima, é um dos vencedores do ETNODOC 2009, edital que tem como objetivo o apoio a documentação e difusão do Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro.

Média-metragem, a ser realizado em parceria com a Modo Operante Produções, sediada no Rio de Janeiro, “Soldados da Borracha” já tem exibição garantida na Mostra Internacional do Filme Etnográfico de 2010 e na TV Brasil. A equipe tem até outubro para realizar o filme, já em fase de produção, e busca apoio para as filmagens.

O filme, que será rodado em breve em Rio Branco, Xapuri e Plácido de Castro, no Acre, narra a trajetória dos nordestinos convocados pelo governo de Getúlio Vargas para extrair borracha na Amazônia para ajudar os Aliados.

- Darei destaque à história desses personagens no Acre, que foi o principal destino de todos eles, e onde a consciência ecológica se desenvolveu com maior entusiasmo a partir dos ideais de Chico Mendes - explica do diretor Cesar Garcia Lima, que vive no Rio de Janeiro e pesquisa o tema há mais de oito anos.

Jornalista e poeta, Cesar Garcia Lima atua como professor convidado do curso de Especialização em Jornalismo Cultural da UERJ(Universidade do Estado do Rio de Janeiro), onde também cursa o doutorado em Literatura Comparada. Até o final deste mês de abril, Lima vem ao Acre para definir locações e fazer as primeiras entrevistas com os personagens do filme.

Com cinco anos de existência, a Modo Operante Produções lançou em 2009 o documentário “Positivas”, dirigido por Susanna Lira e selecionado para festivais no Brasil e no exterior. O longa-metragem mostra a vida de mulheres soropositivas que foram contaminadas por seus companheiros com o vírus HIV.

Em “Soldados da Borracha”, Susanna Lira atuará como produtora-executiva, ao lado de Luciana Freitas, também sócia da Modo Operante.


O ETNODOC tem se consagrado como o principal edital de apoio a produção de documentários sobre a cultura brasileira.

AYAHUASCA E POLÍTICAS PÚBLICAS


Após a abertura nesta segunda-feira, 12, prossegue nesta terça-feira, 13, no Horto Florestal de Rio Branco, o seminário "Culturas Tradicionais da Ayahuasca: Construindo Políticas Públicas para o Acre".

Neste momento está sendo realizada sessão temática sobre saúde. Logo em seguida, começa outra, sobre segurança pública. Das 14h30 às 18 horas, debate sobre meio ambiente e urbanismo.

Programação

Dia 14 (quarta-feira)

8h30 - Leitura da sistematização das sessões temáticas, debates e aprovação do documento final para encaminhamento das propostas à Assembléia Legislativa

14h30 - Continuação da plenária e encerramento do seminário.

Dia 15 – quinta-feira
10 horas - Sessão solene, na Assembléia Legislativa do Acre, para entrega dos títulos de cidadão acreano aos mestres fundadores dos três principais troncos da ayahuasca: Raimundo Irineu Serra (maranhense), Daniel Pereira de Mattos (maranhense) e José Gabriel da Costa (baiano).

segunda-feira, 12 de abril de 2010

CHEFE DA FUNAI PRESO NO ACRE

O Coordenador Regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) no Acre, Djalma Rodrigues Porto, está preso na penitenciária federal de Rio Branco.

Havia contra o coordenador um mandado de prisão temporária e busca e apreensão, decretado pela Justiça Federal de Mato Grosso, por envolvimento num esquema de desvio de verbas da Fundação Nacional de Saúde.

Djalma Rodrigues Porto trabalhava em Cuiabá (MT) até ser enviado para o Acre pela direção da Funai, em meados do ano passado, como Administrador Substituto, com a missão de moralizar a administração do órgão local.

Leia mais no Blog da Amazônia.

JAMES CAMERON SOBRE MARINA SILVA






Em São Paulo, a pré-candidata à Presidência Marina Silva (PV-AC) com o cineasta James Cameron, a atriz Sigourney Weaver e o ator Joel David Moore, que protagonizaram Avatar.

domingo, 11 de abril de 2010

AVIÃO DA TAM "ATOLA" NO AEROPORTO


O avião que faria o vôo 3775, da TAM, de Rio Branco (AC) para Brasília (DF), está “atolado” na pista do Aeroporto Plácido de Castro, na capital do Acre. Os passageiros tiveram que desembarcar após a tentativa fracassada da Infraero de retirar o avião com uso de um trator.

