segunda-feira, 30 de novembro de 2009

ORAÇÃO DOS MENSALEIROS

O presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Leonardo Prudente, e o corregedor da Casa, Junior Brunelli, acusados de participar do esquema de pagamento de propina organizado pelo governo de José Roberto Arruda (DEM), pedem a Deus que tire "pessoas ímpias e más" de seus caminhos e que proteja o secretário de Relações Institucionais da gestão do político democrata, Durval Barbosa.



"Pai, quero te agradecer por estarmos aqui, sabemos que nós somos falhos, somos imperfeitos, mas é o teu sangue que nos purifica. Pai, nós somos gratos pela vida do Durval ter sido instrumento de bênção para nossas vidas, para essa cidade. Tantas são as investidas, Senhor, de homens malignos contra a vida dele, contra nossas vidas. Nós precisamos da Tua cobertura e dessa Tua graça, da Tua sabedoria, de pessoas que tenham, Senhor, armas para nos ajudar essa guerra. Acima de tudo, Senhor, todas as armas que podem ser falhas, todos os planejamentos podem falhar, todas as nossas atividades, mas o Senhor nunca falha"

FÓSSEIS DO ACRE

Pesquisadores da Universidade Federal do Acre coletam novos fósseis de jacarés gigantes na BR-364

Pesquisadores da Universidade Federal do Acre (UFAC) coletaram, na margem direita da BR-364, no município de Feijó (AC), fósseis de dois jacarés. Apesar de bastante danificado, o primeiro fóssil foi identificado como sendo ramo mandibular do grande jacaré Purussaurus brasiliensis, o maior jacaré do planeta.

A equipe também localizou nova evidência fóssil que de imediato foi atribuída a outro jacaré, contudo, sem possibilidades de identificação mais precisa. Ambas as peças foram transportadas para o Laboratório de Pesquisas Paleontológicas (LPP) da Ufac.

Após estar tecnicamente preparado, estudos preliminares já realizados no LPP permitem afirmar que o segundo material é do gênero Mourasuchus nativus. A espécie pertence à família Nettosuchidae, que são crocodilos endêmicos da América do Sul.

Eles encontraram, ainda, o fóssil de uma tartaruga mata-mata, originária da América do Sul, que vive especificamente na região amazônica. A carapaça fóssil mede mais de 2 metros de diâmetro. O nome científico da mata-mata é Chelus fimbriatus, que significa tartaruga franjada ou ornamentada.

Leia mais no Blog da Amazônia.

domingo, 29 de novembro de 2009

AMAZONINO E A BARONESA DE IGARAPÉ

POR JOSÉ RIBAMAR BESSA FREIRE

Escrevo do Acre, onde participo do II Colóquio Internacional sobre as Amazônias e as Áfricas. Inspirado pelo evento, adaptei esse conto do escritor africano Amadou Hampâté Bâ (1900-1991) publicado na França em 1999 com o título "A Justiça dos Poderosos".

Existem hienas no Brasil e na Amazônia, como prova a decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas, que absolveu o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB, vixe, vixe) das denúncias de abuso de poder econômico e de compra de votos.

O Imperador da Floresta, Sua Majestade Leão XIII, concedeu à hiena o título nobiliárquico de "Baronesa de Igarapé", dando-lhe de presente brasão e castelo. Dias depois, a nova baronesa se apresentou diante do Imperador:


- Majestade - disse ela - é preciso que os vivos aprendam a respeitar os mortos. Para isso, quero submeter-vos um projeto de lei que eu mesma redigi. Se V.M. concordar com minha humilde forma de pensar, meu projeto terá força de lei em toda a floresta.


Leão XIII submeteu o projeto ao Senado Florestal, que o aprovou por unanimidade. Promulgou, então, a seguinte lei:


"Considerando que o olho collorido do imperador suscita terror e medo em todos os animais e que sua vontade é lei; considerando parecer favorável dos senadores Gato Escaldado - marquês de Pericumã, e Jaboti de Casca-Grossa - conde de Abacatal; considerando que o Senado aprovou o projeto da Baronesa de Igarapé; o Imperador Leão XIII decreta:


Art. 1 - Fica proibido, sob pena de morte, exumar um cadáver enterrado para consumir sua carne;


Art. 2 - O presente decreto entra em vigor a partir de hoje;


Art. 3 - A Baronesa de Igarapé fica encarregada de fiscalizar o cumprimento da lei.


Dias depois de sua publicação no DOF (Diário Oficial da Floresta), a matriarca das hienas enfartou e bateu a caçoleta. Teve velório espetacular com funeral pomposo e pirotécnico, desfile de carro de bombeiros e pétalas de rosas atiradas de helicópteros.


Depois do enterro, a hiena filha, apelidada de Baronesa de Bunda-Baixa, esperou que todo mundo dormisse e, no meio da escuridão profunda e tenebrosa, se dirigiu ao cemitério. Lá, desenterrou o cadáver da mãe, devorou a carne da velha e roeu-lhe os ossos. Um senhor banquete! Naquele momento, trovões e relâmpagos riscaram os céus. A Baronesa, se borrando de medo, arriou ainda mais a bunda e fez cocô. A coruja, que enxerga de noite, viu tudo, do galho de uma árvore.


Os acusados


No dia seguinte, a Baronesa se apresentou diante do trono de Leão XIII, registrando uma queixa:

- Majestade, minha pobre mãezinha foi desenterrada e devorada esta noite. Solicito a aplicação da lei: pena de morte para os violadores!


O Imperador da Floresta nomeou juiz do caso a Meritíssima Anta, que havia cursado o doutorado na Floresta Negra, na Alemanha, com uma tese intitulada Die Zulässig keits voraussetzungen der abstrakten Normenkontrolle. A Anta mandou prender e algemar cinco suspeitos, convocando-os para audiências.

Vestida com a toga e com aquele chapéu de bolo-de-noiva na cabeça, a Anta abriu a sessão com um discurso:


- Em matéria de justiça sou plenamente in-de-pen-den-te. Não se dá independência ao juiz para ele ficar consultando qualquer sujeito da esquina. O juiz tem o dever de arrostar a opinião pública da floresta.


A audiência começou. Os cinco suspeitos entraram algemados: o Boi Garantido, o Tamanduá Abraçador, a Onça Pintada, o Mutum-de-Penacho e o Urubu-Cabeça-de-Piroca. Todos eles juraram dizer a verdade, nada mais que a verdade, somente a verdade.


O primeiro interpelado foi o Boi, que se garantiu, provando que o vampiro criminoso não podia ser ninguém da família dos bovídeos:


- Antes que a vaca vá pro brejo, é preciso lembrar que nós, ruminantes, só comemos erva, pasto, capim. A ausência de dentes caninos e de incisivos superiores prova que não comemos carne, e muito menos, carniça. A disposição de nossas patas comprova que a gente não tem condição de desenterrar um corpo. Nem que a vaca tussa.


- Mas o Tamanduá Abraçador tem unhas poderosas e com elas pode desenterrar um cadáver" - disse o juiz, liberando o boi e chamando o segundo suspeito.


O Tamanduá se defendeu, alegando que era um animal de grande porte, mas de índole inofensiva e que se alimentava exclusivamente de formiga e cupim. Suas unhas serviam para arrancá-las dos formigueiros. Ponderou ainda que o tipo de estômago que tinha constituía prova de que não tem a menor condição de tragar e engolir carne.


- Sugiro ao meretíssimo juiz que procure os carnívoros - disse.

O juiz chamou a Onça Pintada, que exibiu um atestado médico, comprovando que felinos se alimentam de carne, mas de carne fresca, de bife mal passado, sangrando.

- Além do mais - disse a onça - a carne de hiena é reimosa e dá curuba. Não comemos carne podre. Procure os abutres.


- Vocês comem carne? - perguntou o juiz ao quarto suspeito, o Mutum-de-penacho.


- Sim meretíssimo, mas carne de borboleta, de caramujo, de gafanhoto, de lagartixa, no máximo de perereca, sempre de animais pequenos. De cadáver de hiena não. Não somos abutres que nem o urubu.


A sentença


O último acusado era justamente o Urubu Malandro.


- Confesse que você e sua família se alimentam de carniça e que do alto do céu podem enxergar uma carcaça - intimou o juiz.


Diante da confirmação, acrescentou:


- Você fede, é pestilento, nauseabundo, horroroso. Está acusado de vandalismo e vampirismo, sujeito à pena de morte.


- Se precisa de um culpado, me condene, mas vai ter que explicar como é que com meu bico e minhas patas eu consegui desenterrar o cadáver - argumentou o Urubu.


Nesse momento, entrou o policial Macaco Velho com a Baronesa de bunda-baixa algemada:


- A coruja é testemunha. Aqui está a culpada - disse o Macaco policial.

A Meretíssima Anta, apoplética, mandou desalgemá-la, devido à sua condição de baronesa.


