quinta-feira, 5 de agosto de 2010

PECUÁRIA APOIA LIDERANÇA DOS VIANA

Caio Junqueira, de Rio Branco, Jornal Valor Economico

Além de problemas com parte do eleitorado acreano, outro agravante para a campanha de Marina em seu Estado é o fato de ela não ser a candidata oficial a presidente da Frente Popular do Acre, o grupo político hegemônico na política local desde 1998 comandado pelos irmãos Jorge e Tião Viana. Em contraposição a Marina, ambos têm mais de 60% das intenções de voto para os cargos que disputam e estão em campanha para alavancar a candidatura a presidente de Dilma Rousseff (PT).

"Temos obrigação de fazer Dilma crescer. É uma dívida de gratidão por tudo o que Lula fez pelo Acre. Queremos fazer um tributo ao Lula", afirma Jorge Viana, para quem a melhora de Dilma nas pesquisas deve ocorrer "sem tirar votos de Marina". Sua ideia parece ser a de que a candidata do PV e do PT superem os 30%, e o tucano fique abaixo desse índice.

"O eleitor aqui é 30% a favor da Frente Popular, 30% contra e 30% são simpáticos a nós mas não querem entregar tudo. Junto com Marina teríamos perto de 60% para o PT, mas isso não vai ser possível. Os votos petistas estão divididos", avalia.

De acordo com ele, outro objetivo do "tributo" a Lula é entregar a Dilma -se ela for eleita- três cargos na Casa em que Lula mais passou dificuldades durante sua gestão: o Senado. "Será um caso único no país: três mandatos do mesmo grupo político", afirma.

Com índices de popularidade superior ao de Lula no Estado, Jorge Viana se diz constrangido em não poder apoiar Marina, embora o PV continue a integrar a Frente Popular e a Marina peça votos para ele e Tião Viana. "Compromissos partidários nos impedem de apoiar Marina", diz.

Entretanto, o prejuízo político com a situação é todo da candidata do PV. O motivo é que Jorge Viana simboliza para o eleitor acreano o ponto de largada para o resgate da autoestima perdida em gestões anteriores, quando os eleitos faziam política de maneira pouco convencional, como a utilização de motosserra ou grupos de extermínio como métodos para eliminar adversários. Esse resgate se deu por obras em parceria com o governo federal de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e, depois e em maior volume, com Lula.

Em outra frente, recuperou trechos do espaço urbano e fez um governo de conciliação com o meio empresarial, o que, nesse sentido, fez com que seu grupo trilhasse caminho diferente do de Marina.

Hoje, os principais doadores de campanha dos Viana e seu séquito são empresas do setor agropecuário e de construção civil, interessadas no mesmo tipo de desenvolvimento do Acre ao qual Marina se opôs quando ministra.

Uma dessas empresas é a goiana Construmil, alvo de denúncia pelo Ministério Público Federal do Acre pelo desvio de R$ 22,8 milhões, relativos às obras da BR-364. Além dele, foram denunciados ex-diretores do Departamento de Estradas de Rodagem do Acre (Deracre) durante o governo de Jorge Viana. Além da denúncia, a Polícia Federal tem em andamento sete inquéritos civis sobre irregularidades na pavimentação da estrada. Os empresários agrícolas, por sua vez, viram o rebanho bovino quadruplicar no Estado. Hoje são 2,6 milhões, contra 614 mil em 1995.

Isso tudo dentro de um grupo político que desde seu primeiro mandato adota o slogan de "Governo da Floresta", da qual Marina, apesar de distante e sempre priorizando a macropolítica ambiental a partir de Brasília, é apresentada como uma de suas principais avalistas.