Leia mais no Blog da Amazônia.

NAMORO ETNODIGITAL

POR JOSÉ BESSA FREIRE


Deitado na rede de fibra de tucum, cada um dos dois se embalava, sozinho, nas noites quentes de Rondônia. Já sonhavam um com outro? Quem sabe? O certo é que nunca tinham se visto. Estavam separados por rios e florestas, numa distância de 350 quilômetros. Ele morava em Cacoal, ela em Alta Floresta do Oeste. Até que recentemente, com o apoio da filha, ela o adicionou como amigo no Orkut e eles, então, se conheceram virtualmente. Foi aí que deitaram e rolaram, dessa vez juntos, no fundo de outra rede: a net.

Durante um ano, trocaram mensagens que atravessaram o ciberespaço, permitindo que afinassem o violino.

- No começo era só amizade, depois ele quis mais - ela contou ao jornalista Marcos Lock.

Segredos e confidências eram cochichados pelas pontas dos dedos. O relacionamento evoluiu para conversas frequentes através do MSN Messenger. Os papos foram revelando afinidades e construindo cumplicidades. Pa-papinho vai, pa-papinho vem, quando caíram em si, já estavam namorando. Por enquanto, virtualmente.

Aí deu vontade de um contato pessoal face to face. Marcaram um encontro. Em abril do ano passado, Tori, que é índia Tupari, saiu de sua aldeia, na Terra Indígena Rio Branco, e foi visitar em Cacoal o índio Gasodá, que pertence ao povo Paiter Suruí. Não deu outra. Os dois se casaram no início do ano, num evento que foi registrado pela Folha de Rondônia: “Namoro pela web leva casal indígena rondoniense ao altar” (25/03/2010).

A maloca digital

O namoro e casamento de Gasodá e Tori é apenas uma das tantas consequências da crescente atuação dos índios no ciberespaço, que marca a apropriação por eles das tecnologias digitais. Nos últimos anos, os índios criaram sites, blogs, portais, comunidades virtuais, facebooks, fotologs, onde trocam experiências e informações e publicam textos, fotos, desenhos, notícias, músicas, vídeos.

No Brasil, índios de diferentes línguas e etnias foram estimulados a usar a internet por organizações governamentais e não governamentais. Embora a situação ainda seja bastante precária, inúmeras das 2.698 escolas indígenas existentes nas aldeias, frequentadas por mais de duzentos mil alunos, foram dotadas de computadores. Ali onde isso não foi possível, os computadores dos postos de saúde da Funasa foram disponibilizados dentro dos Pontos de Cultura no Programa Governo Eletrônico – Serviço de Atendimento ao Cidadão.

Essa situação permitiu que logo surgissem, em 2001, os primeiros sites indígenas, segundo Eliete Pereira, do Centro de Pesquisa Atopos, da ECA/USP, que andou mapeando a presença indígena na net, ainda bastante irregular. Ela encontrou três tipos de sites: os sites de organizações indígenas, os sites de etnias e os sites pessoais.

Os primeiros são mantidos na rede por organizações com abrangência local, regional ou nacional e estão associados à luta por direitos pela terra, pela educação bilíngue, pela saúde, constituindo-se em ferramentas de reivindicação política. É o caso, por exemplo, do portal da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, ou o da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro.

Já os sites de etnias são criados para dar maior visibilidade étnica frente à sociedade nacional e internacional e para mostrar a arte de cada grupo, a produção do artesanato, os padrões gráficos, as narrativas, a língua. É o caso dos Baniwa, do Rio Negro (AM), ou dos Ashaninka, do Acre e de tantos outros, que participaram, em 2005, do I Seminário Rede Povos da Floresta, realizado no Rio de Janeiro, para discutir o acesso deles à tecnologia da informação e a conexão à internet.

O terceiro tipo são os sites pessoais e individuais, que utilizam a internet de forma inovadora, como o do escritor Daniel Munduruku, que apresenta os seus livros e dialoga com leitores, ou o da escritora Eliane Potiguara. Os índios que participam dos cursos de formação de professores indígenas ou de cursos universitários aprendem a lidar com o computador, trocam informações via e-mails, orkut, msn, skype. Eles estão agora lutando para demarcar um novo tipo de território no ciberespaço.

