Marina Silva
Ficou marcado para sábado, dia 14, o anúncio oficial da proposta que o governo brasileiro levará para a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-15), em Copenhague, na Dinamarca, daqui a três semanas.
Na segunda-feira, após a reunião com o Fórum de Mudanças Climáticas, realizada em São Paulo, o governou acenou com a possibilidade de uma redução - que poderia chegar até a 40% -, das emissões projetadas para 2020.
A indicação de que haverá meta de redução - seja voluntária ou não - é um avanço, não só para o Brasil, como para as negociações internacionais. Espera-se agora que sejam dados passos mais largos, com medidas envolvendo todos os setores da economia, e um detalhamento do que isso representará efetivamente em reduções reais de emissões.
Até agora, nas reuniões preparatórias oficiais, com raras exceções, os países têm se recusado a apresentar números de cortes mais significativos nas emissões de gases-estufa, o que não é condizente com a gravidade do problema, tampouco colabora nas negociações. É necessário que haja mais clareza de todas as nações em seus objetivos e compromissos, para que seja possível um acordo global em Copenhague.
Após a falta de entendimento na última rodada oficial de negociações em Barcelona, aumentou a descrença na possibilidade de um compromisso ainda este ano, e a convicção de que será necessário mais tempo para que se consiga firmar um tratado climático que não só substitua o Protocolo de Quioto como seja mais efetivo do que ele. O que parece não entrar na discussão é o fato de que ninguém ganhará com a demora.
Ontem, a Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou seu relatório de energia mundial - o World Energy Outlook 2009 - e alertou os líderes mundiais de que os investimentos em energia para limitar as emissões de gases de efeito-estufa são menores do que os custos de adaptação aos efeitos do aquecimento global.
Segundo o relatório, a cada ano de atraso na obtenção de um acordo para limitar as emissões, se somariam US$ 500 bilhões na conta dos investimentos - calculados em algo da ordem de US$ 10,5 trilhões entre 2010 e 2030 - necessários para atingir o objetivo de limitar as emissões globais de gases do efeito estufa na atmosfera.
Copenhague apresenta uma oportunidade única. Todos os esforços devem ser no sentido de que haja um acordo concreto ao final da Conferência. Os governos - incluindo o brasileiro - não podem apostar no imponderável.
O mundo já sofre os efeitos das mudanças climáticas. E eles só tendem a piorar. Mas a esperança é hoje uma ferramenta importante. O Brasil se moveu. Que continue nessa direção, acelerando a marcha. E esperemos que em outros países a pressão da sociedade também consiga destravar caminhos.
♦ Marina Silva é professora de ensino médio, ex-ministra do Meio Ambiente, senadora do Acre pelo PV e colunista da Terra Magazine.
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