domingo, 28 de fevereiro de 2010

MENOS, GENTE


A polícia do Acre atira, esfola e mata estudantes inocentes em operações desastradas durante a semana e a secretária Márcia Regina, da Segurança Pública, aparece em A Gazeta com uma declaração ainda mais assustadora:

- A sociedade tem uma polícia ativa, capacitada.

De sua parte, o senador Tião Viana (PT), principal entusiasta da exploração de petróleo no Estado, anuncia (leia) que existe "interesse mundial pelo projeto da nova economia do Acre".

Até onde sei, a economia do Acre é baseada em repasses da União e o "manejo sustentado" envolve os cargos comissionados na máquina pública.

"Menas" espuma, gente.

P.S.: clique aqui para ler "A geopolítica do ambientalismo ongueiro na Amazônia", tese da professora Nazira Camely, da Universidade Federal do Acre

sábado, 27 de fevereiro de 2010

QUERO VER A FOTO DOS ASSASSINOS

Fátima Almeida

Se existe uma coisa que me incomoda muito é o fato de que, todas as vezes que policiais atiram e matam civis "por engano", somente as vítimas e seus familiares são expostos pela mídia.


A moça que foi assassinada em Rio Branco com um tiro de fuzil pelas costas, por um policial que estava dando apoio a uma blitz no trânsito, foi fotografada já sem vida estirada no asfalto.

As fotos do corpo dela no caixão também foram expostas ao público, de bom tamanho, até nos jornais impressos. O desespero da mãe e do namorado pelos canais de televisão. Mas ninguém viu até agora as fotografias dos homicidas.

Uma coisa em que acredito piamente é no poder da execração pública. As fotografias dos policiais homicidas deveriam aparecer na mídia ao lado do corpo da moça estirado no asfalto.

Por que não? Por que são protegidos? Por temor às represálias, a si mesmos e aos seus familiares? Esse temor deve ser um princípio ou uma condição para que não atirem em civis desarmados.

Uma blitz de rotina não é um cerco a assaltantes e traficantes. A finalidade de uma blitz é a arrecadação em primeiro lugar. Só em segundo ou terceiro lugares existe mesmo essa idéia de zelar pela segurança pública.

A execração pública é uma arma poderosa, capaz, por si mesma, de inibir esse tipo de atitude. Mas esse corporativismo com o qual os militares protegem a sua imagem é prejudicial para todos.

Ouvi diversas pessoas exprimirem sempre a mesma opinião: "não vai acontecer nada com eles”. O próprio comandante da Polícia Militar disse durante entrevista coletiva que “é muito cedo” para se falar nisso, na possibilidade de que os assassinos sejam expulsos.

Os policiais assassinos deveriam ter sido despidos da farda imediatamente, por absoluta falta de respeito e compromisso com a sua corporação, pela ameaça que constituem para os civis.

Homens com autorização para usar armas de fogo devem ter mais autocontrole que os homens aos quais não é permitido usar armas. Se não são capazes de controlar os ímpetos e o desejo insano de atirar em alguém que façam o favor de procurarem outra profissão.

Todos nós entendemos que a fuga do rapaz da moto decorreu do pânico em ser autuado porque usava chinelos, e, em especial, ter que pagar uma multa. As multas de trânsito não constituem moleza nem fazem distinção quanto ao nível de renda.

Melhor mostrar as imagens dos homicidas e desse modo limpar a imagem da corporação, mostrar punição com rigor para restabelecer a confiança da população nos policias militares. Caso contrário vamos ficar a esperar outro fato como esse. É muita covardia da Polícia Militar atirar pelas costas em pessoas das quais não existem dúvidas que são pobres.

As estatísticas bem poderiam apresentar dados sobre os casos de moças que perdem a vida por estarem nas garupas de seus namorados e amigos, sempre por acidentes, por falta de temeridade ou excesso de confiança nos seus parceiros.

Mas receber um tiro de fuzil nas costas, que lhe arrebentou o coração, é algo que não poderia ter acontecido nunca com aquela moça, atingida pelo policial mantido com verba do erário, que também financiou a própria bala do fuzil.

Eu, cidadã, quero ver também as fotos dos policiais que nesta mesma semana atiraram e espancaram o inocente jovem universitário. Quero ver as fotos dos policiais militares que atiraram e assassinaram a moça que estava na garupa da moto do namorado que tentou escapar da blitz.

Nós precisamos saber tudo, até mesmo se está havendo alguma conspiração para afetar a imagem e colocar em dúvida a competência da atual Secretária de Segurança, que está tentando fazer o melhor possível.

Fátima Almeida é historiadora

GAFANHOTO

CHICO BUARQUE E NARA LEÃO

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

SÓ MARINA É FUTURO

José Eli da Veiga

Desta vez não há escapatória: o "fator Marina" obriga todos os pré-candidatos à Presidência a dar substancial destaque ao meio ambiente. E é provável que a questão seja muito bem tratada pelos dois favoritos, pois contarão com a ajuda dos competentes times de governos, conduzidos por Carlos Minc, no federal, e por Xico Graziano e José Carlos Carvalho, nos paulista e mineiro. Equipes em que predominam técnicos identificados com a senadora Marina Silva, mesmo que, por razões mais pragmáticas que altruísticas, não apoiem sua pré-candidatura.

Impõe-se, então, uma óbvia pergunta: poderá haver diferença significativa entre o discurso da senadora e os que serão os adotados pelos favoritos, caso realmente assimilem as ideias de seus ambientalistas?

Ao contrário do que parece, a resposta é um retumbante sim. E o total contraste inviabilizará qualquer conciliação programática para o segundo turno, mesmo que ocorra algum acordo por motivos táticos. Só não percebe quem esquece ou ignora o antagonismo que há entre o imperativo da sustentabilidade e a esclerosada visão socialdemocrata do capitalismo.


Por mais que tenha havido diversificação da fauna partidária socialdemocrata em seus quase 150 anos de adaptações a uma miríade de circunstâncias históricas e político-culturais, nada impediu que nela persistisse sua própria razão de ser, chame-se de "paradigma" ou de "DNA".


Do trabalhismo ao comunismo, passando por todas as espécies de socialismo, o essencial continua a ser a busca de maximização do crescimento econômico conjugada a políticas sociais que reduzam a pobreza e -quando possível- desconcentrem a repartição da renda. Nesse tronco pode ser facilmente enxertado um ramo ambiental, mas sem consistência, já que tomar cuidado com a base natural da sociedade atrita com a opção primordial por pisar fundo no acelerador do PIB.


A nova visão, que brotou no pós-1968, tanto repele a dicotomia entre as esferas social e ambiental da vida humana quanto abomina o reducionismo socialdemocrata por entender que o estilo de crescimento econômico é que deve ser subordinado ao objetivo de melhoria sustentável da qualidade de vida, e não o contrário.


Ou seja, absoluta prioridade "socioambiental" (só uma palavra bem antes de ser autorizada pela nova ortografia). Nada a ver com a concepção de turbinar o PIB com aborrecidas concessões a uma exigência ambiental que seria restritiva, além de separada da social.


Tudo isso poderia cheirar abstrato demais se não pululassem exemplos concretos. A suprema aspiração do governo foi acelerar o crescimento (PAC), criando os conflitos que tangeram a ministra Marina Silva para fora.


E Carlos Minc estava na mesma rota quando a mudança do quadro eleitoral provocada pela pré-candidatura de sua antecessora elevou a cotação do "cerradinho" em detrimento da "soja", segundo metáfora de Gilberto Carvalho sobre a índole de Lula.


Por acaso há político socialdemocrata que discorde da linha do governo Lula, esteja ele no PT, PSDB, PDT, PSB, PPS, PC do B ou PSOL, tenha ficado no PMDB ou baldeado para o atual DEM? Claro que não. Alguns adoram malhar a ineficiente gestão do PAC, mas só porque querem mais do mesmo. A nenhum jamais ocorreria a imprescindível necessidade de substituí-lo por um "Plano de Transição ao Ecodesenvolvimento", sem investimentos contrários à realidade socioambiental. Caso dos mais emblemáticos está na BR-319, que precisa ser abortada, e seus recursos transferidos para obras de saneamento ou de geração de energia limpa.


Sim, a economia brasileira ainda precisa crescer. E muito. Mas não de qualquer maneira, e ainda menos a qualquer custo, como querem os duetos Dilma/Ciro e Serra/Aécio. Para o projeto nacional que agora engatinha com Marina, importa muito mais a direção e a qualidade do crescimento econômico do que sua velocidade.


Aliás, se o contrário fosse melhor, este país já seria um dos mais desenvolvidos do mundo, pois nenhum outro PIB nacional aumentou mais do que o seu entre 1900 e 1980: algo como 50% mais do que o dos EUA.

Em suma: mesmo que o noticiário eleitoral coloque Marina numa suposta terceira via, ela está na primeira para o futuro do Brasil, pois todos os demais candidatos se engalfinham na carcomida segunda.

José Eli da Veiga, 61, é professor titular de economia e orientador do programa de pós-graduação em relações internacionais da USP e autor, entre outras obras, de "Mundo em Transe". Fonte: Folha de S. Paulo.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

VONTADE DEMAIS

José Augusto Fontes

É por causa de uma saudade muito grande, que não te procuro mais. É uma saudade quase diária, com traços alegres, com jeito incômodo, com cores vivas, essa que te desenha no meu pensamento e me impede de te buscar por aí, por acolá, adiante de onde estou. É uma saudade medrosa, tímida, indisfarçável, mas também é uma saudade caudalosa, inconsequente e querida, apesar de conformada em sempre adiar um fim que não persegue. E diante dela, assim grande e perigosa, não te procuro mais.