O ciber território

Nesses territórios, os usuários indígenas da internet divulgam noticias sobre seus problemas, articulam redes de apoio e acabam sendo mediadores de conflitos indígenas junto aos canais e veículos tradicionais de informação e às próprias instituições governamentais. Essa nova prática tem permitido alguns grupos a fiscalizar com maior empenho a gestão pública dos recursos destinados às populações indígenas e a denunciar as violações aos direitos constitucionais dos índios.

Foi no ciber território que Gasodá e Tori se conheceram. Eles vivenciaram experiências diferentes com a internet. Para Gasodá, que tem mais de 650 amigos no Orkut, a rede ajuda a fazer amizades e a “quebrar o gelo” entre pessoas desconhecidas:

- Eu conheço muita gente através da internet, porque conversamos sobre assuntos indígenas pelo MSN. E quando a gente se encontra pela primeira vez, parece que já se conhece há muito tempo e aí é só chegar e cumprimentar: “Ah, você é que é o fulano, dá um abraço”. É como se fosse uma amizade antiga.

Já Tori vive numa aldeia onde os jovens e adultos “não conhecem muito a internet”, mas quando se fala em computadores, eles ficam muito animados, têm vontade de saber mais.

- Quando vão à cidade, eles vão e ficam olhando, não chegam a tocar, eles têm receio de tocar e quebrar.

Yakuy Tupinambá, integrante do Projeto Índios Online, diz que a internet está promovendo a abertura de horizontes, o que contraria o pensamento daqueles interessados em manter os índios amordaçados.

- A internet trouxe-nos novos significados, sem que isso implique no abandono das nossas tradições. Conectar-se ao mundo através da internet é ter direito a ter um rosto, e fazer ouvir nossa voz, abrindo uma janela para o mundo – completa Yakuy.

Os índios confirmaram essa posição em junho de 2005, durante a Conferência Regional da America Latina e Caribe sobre Sociedade da Informação. Nesse evento, eles aprovaram a Declaração Indígena do Rio de Janeiro, onde afirmam que estão preparados para o inevitável encontro entre os conhecimentos tradicionais e a modernidade, “caminho a ser percorrido para nossa sobrevivência física e cultural, que nos assegura direitos de acesso aos novos conhecimentos e à informação”.

A caixa da língua

A presença indígena na internet contribuiu para o surgimento de algumas questões relacionadas ao uso da língua e à afirmação da identidade. Se Gasodá, por exemplo, enviasse suas mensagens em língua Paiter Surui, um idioma da família linguística Mondé, provavelmente não haveria namoro e casamento, porque a língua de Tori – o Tupari - pertence à outra família linguística e eles não se entenderiam.

Por isso, quando índios de línguas diferentes se comunicam, usam o português, aliás, uma deliciosa variedade do português escrito, que pode ser apreciada, por exemplo, na comunidade colaborativa de aprendizagem Arco Digital, onde mais de 100 índios de diferentes etnias interagem, com programação diária de vários chats temáticos. Eles brincam com a língua, sem medo de errar e sem censura, detonando regras normativas de ortografia, de pontuação e de sintaxe, como estão fazendo na internet os jovens nativos de qualquer língua.

Essa é uma das características da comunicação mediada pelo computador, que deu origem a uma língua denominada de netspeak pelo linguista irlandês David Crystal. Ele observa que os e-mails, por exemplo, têm sido chamados de “fala escrita”, de ‘cruzamento entre conversa e carta’ porque misturam a escrita com a fala.

- No geral, o netspeak é mais compreendido como uma linguagem escrita que foi empurrada em direção à fala do que uma linguagem falada que foi escrita.

Talvez por isso, os índios, que pertencem a sociedades ágrafas, com forte tradição oral, se sintam atraídos por esse novo campo do discurso, no qual se desenvolvem com muita agilidade, porque nele reencontram a aldeia cibernética, marcada por traços da oralidade e pela comunicação através de imagens.

