sábado, 4 de julho de 2009

TIÃO VIANA NA VEJA

"Lula nada fez para evitar a desconstrução e a perda moral do Congresso"


Nesta entrevista à repórter Sandra Brasil, o senador petista Tião Viana (AC) diz que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem responsabilidade pela crise moral que assola o Senado e que seu governo controla a Câmara dos Deputados na base do fisiologismo. Aos 48 anos, Viana tem autoridade para falar sobre o assunto. Já foi líder do PT e do governo Lula no Senado. Em fevereiro, disputou a presidência da Casa. Perdeu para José Sarney (PMDB-AP), que tomou o apoio que o Palácio do Planalto lhe havia prometido. Agora afirma que não aceitaria mais o cargo.

Como o Senado chegou a um nível tão baixo?
Até 2002, ainda havia no Senado um debate conceitual, ideológico. No início do governo Lula, ainda votamos a Reforma da Previdência. Mas logo o mensalão substituiu esses projetos na agenda da Casa. Daí em diante, nada mais andou, e perdemos a conexão com os interesses do cidadão.

O Senado ainda faz algo relevante?
A Casa está em chamas. Perde 80% do tempo em debates vazios e gasta os 20% restantes numa disputa entre governo e oposição que não leva a lugar nenhum. No Senado, o governo tem uma maioria apertada e vive no fio da navalha. Negocia voto a voto. Na Câmara dos Deputados, é mais fácil porque lá o fisiologismo impera.

Poderia explicar melhor?
É da cultura política brasileira. O governo controla a Câmara atendendo aos pedidos dos deputados com emendas parlamentares e com nomeações para cargos no Executivo.

A forma como o presidente Lula negocia com o Senado é adequada?
Lula é o melhor presidente que o Brasil já elegeu. Os resultados econômicos e sociais do seu governo nos orgulham. No entanto, ele deixa uma grande frustração no que se pensava ser uma de suas maiores habilidades: a política partidária. Lula nada fez para evitar a desconstrução e a perda de autoridade moral do Congresso. Os partidos estão mais fracos e deteriorados do que antes de sua posse. E é papel do chefe de estado fazer com que as instituições como o Parlamento sejam vigorosas.

O que explica a omissão dele?
Dá para entender as razões do presidente Lula. Ele sofreu muito com as ofensas pessoais durante o mensalão. Depois disso, com 82% de aprovação popular, adotou o pragmatismo para manter a maioria no Parlamento e resolveu que não precisava do Congresso. Tanto que José Dirceu foi o último ministro (da Casa Civil até 2005) que dialogou com o Senado.

O presidente Lula defende um tratamento privilegiado ao senador Sarney. E o senhor?
Sarney deve ser tratado como uma pessoa comum. Acontece que o presidente Lula é muito generoso com quem está em dificuldade. Marcou a vida dele o fato de Sarney tê-lo defendido na eleição de 2002, quando enfrentou o (governador paulista) José Serra, e de ter sido solidário no episódio do mensalão. Por isso, Lula foi até onde pôde com a minha candidatura à presidência do Senado. Depois, olhou com pragmatismo para as eleições de 2010, que são fundamentais para o seu projeto de nação.

O presidente Lula o traiu na eleição do Senado?
Ele levou em conta que o PMDB é essencial para 2010. Decidiu respeitar as forças que impuseram a candidatura Sarney, porque privilegiou a candidatura Dilma Rousseff e a necessidade de coalizão. Não guardo mágoas, mas é uma tragédia um partido dirigir as duas casas do Congresso. Ainda mais quando esse partido é o PMDB.

Por quê?
O PMDB é a essência do fisiologismo. Tem bons quadros, mas vive de troca de favores. Ignora concepção programática, visão doutrinária, tudo para acomodar os interesses dos seus parlamentares, que só querem assegurar suas reeleições.

O senhor ainda quer ser presidente do Senado?
Se me oferecessem o cargo hoje, a cadeira ficaria vazia. Eu não romperia com meus ideais por um ato de vaidade. Nós, idealistas, achamos que o Legislativo não sobreviverá se continuar funcionando apenas na base do beija-mão do governo. O Senado deveria cuidar da regulação e da proteção do estado sem ultrapassar o limite de revisor das leis. Não dá para presidir a Casa hoje sem forças para fazer o resgate desse papel. Aliás, Sarney deveria tomar consciência de que, sozinho, ele é insuficiente para mudar o Senado. Por uma razão: foi eleito com o apoio daquela casta de servidores para manter a estrutura atual. Ele deveria radicalizar na transparência e adotar medidas moralizadoras.