É por causa de uma grande vontade de estar contigo, que não te procurei mais. É uma vontade que eu não abarco. Tenho medo das palavras perdidas e elas têm medo de mim, o que também nos afasta, sem diminuir em nada a minha vontade de te ver. É bom acariciar a imagem de olhos miúdos e brilhantes, com uma menina pequena dentro, pintada com açaí, o que torna grande a moldura desses mesmos olhos. Eles sorriem sempre, é como um convite, mas eu recuso. Essa magia gigante com gosto de jabuticaba me afasta, e eu não procurei mais por você.

É por causa de um grande descuido, que não saio ao teu encontro, e um grande desencontro me deixa desarticulado, vendo um filme sem diálogos; um livro sem fim; a mesma poesia sem casal, sem rima, sem lima. A fruta que eu mordia ainda tem gosto, a cor de jambo ainda me chama, mas eu não vou, não sugo, não colho, porque plantei fora de época, e um tempo perdido não tem mais o mesmo caminho para ser percorrido; há um outro fim em suas bordas, e eu não saberia por onde emboscar o outono. Por isso, nem chego à primavera, que também não me espera, nem frondosa nem despetalada, e a flor do meu maracujá fica desarrumada, ainda que não solte a lembrança em que se agarra.

É por causa de um grande amor que eu não te vi mais, ainda que tua imagem seja uma árvore plantada no meu caminho, com cheiro, sabor e visgo. Há, porém, também no caminho, um amor que me calou e aquietou. Eu não saberia como dizer, e por causa disso, resolvi imaginar que é melhor não te procurar, não te encontrar, não te esquecer. Só que hoje eu me desobedeci, meio sem querer, e passei a te escrever, que é um meio de não te olhar de perto, de não ser tentado pela maçã que há no teu colo, pelo azeite em que teu olhar escorrega, pela poção por trás da tua intenção, que fala mas não diz, que nem imagina o quanto eu quis.

Não sei se você vai ler. Mas eu precisava te dizer. E agora, agora mesmo, não sei como começar. E por causa disso, acho que é melhor terminar.

José Augusto Fontes é poeta, cronista e juiz de direito no Acre

CÉU, BORBOLETA E FLOR

HOSPITAL GERAL DE TARAUACÁ

Registro do jornalista Leandro Chaves, assessor da Comissão Pró-Índio do Acre


- Estive em janeiro deste ano em Tarauacá. No caminho para a Terra Indígena Kaxinawá da Colônia 27, passei rapidamente por este hospital, localizado na BR-364. Pelas previsões da placa, a obra já deveria ter sido inaugurada. A foto foi tirada numa tarde de quinta-feira, no dia 14 de janeiro. Nem sinal de trabalhadores...

Meu comentário: Na verdade a obra do
Hospital Geral de Tarauacá foi inciada em 2004 e o valor total já chega a quase R$ 7 milhões. Na placa consta o valor total para a obra de conclusão, de R$ 1,9 milhão, que foi iniciada no dia 24 de setembro de 2008. Estava prevista para ser concluída em julho do ano passado.


JORGE VIANA

Jornal é condenado a pagar indenização de R$ 35 mil ao ex-governador


A empresa de comunicação A.S.A. Castro, que editava o extinto jornal Segunda-Feira, foi condenada ao pagamento de indenização no valor de R$ 35 mil a título de danos morais ao ex-governador Jorge Viana. A decisão da juíza de direito substituta Larissa Lima, com atuação na 3ª Vara Cível da Comarca de Rio Branco, acresce à condenação o pagamento de juros e correção monetária.

A empresa foi acusada de publicar material com conteúdo considerado ofensivo à honra, à moral e à imagem do ex-governador, o que foi acatado pela magistrada durante a análise e julgamento dos autos.

A juíza posicionou-se conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no sentido de que a atividade jornalística deve ser livre para informar a sociedade acerca de fatos cotidianos de interesse público, em observância ao princípio constitucional do Estado Democrático de Direito.

- Contudo, o direito de informação não é absoluto, vedando-se a divulgação de notícias cujas expressões se afiguram agressivas e jocosas, que exponham indevidamente a intimidade ou acarretem danos à honra e à imagem dos indivíduos, em ofensa ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana - destaca Larissa Lima na decisão.

A magistrada também enfatiza que a classe jornalística do Acre vem demonstrando ser séria, comprometida com a verdade e, notadamente, com a sociedade e o interesse público.

- E é justamente por isso que devemos coibir abusos, a fim de que sejam respeitadas as regras mínimas de obediência ao princípio da dignidade da pessoa humana - afirma.

TANGO TANGO

Pra Leila Jalul

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

ESTAVA ERRADO NO DIÁRIO OFICIAL

De Daniel Sant'Ana, presidente da Fundação Elias Mansour (FEM), a respeito da nota "Fernanda Farani", que teria sido, de acordo com extrato do contrado publicado no Diário Oficial do Acre, contratada por R$ 300 mil para três apresentações no "Carnaval na Floresta Digital":

"Em correção à informação publicada no Diário Oficial do Estado que leva à interpretação de que o valor contratado tenha sido pago apenas à banda baiana que animou as últimas três noites de carnaval na Arena da Floresta, a Fundação Elias Mansour esclarece que:


Com as três noites animadas pela banda baiana a FEM teve uma despesa de R$ 106 mil.

Com as cinco noites animadas pelas bandas locais a FEM teve uma despesa de R$ 127,5 mil.

As despesas operacionais de passagens, transporte de equipamentos, hospedagem, alimentação, taxa de administração e outras ficaram em R$ 67 mil, somando ao todo o valor de R$ 300,5 mil do contrato, cujo extrato foi incorretamente publicado.

Atenciosamente,

Daniel Sant’Ana

Presidente da Fundação de Cultura Elias Mansour"

Meu comentário: existem dois contratos assinados pela FEM com a empresa Kampa Viagens, Serviços e Eventos Ltda., relativos à organização do "Carnaval na Floresta Digital". Eles somam R$ 608 mil. O governo do Acre menciona existência de erro após a divulgação neste blog do extrato do contrato de R$ 300 mil, portanto onze dias após a assinatura do mesmo.
A soma de seis contratos já publicados no Diário Oficial totaliza mais de R$ 2 milhões. Como outros extratos de contratos terão que ser publicados, estima-se que o valor total da festa ultrapasse os R$ 2,5 milhões. O blog sempre serve, convenhamos. Desde julho do ano passado, quando começou a versão digital do Diário Oficial do Estado, existem 45 ocorrências da relação do governo com a empresa Kampa, que negocia, entre outros, passagens aéreas, eventos e locação de carros. Clique aqui e veja.

TRANSPARÊNCIA


Após a nota "O Triste fim do Café do Teatro", foi instalada na manhã desta terça-feira, 23, placa que informa sobre o serviço de reforma do Memorial dos Autonomistas. A empresa Etcom Engenharia vai faturar R$ 235 mil pela execução do serviço.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

FERNANDA FARANI

Farra digital

Está explicada a animação da desconhecida cantora baiana Fernanda Farani: o Governo do Acre pagou R$ 300 mil por três apresentações dela durante o "Carnaval na Floresta Digital".

Ela é queridinha de quem no "governo da floresta"? Isso é que é incentivo à nossa produção cultural? É assim que se combate a epidemia de dengue em Rio Branco?

A soma dos extratos de seis contratatos que já foram publicados no Diário Oficial, relativos ao "Carnaval na Floresta Digital", totaliza mais de R$ 2 milhões.

Como outros extratos terão que ser publicados, estima-se que o valor total da festa ultrapasse os R$ 2,5 milhões.

O Acre já é o melhor lugar para se viver na Amazônia.

P.S.: Fernandinha é tão famosa que possui apenas 75 seguidores no Twitter.

CAFÉ DO TEATRO

Daniel Zen, presidente da Fundação Elias Mansour, em resposta ao post "Triste fim do Café do Teatro":

"Prezado Altino,


A pequena construção em madeira localizada em frente ao Café do Theatro se trata do canteiro de obras da reforma cujo objeto consiste em pequenos reparos na rede elétrica e de refrigeração, no piso do Café e alguns outros pequenos ajustes no espaço do Memorial dos Autonomistas. Tais serviços iniciaram em 27 de janeiro e o prazo da obra é de 90 dias. A empresa já foi contatada para providenciar a sinalização oficial (placa), conforme consta no respectivo contrato, sob pena de advertência. A responsabilidade e fiscalização dos serviços é conjunta e compete à Secretaria de Estado de Infra-Estrutura e Obras Públicas e à Fundação Elias Mansour.

O contrato mantido com o permissionário do “Café do Theatro”, para uso e exploração com fins comerciais, se encerrou em 2009, não mais havendo possibilidade de renovação ou aditivo, posto que se exauriu em seu prazo máximo permitido pela Lei nº 8.666/1993, ou seja, 60 (sessenta) meses.

Uma nova permissão ou concessão de uso para exploração com fins comerciais haveria de ser, portanto, precedida de processo licitatório. Desde o encerramento do contrato já houve duas licitações: a primeira em 08/10/2009 e a segunda em 03/12/2009. Ambas foram consideradas desertas, pela ausência de candidatos interessados.

Como forma de evitar a interrupção do serviço (conhecida como “solução de continuidade”) foi facultada, ao permissionário de então, a possibilidade de permanência até que o certame licitatório fosse concluído, não sendo, contudo, de seu interesse.