Essa aldeia cria também um novo espaço social para o uso das línguas indígenas. No curso que ministro para professores guarani no Paraná, eles aproveitam as horas vagas para ocupar o laboratório de informática, e lá se comunicam por e-mail com outros índios da mesma etnia em língua guarani. Os guarani do Rio de Janeiro, por isso, denominaram o computador de ayvu ryru, que significa, “caixa de guardar a língua”.

Aqueles que aceitam as contínuas mudanças na sua própria cultura, mas acham que as culturas indígenas devem permanecer congeladas para serem “autênticas”, acreditam ingenuamente que o uso da internet pelos índios compromete a identidade étnica.

Os índios, no entanto, aprenderam a conviver com esse processo contínuo de tensão entre o tradicional e o novo. Eles estão permanentemente recriando a tradição, introduzindo novos sentidos e novos símbolos. E é claro, não deixam de ser índios, ou então os brasileiros, que usam a internet, ferramenta que não é tecnologia nacional, deixariam também de ser brasileiros.

P.S. 1: Quem quiser saber mais sobre o tema, vale a pena ler Eliete da Silva Pereira: “Nos meandros da presença étnica indígena na rede indígena” In: DI FELICE, M. (org) Do público para as redes – a comunicação digital e a novas formas de participação social. São Caetano do Sul: Editora Difusão, 2008, pp. 287-333.

P.S. 2: Agradeço a interlocução com a mestranda Renata Daflon, do Programa de Pós-Graduação em Memória Social da UNIRIO, que desenvolve pesquisa sobre “Memória Criativa na Blogsfera: contribuições para pensar o ‘patrimônio em rede’”, orientada pela doutora Vera Dodebei.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti .

Foto: Folha de Rondônia

MOSTRA VÍDEO NAS ALDEIAS


Os filmes produzidos pelos cineastas indígenas das etnias kuikuro, guarani, avante, ashaninka, uni kuῖ revelam olhares intimistas sobre os seus povos.

O filme Corumbiara, de Vincent Carelli, também será exibido na programação da mostra. Em todas as exibições que irão acontecer em cinco espaços diferentes da cidade, os realizadores estarão presentes para trocar idéias com o público acreano.


Quando: 12 a 18 de abril

Onde: Biblioteca da Floresta, Filmoteca Acreana, Cineclube Som da Floresta, Teatro Barracão e Cineclube Aquiry.

Veja a programação completa no site Vídeo nas Aldeias.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

SAÚDE E FANATISMO


É de lascar a gente madrugar numa fila da Fundação Hospital do Acre (Fundhacre) e ter que ouvir um "desocupado" aos berros, por mais de meia hora, lançando ofensas contra a religião dos outros e julgando-se detentor da vida eterna. Imaginem se todos, de diferentes credos, decidissem ocupar os espaços públicos para professar alguma fé.

Atualização às 12h45: quando reclamei do barulho no ambiente, o "pastor" argumentou que realiza o culto há vários anos com autorização da direção da Fundhacre.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

SAÚDE PÚBLICA


Todas as leis e normas da Vigilância Sanitária que se possa imaginar são desrespeitadas em Rio Branco por dezenas de vendedores ambulantes que ocupam a calçada da rua que separa o Almoxarifado de Medicamentos do Estado e o Laboratório Central de Saúde Pública. É onde médicos, enfermeiros e pacientes se alimentam. Ceninha incompatível com o estado moderninho e de referências mil com que costumamos pintar o Acre. Não é por falta de poder político que certas coisas não mudam no Estado.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

PRIMEIRO, JUDEUS; DEPOIS, BAIANOS


Errei ao tentar provar que o governo do Acre tem predileção por artistas baianas. Citei que a desconhecida cantora de axé Fernanda Farani foi contratada por R$ 300 mil para três apresentações durante o Carnaval e a artista plástica Eliana Kertész por R$ 165 mil para criação de uma escultura em bronze.

Mas esqueci de mencionar que os arquitetos baianos Gustavo Martins e Gustavo Argollo, do escritório Argollo e Martins Arquitetos Associados, venceram, no ano passado, em parceria com o arquiteto Marcos Dornelles dos Santos, concurso para a construção do Planetário de Rio Branco.

Foram premiados com R$ 6 mil e contratados por R$ 60 mil para a finalização do projeto, avaliado em R$ 1,7 milhão.