A Baronesa negou tudo e, através dos seus advogados famosos - Raposa Felpuda e Jacaré-na-lama, regiamente pagos - incriminou o urubu; este requereu que fosse tomado o depoimento da coruja e que o Laboratório VVB da Vovó Veadinha Bambi fizesse exame das fezes encontradas ao lado do túmulo para verificar as "impressões digitais".


Os advogados da Baronesa recorreram, solicitando que o depoimento da coruja fosse ultraconfidencial e corresse sob segredo de justiça. A Meretíssima Anta deferiu e, depois, mandou arquivar o processo porque as provas foram conseguidas "de forma ilegal".

O professor José Ribamar Bessa Freire coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ), pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO) e edita o site-blog Taqui Pra Ti.

ÍNDIA MUNDURUCU


Na lente do repórter-fotográfico Raimundo Paccó, que promete enviar pro blog uma nova imagem a cada semana.

sábado, 28 de novembro de 2009

DELEGADO ALEXANDRE SILVEIRA


Noite de despedida do delegado Alexandre Silveira, da Polícia Federal. Promovido para trabalhar em Brasília, após quatro anos no Acre, uma tribo diversa de amigos para pequena homenagem junto com sua esposa Beth e os filhos Rafael e Gabriela: Ruy Duarte, Agnaldo Dantas, Airton Giroto, Anselmo Forneck, Fernando Piazensky, Gildásio Lima, Isnard Leite, Lucilo Jorge Filho, Oswaldo D'Albuquerque Lima, Roberto Duarte Júnior, Sérgio Barbosa, Antonio Santana, César do Valle, Guilherme Schirmer Duarte, José Ribamar Oliveira, Romário Célio, Oly Duarte, Ryter Colin e Elias Leocádio.

GOVERNADOR COM A MÃO NA CUMBUCA

A GUERRA DOS MENDES

JULIANA ARINI, da revista Época



A casa mais visitada do Acre fica na Rua Batista de Moraes, 487, em Xapuri, cidade de 14 mil habitantes a 180 quilômetros da capital, Rio Branco. Pequena, feita de madeira, foi nela que o sindicalista e ambientalista Chico Mendes foi morto a tiros por dois fazendeiros quando saía para tomar banho. Vinte anos depois do assassinato, a casa é mantida intacta, como estava no dia da morte, inclusive com a mancha do sangue de Chico Mendes na parede. Nela funciona uma espécie de museu, com guia e tudo, sustentado pelo Instituto Chico Mendes. Criado pelos herdeiros para manter viva a memória de Chico Mendes, o instituto enfrenta acusações sérias na Justiça. O Ministério Público do Acre denunciou seus administradores por desviar R$ 685 mil em recursos públicos.

Leia a reportagem completa no site da revista Época.

MÉDICOS VALENTÕES FAZEM AS PAZES

Com exceção da TV Acre, do site AC 24 Horas e deste blog, os demais veículos de comunicação não tiveram coragem de noticiar a violência (leia) que envolveu dois médicos no Pronto Socorro de Rio Branco na quarta-feira, 25. Não haveria paz se o caso tivesse sido abafado como tentaram alguns. Exultante, três dias depois a coluna Poronga, do Página 20, assinada por Leonildo Rosas, nos informa:

Bom senso
Os médicos Diego Viana Neves de Paiva e Augusto Julio Muñoz Nunes, que tiveram um grave desentendimento esta semana no estacionamento do pronto-socorro e que resultou em agressão e queixa na delegacia de flagrante, fizeram as pazes ontem, em audiência de conciliação no 2º Juizado Especial Criminal - Juizados Especiais de Rio Branco.

Desculpas
Durante a audiência, mediada por uma conciliadora, os dois pediram desculpas um para o outro, reconheceram que se excederam na discussão e firmaram não só um pacto de não-agressão, mas o restabelecimento da amizade e do trabalho em conjunto no PS.

Sem rusgas
Com o bom resultado da audiência e a garantia da conciliação, o processo em que Diego Viana e Muñoz se colocavam como vítimas de agressão será extinto e o problema, resolvido. Nada melhor que a mediação e uma boa conversa para resolver conflitos.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

ESCLARECIMENTO

Nota da Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Rio Branco:

"O prefeito de Rio Branco, Raimundo Angelim, lamenta o desencontro de informações publicadas em alguns sites da capital, nesta sexta-feira, responsabilizando a prefeitura, através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, pelo embargo e suposta demolição das obras do empreendimento Makro – unidade Rio Branco – que está sendo construído na Via Verde.


A prefeitura de Rio Branco defende a instalação de novas empresas na cidade que garantam emprego, renda e arrecadação de impostos para o Estado e o município. Porém, é necessário que estes empreendimentos cumpram a legislação em vigor, sob pena de sanções legais. Em relação a isto, não deixará de cumprir seu papel constitucional de fiscalizar as obras de tais investimentos, independente de sua origem ou valores.


No caso específico do empreendimento Makro, a empresa foi autuada por movimento de terraplanagem não autorizado nas margens do igarapé Amaro, e foi solicitada a paralisação das atividades para apresentar as licenças. A empresa tomou ciência do problema, e, em reunião com a Secretaria de Meio Ambiente do município, concordou em sanar o dano ambiental. A partir do acordo, foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta que será cumprido tanto pela empresa como pelo município.


Portanto, não é verdadeira a informação de que há risco de demolição da obra em execução por determinação da municipalidade, seja através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, seja através de qualquer outro órgão municipal. Informamos ainda que a assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta não compromete a continuação da obra, nem tampouco prevê a demolição das etapas já executadas.


Rio Branco, 27 de novembro de 2009"

SAMMY BARBOSA


Lembram quando saiu a lista tríplice do Ministério Público do Acre (Patrícia Rego, Sammy Barbosa e Álvaro Pereira), no dia 18, para ser encaminhada ao Executivo?

Registrei aqui: para o cargo de procurador-geral de Justiça, o governador Binho Marques (PT) e seus aliados políticos vão avaliar qual dos nomes é mais competente para não importuná-los.

Dito e feito. Sammy Barbosa, que era o segundo da lista, é o novo procurador-geral de Justiça do Acre.

Binhou aprendeu a máxima: manda quem pode, obedece quem tem juízo.

EU BALANÇO


Dona Peregrina Gomes Serra, viúva do mestre Raimundo Irineu Serra (1892-1971), fundador da doutrina do daime, está descontente com o que considera desonestidade da banda de rock Los Porongas.

Há mais de dois anos, o vocalista Diogo Soares esteve na casa dela. Foi pedir autorização para cantar trecho do hino "Eu balanço" nos shows da banda.

Dona Peregrina, dignitária do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal - Alto Santo, negou o pedido. A banda a desrespeita por intepretar trecho do hino de Irineu Serra sem autorização. Sequer menciona a autoria.

- Ele que faça música para a fuzarca dele, mas respeite a obra do meu velho - aconselha dona Peregrina.

Eu balanço

(Raimundo Irineu Serra)

Eu balanço e eu balanço,
E eu balanço tudo enquanto há.

Eu chamo o sol, chamo a lua
E chamo a estrela,
Para todos vir me acompanhar.

Eu balanço e eu balanço,
E eu balanço tudo enquanto há.

Eu chamo o vento, chamo a terra
E chamo o mar,
Para todos vir me acompanhar.

Eu balanço e eu balanço,
E eu balanço tudo enquanto há.

Chamo o cipó, chamo a folha
E chamo a água,
Para unir e vir me amostrar.

Eu balanço e eu balanço,
E eu balanço tudo enquanto há.

Tenho prazer, tenho força e tenho tudo,
Porque Deus eterno é quem me dá.

GLÓRIA GANHA O EMMY

Leila Jalul

Ladeada por atores e diretor da novela Caminho das Índias, Glória Perez eleva o troféu merecido por seu trabalho. A novela passou recente e ainda está circulando nas mentes. De um modo geral a crítica foi favorável. As vozes dissonantes calaram ante a aceitação geral. Os picos de audiência fizeram prova disso.

Com um elenco de peso e a regência especial do maestro Marcos Schechtman, cada proposta da autora foi tratada com a profundidade possível, e o melhor, todas bem assimiladas pelo público. E olha que eram várias.

A cultura indiana e suas diferenças foram mostradas. O respeito aos idosos (coisa que nosso país quer ignorar), o mundo da psiquiatria, com enfoque à socialização do doente e um não ao degredo dos nosocômios frios e fétidos; a psicopatia e o nada a ver entre esta e a loucura, a ganância entre irmãos, o desvio da juventude, tudo foi tratado de tal forma que, os amores (principais e secundários), não ofuscaram o brilho do todo. Uma novela supimpa que deixou saudades.

Nesse tempo de escrever, capítulo após capítulo, Glória Perez se depara com uma fragilidade na saúde. Nada a fez parar. Entre uma terapia e outra, mais um capítulo surgia. A novela fez parte do tratamento.