No dia 2 de fevereiro do corrente, foi enviado novo pedido à CPL para abertura de processo licitatório, já publicado, cuja abertura de propostas será no dia 23/03/2010.

Em não havendo interessados novamente, outras providências permitidas em Lei serão tomadas visando a celebração de contrato de concessão de uso, para que o Café volte a funcionar.

Atenciosamente,


Daniel Sant’Ana
(Daniel Zen)"

Meu comentário: Caro Zen, aproveita a reforma e corrige aquele gongórico, brega e pernóstico "Café do Theatro", invenção de algum iletrado e colonizado metido a besta. Café do Teatro é o correto.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

LUA

O TOCADOR DE PANDEIRO

POR JOSÉ BESSA FREIRE

- Miguel, tu ainda toca pandeiro?

A pergunta feita pelo Getulhão, frentista de um posto de gasolina em Cascadura, Rio de Janeiro, pegou de surpresa o motorista do Dauphine verde claro, zerinho, que parou ali para abastecer.

Podia ser um dia qualquer, de um mês qualquer, mas o ano, com certeza, era 1960, como indica a marca do carro. O motorista interpelado abriu a porta e, enquanto tentava se lembrar de onde conhecia aquele negão que o chamara pelo nome, disse para ganhar tempo:

- Desculpa! Não ouvi direito!

O frentista abriu um sorriso que mostrava a ausência de vários dentes na “comissão de frente”, encurvou a mão direita na forma de concha e, com as pontas dos dedos abertos, começou a dar chicotadas em uma lata de óleo vazia que trazia na mão esquerda, produzindo diversos timbres e um bom suingue. Seus dedos descontraídos voavam sobre aquele pandeiro improvisado no momento em que repetiu a pergunta:

- Me diz, Miguel, tu ainda toca pandeiro?

O rosto de Miguel se iluminou com aquela batida:

- Louriiiinho! Há quanto tempo!

Os dois se abraçaram, comovidos. ‘Lourinho’ era o apelido do Getulhão, um amigo de infância, no final dos anos 30, lá na parte mais pobre do bairro popular de Engenheiro Leal, Zona Norte do Rio, onde, juntos, tocavam pandeiro. Fazia uns vinte anos que não se viam. Lembraram os velhos tempos, indagaram sobre o destino de outros amigos dispersos, trocaram informações, riram, mataram a saudade. Se, como disse alguém “minha pátria é minha infância”, aquele era um encontro de exilados.

Leite Glória

Getulhão manifestou seu orgulho de ter um amigo doutor. É que daquele grupo, ninguém estudou. O único que continuou respondendo presente à chamada na escola foi o aluno Miguel Lanzellotti Baldez, nascido em 24 de fevereiro de 1930, filho de Coryntho Silveira Baldez, um autodidata que aprendeu o ofício de topógrafo, e de Maria Luiza Carmela Lanzellotti Baldez, uma imigrante italiana, que deixou o meio rural para trabalhar como operária em uma fábrica de calçados.

O pai e a mãe ralaram para que Miguel se formasse em Direito pela Faculdade de Ciências Jurídicas do Rio de Janeiro, em 1955. Cinco anos depois, já estava atuando como advogado no Escritório de Luiz Machado Guimarães. Com os honorários recebidos na primeira grande causa, deixou de andar de ônibus. Comprou um carro do ano, que tinha volante de alumínio polido com três raios e motor traseiro.

O Dauphine, primeiro carro de passeio fabricado no Brasil pela Willys-Overland durante a euforia do governo JK, era concorrente do fusquinha. Depois, adquiriu má fama, quando descobriram que capotava facilmente. Por causa de sua suspensão, foi apelidado de ‘aerocapotable’ ou ‘Leite Glória’, o leite em pó instantâneo cujo slogan anunciava: “desmancha sem bater”. Era um carro econômico, popular, de baixo custo.

Mas não foi isso que Getulhão viu, quando terminou de encher o tanque. O que ele viu - e não escondia sua alegria - foi seu amigo de infância, vizinho da mesma rua, agora doutor, que havia estudado por todos eles e se tornara proprietário de conhecimentos e de um carro do ano, bens que poucos brasileiros, na época, podiam ter. Com uma estopa, Getulhão acariciava a carroceria reluzente, contente, como se todo o bairro de Engenheiro Leal, através de Miguel, estivesse pilotando o Dauphine.

- Miguel, tu ainda toca pandeiro?

A retórica da pergunta pressupunha uma afirmação de intimidade, de compartilhamento: se tu tocas pandeiro, eu te conheço, tu me conheces, somos amigos que tocam pandeiro e um deles é bacharel e possui um Dauphine. Chegando em casa, Getulhão era bem capaz de dizer displicentemente à sua mulher: - Lembra do Miguel? A gente tocava pandeiro juntos. Ele agora é doutor. Qualquer dia desses dou uma volta de Dauphine com ele.

O flautista

Mas dentro da pergunta, carregada de símbolos, estavam embutidas várias metáforas. O pandeiro não era um simples pandeiro, tinha outros significados, incluindo o entusiasmo pela vida e o compromisso social. Era como se dissesse: Miguel, tu continuas alegre e musical? Miguel, mesmo motorizado, tu ainda estás do lado de cá? Nessa última, estava implícito um apelo: não deixa de tocar pandeiro, fica com a gente, Miguel!

Miguel ficou alegre, tocando pandeiro vida afora, sem negar as origens. Inconformado com a injustiça social, desde sempre, se engajou nas lutas populares. Com a renúncia do Jânio, em 1961, foi pras ruas lutar pela posse de Jango, ajudando na construção da greve geral. Vinculou-se ao CGT - Comando Geral dos Trabalhadores, e ao sindicato dos portuários.

- Você é comunista, mas ainda não sabe - dizia o velho Coryntho.

Em 1963, Miguel fez concurso público e se tornou Procurador do Estado do Rio de Janeiro. Depois do golpe militar, participou da resistência à ditadura, lutando em várias trincheiras, inclusive na formação de novos advogados. Desde 1967 é professor titular de Direito Processual Civil da Faculdade de Direito Cândido Mendes, cujo dono não sabe tocar pandeiro e, agora, decidiu persegui-lo por haver denunciado (leia) as condições de trabalho na instituição.

A partir de 1982, o pandeiro de Miguel tocou na organização do Núcleo de Regularização de Loteamentos Clandestinos e Irregulares da Procuradoria Geral do Estado, que era uma demanda das comunidades excluídas da cidade do Rio. De lá para cá, continua tocando para os movimentos de luta pela terra, tanto urbanos como rurais, que ele assessora, afinado com palestras, conferências, cursos e textos publicados, entre outros temas, sobre o direito insurgente, a questão agrária e a história da propriedade no Brasil.

Ali, onde tem alguém sofrendo, ali, esse amante da justiça está tocando seu pandeiro, como no Fórum de Luta Pela Vida e Contra a Violência, criado na Baixada Fluminense e cidades serranas, onde o conheci no final dos anos 80, ou no Curso de Direito Social da UERJ, que ele coordenou, junto com o desembargador Sérgio Verani e a psicóloga Esther Arantes.

Numa carona de carro - não era o Dauphine - a Campo Grande (RJ), onde participamos de uma mesa-redonda, Miguel Baldez lembrou essa história. Já faz tempo. Mas ela me tocou. Guardei na memória o essencial e preenchi as lacunas com o tempero da imaginação. Decidi escrevê-la agora para render homenagem a esse Lanzellotti, primeiro cavaleiro da Távola Redonda, que nessa semana completa 80 anos tocando pandeiro. Ainda.

Esse infatigável tocador de pandeiro se assemelha àquele flautista medieval da canção de Georges Brassens, de origem humilde, cuja música era tão refinada que o rei tentou comprá-lo com títulos de nobreza, emblema, brasão, escudo, honrarias, glória, castelo com fosso e muralha. No final, “o flautista, modesto jogral / disse um sonoro não ao castelo feudal / Agora, nenhum camponês diz / que o flautista traiu sua raiz / E Deus reconhece como filho seu / aquele bardo que não se rendeu”.

Como o bardo, esse Baldez também não se rendeu. Que Deus o abençoe!

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti .

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

SOLUÇÕES INFORMÁTICA


Dois funcionários da Soluções Informática, empresa que tem como clientes o governo do Acre e a prefeitura de Rio Branco, despejaram no final da tarde de quinta-feira,18, uma montanha de lixo (documentos e computadores) na margem direita da estrada Irineu Serra, no bairro onde moro. A última remessa foi transportada numa Kombi branca, de placas ANR-5763. É a empresa que vende antenas para usuários do programa Floresta Digital. Lastimável que seja mais uma empresa a agir com desmedida irresponsabilidade numa área de preservação ambiental da cidade.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

5 ANOS DA MORTE DE DOROTHY STANG

Marina Silva

Em fevereiro de 2005 presenciei uma das cenas mais impressionantes e estarrecedoras de minha vida. Foi em Anapu, no Pará, para onde fui assim que soube do brutal assassinato da Irmã Dorothy Mae Stang. Já se passaram cinco anos, mas está intacta para mim a imagem de pessoas soltando foguetes, comemorando a morte.

Difícil suportar tamanho desprezo à vida. Especialmente a de alguém que a entregou ativamente em favor dos mais pobres. Que fundou a primeira escola de formação de professores, a Escola Brasil Grande, na rodovia Transamazônica, que corta ao meio a pequena Anapu. Que dedicou sua atividade pastoral à busca de soluções para os conflitos fundiários, buscando a geração de empregos, com projetos de desenvolvimento sustentável e de reflorestamento. Não por acaso ficou conhecida como o Anjo da Amazônia.

