quinta-feira, 26 de novembro de 2009

ERROS E ACERTOS NA ELEIÇÃO DE FEIJÓ

Archibaldo Antunes

No viveiro das especulações políticas da coligação Frente Popular do Acre não há lugar para equívocos, mesmo que as teorias estejam longe de explicar a realidade. Isso ocorre porque o poder é uma ferramenta capaz de ajustar os fatos às versões de quem o detém.

Acostumados a dar aos acontecimentos a roupagem que mais lhes agrada, os políticos da FPA fizeram contorcionismos verbais para explicar a derrota em Feijó, nas eleições do último domingo. Mas isso não muda o fato de Dindim ter batido uma candidata que contava com o apoio de gente que está envelhecendo no poder. E para quem até o domingo havia andado pelas ruas de Feijó de salto alto, não caberia calçar, no dia seguinte, as sandálias da humildade. E foi assim que de uma soberba se passou à outra pior.

Do alto da tribuna da Assembléia Legislativa do Acre, na terça-feira, o líder do governo, deputado Moisés Diniz, foi taxativo: “Perdemos para nós mesmos”. E à sentença peremptória juntou outras, que, sim, explicam em parte o raciocínio, mas está longe de esgotar o assunto.

Pois não poderia haver, em política principalmente, declaração mais presunçosa. Sobretudo porque descarta a vontade do eleitor, que em Feijó foi às urnas dizer não ao continuismo.

Ao explorar a questão nesses termos, o deputado esteve longe de reconhecer erros e aparentar humildade, antes se encarregando de depreciar os adversários. E quando afinal reconheceu algum mérito neles, admitindo-lhes a coesão municipal, foi para fazer um ataque mais amplo, dessa vez no plano estadual, cujas lideranças de oposição, segundo ele, estão longe de se entender. (Pior ainda foi o presidente regional do PT, Leonardo de Brito, que em um programa de televisão insinuou que Jaciara perdera a eleição por falta de estrutura material).

Moisés Diniz poderia ter juntado ao mea culpa a reflexão de que a FPA perdeu as eleições em Feijó porque o governador Binho Marques, após ajudar a eleger o companheiro Juarez Leitão, esqueceu-se de aparecer para dizer olá e levar ali um punhado de recursos. Ou que nos municípios a situação política lhes vai ficando cada vez mais adversa na medida em que os problemas se acumulam. O atual governo é um fazedor de grandes obras na capital, o que impõe certa amnésia quanto às necessidades de quem vive no interior do Estado.

Mas ainda que o mea culpa seja de mentirinha, alguns argumentos fazem sentido. Por exemplo: a de que a candidata Jaciara, do PT, teve 18 dias para fazer campanha, quando Dindim contava com a vantagem da memória eleitoral. Se agora esse fator explica a derrota em sua totalidade, durante o pleito a arrogância não deixou margem a dúvidas desse calibre. E petistas e comunistas empunharam suas bandeiras como quem vai esmagar o inimigo.

Uma semana antes do pleito suplementar, ocorrido para preencher o vazio de outro petista pilhado na contravenção eleitoral, a Frente Popular alardeava vitória, amparada talvez em uma pesquisa de métodos esdrúxulos – durante a qual os eleitores seriam instados a responder que votariam na candidata da FPA. Acossado pelos pesquisadores, o cidadão comum acabou por dizer o que eles queriam ouvir, e no domingo foi à urna desfazer o equívoco.

Os parlamentares da base governista que amenizaram a derrota declararam que a alta corte da FPA vai avaliar os erros na tentativa de corrigi-los. Esquecem talvez que do lado da oposição são os acertos da campanha em Feijó que nortearão as conversas daqui por diante.

Archibaldo Antunes é jornalista e titular da coluna Prisma.

Um comentário:

Jardineiro disse...

Realmente, se o governador Binho, fez em Feijo como estar fazendo em Xapuri, a derrota da candidata da frente popular foi bem merecida. Os políticos tem que perceber que a população, devagar esta apredendo a dar resposta.