Estou a lembrar de Amazônia – De Galvez a Chico Mendes, um dos seus últimos trabalhos. Ouvi muitas críticas negativas de seus irmãos de terra. Uma ponta de escárnio aqui, outra ali. Santo de casa não faz milagres, afinal. Gosto do trabalho de Glória Perz, sendo conterrânea ou não. Acompanhei Carmen, na extinta Manchete, e já ali vi nascer uma autora competente. Escrever bem ela sempre escreveu, desde a escola, no nosso antigo ginasial.

Pelo Brasil inteiro se comentava sobre os Abéis e suas Norminhas. Vários outros programas ficaram motivados a mostrar a cultura dos pobres sem casta, dos bramas, suas danças e organizações familiares. As Mayas, Rajs e Bahuans foram copiados dos chapadões da Paraíba até os balcões petrolíferos de Tucano. Das bocas só se ouvia are babas e outros termos repetidos pelos personagens.

Ana Carolina, vizinha de vila, aos quase três anos ainda não fala. Em contrapartida, nunca se esquivou de sair balançando a cabeça, os quadris e mexendo nos cabelos que nem uma Norminha da primeira infância. Ao final da novela já sabia dizer um are baba quase totalmente compreensível.

Coisa interessante foi ficar sabendo que um evangélico gravou um CD caseiro com os temas de abertura e o de Maya. Ao serem cantados durante um culto, os irmãos, pastores e obreiros engatavam uma primeira e lá se iam dançando com toda a sensualidade requerida e dando are baba pra Jesus!

Quando a vi levantando o tal Emmy, pensei: os familiares e amigos de Glória, presentes ou ausentes, têm orgulho dela. O Tico, inclusive.

Equipe técnica, atores e autora estão de parabéns.

Are baba.

Leila Jalul é cronista acreana. Em tempo: Tico era o periquito com o qual Glória Perez frequentava as aulas no Colégio Acreano.

DECISÃO INÉDITA DA JUSTIÇA

Acórdão do Tribunal de Justiça do Acre favorece blogueiro

Vai pro lixo da história a sanha da promotora Kátia Rejane de Araújo Rodrigues, da Infância e da Juventude, que mobilizou, sob influência de relações passional e de compadrio, parte do Ministério Público do Estado do (MPE) do Acre contra este blogueiro. CLIQUE AQUI para ler o Acórdão 6.219, de autoria da desembargadora Eva Evangelista.

Os desembargadores da Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Acre, por maioria de votos, em consonância com os argumentos do advogado Édson Carneiro, negaram provimento ao apelo cível contra este blogueiro em que o MPE se dizia inconformado com a sentença da juíza Luana Cláudia de Albuquerque, à época em exercício na Vara da Infância e Juventude de Rio Branco.


Resumo

O MPE movera contra este blogueiro uma representação por suposta infração administrativa ao Estatuto da Criança e do Adolescente, para responsabilizá-lo pela divulgação da foto do jovem Eyner José Andrade Almada Júnior, o Maromba Jr., à época com 17 anos e nove meses de idade.

A foto estava publicada na página dele no Orkut, onde Maromba Jr. afirmava ter 18 anos.
O jovem aparece montado na estátua do poeta Juvenal Antunes, na entrada da Fundação Cultural do Acre. Mas o que pesou mesmo foi o blogueiro ter mencionado que trata-se de um neto da professora Íris Célia Cabanelas Zannini, presidente do Conselho Estadual de Educação há mais de 30 anos.

A promotoria da Infância e Juventude jamais fez qualquer tipo de orientação ou advertência ao jovem infrator, que estava supostamente embriagado (vide as latas de cerveja sobre a mesa) quando cometeu o ato de vandalismo contra um patrimônio público que simboliza a cultura do Acre.

O caso resultou no julgamento da procedência parcial da pretensão e impôs ao blogueiro a obrigação de retirar a fotografia e quaisquer comentários relativos ao adolescente, sob pena de multa diária de um salário mínimo. O blog não cumpriu a decisão.

Após recurso do advogado Edson Carneiro na Câmara Cível, o processo teve como relatora a desembargadora Miracele Lopes, que votou pelo provimento parcial ao apelo do MPE, reduzindo a pena pecuniária de 10 para três salários mínimos. A desembargadora Eva Evangelista pediu vista, contrariou o voto da relatora e se tornou autora do primeiro voto vencedor.

A defesa argumentou que a foto foi retirada do Orkut, onde é exigida a maioridade aos usuários, tendo o blogueiro sido induzido a erro pelo próprio menor, que afirmou ter 18 anos de idade ao abrir uma conta no site de relacionamento.

Meus sinceros agradecimentos ao advogado Edson Carneiro. No começo da polêmica, Carneiro escreveu um comentário e se ofereceu para fazer a minha defesa sem cobrança de honorários. Para saber mais sobre o caso clique aqui.

FLOR DE APURUÍ


Saiba mais em "Meu pé de apuruí" e "Polpa de apuruí".

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

PERDEMOS PARA NÓS MESMOS

Moisés Diniz

Feijó tem em torno de 16 mil eleitores, dos quais cerca de 7 mil são rurais e indígenas. Na última eleição de domingo, houve uma abstenção de quase 5 mil eleitores. Na apuração das urnas urbanas, o candidato Dindim (PSDB) teve cerca de mil votos a mais do que Jaciara (PT). Quando chegaram as urnas rurais, Jaciara reduziu a diferença, porque bateu Dindim na zona rural, que não veio votar.

Apenas esse dado para explicar o que eu quis dizer com uma campanha de 18 dias. A exceção criada pelo TRE não deu à Jaciara o direito de visitar esses eleitores, de dialogar e firmar compromissos, de desfazer argumentos e até mentiras do adversário. Dindim fez isso desde janeiro de 2008 e voltou a fazer quando Juarez Leitão foi cassado.

Quanto à memória eleitoral, eu vou explicar para quem fez de conta que não entendeu. Peguem os números de todas as pesquisas envolvendo José Serra e Aécio Neves. Devido Serra ter disputado uma eleição presidencial, preservou essa memória eleitoral, que os especialistas chamam de recall.

Sobre divisão do nosso campo, nós fomos de uma sinceridade exagerada, porque, em política, não é inteligente a gente expor as nossas próprias fragilidades. De fato, nosso campo de dividiu e, miseravelmente, perdemos companheiros, camaradas e até amigos.

Quanto aos motivos dessa divisão, aí sim, merece debate interno, não com a oposição, porque expõem a fragilidade de nossa coalizão política nos municípios. Esse fenômeno é apenas a extensão de um fato concreto: nós não conseguimos unir a Frente Popular em todos os municípios na eleição de 2008.

Imagine conseguir isso em 18 dias, o tempo entre a decisão de escolher Jaciara e o dia da eleição. Eu participei dessa batalha e sei o quanto foi sofrido. Problemas acumulados eram colocados na mesa de um tempo curto, enquanto o adversário estava em campanha.

O ex-governador Jorge Viana, o governador Binho Marques, o vice César Messias, durante dois dias, ouvindo as lideranças locais, os partidos, às vezes ouvindo desaforo. Isso é uma conquista inestimável do povo acreano, da democracia. E ainda somos taxados de arrogantes, de que não ouvimos as bases. Eu estive em Feijó e presenciei a forma serena e democrática de agir desses líderes da Frente Popular.

Nós só não tivemos tempo para garantir a unidade. E todo cidadão medianamente informado sabe que em Feijó a Frente Popular goza de alto prestígio. O Governo de Binho Marques supera a casa dos 70% de aceitação popular e Tião Viana tem índices altíssimos. E por que esses índices não se reverteram em voto para Jaciara (PT)?

Porque a dinâmica de uma eleição encerra outros fatores, que não vou aprofundar aqui, senão eu me torno escriba da oposição, a decifrar todas as causas da nossa derrota de Feijó. Realcei apenas a divisão do nosso campo. E, com humildade, afirmei: perdemos para nós mesmos. Fiz isso porque a oposição estava tentando vender gato por lebre. Eles estavam comemorando tanto a derrota da Jaciara (PT) em Feijó que, se Dindim (PSDB) abandonar a oposição, eles são capazes de querer cobrar pensão alimentícia, achando que Dindim é filho deles.

Dindim é filho de Feijó. A oposição desceu em peso lá para passar à opinião pública a idéia de que ela estava unida e, com isso, decidindo a eleição. Falácia. Dindim ganhou a eleição devido a fatores locais, conjuntura local, erros e acertos locais, alianças locais, jeito local de fazer política. A oposição só pegou carona e agiu bem na mídia.

Quanto à unidade da oposição, isso é um problema dela. Só reafirmo que é fácil unir em cima de um palanque, descer de um avião e fazer carreata. Quero ver unir quando precisa retirar candidaturas, abandonar interesses partidários e pessoais, elaborar e unificar um programa de governo, formar chapas proporcionais. Mas, isso é assunto da oposição.

Não vamos aprofundar mais, senão a oposição acorda do sonho e pode perceber que a charrete dourada de Feijó, se transportada para as eleições de 2010, pode virar abóbora.