Tenho um amigo, Cláudio Leal, jornalista baiano que começa a dominar São Paulo. Tentei obter dele alguma explicação para o fato do Senhor do Bonfim facilitar tanto a vida dos baianos no Acre.

- Você precisa reconhecer, Altino: primeiro, os judeus. Depois, os baianos. Vão aprendendo e depois façam por conta própria. É assim desde 1500, não vai mudar.

Grato, Cláudio.

O POETA DA BOLA

Marina Silva

Quero prestar uma homenagem a um conterrâneo que fez do seu ofício uma aula de poesia, classe e profundidade. Armando Nogueira, acriano e, assim como eu, filho de pais cearenses, aos 17 anos deixou nossa terra natal para deslumbrar-se com as belezas do Rio de Janeiro e ali fazer história no jornalismo brasileiro.

Armando morreu no dia 29, e desde então quero lembrá-lo neste espaço, mas uma agenda muito intensa vinha me impedindo de fazê-lo.

Não é que eu entenda muito de futebol, mas o suficiente para saber que ele sempre foi considerado um dos maiores - senão o maior - cronistas esportivos brasileiros. Ao lado de Nelson Rodrigues e Mário filho, ele encarnou, como nenhum outro, a alma do torcedor brasileiro.

Armando trouxe consigo a indelével marca do brasileiro, tendo como característica marcante a obstinação pela qualidade de seu ofício, sem deixar de lado a candura e a humildade de nosso povo. Teve a sorte de, na juventude, ver florescer a magia de um Pelé, para quem cunhou a definição cabal: "De tão perfeito, se não tivesse nascido gente, teria nascido bola".

O gosto pelo futebol tem lugar especial e cativo em minhas memórias infantis. Conforme já relatei aqui, nas noites de Ano Novo, e somente quando calhava de aparecer a lua cheia sobre os céus do seringal Bagaço, onde passei minha infância e adolescência, meu pai fabricava uma bola feita de puro látex - o que conferia ao jogo características mais lúdicas que esportivas - para jogarmos aguardando o novo ano. Éramos meninas bailando e pulando sob a luz do luar, em busca daquela esfera branca, mágica, a nos enfeitiçar.

Como cronista, poeta ou jornalista, o Mestre Armando Nogueira - como era chamado por todos - pôde revelar a sensibilidade de um homem tenazmente fiel aos valores que possuía. Não poderia, portanto, deixar de voltar seu olhar tão aguçado, como doce, à ecologia.

Em uma de suas últimas visitas ao Acre, em 2003, quando recebeu várias homenagens do governo e do povo acriano, Armando Nogueira revelou suas preocupações acerca da poluição das águas, bem como em relação à destruição da Floresta Amazônica: "O Acre é um pedaço da floresta onde se concentra a riqueza mais importante do século que se abre, que é a água. Por isso o Acre deixa de ser um Estado para ser uma causa".

Armando já disse certa vez que "o Acre é uma magia, um mistério". Concordo com ele integralmente. E ao relembrar sua trajetória e refletir sobre sua vida fecunda, posso enxergá-lo junto a mim e às minhas irmãs, em meio à floresta, não como gente, mas agora como bola, divertido e irrequieto, quicando cada vez mais alto, até alcançar o céu.

Recomendo a leitura do texto que Armando escreveu após sua visita ao Acre, em 2003: "O reencontro da infância" reproduzido pelo jornalista acriano Altino Machado, colega também aqui no Terra Magazine.

Marina Silva é professora de ensino médio, ex-ministra do Meio Ambiente, senadora do Acre pelo PV e colunista da Terra Magazine.

MAIS COCAÍNA


Cruel essa hora a menos do Acre em relação à Brasília. Acordei nesta quarta-feira às 3 horas da madrugada. Uma hora depois, passou em frente de casa um carro com alguém dando tiros. Telefonei para o Centro Integrado de Operações da Polícia Militar. Demorou mais uma hora para a PM me informar que não havia carro na estrada e estava tudo sob controle. Não estava. A Polícia Federal havia apreendido cocaína no aeroporto de Rio Branco nesta madrugada, mas fracassou na tentativa de prender o dono da droga num posto de gasolina próximo daqui. Ele seguiu pela Estrada Irineu Serra, atolou o carro no trecho de barro e fugiu no primeiro ônibus que passou.

