sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A CONQUISTA DE SAMMY LOPES

Brasil corre o risco de descartar Judiciário e Ministério Público, critica procurador de Justiça


Filho de família pobre que migrou de um seringal nas matas de Xapuri para a periferia de Rio Branco, tendo estudado sempre em escolas públicas, Sammy Barbosa Lopes, de 37 anos, assume nesta sexta-feira o cargo de procurador-geral de Justiça do Acre.

- Ninguém sai das barrancas do rio Acre para sentar na cadeira de procurador-geral sem ser extremamente teimoso. A minha maior virtude é também um defeito - afirma o procurador, que se declara "um autêntico capricorniano".

Ele ingressou no Ministério Público do Acre como promotor de Justiça aos 24 anos e se notabilizou no Estado ao ser recrutado, a partir de 1997, para ficar à frente do Grupo de Combate ao Crime Organizado e enfrentar o então coronel Hildebrando Pascoal, mais conhecido como "homem da motosserra". Era a época em que os nomes das vítimas eram anunciados na imprensa local.

- Um dia, eu lembro, era inverno amazônico. Vejo uma figura estranha, caminhando com extrema dificuldade na enlameada BR-317. Era o procurador da República Luis Francisco Fernandes de Souza. Vi aquela figura estranha escalando um trator, para provar que aquele trator pertencia ao então governador [Orleir Cameli] e não à empresa que executava a obra. Tratava-se de uma licitação fraudada. Naquele dia, eu disse a mim mesmo: é isso que quero fazer na minha vida.

Sammy Lopes, que concluiu o curso de direito aos 22 anos, considera o Ministério Público uma instituição independente, mas defende o fim das nomeações de procurador-geral de Justiça pelos governadores e de procurador-geral da República pelo presidente.

- Isso é feito para dificultar a efetiva independência. Essa hipocrisia precisa mudar - acrescenta.

O procurador de Justiça lembra que parte do volume de informações com que a sociedade é bombardeada diariamente deságua no Ministério Público. Anseios que não podem ser resolvidos imediatamente por causa do arcabouço jurídico e político do país.

- Estamos até hoje brigando contra uma ação que está nos últimos estágios no Superior Tribunal de Justiça. Queremos ter o direito de ajuizar uma ação civil pública no caso do extinto Banacre e que envolve o desembargador aposentado Jersey Pacheco Nunes, ex-presidente do Tribunal de Justiça do Acre. Pacheco, que era devedor do banco estatal do Acre, se tornou credor do mesmo e está adjudicando bens públicos. Ele conseguiu isso por via judicial - cita Sammy Lopes como exemplo dos desafios que tem pela frente.

O plano administrativo dele no MPE terá como foco a informatização, para preparar o órgão para o processo virtual.

-Nós não temos opção entre tê-lo ou não porque corremos o risco de a sociedade considerar descartáveis o Judiciário e o Ministério Público. Uma sociedade como a do Rio de Janeiro, que vive uma situação de guerra civil, não pode se socorrer de um Judiciário que leva dois anos para distribuir uma ação. É por isso que aquela comunidade acaba se identificando mais com o tráfico do que com o estado, que ela só enxerga quando a polícia sobe o morro dando porrada em todo mundo.

Leia os melhores trechos da entrevista no Blog da Amazônia.

2 comentários:

Andarilho disse...

Coloque na sua lista de 'coisas boas para se fazer', Procurador Sammy, para sabermos pq morre, de forma inexplicavel, tanto detento no presídio de segurança máxima daqui de Rio Branco.
Por mais que tenham cometido crimes hediondos, não justifica esses suicídios. Ou suicidaram o detento!?
Parabéns pela sua nomeação.

Gabi Ramos disse...

Boa sorte para Sammy. Fui colega de faculdade da irmã dele, tenho um carinho por ela, mas pra começar bem ele tem é que acabar com a mordomia do MP. E claro, com as denúncias de corrupções que ocorre lá dentro, além de informatizar somente. E concordo com ele plenamente, que o MP tem que ser independente, trabalhar para a população e não para o poder Legislativo, representar o povo, a sociedade e não o Governo Petista, chega, basta nas últimas eleições......