O deputado estadual Moisés Diniz (PCdoB) é líder do governo do Acre na Assembléia Legislativa.

LUXO PROVINCIANO


O governo estadual faz de tudo para exibir seu helicóPTero com aquela estrela vermelha que se confude com a estrela do PT e da bandeira do Acre.

A partir de hoje, o equipamento de R$ 7,9 milhões começou a transtornar o trânsito caótico ao ficar baseado no centro da cidade, no espapaço próximo ao pórtico do Parque da Maternidade.

Centenas de pessoas se aproximaram dele para tirar fotos ou passar pouco mais de um minuto em seu interior. E assim permanecerá até o final do ano, dizem, para ajudar no esforço de segurança durante a "Operação Natalina".

Alguém duvida que Papai Noel desembarcará dele ou que inventem de instalar rodinhas para arrastá-lo pelas ruas da cidade e mostrar a mais gente que temos um helicóptero de brinquedo?

Menos pirotecnia, gente.

ERROS E ACERTOS NA ELEIÇÃO DE FEIJÓ

Archibaldo Antunes

No viveiro das especulações políticas da coligação Frente Popular do Acre não há lugar para equívocos, mesmo que as teorias estejam longe de explicar a realidade. Isso ocorre porque o poder é uma ferramenta capaz de ajustar os fatos às versões de quem o detém.

Acostumados a dar aos acontecimentos a roupagem que mais lhes agrada, os políticos da FPA fizeram contorcionismos verbais para explicar a derrota em Feijó, nas eleições do último domingo. Mas isso não muda o fato de Dindim ter batido uma candidata que contava com o apoio de gente que está envelhecendo no poder. E para quem até o domingo havia andado pelas ruas de Feijó de salto alto, não caberia calçar, no dia seguinte, as sandálias da humildade. E foi assim que de uma soberba se passou à outra pior.

Do alto da tribuna da Assembléia Legislativa do Acre, na terça-feira, o líder do governo, deputado Moisés Diniz, foi taxativo: “Perdemos para nós mesmos”. E à sentença peremptória juntou outras, que, sim, explicam em parte o raciocínio, mas está longe de esgotar o assunto.

Pois não poderia haver, em política principalmente, declaração mais presunçosa. Sobretudo porque descarta a vontade do eleitor, que em Feijó foi às urnas dizer não ao continuismo.

Ao explorar a questão nesses termos, o deputado esteve longe de reconhecer erros e aparentar humildade, antes se encarregando de depreciar os adversários. E quando afinal reconheceu algum mérito neles, admitindo-lhes a coesão municipal, foi para fazer um ataque mais amplo, dessa vez no plano estadual, cujas lideranças de oposição, segundo ele, estão longe de se entender. (Pior ainda foi o presidente regional do PT, Leonardo de Brito, que em um programa de televisão insinuou que Jaciara perdera a eleição por falta de estrutura material).

Moisés Diniz poderia ter juntado ao mea culpa a reflexão de que a FPA perdeu as eleições em Feijó porque o governador Binho Marques, após ajudar a eleger o companheiro Juarez Leitão, esqueceu-se de aparecer para dizer olá e levar ali um punhado de recursos. Ou que nos municípios a situação política lhes vai ficando cada vez mais adversa na medida em que os problemas se acumulam. O atual governo é um fazedor de grandes obras na capital, o que impõe certa amnésia quanto às necessidades de quem vive no interior do Estado.

Mas ainda que o mea culpa seja de mentirinha, alguns argumentos fazem sentido. Por exemplo: a de que a candidata Jaciara, do PT, teve 18 dias para fazer campanha, quando Dindim contava com a vantagem da memória eleitoral. Se agora esse fator explica a derrota em sua totalidade, durante o pleito a arrogância não deixou margem a dúvidas desse calibre. E petistas e comunistas empunharam suas bandeiras como quem vai esmagar o inimigo.

Uma semana antes do pleito suplementar, ocorrido para preencher o vazio de outro petista pilhado na contravenção eleitoral, a Frente Popular alardeava vitória, amparada talvez em uma pesquisa de métodos esdrúxulos – durante a qual os eleitores seriam instados a responder que votariam na candidata da FPA. Acossado pelos pesquisadores, o cidadão comum acabou por dizer o que eles queriam ouvir, e no domingo foi à urna desfazer o equívoco.

Os parlamentares da base governista que amenizaram a derrota declararam que a alta corte da FPA vai avaliar os erros na tentativa de corrigi-los. Esquecem talvez que do lado da oposição são os acertos da campanha em Feijó que nortearão as conversas daqui por diante.

Archibaldo Antunes é jornalista e titular da coluna Prisma.

DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA

Acre contribui para a tendência de crescimento da devastação

O Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), da organização não governamental Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), registrou 194 km² de desmatamento na Amazônia em outubro.


Os dados divulgados nesta quinta-feira, 26, mostram que a devastação acumulada de agosto a outubro foi de 682 km², 30% maior do que no mesmo período do ano passado (agosto a outubro), quando a soma foi de 525 km².

O desmatamento ocorreu em maior proporção nos Estados do Pará (45%), Mato Grosso (22%) e Rondônia (13%), e menor proporção, no Amazonas (9%), Roraima (6%), Amapá (3%) e Acre (2%).

A evolução do desmatamento entre os Estados da Amazônia Legal mostra que no Acre houve um salto no desmatamento - de 9 km² (agosto a outubro de 2008 ) para 24 km² (agosto a outubro de 2009), o que representa uma variação de 182%, abaixo apenas da variação de Roraima (209%).

Na comparação com outubro de 2008, quando o levantamento do Imazon registrou 102 km² de derrubada, houve aumento de 90%. No período, 13% do território estavam cobertos por nuvens e os satélites conseguiram observar 87% da área.

O Pará foi responsável por 87 km² de desmate (45% do total registrado em outubro), Mato Grosso derrubou 43 km² (22%), seguido por Rondônia, com 25 quilômetros a menos de florestas no período (13% do desmate do mês).

Clique aqui e leia detalhes dos dados do Imazon.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

POR TRÁS DOS NÚMEROS

Marina Silva

Diariamente os meios de comunicação divulgam estudos, relatórios e projeções sobre as mudanças climáticas. Estamos na reta final dos preparativos para a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 15) em Copenhague, na Dinamarca, e aumenta a pressão sobre os países para que sejam feitos todos os esforços para que saia um acordo na reunião.

Essa pressão crescente da sociedade fez com que nestes poucos dias que antecedem ao encontro, muitos países apresentassem suas metas. O Brasil foi um deles. E ao que tudo indica, é possível que os Estados Unidos também o façam. Diante das expectativas, há esperança de um acordo global, apesar do descrédito em relação ao que foi feito até agora pelas lideranças mundiais.

Crescem também as discussões sobre os percentuais de redução das emissões já apresentados. E fica difícil para a maior parte da população entender se o que é tido como boa notícia, de fato é.

A meta brasileira, apresentada há duas semanas, exemplifica bem essa dificuldade. A proposta prevê a redução das emissões projetadas até 2020 entre 36,1 e 38,9%. Contudo, como não foi divulgada ainda a atualização do inventário nacional sobre as fontes de emissões e potenciais sumidouros de carbono, tampouco os cenários tendenciais, fica difícil traduzir a estimativa em metas reais.

Segundo projeções do governo, o país estará emitindo em 2020 cerca de 2,7 bilhões de toneladas de CO2 equivalente, caso nenhuma medida de mitigação seja tomada.

Outro estudo, entretanto, projeta números bem menores. Para o Banco Mundial, a emissão total nesse mesmo cenário seria de apenas 1,697 bilhão de toneladas em 2030.

Independente da divulgação do inventário, o Brasil levará a proposta para Copenhague. E espera-se que, até lá, seja aprovado o projeto que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PLC 238/09).

Como relatora da proposta na Comissão de Meio Ambiente do Senado, estou apresentando algumas emendas ao projeto. A principal é a que insere um piso mínimo de referência para a meta de redução de emissões assumidas pelo governo. De forma que, independente das projeções, qualquer meta não poderá ser inferior a uma redução de 20% em relação às emissões quantificadas em 2005 no Inventário Nacional.

Para atingir as metas que propôs, o governo quer reduzir a taxa de desmatamento no bioma Amazônia em 80% e no Cerrado em 40% até 2020, entre outras ações nas áreas da agricultura, energia e siderurgia.

Mas para que o nível de redução das emissões seja um pouco maior, de 20%, bastaria ampliar a meta de redução do desmatamento no bioma Cerrado para 60%, como inicialmente previsto, promover ações de reflorestamento e ampliar as metas já estabelecidas para a área da agricultura.

São ações adicionais plenamente possíveis de serem implementadas pelo governo. Elas se reverteriam em enormes benefícios sociais e econômicos, além dos ambientais. Trata-se da conservação e recuperação de mananciais de água, recuperação da capacidade produtiva de terras hoje impróprias para a produção, aumento da produtividade na agricultura e a geração de atividades econômicas e empregos verdes.