O senhor fala em idealismo, mas confundiu o bem público com o privado ao emprestar um celular do Senado para sua filha usar em uma viagem de férias ao México.
Eu errei. Foi um ato irrefletido de um pai superprotetor. A minha filha ia para um lugar estranho e, para encontrá-la a qualquer momento, entreguei o celular. Mas, um mês e meio antes da chegada da conta, que é trimestral, acessaram minha fatura e me denunciaram. Isso me causou uma dor profunda, comprometeu toda uma vida baseada na humildade e na coerência. Paguei a conta antes que o Senado gastasse um centavo.

De onde o senhor tirou dinheiro para pagar a conta de 14 000 reais se recebe um salário líquido de 12 000 reais?
Fiz um empréstimo bancário para pagar em 72 vezes. A minha filha levou o celular só para receber ligações minhas ou da sua mãe. Tomei um susto com a conta, que chegou a essa soma por uma fatalidade. A mãe do namorado dela teve ruptura de um aneurisma cerebral no dia seguinte à viagem e passou dez dias em coma. Ela se descontrolou com as ligações.

O senhor lhe deu uma bronca?
Não, fiquei com pena. Ela sofreu tanto pelo namorado e, depois, por mim. Mas quem não erra na vida na condição de pai? Esse caso me fez refletir sobre o tênue limite entre o público e o privado. Tenho uma cota mensal de 250 reais para telefone fixo em casa, mas não posso proibir que um filho faça um interurbano para o avô no Acre. É difícil separar o público do privado nessas pequenas coisas.

16 comentários:

Anônimo disse...

de tudo o que já li do Tião, de longe é a entrevista mais acertada e transparente que ele já deu para um veiculo de comunicação.Mais sincero e aberto impossível, demonstrou grandeza de estadista sobre os assuntos do senado e foi autenticamente humano sobre o erros cometidos.Por mim, até a quesão da hora proposta por ele de modo equivocado torno-se uma coisa menor perante as quesões que ele apresenta nestta entrevista de peito aberto.Ponto pro Tião !

Unknown disse...

E constatar que toda essa mamata é bancada com meu suado trabalho...

BASTA. Não reeleja malfeitores do dinheiro público. Faça isso por um Brasil justo e transparente.

Anônimo disse...

Brigas entre partidos por poder...e vergonhoso e uma realidade triste,...eleitos para defender e ajudar o povo, defendem apenas o próprio interesse.

Anônimo disse...

Me desculpe os alienados do PT, mas o melhor presidente que o Brasil, já teve foi FHC em seu primeiro mandato, isso pra quem não é alienado é indiscutível é só comparar os números começando pelo valor do dolar 0,90 centavo de real, comprava um dolar.

Anônimo disse...

Altino,me parece que honestidade,coerencia,justiça e sinceridade são atributos indispensaveis para a classe política.Políticos rancorosos indiferentemente de sua cor partidária jamais veem qualidades em outros que não façam parte de sua legenda.E isto não é bom para a democracia.BETO MINEIRO

Picaretas da Távola Redonda disse...

Gostei da entrevista do Tião... o que não quer dizer que eu concorde com o que ele disse. Sobre o episódio Sarney e a negligência do Lula, ele está corretissimo. No entanto, nitidamente, demonstra o seu rancor em relação as eleições para presidente do Senado. Rancor esse, aliás, que pode acontecer com qualquer pessoa. Um sentimento humano,demasiado humano.

Se tudo tivesse ocorrido como ele gostaria que acontecesse, é claro que ele não estaria esbrevejando agora. Sua atitude reporduz como os petistas estão agindo desde que assumiram o poder: esquecem tudo o que lutavam anteriormente em nome do poder ou então dessa tal governabilidade ou, quando interessa, resgatam a ferve critica dos tempos de oposição para atacar o que não os agrada. Politicagem, demasiada politicagem.

Sobre o episódio da conta do celular, achei ele sincero quando disse que na posição dele é dificil diferenciar o público do privado Muito comum no nosso Estado brasileiro... e por isso mesmo eu duvido que se não fosse pego, ele pagaria a conta da filha... justamente por ele ter dito que acha dificil diferenciar o público do privado e por contar com a falta de controle do Senado.
Aliás, se quer ser transparente mesmo, tem que mostrar o comprovante de ressarcimento dos cofres públicos no valor dos 14 mil reais. Dizem que já tomaram as providências, mas nunca mostram a fatura. Atitude tipica da nossa temerosa "democracia da midia" que vivemos: diz que resolveu pra ganhar tempo e torcendo pra um outro escandalo acontecer na imprensa.
Demotratite, demasiada democratite!

eleitor disse...

ele reclama do lula que não fez nada pra evitar o crise do senado né.mas o quê que ele fez quando era presidente do senado? ele combateu os picaretas? só demagogia.

Anônimo disse...

Comprava 1 dolar a 0,90 centavos de real a custas das privatizações ocorridas, não que seja contra, acredito que a privatização de vários setores é o caminho para eficiência, porém, do modo que foi feito no governo FHC com favorecimentos a algumas empresas, lícitações meio obscuras e etc.. e outra, o dolar mais barato que o real desfavoreceu e muuito nossa economia no que se refere a exportação, a importação é claro que era mais barata, porém, o balanço final era um desastre para o Brasil.