Em 12 de fevereiro de 2005, um sábado, às 7h30 da manhã, Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, e Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, foram ao encontro da irmã em uma estrada de terra a 53 quilômetros da sede do município. Mataram-na à queima roupa, com seis tiros.

Aos 73 anos, Irmã Dorothy, nascida nos Estados Unidos e naturalizada brasileira, foi assassinada a mando de grileiros e madeireiros da região, que a ameaçavam havia algum tempo. Segundo relatos de testemunhas, pouco antes de ser assassinada, ela disse: "Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores, que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade, sem devastar."

Apesar da repercussão nacional e internacional do crime, a morte da Irmã Dorothy não arrefeceu a violência na região. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), a falta de um desfecho a esse crime e tantos outros, com a punição dos acusados, faz com que aumente a tensão e se acirrem os conflitos agrários.

De acordo com dados da CPT, de 2009, 63 trabalhadores foram assassinados em conflitos agrários no estado do Pará e mais 379 sofreram ameaças de morte. Já foram protocolados no Tribunal de Justiça do Pará 681 assassinatos por conflitos agrários, entre 1982 e 2008. Desses crimes, apenas 259 desencadearam ações penais e alguns, inclusive, já prescreveram.

Em dezembro de 2005, os dois executores de Irmã Dorothy foram julgados e condenados. Fogoió ficará 27 anos na prisão, e Eduardo, 17 anos. O intermediário Amair Feijoli da Cunha cumpre pena de 18 anos. Já os mandantes, Regivaldo Pereira Galvão e Vitalmiro Bastos de Moura, ainda não foram julgados em definitivo. Até bem recentemente, ambos vinham aguardando os julgamentos em liberdade.

O cineasta norte-americano Daniel Junge transformou a emocionante história de irmã Dorothy em documentário. Narrado pelo ator Wagner Moura, "Mataram irmã Dorothy" foi lançado ano passado. O trailer pode ser visto no Youtube.

A morte de Dorothy Stang não pode ficar impune, tampouco esquecida na lentidão da Justiça e na inoperância dos governos. A luta à qual dedicou sua vida, é de todos nós. Tornar a Amazônia um lugar de paz, em que as pessoas e a floresta possam viver em equilíbrio.

Marina Silva é professora de ensino médio, ex-ministra do Meio Ambiente, senadora do Acre pelo PV e colunista da Terra Magazine.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

EPIDEMIA DE DENGUE

Mais de 10 mil pessoas podem ser afetadas por doença em Rio Branco nos dois primeiros meses de 2010

Após o sucesso de cinco noites do “Carnaval na Floresta Digital”, com temas cibernéticos no estacionamento do estádio Arena da Floresta, em Rio Branco, o Acre permanece conectado à uma realidade onde a epidemia de dengue tem afetado a população da maioria de seus 22 municípios.

De acordo com a Vigilância Epdemiológica de Rio Branco, a capital, já foram notificados mais de 5 mil casos da doença na cidade apenas em janeiro. As autoridades de saúde trabalham com expectativa de que o número ultrapasse os 10 mil casos, quando forem somados todos os casos de dengue notificados nas últimas semanas epidemiológicas de fevereiro.

Além da população, várias personalidades do Acre já padeceram com dengue nos últimos meses. O prefeito de Rio Branco, Raimundo Angelim (PT), por exemplo, passou quase duas semanas sem trabalhar por causa da doença.

Outro que ficou fora de combate por causa da dengue foi o jornalista Aníbal Diniz, secretário de Comunicação do governo do Acre e suplente do senador Tião Viana (PT-AC).

O assessor de Comunicação da prefeitura, Oly Duarte, também passou duas semanas com a febre. A dengue não poupou nem mesmo a juíza Taís Khalil, casada com o secretário municipal de Saúde, Pascal Khalil.

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TRISTE FIM DO CAFÉ DO TEATRO


O estatal Café do Teatro, no centro de Rio Branco, era um ponto de atração da cidade. Foi fechado no ano passado sem explicação. Agora começa a despontar dentro dele uma pequena edificação em madeira. Nenhuma cartolina para informar, nada. Será galinheiro ou casinha de cachorro do Palácio Rio Branco?

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

ORFEU DO CARNAVAL

Moisés Diniz

O drama começou na mitologia grega e ganhou o grande público nos dias mágicos de carnaval. O mito grego sobe aos palcos do teatro pelas mãos do poeta Vinícius de Moraes e cenário de Oscar Niemeyer, como Orfeu da Conceição.

O mito grego do lendário cantor Orfeu, cuja lira, dotada de sons melodiosos, amansava as feras que vinham deitar-se-lhe aos pés. Filho da musa Calíope, ele resgatou a sua esposa Eurídice do Inferno, após ela ter sido picada por serpente.

Vinícius de Moraes (1913-1980) adaptou a tragédia de Orfeu e Eurídice para os morros cariocas, em 1956, com a peça "Orfeu da Conceição", musicada por Tom Jobim.

Em 1959, a peça foi transformada no filme dirigido por Marcel Camus, "Orfeu Negro ou Orfeu do Carnaval", que alcançou grande sucesso em todo o mundo e revelou pela primeira vez a vida nas favelas do Rio de Janeiro.

Neste filme foram lançados vários sucessos eternos da música brasileira como "A Felicidade", de Vinicius e Tom, e "Manhã do Carnaval", de Luiz Bonfá e Antonio Maria.

Orfeu da Conceição, a peça de Vinícius de Moraes, e depois Orfeu do Carnaval, o filme de Marcel Camus, voltaram ao palco depois que a imprensa divulgou algo extraordinário: a relação do filme Orfeu Negro com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

O escritor e jornalista Fernando Jorge relata a influência do filme Orfeu Negro na vida da mãe de Barack Obama.

"No ano de 1959, uma jovem americana de dezesseis anos, extremamente branca, sem um pingo de sangue negro, chamada Stanley Ann Dunham, nascida no Kansas, resolveu assistir em Chicago ao primeiro filme estrangeiro de sua existência. Foi ver o Orfeu Negro, só com atores negros, paisagens brasileiras, música brasileira, história brasileira. Ela saiu do cinema em estado de êxtase, maravilhada. Adorou aqueles negros encantadores de um país tropical e logo admitiu: "nunca vi coisa mais linda, em toda a minha vida!"

Depois de tal arrebatamento, a jovem Stanley embarcou para o Havaí. E ali, aos dezoito anos, ela se tornou colega, numa aula de russo, de um jovem negro de vinte e três anos, Barack Hussein Obama, nascido no Quênia. A moça branca do Kansas, influenciada pelo filme Orfeu Negro, entregou-se a ele e dessa união inter-racial, nasceu em 4 de agosto de 1961 um menino, a quem ela deu o mesmo nome do pai e que é agora, aos quarenta e seis anos, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos".

E encerra a sua argumentação o perspicaz jornalista: "a rigor, numa lógica perfeita, sem o Brasil, sem a história do poeta brasileiro Vinícius de Morais, o filme Orfeu Negro não existiria".

Na peça Orfeu da Conceição, Orfeu, condutor de bonde e sambista que mora no morro, durante o carnaval, apaixona-se por Eurídice, uma jovem do interior que vem para o Rio de Janeiro, para encontrar-se com sua prima Serafina. Ela está fugindo de um estranho fantasiado de morte.

No filme Orfeu Negro, inspirado na peça Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes, a bela Eurídice afirma ao seu amado Orfeu que viera de Tarauacá, uma pequena cidade amazônica, no Acre.

O que fez Vinícius de Moraes incluir esse diálogo sobre a origem da amada de Orfeu? Queria o poeta fazer uma homenagem a uma mulher amada, a uma paixão que, como ele mesmo diz, "quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não"?

O que acrescentaria a um filme multinacional a citação de uma pequenina cidade, no interior da floresta amazônica, se isso não estivesse revestido de uma simbologia? Vinícius de Moraes homenageou uma mulher linda e morena de Tarauacá, uma paixão secreta, talvez, e lhe deu o nome grego de Eurídice.

Eurídice foi interpretada na peça por Dirce Paiva e no filme por Marpessa Dawn. Eurídice, de acordo com o diálogo do filme, era o nome figurado e mítico de uma bela morena de Tarauacá, que se mudara com os pais para o Rio de janeiro.

A peça Orfeu da Conceição inspira o filme Orfeu Negro que, por sua vez, influencia uma branca anglo-saxônica a se apaixonar, como ela mesma diz, por um negro queniano. E no meio da ficção, personagens reais: uma morena de Tarauacá e o presidente dos Estados Unidos da América.

É claro que muitos sociólogos, na sua invejável sabedoria, vão afirmar que a Eurídice que sai do Acre é uma figura de linguagem para expressar a metáfora nacional do abandono e da injustiça. É sempre assim que eles vêem o norte e o nordeste.

E mesmo que fosse uma metáfora, Vinícius de Moraes acolheu uma mulher acreana, de Tarauacá, para simbolizar a deusa Eurídice, que doma o coração de Orfeu e faz o Brasil sambar pelo mundo afora. E dessa influência lírica um presidente negro nasceu.

A ficção é apenas a pele da história, que se envolveu com o mito grego e a poesia e trouxe para o nosso tempo uma história fantástica, que nos surpreende sobre os caminhos misteriosos da sexualidade e fragiliza tudo que descobrimos sobre os desejos da alma humana.

Em 1983, a Escola de Samba Estácio de Sá faz de Orfeu, de Djalma Branco e Caruso, o samba-enredo campeão do Carnaval.