Atualização às 8h30: a PF apreendeu durante a operação 24 quilos de cocaína, prendeu três pessoas e já removeu do atoleiro o carro usado pelo dono da droga, que permanece livre.

terça-feira, 6 de abril de 2010

COMUNIDADES DA AYAHUASCA


Começa a circular o convite para o seminário "Comunidades Tradicionais da Ayahuasca: Construindo Políticas Públicas para o Acre", que será realizado nos dias 12, 13 e 14 de abril, no Horto Florestal, com apoio da Prefeitura de Rio Branco, Assembléia Legislativa e Governo do Acre.

No dia 15 de abril, a Assembléia Legislativa do Acre realizará uma sessão especial em homenagem aos fundadores do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal - Alto Santo, Centro Espírita e Culto de Oração Casa de Jesus Fonte de Luz e União do Vegetal, os três mais tradicionais no uso da ayahuasca.

Por sugestão do deputado Moisés Diniz (PC do B), a Assembléia Legislativa concederá títulos de cidadãos acreanos in memorian aos mestres Raimundo Irineu Serra (maranhense), Daniel Pereira de Mattos (maranhense) e José Gabriel da Costa (baiano).

- É o mínimo que podemos fazer como reconhecimento pela contribuição extraordinária dos três mestres ao Acre e ao Brasil. Vamos cumprir uma agenda que vem sendo preparada muito antes do infeliz episódio [o assassinato do cartunista Glauco e de seu filho Raoni] que tentaram debitar ao uso da ayahuasca - assinala o presidente Edvaldo Magalhães.

DAIME NÃO PODE SER REPRIMIDO

POR MATTHEW MEYER

Recentemente, a mídia brasileira tem criado, novamente, um espetáculo de pânico moral centrado na ayahuasca. Dezenas de reportagens apareceram nos jornais e na internet nos dias seguintes ao assassinato do cartunista Glauco Villas Boas e seu filho Raoni no mês passado, em São Paulo. Respeitoso num primeiro momento, o tom das matérias piorou rapidamente quando o assassino foi identificado como freqüentador do centro de Daime que Glauco comandava. Aproveitando a publicação este ano de normas para o uso religioso da ayahuasca pelo Conselho Nacional das Drogas, algumas fontes sugeriram que a postura oficial foi tolerante demais, e que está na hora de proibir o tal “chá alucinógeno” por ser uma droga perigosa à saúde pública.

Outras fontes fizeram o argumento de modo disfarçado, perguntando “ayahuasca é droga?” De um ponto de vista farmacológico, a ayahuasca é sim “uma droga”, ou seja, é um agente psicoativo. Mas essa resposta esclarece muito pouco se a nossa intenção é entender o sentido da ayahuasca no contexto de uma determinada prática, ou até para entender se seu uso representa grande ameaça à saúde pública que não pode ser tolerado. Pelo contrário, dentro do debate público, pensar a ayahuasca como uma droga tem ocultado o que tem de mais importante no mundo ayahuasqueiro brasileiro.

Acontece que o conceito senso-comum de “droga” faz um grande fetichismo de processos sociais, que acabam sendo imaginados como propriedades das substâncias em si. O presumido descaso dos produtores da substância para com o seu consumidor; o zelo com que o vendedor procura novos clientes para viciar na droga; o prazer individual que o consumidor busca nela; a decadência de relações familiares e a falta de desempenho no trabalho, devido ao foco exclusivo no consumo de drogas - são todas essas imagens negativas que, embora sejam concretizadas em alguns casos, nem por isso deixam de ser apenas possíveis configurações sociais. Mesmo assim, na crendice popular, as drogas já têm o poder de criar essas situações pela própria natureza maléfica.

Comportamento moral

É uma visão basicamente protestante, na qual o sentido das drogas se resume na busca ilícita pelo prazer, ou, pelo outro lado, na tentativa imoral de fugir do legado de sofrimento que nos vem de Adão e Eva pela desobediência às ordens divinas. Essa busca é ainda mais condenável porque as drogas geram simulacros da graça divina através de uma ação material e não espiritual: são “paraísos artificiais” que acabam, na sabedoria popular, sendo infernos terrestres. Na economia consumista, as drogas também funcionam como uma espécie de bode expiatório, reforçando a ilusão, pela criação de uma categoria de bens onde reina a compulsão, que o consumo lícito pode ser um meio de realizar a liberdade.