Lamentavelmente, o desmatamento do Cerrado é hoje o dobro do que se verifica na Amazônia. Isso fez com que o bioma já perdesse mais da metade da sua extensão. São necessárias medidas urgentes para evitar mais destruição, considerando ainda o agravante de que as emissões do desmatamento e das queimadas no bioma podem anular os esforços de redução das emissões obtidas na Amazônia.

Na semana passada, foi publicada o estudo "Trends in the sources and sinks of carbon dioxide" (Tendências nas fontes e sumidouros de dióxido de carbono, em tradução livre) na revista Nature Geoscience. O relatório prevê um aumento nas temperaturas globais de 6°C em 2100 caso seja mantido o padrão atual de emissões de gases do efeito estufa.

O trabalho foi coordenado pelo Global Carbon Project e indica que as emissões da queima de combustíveis fósseis aumentaram 41% entre 1990 e 2008 ao mesmo tempo em que os sumidouros naturais de carbono, como florestas e oceanos, estariam perdendo sua capacidade de absorção.

Para os autores, a COP 15 é apontada como a última chance para se evitar o aumento nas temperaturas. Para se chegar lá, é preciso que as metas apresentadas sejam transparentes, objetivas, verificáveis e efetivas

Marina Silva é professora de ensino médio, ex-ministra do Meio Ambiente, senadora do Acre pelo PV e colunista da Terra Magazine.

AIMI KOBAYASHI

A pianista japonesa Aimi Kobayashi, de apenas 14 anos, estará acompanhada nesta quinta-feira, 26, na Sala Cecília Meireles, no Rio, da Orquestra Sinfônica Brasileira. Ela é genial. Começou a estudar piano aos dois anos e aos seis passou a ganhar prêmios.

CASA DOS PEÕES


O propietário da fazenda Três Meninas, na BR-317, construiu casas para as famílias de seus peões bem mais adequadas do que as casas do programa de habitação popular do governo.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A SAÚDE DE MÉDICOS VALENTÕES

Sobrinho de Jorge Viana e Tião Viana agride médico no Pronto Socorro de Rio Branco

O médico residente Diego Viana, 26, agrediu nesta terça-feira, 24, o médico Augusto Júlio Muñoz, 61, em frente ao Pronto Socorro de Rio Branco.

O agressor é sobrinho do ex-governador Jorge Viana e do senador Tião Viana (PT). A vítima, de nacionalidade peruana, vive há 17 anos no Brasil.

O caso começou no estacionamento quando Diego Viana quase teria atropelado Augusto Júlio Muñoz involuntariamente. Viana teria sido ofendido por Muñoz e revidado com um murro e chutes.

Ambos registraram queixa na Delegacia de Flagrantes, apresentaram suas versões à imprensa e fizeram exame de corpo delito. Muñoz pretende mover representação no Conselho de Ética do Conselho Regional de Medicina contra Viana.

- Jamais imaginei que ele fosse tão agressivo - disse o peruano.

Viana alegou que teria sofrido agressão verbal e física.

- Infelizmente tive que me defender após a agressão física. Aí aconteceu esse incidente infeliz. As coisas estão sendo conduzidas de acordo com a lei. Eu mesmo me apresentei à polícia.

Diego Viana, que vem sendo preparado para ser candidato a deputado federal pelo PT, tem perfil no Twitter.

- O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos desonestos, corruptos e sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons - foi sua primeira mensagem no microblog.

Mais adiante, deixou mensagem para o senador Tião Viana:

- Caro Tio, obrigado pelo carinho. Desta maneira que manteremos o sucesso da nossa família em prol do Acre.

A última mensagem dele:

- Ame sua casa e sua família que conseguira transformar o mundo pra melhor.

A briga dos dois médicos foi presenciada por dezenas de pacientes que aguardavam atendimento no Pronto Socorro.


Fotos: Dhárcules Pinheiro

SENADO APROVA REFERENDO

Povo vai decidir sobre fuso horário do Acre

O Senado aprovou nesta terça-feira, 24, o decreto legislativo de autoria do deputado Flaviano Melo (PMDB-AC), que dispõe sobre a ralização de um referendo para que o eleitor acreano decida se quer ou não que o horário oficial do Acre permaneça com uma hora de diferença em relação ao de Brasília.

A Lei 11.662, de autoria do senador Tião Viana (PT-AC), sancionada em maio do ano passado pelo presidente Lula, reduziu em uma hora a diferença do fuso horário do Acre em relação à Brasília. O decreto legislativo estabelece que o referendo sobre o fuso horário coincidirá com as eleições de 2010.

Leia mais:

Deputado quer referendo popular no Acre para decidir sobre fuso horário

Tião Viana quer hora legal no Brasil unificada pela hora da Amazônia

Arthur Virgílio desiste do projeto de hora única no Brasil pedido pela Globo

Flaviano Melo reafirmou ao Blog da Amazônia que o fato do senador Tião Viana não ter consultado a população foi um erro grave.

- Acho que no fundo ele já admite que foi um ato antidemocrático. Mas isso é compreensível porque foi um ato de alguém que não teve a vivência de ter lutado pela democracia - disse o deputado.

O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) se referiu ao projeto dele que pretendia unificar a hora legal em todo o território brasileiro. Caso fosse aprovado, o Brasil deixaria de ter três horários oficiais.

- Daí a vantagem de se ter um mandato de permanente contato com a sociedade, com o eleitor. Eu fui a eles, fui às pessoas e recebi influxo muito negativo em relação ao projeto de minha autoria. O que fiz? Retirei o projeto.

Durante a sessão, o senador Tião Viana assinalou que quando apresentou um projeto de lei alterando o horário do Acre para ser igual ao horário de Rondônia, do Amazonas e de outros Estados, o fez com absoluta razão técnica.

- Apresentei ao mesmo tempo um projeto de decreto legislativo propondo um plebiscito. Ninguém se interessou pelo andamento da matéria. Posteriormente, ninguém se posicionou contrariamente ao meu projeto de lei e, agora, há um entendimento de alguns parlamentares do Estado, por uma divergência dentro do Estado, que deve haver o plebiscito.

O senador considerou "absolutamente natural" o entendimento que tem sobre a matéria.

- O meu voto será a favor do entendimento de que deve haver o plebiscito apenas por considerar que eu fui o primeiro a apresentar essa matéria no Senado Federal - acrescentou Viana.

O senador petista, em julho do ano passado, chegou a prometer que apresentaria um projeto de decreto legislativo para consultar a população sobre a mudança do fuso horário.


DINDIN VENCEU SEM DINDIN

Sem dinheiro, tucano derrota candidata do PT em cidade 95% petista

O oficial de Justiça Dindin Ferreira (PDSB) foi eleito neste domingo, 22, como o novo prefeito do município de Feijó, a 378 quilômetros de Rio Branco, a capital do Acre.

A Justiça Eleitoral determinou que fosse realizada eleição suplementar após ter cassado o mandato do prefeito Juarez Leitão (PT) por compra de votos e abuso de poder econômico.

O ex-vereador Dindin Ferreira venceu com 5.788 votos (54,56%) em disputa contra a candidata Jaciara Rodrigues (PT), que obteve 4.820 votos (45,44%).

Feijó, onde o senador Tião Viana (PT) foi reeleito com 95% dos votos válidos, deixou de ser o município mais petista do Acre.

A situação começou a mudar no ano passado, quando o padre da cidade passou a tocar o sino da igreja às 6 e não às 7 horas, em protesto contra a mudança do fuso horário do Acre promovida pelo senador.

Três dias antes da eleição, acamparam em Feijó, entre outros, o governador Binho Marques (PT), o ex-governador petista Jorge Viana, o senador Tiao Viana e o deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB), presidente da Assembléia Legislativa.

Dindin derrotou praticamente sem dinheiro uma potente máquina de guerra eleitoral que domina a cena política do Acre há mais de 12 anos.

As lideranças da coligação Frente Popular do Acre davam como certa a vitória, especialmente o PT, conforme pode ser constatado no site (leia) do diretório regional do partido.

No domingo, em Rio Branco, o PT não conseguiu quorum para eleger André Kamai para a presidência do diretório municipal.

Foto: Francisco Costa

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

CONTATOS IMEDIATOS NA AMAZÔNIA


O professor e escritor José Ribamar Bessa Freire e o jornalista Elson Martins na sacada da Biblioteca da Floresta, tendo ao fundo um astronauta aproximando-se para aprender com os dois defensores da Amazônia.

DEAS DESPERDIÇA ÁGUA

Karen Aiache

Em alguns eventos, o Departamento Estadual de Águas e Saneamento (Deas) disponibiliza água gratuita, potável, pronta para consumo.

Na Feira da Construção Civil, em Rio Branco (AC), não foi diferente: estava lá o posto de água, tal como um bebedouro.

