quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

SÓ MARINA É FUTURO

José Eli da Veiga

Desta vez não há escapatória: o "fator Marina" obriga todos os pré-candidatos à Presidência a dar substancial destaque ao meio ambiente. E é provável que a questão seja muito bem tratada pelos dois favoritos, pois contarão com a ajuda dos competentes times de governos, conduzidos por Carlos Minc, no federal, e por Xico Graziano e José Carlos Carvalho, nos paulista e mineiro. Equipes em que predominam técnicos identificados com a senadora Marina Silva, mesmo que, por razões mais pragmáticas que altruísticas, não apoiem sua pré-candidatura.

Impõe-se, então, uma óbvia pergunta: poderá haver diferença significativa entre o discurso da senadora e os que serão os adotados pelos favoritos, caso realmente assimilem as ideias de seus ambientalistas?

Ao contrário do que parece, a resposta é um retumbante sim. E o total contraste inviabilizará qualquer conciliação programática para o segundo turno, mesmo que ocorra algum acordo por motivos táticos. Só não percebe quem esquece ou ignora o antagonismo que há entre o imperativo da sustentabilidade e a esclerosada visão socialdemocrata do capitalismo.


Por mais que tenha havido diversificação da fauna partidária socialdemocrata em seus quase 150 anos de adaptações a uma miríade de circunstâncias históricas e político-culturais, nada impediu que nela persistisse sua própria razão de ser, chame-se de "paradigma" ou de "DNA".


Do trabalhismo ao comunismo, passando por todas as espécies de socialismo, o essencial continua a ser a busca de maximização do crescimento econômico conjugada a políticas sociais que reduzam a pobreza e -quando possível- desconcentrem a repartição da renda. Nesse tronco pode ser facilmente enxertado um ramo ambiental, mas sem consistência, já que tomar cuidado com a base natural da sociedade atrita com a opção primordial por pisar fundo no acelerador do PIB.


A nova visão, que brotou no pós-1968, tanto repele a dicotomia entre as esferas social e ambiental da vida humana quanto abomina o reducionismo socialdemocrata por entender que o estilo de crescimento econômico é que deve ser subordinado ao objetivo de melhoria sustentável da qualidade de vida, e não o contrário.


Ou seja, absoluta prioridade "socioambiental" (só uma palavra bem antes de ser autorizada pela nova ortografia). Nada a ver com a concepção de turbinar o PIB com aborrecidas concessões a uma exigência ambiental que seria restritiva, além de separada da social.


Tudo isso poderia cheirar abstrato demais se não pululassem exemplos concretos. A suprema aspiração do governo foi acelerar o crescimento (PAC), criando os conflitos que tangeram a ministra Marina Silva para fora.


E Carlos Minc estava na mesma rota quando a mudança do quadro eleitoral provocada pela pré-candidatura de sua antecessora elevou a cotação do "cerradinho" em detrimento da "soja", segundo metáfora de Gilberto Carvalho sobre a índole de Lula.


Por acaso há político socialdemocrata que discorde da linha do governo Lula, esteja ele no PT, PSDB, PDT, PSB, PPS, PC do B ou PSOL, tenha ficado no PMDB ou baldeado para o atual DEM? Claro que não. Alguns adoram malhar a ineficiente gestão do PAC, mas só porque querem mais do mesmo. A nenhum jamais ocorreria a imprescindível necessidade de substituí-lo por um "Plano de Transição ao Ecodesenvolvimento", sem investimentos contrários à realidade socioambiental. Caso dos mais emblemáticos está na BR-319, que precisa ser abortada, e seus recursos transferidos para obras de saneamento ou de geração de energia limpa.


Sim, a economia brasileira ainda precisa crescer. E muito. Mas não de qualquer maneira, e ainda menos a qualquer custo, como querem os duetos Dilma/Ciro e Serra/Aécio. Para o projeto nacional que agora engatinha com Marina, importa muito mais a direção e a qualidade do crescimento econômico do que sua velocidade.


Aliás, se o contrário fosse melhor, este país já seria um dos mais desenvolvidos do mundo, pois nenhum outro PIB nacional aumentou mais do que o seu entre 1900 e 1980: algo como 50% mais do que o dos EUA.

Em suma: mesmo que o noticiário eleitoral coloque Marina numa suposta terceira via, ela está na primeira para o futuro do Brasil, pois todos os demais candidatos se engalfinham na carcomida segunda.

José Eli da Veiga, 61, é professor titular de economia e orientador do programa de pós-graduação em relações internacionais da USP e autor, entre outras obras, de "Mundo em Transe". Fonte: Folha de S. Paulo.

9 comentários:

Valterlucio disse...

Conheço o Zé Eli faz tempo. O mínimo que se pode dizer é que se trata de uma cara inteligente, preparadíssimo e extremamente sério. Mas também erra. Neste caso errou quanto ao estágio de crescimento do Brasil. Ora, aplicada qualquer taxa, o ponto final depende do ponto inicial.