O Daime, na maneira que vem sendo usado no Acre desde a década de 20 do século passado, tem pouco a ver com isso tudo. As pessoas doentes e rebatidas que chegavam dos seringais moribundas à casa do Mestre Irineu Serra procuravam sua saúde e dignidade, e achavam nele não apenas um grande curador, mas também um exemplo de cidadão brasileiro. O Mestre Irineu Serra tinha um pé em dois mundos, o da floresta e o da cidade, e fez da sua vida uma grande obra de mediação entre os dois, criando o que arrisco chamar de uma florestania avante la lettre. Ele ajudava, assim, as pessoas vindas da floresta a se adequarem à nova vida nos arredores de Rio Branco depois da grande crise da borracha, e depois da Segunda Guerra Mundial. Com sua ligação com a Rainha da Floresta, abriu um caminho para se fincar raízes naquelas terras longínquas; com sua inserção na política do Acre, através da sua participação no Exército e de suas amizades com políticos, ele ajudou seu povo a reivindicar seus direitos e a se sentirem relacionados com a sociedade mais ampla.

No centro original criado por Mestre Irineu Serra, o feitio de Daime tem um papel constitutivo na formação da congregação como grupo social. Os homens que fazem Daime são os mais “firmados” na Doutrina do Mestre Irineu, os que detêm a máxima confiança da liderança do centro. Fazer Daime é muito sério, pois visa consagrar a missão que o Mestre Irineu Serra recebeu da Rainha da Floresta. O processo comemora vários aspectos da iniciação do Mestre Irineu Serra, inclusive respeitando a fase lunar, o jejum sexual e a restrição de comida. Além de usarem técnicas que buscam mais a lealdade com o que “o Mestre deixou” do que a eficiência, a intenção é fator importante no feitio. Daime feito com intenções boas é capaz de propiciar louvor ao divino em prol da humanidade; Daime feito por quem não cumpriu seus deveres de abstinência, por quem não prestou atenção ou desprezou seus irmãos, não terá bom resultado. Igualmente, quem toma Daime procura firmar suas boas intenções e tem a expectativa de prestar contas por seu comportamento moral.

"Fitolatria" para curar os cristãos


Tenho tentado destacar aqui como o Daime no Acre é ligado à história e como seu uso se diferencia das drogas: é uma prática de produção local para consumo próprio; liga as pessoas que o fazem com elas que o tomam, por laços de respeito, amor fraterno e muitas vezes pelo parentesco; e prima pela correção moral de cada indivíduo, segundo valores geralmente cristãos que se harmonizam com os da sociedade mais ampla.

Alguns dos meus amigos no Acre pensam que os problemas começaram nos anos 70 quando os “ripes” descontextualizaram o Daime, botando-o na mala e levando-o para o Sul do país, num paralelo invertido à agressão dos “paulistas” que na mesma década compraram uma boa parte do Estado. Realmente dá pano para manga, pois o Daime foi para o Sul e além levado por pessoas da contracultura e ficou associado por eles com a “maconha”, símbolo central da contracultura mundial do baby boom. O esquema de produção e distribuição mudou, e o Daime ficou sujeito a forças do mercado como escassez e transporte. Em alguns lugares, as abstinências e o seguimento das fases da lua caíram em desuso, e as marretas de madeira usadas para triturar o cipó jagube foram substituídas por máquinas.

Essa mudança de contexto aponta uma re-significação do Daime que, de uma perspectiva antropológica, faz uma diferença. Tentar inserir um entendimento processual das drogas no discurso público, porém, dificilmente procede. Como me disse certa vez um homem da Polícia Federal em Rio Branco sobre o Daime, simplesmente, “sabemos que é uma droga, mas não podemos reprimir.” Assim discordo um pouco da idéia que os “paulistas” macularam o Daime, pois a história do Mestre Irineu Serra também começa com uma re-significação da ayahuasca, de fenômeno caboclo a um remédio da floresta “para curar os cristãos”. E é essa mediação entre o que o saudoso Océlio de Medeiros chamou de “fitolatria”, quando defendia o Alto Santo contra a Polícia Federal, em 1974, e a convicção protestante da separação radical entre o mundo espiritual e o material, que dificilmente o público aprende a aceitar.

Matthew Meyer é norte-americano e doutorando em Antropologia Social na Universidade da Virgínia

segunda-feira, 5 de abril de 2010

ANGU BAIANO


O governo do Acre demonstra predileção por artistas baianas. Contratou a desconhecida cantora de axé Fernanda Farani por R$ 300 mil para três apresentações durante o Carnaval.

Também contratou a artista plástica Eliana Kertész por R$ 165 mil para criação e execução da escultura em bronze de uma mulher
carregando uma criança nos ombros, instalada no acesso principal da Maternidade Bárbara Heliodora.

Essa é a política pública de valorização de nossa cultura ou não existem artistas no Acre? Será que algum baiano, a partir do Acre, apenas beneficia as suas conterrâneas?

Em tempo: nem a petista Chica Marinheiro nem as artistas Karla Martins e Verônica Padrão posaram para a escultora baiana.

sábado, 3 de abril de 2010

IGREJA E PEDOFILIA

POR MOISÉS DINIZ

A minha adolescência e parte da minha juventude, eu passei dentro de uma congregação religiosa. Os dias mais substantivos da minha vida. E o que tem a ver a minha adolescência religiosa com “as boas intenções de que o inferno está cheio”?

Apesar de abraçar uma fé, uma visão de mundo que não se testa, imaterial, intangível, pós-morte e espiritual, os nossos dias eram integrais, fecundos e ocupados por muita leitura e suor nas hortas e nas quadras de futebol.

Isso significa dizer que, enquanto a gente buscava ver a face secreta de Deus, na sua infinita espiritualidade, nós tínhamos que enfrentar problemas humanos, concretos e cotidianos.

Os pequeninos e terríveis piuns nas hortas, o sol escaldante, o frio nos banhos das 5 horas da madrugada e ainda enfrentávamos uma sexualidade reprimida em pleno vigor juvenil.

Ainda lembro que, uma vez por semana, substituíamos o leite por chá de capim santo (Cymbopogon citratus) no jantar, com pão, farofa de ovos e verdura colhida de nossa própria horta.

Nossos superiores diziam que era um ato de desprendimento material, vinculado ao nosso futuro voto de pobreza que, junto com a castidade e a obediência, nos tornavam verdadeiros discípulos de Jesus.

Mas tarde, meio como desencanto, descobri que aquele chá servia para refluir nossos instintos sexuais, com as suas propriedades febrífugas, sudoríficas, analgésicas, calmantes, antidepressivas, diuréticas e expectorantes. Um excelente chá para acalmar o fogo da juventude.

Leia no Blog da Amazônia a íntegra do artigo em que Moisés Diniz afirma que a punição a padres pedófilos não pode servir de álibi para atacar a Igreja.

VOANDO VAI A COTOVIA

Thiago de Mello
Para Armando Nogueira

Voando contente vai sobre a floresta
meu coração de criança. Sabe a festa
esta viagem que dura mais de um dia
pela água e pelo céu. Mais andaria
só para ouvir de novo a fala mansa
de certo amigo. A vida vale a pena.

(Para o Armando
No céu, voando, 1990)

Valeu. Vinte anos depois
atravesso o céu de novo
preciso tanto estar junto
do amigo que deu beleza
e ventura à minha vida,
à dele tão parecida,
que as duas se amalgamavam
pelo sal das diferenças.

Só que desta vez não vamos
nos dar o abraço ritual
com os versos do Bandeira.

Eu lhe dizia:

- Alô, cotovia,
por onde andaste, que tanata
saudade me deixaste?

Ele sempre respondia:

- Andei onde deu o vento,
onde foi meu pensamento.
- Muito contas, cotovia!
E que otras terras distantes
visitaste, dize ao triste ?

Desta vez, tanto eu queria!,
Armando não me responde.
Não vou ouvir a sua suave
fala de sabedoria.
Só vou ver,
pela derradeira vez,
o meu amigo dormindo.

Sei que voando vai distante,
muito distante
a querida cotovia.

(Sobrevoando a floresta. Noite de 29 de março de 2010)

Thiago de Mello, 84, é poeta amazonense