No verso apaixonado de Orfeu
Reina uma mulher somente sua
Por este amor maior que o envolveu
Enlouqueceu e vagou pela rua
No amor ferido de Aristeu
E o feitiço de Mira
A amante abandonada
A dama negra a ele apareceu
Levando para sempre a sua amada
O morro emudeceu
Explode a dor no peito de Orfeu
E o poeta apaixonado
Canta ao céu desesperado
O grande amor que perdeu
(Oh! Lua)
Lua, oh! Lua
Musa amada, branca e nua (bis)
Quero lhe beijar e lhe dizer: Sou seu
E você dizer sou toda sua
Desceu do morro
Enfeitou sua tristeza
Fez seu reino de beleza
Das mágoas do seu coração
E este menestrel moderno
Procura até no inferno
A voz de sua razão
(e vai)
Vai aos orixás do Candomblé
Demonstrando sua fé (bis)
Cai na orgia
Porém nada mas fascina
Ao Pierrô sem Colombina
Na sua alucinação
Morreu Orfeu
Vencido pelo mal (bis)
Mas há sempre
Um Orfeu no Carnaval

Moisés Diniz é autor do livro "O Santo de Deus" e deputado estadual (PC do B-AC)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

FANTASIA DA FLORESTA DIGITAL


Lançado há 20 dias pelo governo do Acre, para possibilitar o acesso gratuito da população à internet banda larga, o programa Floresta Digital até agora se revelou um fiasco por causa de problemas técnicos.

Sucesso mesmo é o
Carnaval na Floresta Digital, no estacionamento do estádio Arena da Floresta, cujo nome tem como referência o programa que pretende fazer de Rio Branco a primeira capital com cobertura integral de internet grátis no país.

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domingo, 14 de fevereiro de 2010

CARNAVAL INCORPORA LOUCOS

POR JOSÉ BESSA FREIRE

É carnaval. Milhões de brasileiros caem na folia. No Rio de Janeiro, em todos os bairros, pululam centenas de blocos de rua. Um deles é o “Tá Pirando, Pirado, Pirou”, criado na Urca, em 2005, por usuários dos serviços de saúde mental e funcionários do Instituto de Psiquiatria da UFRJ. No ano passado, recebeu o prêmio “Loucos pela Diversidade” do Ministério da Cultura. Neste ano, desfilou pela Av. Pasteur, com o enredo “Ser maluco é fácil, difícil é ser eu”, animado pela Bateria Batuque de Bamba.

Esse enredo, que nos convida a uma reflexão sobre a identidade e a exclusão do louco, foi proposto por João Batista, um portador de sofrimento psíquico. Ele sentiu na própria pele a violência do isolamento em um hospício e, com base nisso, sentenciou:

- Ser maluco é fácil, basta você ter sua primeira internação no manicômio e o sistema faz o resto.

Concluiu, depois de ser tratado pelos novos serviços instituídos pela Lei da Psiquiatria de 2001:

- Como é difícil ser eu!. E criou, sem querer, o mote para o enredo.

A lógica manicomial dá muito pano para fantasias e alegorias, com seu tratamento agressivo, camisa-de-força, psicocirurgia e eletroencefalograma duvidoso, que não deixam o eu ser eu. Um dos bonecos gigantes que desfilou no bloco, movido por um folião, tinha o corpo, os braços e as pernas formados por caixas de psicotrópicos.

- Foi comovente ver ex-pacientes de longos anos de internação num macro-hospício participando da evolução da comissão de frente - declarou a psicóloga Rosaura Braz.

O desfile do bloco “Tá pirando” carnavalizou, dessa forma, as idéias de Michel Foucault, que estudou, no seu livro História da Loucura na Idade Clássica, as diferentes formas de tratar os distúrbios mentais nos últimos séculos. O filósofo francês demonstrou que os loucos, que viviam vagando pelas cidades, passaram a ser internados não por razões médicas, mas com objetivo de vigiar, controlar e punir. O hospício, em vez de um lugar de cura, se tornou uma fábrica de loucos.

Toma limonada

O enredo do bloco toca na ferida. Hoje parece absurdo, mas antes muita gente acreditava e outros fingiam crer que a loucura era contagiante, que a doença mental podia ser transmitida através do convívio e que, por isso, o louco -um doente incurável e perigoso- devia ser internado, segregado e excluído da sociedade. Essa idéia foi tão nociva, burra e interesseira quanto a crença em “raças inferiores”. No caso da mulata, o racismo de Lamartine Babo dava um desconto, quando cantava “mas como a cor não pega, mulata, eu quero o teu amor”.

Já com a loucura, que “pega”, não havia atenuantes. O remédio para essa espécie de “lepra mental”, além da discriminação, era o confinamento. Criou-se o “medo do contágio” como uma justificativa ideológica para impedir que os loucos ficassem vagando nos grandes centros urbanos, alterando a ordem. No entanto, nas cidades de pequeno e médio porte, onde o poder político era, felizmente, fraco ou incompetente para organizar a repressão, a idéia não vingou. Foi o caso de Manaus.

Os loucos, alguns de famílias tradicionais, circulavam livremente pelas ruas da capital amazonense, até os anos 50/60, ainda que a convivência com a população nem sempre fosse harmoniosa. Às vezes eram escorraçados pela molecada, mas freqüentemente eram tratados com respeito e conseguiam estabelecer relações solidárias com os moradores dos bairros, que em certa medida embarcavam em suas fantasias.

O mais famoso deles -o Bombalá- foi cantado em prosa e verso por Thiago de Mello, Arthur Engrácio, Aristófanes de Castro e outros. Ele adorava desfilar, vestido com uma calça pega-marreca. Era ele quem abria os desfiles da Polícia Militar, nas festas cívicas, regendo a banda de música da PM, com uma vara na mão, que lhe servia de batuta, gesticulando e marchando com passos marciais e ritmados. De uma família com posses, residia num casarão da Av. Joaquim Nabuco, perto da Praça da Polícia.

Dizem que Bombalá chegou a estudar música. O certo é que quase nunca perdia uma apresentação no coreto da Praça da Polícia, onde a banda da PM sempre contava com a sua batuta de maestro. Cheguei a vê-lo, em minha infância, desfilando à frente do Colégio Estadual do Amazonas, na parada escolar de 7 de setembro, murmurando em forma cadenciada:

- Toma-limonada-pra-cagar-de-madrugada, toma-limonada-pra-cagar-de-madrugada.

Tom Mix

Bombalá é o primeiro de uma longa lista, que tem Carmen Doida, Nega Maluca, Nega Charuta, Neide Pipoca, Tom Mix, Macaxeira, Zé Bundinha, Antônio Doido, Raimundo Mucura, Professor Guilherme, Solaninho, Porca Vadia, Bonitão -primo do governador Álvaro Maia- e tantos outros. É possível mapeá-los bairro a bairro.

Cada um com sua mania. Tom Mix, o xerife, nasceu no velho oeste e entre bravos se criou. Tinha a cara bexiguenta. Nunca casou para não atrapalhar sua missão na terra. Era viciado em filme de bang-bang. Morava numa casa na esquina da Henrique Martins com Rui Barbosa, de propriedade de seu irmão, o coronel Trigueiro, que trabalhava no Palácio do Governo. A vizinhança com os cines Polytheama e Guarani alimentava seu vicio: não perdia uma sessão. Assistia todos os seriados. Pulou para dentro das telas e passou a viver lá, enfrentando índios e bandidos que assaltavam diligências.

Para isso, Tom Mix, já meio coroa, circulava pelo centro de Manaus sempre vestido de cowboy: botas country, calça de brim ajustada, camisa quadriculada com uma estrela no peito, jaqueta de couro, cinto com vistosa fivela, onde estavam penduradas duas cartucheiras com revolver de espoleta e, para completar, um chapéu cor de areia com arame embutido na aba, que ele só retirava para dar bom-dia às donzelas ou quando enfrentava ladrões de gado, montado no cavalo Champion, emprestado do Gene Autry.

Cheira, Macaxeira

A mania de Macaxeira, outro da lista, era organizar a trafegabilidade das vias. Ele era mais que um guarda, era o guardião do trânsito, capaz de identificar os pontos de engarrafamento e de agilizar o fluxo de veículos, que na época incluía até carroças. Com um giz, demarcava seu espaço riscando um círculo no asfalto, em cruzamentos importantes. De lá, apitava, gesticulava, parava ou fazia avançar os carros.

Quando alguém para molestá-lo gritava: “Macaxeira”, ele descia de suas tamancas e dava o troco, rimando: “Pega no meu pau e cheira”.

Foi o que aconteceu com a então jovem Charufe Nasser, minha amiga, multada por ele quando, numa bicicleta, furou o sinal da Monsenhor Coutinho com a Ferreira Pena. Até hoje ela está traumatizada.

Loucura organizada

Há um pouco mais de três anos, Rogelio Casado, coordenador do Programa Estadual de Saúde Mental, começou a recolher depoimentos sobre os loucos de rua, em Manaus, com o objetivo de avaliar como a memória pode contribuir para a inclusão social dos loucos na cultura de nossos tempos. Ele zela pelas lembranças dos loucos como o jornalista Carlos Zamith, com seu Baú Velho, cuida da memória do futebol amazonense: com devoção, com unção.

Vários depoimentos foram publicados no blog Picica administrado por Rogelio Casado, onde podem ser encontrados também registros sobre os avanços e recuos da Reforma Psiquiátrica, notas sobre os preparativos da 4ª. Conferencia Nacional de Saúde Mental, que se realizará em julho e notícias sobre blocos pelo Brasil afora que reúnem médicos, enfermeiros, pacientes, familiares e simpatizantes.