Sua participação se dá no apoio a uma política de desenvolvimento baseado na "floresta em pé", via técnicas de manejo madeireiro, exportação de madeira certificada e, mais recentemente, créditos de carbono. A opção fez com que a indústria de transformação passasse a ser o foco da política econômica do Estado. Entre 2002 e 2007, sua participação no PIB estadual aumentou mais de 50% e impulsionou o setor industrial acreano, que passou a representar no valor 14,7%, ante 10,6% em 2002. O principal produto dessa industria é a madeira, que representa mais de 75% das exportações do Estado. Politicamente, deu status ao Estado, que hoje pretende ser grande exportador de madeira certificada pela Estrada do Pacífico, servindo aos mercados asiático e ao leste americano.

O avanço, todavia, não foi acompanhado de grandes melhorias sociais, o que explica serem a saúde e a segurança pública as principais preocupações do acreano. A taxa de mortalidade 29,8 por 1000 nascidos) é a pior da região Norte e a oitava pior do país. A de analfabetismo (13,8) só perde na região Norte para a de Tocantins. As taxas de saneamento, assim como a de homicídios dolosos, também estão entre os piores do país.

É com base nesse cenário social que a oposição tenta fazer com que seu candidato a governador, Tião Bocalom (PSDB), saia dos 18% e se aproxime dos 36% de Serra. O ponto central de sua campanha é de que o homem, e não a natureza, é o mais importante elemento do meio ambiente. "A sustentabilidade começa dentro de casa, com alimento para comer e dinheiro no bolso para realizar os sonhos", afirma.

O discurso, até o momento, ainda não parece forte o suficiente para desbancar a força dos irmãos Viana no Estado, que agora querem acima de tudo mostrar isso a Lula fazendo de Dilma a vencedora no Estado. Se conseguir, apagam os péssimos resultados de 2006, quando Geraldo Alckmin (PSDB) venceu Lula no primeiro turno (51,7% x 42,6%), quadro revertido por pouca margem no segundo turno (47,6% x 52,3%).

De acordo com um dos mais antigos observadores políticos do Estado, o deputado federal Flaviano Melo (PMDB), será difícil tirar de Serra a vitória no Acre. "Aqui as eleições são cada vez mais apertadas para o PT. Como a oposição ainda não encontrou uma grande liderança opositora, o eleitor canaliza seu anti-petismo para a eleição nacional", diz.

4 comentários:

Roberto Feres disse...

Imagino alguém que não conheça o Acre lendo essas duas matérias...
..."samba do criolo doido".

lindomarpadilha.blogspot disse...

Caro Altino,

Não há novidade no fato dos Viana terem apoio dos ruralistas e isso não é proibido ou imoral. Imoral é se passarem por "defensores do meio ambiente". Imoral é submeter a imprensa a um rígido cabresto e ainda por sima humilhar os movimentos sociais.

Bom trabalho

Lindomar Padilha

Fátima Almeida disse...

A análise, para mim, está perfeita.Feita por um jornalista que não vive aqui. O imoral pode estar também em homens que aceitam cabresto. Há dois dias o governador doou terreno para a construção da sede dos jornalistas. Pode se falar "cala-te" mas a bôca cala ou não. Quanto aos movimentos sociais nunca foram de fato autônomos, sempre foram comandados pelos intelectuais de classe média alta, quando jovens, e que agora, no poder mandaram os trabalhadores para o seu devido lugar. Se Chico Mendes estivesse vivo, estaria hoje inerte e "humilhado", aliás, é assim que deve estar "no outro lado". Não existe essa coisa de "segunda chance" na História. Na verdade as antigas lideranças não eram de fato, agentes da mudança, mesmo porque a Igreja e suas CEB's funcionavam como amortecedores. Taí, a Igreja alçou o PT ao poder no Acre que, agora, está aliado com os pastores evangélicos que engendram o maior fenômeno de massas que já se viu.Bom para os novos cientistas sociais da Universidade que têm farto material para teorizar.

Gleice Rezende disse...

hahahahaha Fátima, os evangélicos no Acre são a maioria (quem mandou?)

Na verdade, a religião é o que menos importa. O negócio são as ovelhas, minha cara. Deus anda muito distante de tudo isso.

Acho seus coments muito interessantes!