Quando a feira tinha findado, mas o show da Claudia Leitte ainda estava rolando, ao "desmontarem acampamento", derramaram a água que havia sobrado. E não era pouca, senhores.

Catei uma câmera e fiz as fotos. E, depois, curiosamente chocada, fui perguntar a um engenheiro, responsável pelo bebedouro, o porquê de eles desperdiçarem tanta água. Ele respondeu que não havia como transportar senão a derramasse e que fazia assim todas as vezes.

Alguns garotinhos ainda tentaram "resgatar" copos da água que ia pro "lixo". Mas os sedentos, que chegaram pouco depois, só viram o gelo, também feito de água potável, no chão.

Que sustentabilidade é essa que o Estado prega?

Mais fotos de Karen Aiache no Flickr.

DINDI

Tom Jobim e Gal Costa



Céu, tão grande é o céu
E bandos de nuvens que passam ligeiras
Prá onde elas vão
Ah! eu não sei, não sei
E o vento que fala nas folhas
Contando as histórias
Que são de ninguém
Mas que são minhas
E de você também
Ah! Dindi
Se soubesses do bem que eu te quero
O mundo seria, Dindi, tudo, Dindi
Lindo Dindi
Ah! Dindi
Se um dia você for embora me leva contigo, Dindi
Fica, Dindi, olha Dindi
E as águas deste rio aonde vão eu não sei
A minha vida inteira esperei, esperei
Por você, Dindi
Que é a coisa mais linda que existe
Você não existe, Dindi
Olha, Dindi
Adivinha, Dindi
Deixa, Dindi
Que eu te adore, Dindi... Dindi

(Antonio Carlos Jobim, Aloysio de Oliveira, Ray Gilbert)

domingo, 22 de novembro de 2009

AGENDA DA SEMANA


A Universidade Federal do Acre realiza, de segunda a sexta-feira, o III Simpósio Linguagens e Identidades da/na Amazônia Sul-Ocidental e o II Colóquio "As Amazônias, as Áfricas e as Áfricas na Pan-Amazônia".

Confirmadas as participações dos professores José Ribamar Bessa Freire, Hideraldo Lima, Maria Antonieta Antonacci, Eliseo López, César Pérez Ortiz e Ana Pizarro.

Além deles, o escritor Márcio Souza e o músico Salloma Sallomão, pesquisador da história das culturas musicais africanas e musicalidades negras contemporâneas.

Leia mais aqui.

MANEJO FLORESTAL SUSTENTADO


Quando a pecuária começou a se instalar no Acre, no começo dos 1970, a floresta era derrubada e queimada. Nem a madeira era retirada.

Agora, após 30 anos, os fazendeiros fazem manejo florestal sustentado onde não conseguiram tocar fogo. É o caso da fazenda Nova Amélia, na BR-317, de 2 mil hectares.

sábado, 21 de novembro de 2009

MOSQUITEIROS


Ex-governador Orleir Cameli, senador Tião Viana e governador Binho Marques: capazes de qualquer coisa pelo Acre, distribuíram mosquiteiros para a população se defender da malária no Vale do Juruá. Leia mais aqui.

SAUDADES DE SUA VOZ


Mensagem de Eliane Brum, repórter especial da revista Época:

"OI, Altino!

Tudo bom?

Lembra daquela sugestão de pauta que vc me deu quando tive por aí, no início do ano?

Finalmente está nas bancas.

Obrigada. É uma bela história de amor, para além de toda a brutalidade.

Clique aqui e leia.

Abraço

Eliane"

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O PRÍNCIPE E O ÍNDIO


"Caro Altino,

Direto de Londres, envio uma foto de nossa reunião, ocorrida nesta quinta-feira com o príncipe Charles. A reunião foi motivada pela conclusão do projeto do príncipe Charles sobre as florestas tropicais, que será apresentado na COP15, em Conpenhagen.

Abraços

Joaquim Tashka Yawanawá"

Saiba mais sobre Tashka e o povo yawanawá no blog Awena.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

NEGRA, EVANGÉLICA E PRESIDENCIÁVEL

POR FERNANDO LUNA (texto) e KIKO FERRITE (fotos)

Logo na recepção do gabinete de Marina Silva no Senado Federal tem uma planta. De plástico. Não exatamente o que se imagina encontrar por ali. A senadora, afinal, é a mais importante ambientalista do país, uma das mais respeitadas do mundo. Mas, se tudo fosse como se espera, ela nem estaria lá.

Provavelmente continuaria no seringal Bagaço, a 70 quilômetros de Rio Branco, no Acre, onde nasceu e cresceu. Isso, claro, se aguentasse a vida na floresta. Três de seus 11 irmãos não conseguiram. Sua avó, seu tio e seu primo também não. Cinco deles, mortos no intervalo de uns poucos meses, no início dos anos 70, quando a abertura da rodovia BR-364 rasgou a selva e provocou um surto de malária e sarampo.

Marina atravessou cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose, que deixou um rastro de contaminação por metais pesados, uma dieta restrita que segue até hoje e um certo ar de fragilidade – que se dissipa quando ela começa a falar. Desenganada algumas vezes, chegou a ouvir de um médico: “Já está com a alma no inferno”. Insistiu em contrariar, e sobreviveu. Sem lamentação, pelo contrário. “Ficava difícil reclamar da vida se a vida de quem estava ao lado era parecida com a sua”, lembra, com uma suavidade inesperada diante da trajetória dura.

Recurso renovável
Seguiu na contramão das expectativas. Aos 16 anos, entrou no programa de alfabetização do governo, o Mobral. Queria ser freira, e freira, dizia a avó, precisa ler e escrever. Em vez do convento, foi parar nos supletivos e avançou pela Universidade Federal do Acre – mais tarde, ainda encarou uma especialização em psicopedagogia. Bom demais para quem, para se sustentar na cidade, trabalhava como empregada doméstica, não?

Não. Na faculdade de história, Marina descobriu a política. Em 1984, plantou com o ambientalista Chico Mendes a CUT no Acre. No ano seguinte, assinou a ficha de inscrição do Partido dos Trabalhadores e a política descobriu Marina. Foi eleita vereadora, deputada e senadora, até ser convidada por Lula para ser ministra do Meio Ambiente, em 2003.

Ficou até 2008 no cargo. Há três meses, trocou o PT pelo Partido Verde, após 25 anos de militância. “Saí pelas mesmas razões pelas quais fiquei tanto tempo lá: para lutar pela minha causa, pela causa que tem que ser de todos os brasileiros, de todo o planeta”, explica. “O desenvolvimento sustentável.”

Sim, Marina é um recurso renovável. Parece mudar para continuar fiel a si mesma. Ou mesmo à própria fé. No fim dos anos 90, o que ela descreve como um “toque do espírito” a fez deixar o catolicismo pela religião evangélica. “Se você tem uma visão das coisas como se elas estivessem cristalizadas, fica difícil mesmo [mudar]”, argumenta. “Isso não tem nada a ver com uma posição frágil.”

Pelo contrário, sua posição está forte como nunca. Uma rede de apoio começa a se formar em torno de Marina. Sua pré-candidatura à presidência da república levou ao PV figuras importantes do empresariado paulista, como Roberto Klabin, Ricardo Young e Guilherme Leal – este, um dos controladores da Natura, cotado para ser o vice da chapa.

Ano que vem, a campanha vai exigir seu tempo, e ela deve ficar menos com o marido e os quatro filhos – dois do atual casamento, dois do primeiro. Como nas últimas quatro eleições, as pesquisas indicam que a coisa deve se resolver entre PT e PSDB. Mas Marina, você sabe, insiste em desafiar o que parece definido.

Tpm. O Brasil está pronto para eleger uma mulher presidente?
Marina Silva.
Se já elegeu um sociólogo e um metalúrgico, está pronto pra eleger uma mulher.

O país não é muito machista para isso?
Mas é também muito ousado. A sociedade brasileira é capaz de se colocar à frente de seus próprios preconceitos.

A senhora é mulher, negra, tem uma origem pobre e é evangélica. Já sofreu preconceito por ser mulher?
Às vezes as pessoas usam isso até para se promover... [Ri] Mas não sofri, não. Pelo contrário, era uma vantagem. Ameaçavam o [líder ambientalista assassinado em 1988] Chico Mendes, e eu, que fazia as mesmas coisas e tinha as mesmas lutas, nunca fui ameaçada. É bom quando as pessoas não ficam tão preocupadas com você, deixam você trabalhar. Faça e aconteça, depois as pessoas vão perceber.

Já sofreu preconceito por ser negra?
Não. Venho de uma realidade bem diferente: minha mãe era branca, mas era apaixonada por meu pai, negro. E ela era uma matriarca. Fui descobrir o preconceito contra a mulher e contra o negro na cidade.

Por ser pobre?
Não.