Só no Rio de Janeiro, além do “Tá pirando”, tem o “Loucura Suburbana”, do Instituto Nise da Silveira, que já desfilou dez anos seguidos pelas ruas do Engenho de Dentro, e o “Tremendo nos nervos” do Centro Psiquiátrico (CPRJ), que sai na Praça da Harmonia, no bairro da Saúde. Com seis meses de antecedência, eles começam os preparativos: fazem oficinas, escolhem um tema, estudam o enredo, selecionam o samba e trabalham a produção de fantasias, bonecos e estandarte.

A participação dos pacientes na produção do bloco já faz parte do próprio tratamento, porque ajuda na recuperação, colabora com a inclusão social e, sobretudo, enfrenta o estigma da loucura com coragem e alegria. Se, em francês, loucura é “folie”, então esses blocos incorporam os verdadeiros foliões, cuja alegria, essa sim, é contagiante. O Bombalá, certamente, se vivo, teria gostado de desfilar em algum deles.

P.S.: Agradecemos as informações e as fotos feitas pela psicóloga Rosaura Maria Braz.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti .

sábado, 13 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

PUMA



Primeiro dia na amável companhia deste filhote mais que perfeito de pastor suíço, também conhecido como pastor branco. Tem cinco meses incompletos. Presente do advogado João Tezza e de sua mulher Soraya, melhores criadores da raça no Acre. São donos de Aleph, jovem campeão das Américas e Caribe. Saiba mais aqui.

EU SEI SAMBAR

José Augusto Fontes

Guardei-me até agora, agorinha, mas já ouço repiques, percebo a revolução, o rebolado nas ruas me atrai, o batuque me chama, um frevo inflama, o axé quase reclama. Importa agora o movimento, o suor, o riso, a máscara despretenciosa da euforia. Vem chegando o período contagiante, a fantasia tem vários sons e cores, faz crescer muitos amores e ritmos, marchinha, samba, pagode, frevo, axé, todos os hinos convocam a mesma turma do funil, do cordão, do calçadão, da avenida e do salão da ilusão.


Está chegando o carnaval e ninguém poderia imaginar que eu sei sambar, ninguém poderia imaginar que eu estou sentindo e esperando a bela moça desfilar e já penso em acompanhar. Ninguém poderia imaginar que eu, assim, calado, esperava apenas pelo carnaval para fantasiar meu silêncio, para movimentar meu olhar parado, meu gesto contido, para abraçar a mutidão e desfilar de mãos dadas com a emoção vestida de mulher, para conduzir a linda passista que espero desde aquela quarta-feira em que me despedi e fui ficando quieto, parado.

Guardei-me até agora, agorinha, mas não posso mais evitar, nem mais esperar, vou beijar-te agora, não me leve a mal, apenas me leve para o salão, para a avenida, para a apoteose do teu coração em festa, que o carnaval também é festa, por isso é mulher que me leva, é cordão em que me perco, entre tantos rostos mascarados e pernas descobertas.

Agora, vou dizer para a folia que entre tantos amores eu sou o número um de todas essas marias e colombinas, de todas essas meninas e serpentinas. Agora, vou perder o ritmo com a dançarina que abraço. É quase amor, perder o ritmo é tudo, o depois é sentir, e isso ela vai encontrar.

Agora, eu que parecia distante estou perto e a tentação emocionada esqueceu de pedir os nomes, os endereços, a cor exata dos olhos, a primeira vontade, o próximo silêncio. E assim nascerá, depois de agora, mais esta paixão de carnaval, orquestrada por coloridos gritos, acalentada por inquietas plumas, conduzida pelo mestre-sala do fingimento, que já a registra de véspera, para esquecer de jogar confetes na hora da dispersão.

Guardei-me até agora, agorinha, mas ouço um tamborim cortando, ouço a cuíca agonizando, minha imaginação quer desfilar, mas meu bloco ainda precisa ensaiar. Ainda agora, vejo que meus passos pedem cadência. Quem pode imaginar minha cadência ritmar em silêncio, quem pode combinar aquele olhar parado com o agir ficando agora acelerado.

Bem, mas este não vai ser igual ao ano que passou e já é hora de dar os primeiros passos. Será? Volto à cadência, perco a paixão e reencontro minha porta-bandeira. Ela abraça meu sorriso, conduz meu bloco e traz muitas palavras para a minha voz contida. É carnaval, entrego-me às suas alegorias e percorro suas alas em repetidas evoluções.

Penso em colocar outra máscara, em mudar a fantasia, em dar razão à paixão, o carnaval tem cada coisa. Mas guardei-me até agora, por isso, não vou mudar o ritmo, vou deixar para o ano que vem. Nem eu poderia imaginar isso, com tantos sons e possibilidades. Vou só olhar e sentir, me guardando para o próximo carnaval. Ainda assim, posso garantir, eu sei sambar.

José Augusto Fontes é poeta, cronista e juiz de direito no Acre

DIREITO DE IMAGEM

Estado e Município condenado por uso indevido


A juíza Maria Penha Nascimento, da 1ª Vara da Fazenda Pública, condenou o estado do Acre e o município de Rio Branco por uso indevido de imagem em publicidade oficial elaborada pela CIA de Selva, a agência de propaganda que detém as contas do governo estadual e da prefeitura, ambas administradas pelo PT.

Inédita, a ação de indenização condena cada um dos réus ao pagamento de R$ 6 mil, a ser acrescido de correção monetária pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) e juros de mora de 12% ao ano.

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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

20 ANOS DA LIBERTAÇÃO DE MANDELA

Marina Silva

Política pode ser um espaço de redenção. É para ser assim. No Brasil, dada a quantidade de escândalos e de brigas mesquinhas, a população tem se acostumado a ver os maus exemplos. Gente que desvia recursos públicos e sai impune ou gente que só olha para resultados imediatistas, eleitoreiros. Por isso é comum o desprezo que muitos têm para com os políticos.

Mas existe uma outra política, aquela capaz de mudar para melhor a vida das pessoas e os rumos dos países. Neste dia 11 de fevereiro, temos a obrigação de olhar para o exemplo de Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul, um país irmão. Nesta data, há 20 anos, algo maravilhoso aconteceu. Após 27 anos encarcerado por sua luta em defesa da igualdade racial, contra o regime do apartheid, Mandela foi solto e com ele a África do Sul reescreveu sua história.

O racismo como uma anacrônica e iníqua política de Estado trancafiou Nelson Mandela, líder do partido Congresso Nacional Africano, também banido. No isolamento da cadeia, fincada numa ilha, experimentando privação, dor, imensa tristeza, afastamento da família e o terrível peso da injustiça, Mandela manteve seus princípios. Manteve seu espírito preparado, pronto para o momento que um dia haveria de vir, trazido pela esperança. Dizia que a vida carcerária era uma "versão reduzida da luta no mundo". Manteve o sonho de uma África do Sul diferente, em que todas as etnias teriam plena cidadania. Algo que parecia impossível.

Hoje nonagenário, Mandela é dessas figuras inspiradoras que serão lembradas para sempre. A dignidade de sua luta e a força de suas idéias, palavras e ações transformaram a África do Sul e se tornaram um exemplo para o mundo. Para muitos, a democratização, da forma como foi feita no país, foi um milagre.

E parece que foi ontem. Depois de quase três décadas de prisão, Mandela saía livre pelas ruas da Cidade do Cabo. E começava o fim do apartheid. "Saúdo todos em nome da paz, da democracia e da liberdade para todos. Coloco-me ante vocês não como um profeta, mas como um servo humilde para vocês, meu povo", disse ao sair da cadeia, tendo à frente uma grande missão a cumprir.

Com habilidade, capacidade de articulação, e mais preparado do que nunca, ele pôde concorrer - com o estabelecimento do sufrágio universal - e eleger-se, em 1994, presidente da África do Sul. Um homem moldado nas mais duras cirscunstâncias estava pronto para fazer o que quase ninguém acreditava ser possível: uma transição pacífica, sem derramamento de sangue, entre o nefasto regime do apartheid e a democracia.

Seu espírito não foi o de revanche ou de vingança. Foi o de promover a integração, e, com ela, a paz. Olhando para a grande política, no trabalho de forjar uma nação unida e forte, curando suas terríveis feridas, mergulhou fundo na busca da verdade, colocando frente a frente vítima e opressor, caçado e caçador. Não para remoer o amargo sabor do ódio, mas para, a partir da verdade, poder exercitar o restaurador milagre do perdão.

O interesse de toda a população - negros e brancos - esteve em primeiro lugar. Com seu espírito perdoador, Mandela envergonhou seus algozes. Ele sabia que não seria fácil, que a África do Sul teria muito a caminhar, como ainda tem. Mas eis aí a grande política, a serviço da democracia e da paz.

Marina Silva é professora de ensino médio, ex-ministra do Meio Ambiente, senadora do Acre pelo PV e colunista da Terra Magazine.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

UMA FLOR DO MÉXICO


Um amigo trouxe a semente do México. Minha mãe plantou-a e floresceu, mas não sabemos o nome.

P.S.: Vem do poeta Beto Brasiliense o comentário mais crível sobre a flor:

"Altino.

A flor que sua mãe plantou chama-se zinnia, para ser preciso Zinnia Angustifolia Profusa Laranja. Esta informação está em Botanik.