Francine disse...

O FHC foi um dos Presidentes mais importantes tal qual a seu poder de destrição.

O anônimo deveria voltar ao passado para relembrar alguns escândalos do FHC, mas sem deixar de comparar com o presente do Lula, outro picareta. Ambos tiveram acertos e erros e tanto faz qualquer um deles estar no poder.

Com um fiel como o Arthur Virgílio ou Tião Viana nenhum Presidente fica sem apoio pra fazer a besteria que quiser.

Ricardo Quessada disse...

Esse senador Tião Viana ta querendo limpar sua imagem, mas agora é tarde:

Nepotismo: ex-cunhada Aurea Brihante alocada no seu gabinete.

Falta de Escrúpulo: Tião defende fielmente o governo Lula, foi leal ao Presidente, e não ao Brasil e aos acreanos, no episódio do MENSALÃO.

Desonestidade: Tião fala que a partir de um instinto paterno deu a sua filha em viagem ao exterior um celular pago pelo senado, a conta foi de R$ 14 mil.

Excesso de orgulho: Tem dezenas de projetos furados, que não deram certo. Fuso horário, médicos cubanos (custo absurdo), saúde acreana deixa a desejar. Isso comprova a falta de capacidade de ouvir outras pessoas.

Senador honre os acreanos!

Poxa vida, parece que, em termos, o Acre volta
a se preocupar com sua imagem política novamente.

Paula Negrini disse...

Esse homem tenta fazer papel de bom moço, não cola mais!

Ta vacilando muito!

Ele demonstra ter dupla personalidade!

Quem conhece ele trabalhando sabe que ele é um ratão no senado!

Anônimo disse...

"Difícil separar público e privado nas pequenas coisas"?

Esse cara ta surtando!

Isso é roubo amigo! Tal qual os marginais da política que ele tanto recriminava!

Anônimo disse...

Esse cidadão pousando de bom moço tem duas caras mesmo, basta relembrar na época do mensalão ficou quietinho e do lado do Lula, se fosse realmente do lado do povo não teria sido conivente com aquele escândulo todo, que acabou em pizza.

Anônimo disse...

Cara Francine,

Voltei ao passado relembrando o real em relação ao dollar por comentário de outro anônimo, não por ser um PTista alienado defendendo o Lula, não, nas últimas eleições presidenciais votei no Sen. Cristovam Buarque por levantar uma bandeira igual a minha, o Lula teve escândalos piores do que o FHC, o problema e verdade seja dita é que pelo menos aparentemente a vida melhorou muito entre um governo e outro (Tirando os impostos), a economia nunca esteve tão bem, a fiscalização pelos orgãos regularizadores com as empresas privatizadas pelo FHC aumentou e com isso os serviços estão bem melhores (vide caso recente da telefonica que foi proibida de vender adsl até solucionar seu problema crônico com os atuais clientes), então.. é isso, não adianta querer endeusar um presidente que dizia "vocês vão ter que me engulir" que eu não engulo!

Francine disse...

Entendendo um um pouco de macroeconomia, pois sou formada em economia pela FGV e com pós-graduação em master comércio, é assim que emito tal opinião sobre a equivalência dolar-real: Isso foi mantido a peso de ouro pelos brasileiros.

A exemplo, se o senhor anônimo tivesse comprado um carro com financiamento de câmbio variável, à época do FHC, de um dia para o outro, a sua dívida dobraria de valor. Qual teria, então, sido a vantagem de manter a equivalência dolar-real?

As agências reguladoras são outro crime cometido pelo FHC, que mal-elabororou-as e quem entende sabe como funciona de verdade.

Faz assim, anônimo, liga pra ANATEL, 133, e tenta reclamar de algum serviço telefônico! Verifica a garantia que te darão para resolver o teu problema!

ou ainda busca os teus direitos nas agências: ANAC (aviação civil), ANCINE, ANVISA (vigilância e saúde), ANS entre outras, daí a gente pode voltar a conversar!

Deus te permita nunca precisar dessas agências que são sinônimo de cabide de emprego desses governos de safados, que nos escolhemos!

Também votei no Cristovam Buarque!

Não sou petista, acho eles cafajestes demais, além de falsos!

Laís Araújo disse...

Tião por favor se oposenta! você ja tem dinheiro o bastante pra viver bem!

Uma sugestão aproveita os teus ternos pra se candidatar a presidente do teu bairro de rico, o Ipê. Infelizmente la não vai ter um celular pago pela associação, mas ao menos poderás fazer tuas traquinagens, sem grandes repercussões.

Mas antes de tudo pede ao teu irmão, pra continuar na política, ele sim, é um bom político!