Nem quando trabalhou como doméstica?
Não. As pessoas me respeitavam, me acolhiam. Nunca fui de me colocar no lugar de vítima nem de ficar confrontando as pessoas. Senti preconceito por ser excluída entre os excluídos: “Ah, a Marina é seringueira, é filha de seringueiro”. Quando fui fazer minha identidade, a mulher não queria que colocasse que nasci no seringal Bagaço. Era feio dizer que nasci lá. “Minha filha, você já tá morando aqui, diga que é da cidade...” Fiz ela botar o Bagaço.

Sofreu preconceito por ser evangélica?
Isso sim. As pessoas têm uma visão preconcebida... Obviamente tem base de realidade, mas preconceito é quando você generaliza uma coisa: se você é evangélico, é conservador. Algumas pessoas, até amigas, já falaram: “Achava você tão inteligente, como pode ser da Assembleia de Deus?”.

O que a senhora responde?
Sorrio para elas.

Parte desse preconceito vem da atuação controversa de muitas igrejas evangélicas, especialmente em relação ao dízimo.
O dízimo é instituído biblicamente para os que creem e professam essa fé. Tem que ser um ato espontâneo do dizimista, correto?

Mas há muita forçação...
[Interrompe] É isso que estou dizendo. A própria palavra de Deus diz que não pode haver constrangimento. Mas as igrejas são formadas por seres humanos, com falhas, como em todos os lugares.

Como lida com as próprias imperfeições?
Lido de maneira imperfeita, manejando cada uma delas...

E com seus limites, as doenças a ensinaram a lidar com eles?
Me ensinaram a valorizar muito a vida, uma linha muito tênue, muito frágil. A gente não pode se colocar num lugar de onipotência. A gente tem que se conectar com a potência da vida.

Quando ficou doente pela primeira vez?
Leishmaniose tive com uns 4 anos de idade. Malária, com uns 5. Depois dos 13 anos, peguei outras malárias. Também tive hepatites.

Não devia ser fácil se recuperar no meio da floresta, sem recursos.
Na minha casa se adoeceu muito pouco. Isso até os meus 13 anos, quando passou a BR-364. A retirada da floresta levou a um surto de malária. Junto com o sarampo, foi uma guerra biológica. Nesse período, perdi duas irmãs, perdi meu tio [faz uma pausa]... Perdi minha avó, meu primo e, seis meses depois, a minha mãe morreu de aneurisma.

Foi uma morte repentina.
Ninguém esperava. Ela ficou com uma dor de cabeça às quatro da tarde e, no outro dia, às oito da noite, morreu. Como estava tendo um surto de meningite, e uma irmã minha já havia pegado, os médicos supuseram que era meningite. Não deixaram trazer o corpo. Do hospital, ela já foi pro necrotério. Ninguém viu.

Não foi ao enterro?
Não. Vimos ela sair de casa e nunca mais.

Qual a última lembrança dela?
[Silêncio] Meu pai tava fazendo uma casa nova. Minha mãe sonhava em ter uma casa coberta de cavaco [lascas de madeira], em vez de palha de jaci ou urucuri, que dava muito rato e barata. Ela já tava com um pouco de dor de cabeça. Amarrou um pano com rodelas de mandioca em torno da cabeça, e tava entregando os cavacos pro meu pai, que tava em cima da casa, empilhando os cavacos. De repente, ela falou: “Agora tá ficando tudo escuro”. Ele desceu rapidinho e já levou ela pro quarto. Ela começou a gritar com muita dor de cabeça. Meu pai pediu pro meu primo ir pra beira da estrada. Ele ficou lá um tempão, até que passou um caminhão. A sorte é que tava no verão, no inverno demorava às vezes quatro dias pra chegar a Rio Branco. Meu primo foi atrás desse caminhão, voltou num táxi e levou minha mãe, meu pai e minha irmã mais velha. Aí, nunca mais a vimos.

Isso a obrigou a amadurecer mais rápido, a assumir a casa?
Tinha minha irmã mais velha, mas ela casou um ano depois. Eu era uma dona de casa simbólica. Fiquei doente, não conseguia mais trabalhar, nem conseguia fazer comida.

Chegou a ser desenganada pelos médicos?
Algumas vezes, mas nunca acreditei. A primeira vez, aos 16 anos: cheguei doente na cidade, muito frágil, muito amarela. Estava com hepatite, mas acharam que era malária. Foi uma coisa devastadora. O médico me olhou e disse: “Essa aí já tá com a alma no inferno há muito tempo”. Nunca me esqueço do único remédio que ele passou pra mim: um vidro de Eparema. Peguei hepatite de novo, em 79. Novamente ouvi o médico dizer que dessa vez seria muito difícil, que podia ser uma cirrose, que não tinha jeito... Na gravidez da minha mais nova, que hoje tem 17 anos, estava muito doente...

Como foram seus partos?
Dois naturais, um a fórceps e uma cesariana. A fórceps foi muito difícil, mas não aconteceu nada com a minha filha. Na cesárea é que eu estava muito doente. Corria risco de morte, fui até meu limite. Quando completou oito meses, meu obstetra falou: “A criança está ótima, vamos tirar agora”. Ela nasceu com 3,2 quilos e eu pesava 47 quilos [Marina mede 1,65 metro].

Onde foi seu primeiro parto?
Numa maternidade mesmo, como indigente. Era como chamavam quem não tinha INPS, quem não tinha nada. Como era indigente, não podia ter visita. Na época, eu fazia parte de um grupo de teatro. Meus amigos foram me ver. Sabe como é artista, né? O primeiro que veio falou que era meu marido. Tudo bem, entrou. Daí chega outro e também diz que é o marido. Entrou. Quando foi seis da tarde, o meu marido chegou. Ele trabalhava fora, e não existia celular para avisar... Aí a enfermeira não aguentou e me descascou: “Minha filha, que tanto marido é esse?!” [risos].

A senhora já fez aborto?
Não, não.

O que acha da legislação?
Existe uma legislação consolidada, que permite o aborto em alguns casos, como estupro, risco para mãe e algumas questões envolvendo o feto. Do ponto de vista pessoal, me coloco em uma posição contrária ao aborto.

Não deveria ser legal a mulher decidir abortar ou não?
Isso tem uma complexidade muito grande. Envolve aspectos culturais, filosóficos e espirituais. Numa questão como essa o adequado talvez seja fazer um plebiscito. Não será o presidente que irá, por decreto ou por qualquer atitude, resolver uma coisa dessas.

A senhora tem um sinal no nariz.
É da leishmaniose. É uma úlcera de pele. Apareceu em menos de dois dias, muito rápido. Conheci pessoas que ficaram extremamente deformadas, e até pessoas que foram a óbito. Na época, para curar precisava de um remédio muito tóxico, à base de antimônio. Até a casa aviadora, de onde vinham as coisas que a gente não era capaz de produzir, como remédios, sal e munição, dava 11 horas de viagem a pé. Quando peguei a doença, meu pai andou 11 horas até lá e voltou caminhando outras 11 horas, com o remédio. Quando chegou, estava tão cansado que, nunca me esqueço, deitou no chão de casa com os braços para trás, todo sujo de lama do varadouro. Tomei 45 injeções para sarar isso aqui.

Alguma sequela?
Apareceu uma contaminação de mercúrio. Os médicos acham que o antimônio da vacina apareceu na forma de mercúrio. Me criou problemas de visão, no pâncreas, nos rins... Mas fiz tratamento de desintoxicação por muito tempo, em São Paulo, nos EUA. Depois, fiz uns exames na Fundação Evandro Chagas e o nível de contaminação estava abaixo do que prescreve a Organização Mundial da Saúde.

A senhora considera que teve uma infância dura?
Era dura, mas a gente funciona pela dualidade. Não tinha contato com pessoas ricas, só com pessoas semelhantes à gente. Então, ficava difícil reclamar se a vida de quem estava ao lado era parecida com a sua. Sabia que era dura no sentido de trabalhar no roçado, de cortar seringa. Mas eu e minhas irmãs trabalhávamos brincando. Não era um trabalho forçado, era um trabalho necessário, que fazia parte da ajuda à família, da aprendizagem... Tinha muita diversão. Correr e brincar no igarapé, escutar o teatrinho infantil às seis horas da tarde no rádio... Eu ficava fascinada pelas radionovelas da [rádio] Rio Mar, da Ivani Ribeiro.

O que aprendeu com as radionovelas?
Aprendi a falar. Ia vendo que aquela língua da novela era diferente da nossa. Eles falavam “colher”, a gente falava “cuié”. Comecei a achar que nós estávamos errados e a falar como nas novelas. Minha mãe brigava comigo: “Marina é metida, tá falando língua de gente besta da cidade” [risos].

A entevista continua no site da TPM.

BRINCANDO DE CASINHA



O PAC precisa ser acelerado porque as eleições se aproximam e Dilma Roussef é presidenciável. Por isso o programa de habitação popular do Acre se expande com a construção de milhares dessas casinhas. As novas pouco diferem das casinhas que já ocupam a cena urbana. Não importa que não haja, por exemplo, esgoto no bairro Jorge Lavocat, em Rio Branco.