Ela herdou o nome de Johan Gottfried Zinn que era professor de medicina em Göttingen, na Alemanha, no século XVIII. Com certeza ele apaixonou-se por ela numa viagem ao México de onde ela é nativa, mas sua família espalha-se pelo mundo todo. Elas são as Asteraceae. E que família a dela. Vamos citar suas parentes próximas mais conhecidas:

A camomila. Erva das mais antigas que acompanham a humanidade. Os egípcios já usavam o chá de suas flores e amavam seu perfume. É boa para má digestão, cólica e acalma.

O milefólio, aquilea ou erva-dos-carpinteiros. Planta com propriedades reconhecidas desde a guerra de Troia quando Aquiles a usou para estancar as feridas dos seus soldados. O uso oracular do I Ching - clássico da literatura chinesa antiga - se dá pela manipulação de cinqüenta talos cortados dessa planta.

A artemisia ou erva-de-são-joão que tem propriedades analgésicas e calmantes. Está sendo testada como o futuro do tratamento contra malária, substituindo o quinino.

A arnica que significa pele de cordeiro porque tem folhas macias e peludas. Cresce nas serras, cicatriza ferimentos superficiais e é antiinflamatório das contusões.

A zinnia pode ser a flor da infância. Nos canteiros tem a altura das crianças pequenas que brincam correndo entre seus pés e flores de cores vivas e brilhantes. Lembram tudo que temos de melhor. As informações estão na web e a memória na infância.

Dizem que esta flor está associada a pensar em amigos ausentes, constância, deidade e lembrança diária.

Beto Brasiliense"

OS FILHOS DO PT


Após fracasso de público no lançamento para convidados no Acre, no primeiro dia do ano, nesta quarta-feira, 10, em Rio Branco, os petistas acreanos realizam sessão gratuita do filme "Lula - O filho do Brasil", no Cine João Paulo, a partir das 21 horas. Dessa vez devem comparecer os filhos do PT do Acre: Orleir Cameli, Narciso Mendes, José Bestene... Quem mais?

BARÃO ORLEIR CAMELI ABRE O BICO


Após longo silêncio, o neopetista Orleir Cameli, empreiteiro e ex-governador do Acre, resolveu conceder entrevista exclusiva aos veículos de comunicação de sua família em Cruzeiro do Sul (AC).

Sobre a condenação por desvio de R$ 22 milhões da extinta rubrica "verba secreta":

- Se me condenarem a pagar isso eu vou querer cobrar o pedágio dessas obras, que eu fiz com esse recurso. É ilegal? Não sei, talvez até seja. Mas não é imoral. Nada do que se faz pra benefício do povo pode ser ilegal. (…) Por que é que estão me condenando?.

Sobre drogas:

- Até hoje nós não sabemos o que existe por trás de tudo isso... O povo inteiro acompanhou... Os Estados Unidos inventou (sic) que o Iraque tinha bomba química. Aí os Estados Unidos foi lá e liquidou (sic) o Iraque. Aí os Estados Unidos, a Europa, todos os grandes países, inclusive o nosso, não tem uma forma de inibir a produção de droga no Peru, na Bolívia e na Colômbia. Eu não sei porque, eu não sei o que acontece.

Sobre sustentabilidade:

- Acho muito bonito o discurso da sustentabilidade, mas na prática pouca gente é capaz de fazer um negócio viável conforme se prega na teoria ambientalista. Me ensina a fazer isso. Tão certo na questão de preservar, mas não tem um programa desse... É muito bonito, mas ninguém vem aqui ensinar como é que faz. Só querer preservar a custa da miséria do povo que taí? Não!

Sobre a promessa de importação de verduras do Peru:

- Sabe que eles não deram conta de trazer um avião com verdura pra cá... Fizeram o Governo espalhar essa notícia e não conseguiram trazer. A culpa não é do Governo, é dos maus empresários que tinha nesse negócio aí.

Clique aqui para assistir a entrevista do Barão no site Jurua Online.

CADERNO DA LUXÚRIA


De volta às aulas, crianças e adolescentes compram nas papelarias de Rio Branco cadernos com adesivos luxuriantes. Tem até felação. Fabricado pelo Grupo Caderbrás Bico Internacional, detentor da marca Norma, é um sucesso ignorado por promotores de justiça e juízes.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

QUE BALANÇOU, BALANÇOU

Terremoto no Acre ou apenas o prédio da Defensoria Pública do Estado que balançou e teve que ser evacuado?

Departamento técnico do Corpo de Bombeiros ainda avalia as condições do prédio, no bairro do Bosque.

O prédio foi evacuado pelo Corpo de Bombeiros após registro de um tremor no último andar, na sala da defensora geral, onde a mesa se deslocou e quadros na parede balançaram.

O Corpo de Bombeiros não identificou rachadura e informou que não há registro de terremoto que tenha atingido o Acre.

O pessoal da Defensoria Pública reclama das condições de trabalho, como falta de material e até água no prédio.

A Secretaria de Comunicação do governo do Acre decidiu silenciar sobre o assunto.

FLAUTIM-RUFO

Vídeo inédito mostra ave recém-descoberta no Brasil


O Blog da Amazônia é o primeiro veículo a registrar em vídeo e fotos, no Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre, em Rio Branco, a captura de um flautim-rufo (Cnipodectes superrufus).

Descrita pela ciência há dois anos, no Brasil a espécie foi encontrada até agora apenas no Acre, onde o ornitólogo Edson Guilherme faz anilhamento dela há mais de 10 anos.

Munida de equipamentos sofisticados, uma equipe norte-americana fracassou recentemente no Acre na tentativa de documentar com exclusividade a captura do flautim-rufo.

Além do Acre, o flautim-rufo é encontrado nas regiões de Puerto Maldonado, no Peru, e de Pando, na Bolívia.

No Brasil, existem apenas três espécimes coletados e taxidermizados, oriundos do Acre, que estão depositados no Museu Emílio Goeldi, em Belém (PA).

Os demais espécimes, capturados em território peruano, estão guardados em museus da Louisiana (EUA) e de Lima (Peru).

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EVITE DESPESAS NA FLORESTA DIGITAL

Dicas caseiras de antena wireless com lata da Pringles


Tutoriais estão disponíveis aqui e aqui.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

HELIBRAS E GOVERNO DO ACRE

Revista Veja publicou cartas da Helibras e da Secretaria de Comunicação do Governo o Acre

"A respeito da nota "Uma fase acre para o PT" (Holofote, 3 de fevereiro), temos esclarecimentos da Helibras referentes ao inquérito conduzido pela Procuradoria da República no estado do Acre sobre o contrato de compra de helicóptero celebrado entre a empresa e o governo do estado do Acre em 2009:

1) a Helibras prestou todas as informações solicitadas sobre o contrato de compra e venda do helicóptero Esquilo AS 350 celebrado entre a empresa e o governo do estado do Acre;

2) a empresa esclareceu, através de ofício, que a variação dos valores dos contratos ocorre em função das diferentes necessidades de cada órgão público, e que cada processo licitatório encerra um objeto de contratação que envolve a plataforma da aeronave mais componentes específicos para o tipo de operação, mais serviços que sejam requeridos, mais eventual treinamento, cujo custo depende do local onde será realizado, do total de pilotos e mecânicos a ser treinados etc.;

3) essas diferentes necessidades requeridas na licitação, bem como o ano de aquisição das aeronaves, a lista de preços vigente e as condições financeiras das licitações, resultam em diferentes valores contratuais;

4) outro fator que deve ser considerado é o fato de que, nos contratos efetuados em moeda nacional, há a influência da variação cambial;

5) nas informações encaminhadas pela Helibras ao procurador, os equipamentos e acessórios referentes a cada contrato foram detalhados, demonstrando que cada aeronave licitada tinha uma configuração específica, e, desse modo, os diferentes valores contratuais corresponderam a essa diversidade;

6) todas as licitações de que a Helibras participou são públicas. Os detalhes sobre as fases contratuais de concorrência ou pregão são de conhecimento público.

Patrícia Diguê
Assessoria de imprensa da Helibras
Convergência Comunicação Estratégica Ltda.
Por e-mail"


"A compra de um helicóptero Esquilo AS 350 feita pelo governo do Acre junto à Helibras se deu como resultado de uma licitação em que concorreram as empresas TAM e Helibras, que venceu pelo critério de menor preço e cumpriu o contrato de entrega do aparelho, além de um pacote de treinamento de pilotos e mecânico, assistência técnica e seguro. Todas as informações e documentos alusivos à licitação foram disponibilizados para o Ministério Público Federal. O contrato para a aquisição do helicóptero ocorreu de forma lícita e transparente. Entendemos que o MPF tem todo o direito de investigá-lo para que a União não venha a ser responsabilizada por atos abusivos de autoridades que a representam. O ex-governador Jorge Viana, que responde pela presidência do conselho administrativo da Helibras, e não pelo seu departamento de vendas, não teve participação no processo que resultou na compra do helicóptero.

Aníbal Diniz

Secretário de Comunicação do governo do Acre
Por e-mail"

CARNAVAL DIGITAL

Governo do Acre até agora apenas replica na mídia a sua tosca marchinha "Viva o Carnaval na Floresta Digital".

Nada de internet grátis. O que existe são pontos precaríssimo de acesso wi-fi em Rio Branco, que já funcionavam em prédio públicos.

Para ter acesso gratuito à internet banda larga prometida pelo governo do Acre, a população terá que comprar antenas.

Porém, ainda não está funcionando nenhuma das 32 estações de rádio-base da capital, para as quais serão apontadas as antenas dos usuários.

Apenas o estudo técnico do Floresta Digital custou US$ 573,8 mil. E o governo investiu mais de R$ 30 milhões no programa.

Apesar de tanto investimento, esqueceram que governo estaria virando provedor. Não existe até agora sequer fone ou central de atendimento.