Valterlucio disse...

Continuando. A Marina vai cair (está caindo) em um erro grave se não incluir em sua agenda outros temas além do ambiental. O questionário que lhe enviou o filósofo e cientista politico Emir Sader no site Carta Maior sinaliza isso.
Uma segunda via como propõe Zé Eli, já que considera Dilma e Serra variações do mesmo, não se afirmará pela omissão em relação à realidade e aos grandes problemas atuais, tenham ou não interface ambiental explícita.

Unknown disse...

O que essa mulher fez pelo Acre?

Isac disse...

Ô camarada aí (valterlúcio), desde quando a ênfase na questão ambiental significa ignorar a realidade? Você, por acaso, já conseguiu prescindir do oxigênio, não necessita mais beber água? O calor extremo que vivemos no Brasil atualmente não afeta seu corpo? Pergunte para moradores de favela do Rio de Janeiro que não têm condições de pagar por um condicionador de ar se o calor que os tem enfrentado lhes parece "real"; pergunte às famílias que perdem casas, os tão sonhados bens que o dinheiro (real) pode comprar e, pior, perderam seus entes queridos, pergunte se isto lhes parece real? Ah tá, entendi, a tal realidade pra você é expressa em cifras, em PIB, em percentual, em volume de negócios, em capital. É óbvio que todos querem trabalhar, ter o necessário para viver, ter filhos, se divertir, descansar, amar, ter um pouco de felicidade. Mas será que isso tudo cabe dentro de uma de vida catastrófica como o que estamos vivendo, com inundações, secas, doenças, alimentos lindos e verdejantes carcomidos de agrotóxicos, carnes frescas e suculentas encharcadas de antibióticos e hormônios até a última célula em nome da produtividade? De que adiantam as cifras (por si) se não trazem bem-estar e a tal qualidade de vida hoje se tornou um sonho distante? De fato, havemos de combinar que há, como sempre houve, muitas realidades. Acho que você pode falar muito bem da sua.

@eutogorda disse...

É realmente hora do Brasil ter uma nova visão,novas perspecttivas de governo e ideais. Para isso têm-se Marina Silva que veio para inovar este aspecto, que para mtos o tal meio ambiente é modinha, enquanto pra ela é a solução de muitos problemas. Esse é o foco de sua candidatura, porém tenho certeza que com os parceiros que ela tem os outros pontos não deixaram a desejar, quer dizer vaii incomodar muitos latifundiários, as poucas pessoas que mantem uma certa autonomia de terras e poder.

@eutogorda disse...

É realmente hora do Brasil ter uma nova visão,novas perspecttivas de governo e ideais. Para isso têm-se Marina Silva que veio para inovar este aspecto, que para mtos o tal meio ambiente é modinha, enquanto pra ela é a solução de muitos problemas. Esse é o foco de sua candidatura, porém tenho certeza que com os parceiros que ela tem os outros pontos não deixaram a desejar, quer dizer vaii incomodar muitos latifundiários, as poucas pessoas que mantem uma certa autonomia de terras e poder.

Valterlucio disse...

Ops!
Isac, bom Isac. A questão não é a ênfase. É a exclusividade, o samba de uma nota só. Uma campanha eleitoral e, mais ainda, o comando de uma nação, não se faz batucando na mesma tecla.
Já disse antes. Se o interesse é botar o bloco na rua e introduzir ou reforçar o tema ambiental no debate eleitoral, ótimo, que vá em frente. Terá apoio público relevante, porém, insuficiente para ganhar o carnaval, entende?
Queiramos ou não, muito dificilmente a Marina conseguirá transformar o meio ambiente em tema central da campanha e, assim, dominar o debate. Até porque, desconfio, as posições dos concorrentes serão basicamente as mesmas. Todo mundo é a favor da preservação. Com uma ou outra exceção, não há condições de confrontos graves nesta matéria.
A Marina será cobrada em relação a outros temas perante os quais há sim divergências muito importantes e, por isso, poderão balisar a campanha. Temas áridos, como por exemplo, os ligados à macroeconomia. Marina é a favor da redução de juros? Ela apóia o crescimento atualmente mais que proprocional das despesas de custeio? E o financiamento da previdência? E a reforma tributária? Além do calor que anda fazendo aqui embaixo (lá em cima tá um frio de lascar) a vida é dura, caro Isac.

Regina Cavalcanti disse...

Concordo com Valterlucio. Qualquer candidato ao cargo de Presidente da República tem que ter um programa para todas as áreas. Sou profissional da área da saúde, e gostaria de saber qual é a proposta do PV para a área da saúde?

Julio Cesar disse...

ALTINO,

O esquadrão da morte voltou ? Que esses assassinos que mataram a jovem no bairro João Eduardo sejam expulsos da PM e condenados. Cadê os paladinos dos Direitos Humanos ? CadÊ a Naluh, o Lhé, o Bispo, o Moises Alencastro ( PC do B) ninguem se manifesta.