REFORMA DE ESCOLA

"Caro Altino Machado,

Estou escrevendo essa mensagem a você porque como o seu blog é o mais acessado do Acre e nossos políticos e autoridades terão a oportunidade de saber o que agora vou dizer.

Trabalho na escola estadual Dr. João Batista Aguiar, localizada no conjunto Manoel Julião.

Depois de mais de 10 anos de espera, finalmente a escola recebeu a notícia que será reformada e como tal a reforma começou no fim de outubro.

Porém, o que deveria ser uma super reforma, está se transformando em uma obra que, a meu ver, poderá servir para desviar dinheiro para a campanha política do ano que vem.

Explico: o valor da reforma é de R$ 1,4 milhão, com possibilidade de aditivo de 25% sobre esse valor.

A empresa que está fazendo a reforma é a Gespp Construções, que começou derrubando as janelas antigas e retirando os azulejos já quebrados.

A empresa queria fazer realmente uma reforma, mas o engenheiro da Secretaria de Obras Públicas veio aqui e mandou deixar as janelas, impediu a retirada dos azulejos velhos e deu ordem para reaproveitar praticamente tudo.

Não preciso nem dizer para onde vai o resto do dinheiro que não será usado na escola.

Isso me deixou revoltada e por isso estou convidando a imprensa, os pais dos alunos dessa escola e a comunidade em geral, para protestar desde já contra essa reforma fajuta, feita com o nosso dinheiro.

Na verdade não é reforma, mas uma maquiagem que não vai durar dois anos se continuar sendo feito como está.

Obrigada pela atenção e espero que meu apelo seja publicado.

Kátia Oliveira, jornalista e funcionária pública"

LEI PERPÉTUA ALMEIDA

Povos da floresta aprovam anistia a multas ambientais de pequenos agricultores

Fabíola Munhoz

A Rede Povos da Floresta e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) se posicionaram a favor de um Projeto de Lei (PL) apresentado ao Congresso Nacional pela deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), que defende a anistia de todas as multas ambientais aplicadas aos povos da floresta - ribeirinhos, seringueiros, pescadores e pequenos produtores.

Ailton Krenak, representante da Rede Povos da Floresta, diz esperar que o projeto da deputada Perpétua seja votado e isente a agricultura familiar de ser punida por infração do Código Ambiental. Ele explica que cabe ao Ministério do Desenvolvimento Social fornecer assistência técnica e apoio para que a agricultura familiar se torne sustentável.

"Você não pode tratar todos que estão no campo com a mesma norma. Temos que apoiar o encaminhamento e a votação desse PL", afirmou. De acordo com Krenak, muitas das multas impostas a pequenos agricultores da Amazônia não dizem respeito ao uso da terra para o cultivo agrícola, mas sim, a práticas de pesca e caça para subsistência, que são vistos como crimes ambientais.

Dirceu Fumagalli, da coordenação nacional da CPT, diz que a justificativa da deputada para o projeto é referendada pela comissão. "O tratamento é aparentemente justo, mas, na verdade, é desproporcional. Os pequenos agricultores foram empurrados para pequenas áreas e há falhas na legislação ambiental atual, que é homogênea e não percebe as peculiaridades dos povos tradicionais e pequenos produtores", afirmou.

A deputada Perpétua justifica sua proposta pelo fato de existirem multas cujo valor ultrapassa mais de duas vezes o preço da propriedade sobre a qual elas incidem, inviabilizando o desenvolvimento da família que produz no local, e fazendo com que o agricultor venda sua terra por baixo custo aos empresários do agronegócio.

"Numa área onde o acesso à tecnologia não existe, onde a vida e a sobrevivência têm que ser conquistadas diariamente, os pequenos produtores estavam sendo multados porque desmataram um pedaço de terra para fazer um roçado, plantar o que comer ou tirar madeira para consertar a casa que já estava quase caindo", explicou.

A deputada diz que chegou a debater com os órgãos ambientais a possibilidade de se criarem mecanismos para remediar essa situação, mas infelizmente alguns não se mostraram abertos ao diálogo, tornando necessária a criação do seu projeto de lei.

"Precisamos de um tempo para respirar, para dar uma trégua à produção familiar. A proposta é isentarmos o que já foi praticado e rediscutir a realidade e as punições da lei. Se mais de 70% dos pequenos produtores e proprietários da Amazônia estão sendo multados, há algo de errado", disse.

Ela também afirma que, daqui para frente, será preciso construir outros parâmetros, para que a defesa ambiental, a preservação de espécies e a sustentabilidade sejam garantidas com rigor, mas sem esquecer que temos a obrigação de dar garantias de vida aos menos favorecidos. "Não estamos dando fim às multas, estamos propondo uma anistia por um período e repensarmos o modelo que garanta a sobrevivência no campo, na floresta".

Anistia para quem?

Perpétua diz que seu projeto pretende anistiar as comunidades locais, populações tradicionais e outros grupos humanos, organizados por gerações sucessivas, com estilo de vida relevante à conservação e à utilização sustentável da diversidade biológica.

No entanto, segundo Krenak, da Rede de Povos das Florestas, caso aprovada, a lei beneficiará o agricultor familiar, mas não trará efeito aos indígenas e a populações extrativistas.

"O projeto não vai incidir sobre essas comunidades, já que elas vivem em terras da União - Reservas Extrativistas (Resex) ou Terras Indígenas (TIs) - e, portanto, não sofrem a aplicação de multas ou taxas pela prática de desmatamento", afirmou.

De acordo com ele, também há, na região, ribeirinhos e pequenos agricultores que ainda não tiveram as terras onde vivem regularizadas e são ameaçados por uma movimentação existente hoje no governo para que essas áreas sejam suprimidas e dêem lugar à agricultura industrial.

"As últimas três legislaturas brasileiras têm sido contrárias à demarcação de Tis e à criação de Unidades de Conservação (UCs) e Resex nos Estados, por serem espaços que se tornam indisponíveis à expansão do agronegócio. No meio dessas áreas, ainda há comunidades extrativistas, ribeirinhos, assentados, que precisam ser respeitados", afirmou.

Porém, Krenak destaca que a definição da agricultura familiar no Código Florestal Brasileiro é importante, não por se tratar de questão técnica, mas política. "Desse conceito depende a ação do governo para impedir que todas as terras do país sejam ocupadas pelo agronegócio".

De acordo com ele, há hoje uma ação dentro do governo para suprimir o conceito de pequenos produtores do Código Florestal Brasileiro e, com isso, abrir espaço para que os 24,3% de áreas cultivadas hoje ocupadas pela agricultura familiar sejam incorporados por grandes produtores.

Dirceu, da CPT, destaca que os 13 artigos do projeto de Perpétua são genéricos e abrem espaço para regulamentação e identificação de categorias da agricultura familiar.

"É preciso políticas públicas de financiamento, cooperação, tecnologia e garantia de qualidade de vida para que o pequeno agricultor extraia da terra sua subsistência, dialogando com a mata, sem precisar derrubá-la", diz ele. De acordo com o militante, tornar irregular o pequeno produtor dificulta o seu acesso a financiamento e não resolve o problema. Essa também é a opinião da autora do projeto.

A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) foi procurada para comentar a proposta de lei e manifestar sua opinião sobre as declarações dos movimentos sociais, mas nenhum representante da entidade respondeu até o fechamento da reportagem.

Brecha para grandes criminosos

Sobre o risco de que a norma legalize a impunidade a empresários de madeireiras e siderúrgicas que financiam a retirada ilegal de madeira por pequenos agricultores, Krenak diz que a lei ainda poderá ser regulamentada, estabelecendo a verificação das propriedades onde incidam multas por crimes ambientais.

"Podemos ter instrumentos para monitorar o avanço da agricultura familiar, e as áreas de produção de subsistência devem ser inventariadas. Se não, não há nem como se aplicarem as multas. Há como, por exemplo, exigir uma declaração do produtor sobre por que ele ampliou sua área de produção. Qualquer motivo para o desmatamento que não seja a agricultura familiar teria punição", sugeriu.

A deputada Perpétua garante que seu projeto não vai legalizar a impunidade. "No projeto de lei está dito que o recurso da multa deve ser revertido diretamente para a recuperação da área degradada. Cobramos a presença do Estado, mas entendemos o tamanho do desafio. Por isso a proposta de ação conjunta, de dar a chance da recuperação".

Ela também diz que deve haver rigor na punição de madeireiras ilegais e da indústria que se beneficia da ilegalidade, mas destaca que, caso houvesse condições de desenvolvimento sustentável ao pequeno produtor, ele não iria praticar o desmatamento ilegal.

"Os pequenos arrumam um jeito de plantar para comer e sobreviver economicamente. Esse processo é secular, desde a ocupação daquelas terras. Quem desmata são os grandes produtores, os madeireiros e agricultores. Essa foi a bandeira levantada por Chico Mendes quando começou os empates e reivindicou as reservas extrativistas", afirma Perpétua.

Fabíola Munhoz é do Amazônia.