Existe previsão de que as 32 estações de rádio-base de Rio Branco comecem a operar a partir de amanhã. É a nova promessa.

O mais bizarro é que a população está sendo convidada a comparecer ao carnaval com notebook.

Recentemente, o juiz Manoel Pedroga (leia) ficou sem notebook ao acessar o wi-fi da Biblioteca Pública, quando foi assaltado no centro de Rio Branco.

É animado o carnaval que o governo do Acre faz com um programa literalmente virtual.

Perfil no Twitter do juiz Manoel Pedroga, vítima de assalto em junho, ao usar notebook no centro de Rio Branco: @maannooeell

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O DIA EM QUE A GENY ME SALVOU

POR JOSÉ BESSA FREIRE

Quando cheguei, às duas da tarde, ela já estava lá, esperando. Não me conhecia e me olhou, obliquamente, me estudando como se eu fosse um fungo bolorento: quem é esse cara? Não havia viva alma no auditório da Biblioteca Pública, na Rua Barroso, em Manaus, naquele 19 de abril de 1978. Nós dois éramos os palestrantes num evento sem público sobre o Dia do Índio, organizado pelo artista plástico Álvaro Páscoa, da Fundação Cultural do Amazonas. Foi ele quem nos apresentou.

Geny Brelaz de Castro, formada pela Universidade Federal de Pernambuco em Farmácia e Bioquímica, em 1970, é a primeira índia diplomada do Brasil. Estuda fungos, comestíveis uns, venenosos outros, mas também pesquisa parasitas agressores -alguns mortais- que infectam gente, animais e plantas, e apodrecem as árvores. O outro palestrante -esse locutor que vos fala- era, então, professor da Universidade Federal do Amazonas, com uma tese inconclusa de doutorado em Paris sobre história indígena.

- Cadê o público? Quem é que vai sair de casa com esse calor infernal para ouvir falar de índio, numa hora dessas, depois de almoçar jaraqui frito com baião-de-dois? - indaguei apreensivo.

Álvaro Páscoa deu uma baforada no cachimbo e nos tranqüilizou. Já estava tudo agendado com o professor de Educação Moral e Cívica da Escola Técnica Federal, chamado Cauby, um pomposo nome de origem tupi. No horário de sua aula, ele traria os alunos de várias turmas, com controle da lista de presença.

Efetivamente, arrastados compulsoriamente, os alunos lotaram o auditório. Cauby, um sargentão, fechou as portas para ninguém fugir. Não era preciso. Geny falou primeiro e deu um show. Quem a conhece sabe do que estou falando. Ela tem tal domínio de palco e de microfone que bota no chinelo a Hebe Camargo. Cativou os meninos. Falou nas toxinas presentes na farinha que eles haviam acabado de comer, nos hábitos alimentares, nas bebidas indígenas, nas plantas medicinais. Contou histórias. Enfim, lavou a égua.

Especialista em micologia, Geny, que é da nação Munduruku, incorporou a ciência oral milenar do seu povo ao saber escrito aprendido na universidade. Ela sabe tudo sobre fungos. Pesquisou a farmacopéia indígena, os fungos na preparação do tarubá -uma bebida indígena- e os microorganismos em farinhas da Amazônia. Já era naquela época uma pesquisadora respeitada com participação em congressos e artigos publicados no Brasil e no exterior. Foi aplaudidíssima pelo auditório.

Falar depois dela era um desafio. Tentei dar meu recado. Apoiado em documentos, descrevi o desaparecimento de muitos saberes, devido ao massacre das nações indígenas, uma das maiores catástrofes demográficas da história da humanidade. Fui aplaudido ruidosamente. No debate, o professor Cauby quis se exibir para os alunos. Discordou do termo “nação indígena”, que eu havia empregado, considerando-o inapropriado e perigoso.

- Só um traidor da Pátria chama índio de nação - aloprou.

Sua intervenção, aplaudida com assobios e gritos de apoio, me intimidou. Esclareci: quem chamou os índios de “nações” foi o português, não era invenção minha, estava na documentação da época. O termo “nação”tinha, inclusive, significado mais amplo, pois era também usado como coletivo. Recitei versinho cantado pelas crianças lusas:

- Aranha aranhão, sapo sapão, bichos de toda nação.

Fui saudado por uma onda de aplausos. Ai entendi que qualquer discurso seria aplaudido. Foi o que aconteceu no duelo que se seguiu.

Cauby:

- Não existem nações indígenas. Somos todos brasileiros. Quem fala em nações indígenas quer dividir o Brasil, que é uma só nação, uma única pátria - disse Cauby. (Clap, clap)

Eu:

- Conversa fiada. Nação é uma coisa, estado é outra. Comete erro primário quem confunde conceitos tão diferentes. Um estado pode abrigar muitas nações. (Clap, clap).

Cauby:

- Exatamente, é o caso da União Soviética. Só os comunistas pensam assim, porque querem minar os alicerces da Pátria. (Clap, clap).

Eu:

- Tolice. A Suíça é um estado plurinacional. Lá, tem mais nações do que buracos em queijo suíço. A existência de tantas nações não dividiu o estado suíço, não anulou sua natureza capitalista. Ao contrário, fortaleceu. (Clap, clap).

No final de cada intervenção, uma onda de aplausos para o orador da vez. Quem falasse por último, ganhava. A Geny só ali, na moita, calada, observando tudo. Foi aí que Cauby, que havia feito o curso da Escola Superior de Guerra, engrossou o pirão e disparou o tiro de misericórdia, com um - digamos assim - argumento triunfante:

- Hoje, não é só Dia do Índio. É também Dia do Exército Brasileiro e da vitória na primeira Batalha de Guararapes. Você não homenageou o Exército. Você é comunista.

Fiquei gelado. Hoje, parece bobagem, mas naquele contexto era uma denúncia grave. Afinal, um ano antes, de volta do exílio, foi essa acusação que me levou a passar três semanas preso, em Manaus, quando fui encapuzado e maltratado. (Anexo 01) Estávamos em plena ditadura militar, com um governador biônico, Enoch Reis, nomeado pelo general Geisel, que por sua vez também não havia sido escolhido pelo voto popular.

Os jovens de hoje, em sua maioria, não têm a menor idéia do horror que foi a ditadura. Não havia liberdade de expressão e de associação. O povo não podia votar em presidente, governador, prefeito. A censura impedia que as idéias circulassem nos jornais, no teatro, na música, no cinema, nos livros, na sala de aula. Professores, estudantes, jornalistas, artistas, músicos, cineastas e sindicalistas eram presos não pelo que fizeram, mas pelo que disseram ou pensavam e até pelo que achavam que você tinha a intenção de pensar.

Em todas as universidades, havia uma Assessoria Especial de Segurança e Informação (AESI), com delatores pagos com bons salários para dedurar quem expressasse opinião contra a ditadura. Na Universidade do Amazonas, seu chefe era José Melo de Oliveira. Tenho em mãos cópia de dois ofícios circulares assinados por Melo, em 1974, e enviados a todas as faculdades e institutos. Um deles pedia os nomes das pessoas que pretendiam organizar “uma exposição de livros soviéticos”, o outro exigia controle sobre a formatura de alunos e até sobre o discurso do orador da turma.

Depois disso, ele fez carreira na administração publica, foi Secretário de Educação do governador Amazonino Mendes, e ficou conhecido como José Melo Merenda, por causa do desvio de recursos da merenda escolar. Atualmente, é Secretário de Estado do Governo Eduardo Braga (PMDB, vixe, vixe!). (Anexo 02).

Não podemos esquecer, também, que em Manaus, no período de 1975 a 1979, funcionou um centro de formação, que recrutava e treinava agentes especializados em espionagem, infiltração, repressão política e torturas, financiado pela Operação Condor, conforme comprovam documentos encontrados nos arquivos da polícia política paraguaia, abertos ao público pela Justiça de lá (O Globo, domingo, 7/05/2000, pg. 48)

Há quem, hoje, defenda a ditadura militar. Depois de dois artigos contra a tortura publicados aqui nesse espaço, recebi cartas de alguns leitores com um argumento bizarro: a ditadura foi necessária, porque se os comunistas vencessem, eles aboliriam a liberdade de expressão, suprimiriam as eleições, prenderiam seus opositores, torturariam, etc. Ou seja, para impedir a implantação de um hipotético regime totalitário se fez tudo aquilo que supostamente o inimigo faria: prisão, tortura, censura, etc.

Ih, meu espaço está terminando! E a Geny, como foi que ela me salvou? Ah, a Geny foi genial, leitor (a)! Quando o sargentão me emudeceu com aquela acusação, Geny pegou o microfone, piscou um olho discretamente pra mim e fez uma defesa tão delirante quanto à peça de acusação, dando um xeque mate no Cauby:

- Se o palestrante é comunista, então eu também sou comunista e o Comando Militar da Amazônia (CMA) está cheio de comunistas, porque tudo que ele disse aqui, eu ouvi foi da própria boca dos generais, lá dentro do quartel (clap, clap, clap, claps).

Cauby ficou bestificado. Geny tinha autoridade pra falar. Ela havia acabado de receber uma medalha do CMA, por ter descoberto algum fungo lá aquartelado. Depois disso, fez concurso para professora da UFAM, onde foi Chefe do Laboratório de Patologia, ganhou muitas medalhas, inclusive a do Mérito Universitário, foi convidada a palestrar na Índia, na Argentina, na Europa, França e Bahia, se aposentou, mas continua ativa, pesquisando, é feliz e vive para sempre no meu coração: a solidária e generosa Geny.

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti .