quinta-feira, 23 de julho de 2009

NA MIRA DOS "COMPANHEIROS"

Elder Andrade de Paula

As corajosas denúncias de Dercy Teles e Osmarino Amâncio contra o autoritarismo, as mentiras e chantagens praticadas pelos “companheiros”, veiculadas recentemente neste Blog do Altino não podem ser interpretadas como “fatos isolados” e nem tão pouco reduzidas a pequenez das querelas partidárias.

Elas, as denuncias, revelam com todas as cores aquilo que os “companheiros” têm procurado ocultar nessa explosiva fronteira na ultima década: o acirramento dos conflitos sociais em torno da apropriação do trabalho e dos bens naturais existentes no Acre e na Amazônia em geral.

Foram bem sucedidos na “missão” enquanto puderam “represar” os descontentamentos, aniquilando os sindicatos e amordaçando as vozes dissonantes. Agora, as “fendas” na “represa” estão aumentando. É isso que está deixando os “companheiros” desesperados, fazendo-os perder a “compostura”.

Como o uso do aparato governamental foi insuficiente para derrotar a chapa liderada por Dercy Teles na eleição do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, no final de maio, passaram a usar outros expedientes típicos de um Estado autoritário: censura, uso da força policial para expulsar moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes, manipulação da Fetacre para intervir no Sindicato, calúnias e difamações contra a diretoria eleita, ameaça de invasão da sede do STR no próximo domingo (26/07) etc.

O desespero dos “companheiros” é compreensível: eles se comprometeram com o cartel internacional das empresas madeireiras a entregar “mansa e pacificamente” o estoque de madeiras de alto valor econômico existentes nos territórios ocupados pelas populações camponesas e indígenas. A fábrica de tacos instaladas em Xapuri (financiada com verbas públicas via BNDES), finalmente começará a funcionar, mas precisará de muita madeira, de preferência toda aquela existente na resex Chico Mendes, comprada a “preço de banana”.

Nada de novo nos “triste trópicos”. A diferença em relação aos ciclos da borracha, é que naquele período extraíam a riqueza e deixavam pobres nas matas os que a produziam, os seringueiros, agora, destruirão as matas e deixarão os pobres, milhares de “caboquinhos e caboquinhas” no Acre e milhões na Amazônia continental, sem lugar para ficar.

É por esta razão, que numa de suas falas, na assembléia do STR de Xapuri, no ultimo sábado (18), Dercy cumprimentou a todos os presentes (o auditório estava lotado, fazendo-me lembrar os grandes momentos da luta de resistência que vivenciei naquele município desde 1984) e foi taxativa:

- Chamo a todos de amigos e amigas porque me recuso a usar a palavra companheiro.

Dercy está coberta de razão. Quem mudou de lado, aliou-se aos exploradores, não merece mesmo ser chamado de “companheiro”. Uma pena, além da cumplicidade na destruição das matas e das vidas de “caboquinhos e caboquinhas”, também contribuíram para jogar na lama uma palavra originalmente tão carregada de significado: companheiro, aquele que compartilha o pão.

Mas não é hora de lamentar e sim de renovar energias e, junto com Dercy, Osmarino e milhões de “caboquinhos e caboquinhas” , “amigas e amigos”, somar forças para arrebentar a “represa” e no seu turbilhão construir as bases de uma sociedade igualitária e fraterna, que ponha fim a exploração, pilares imprescindíveis para combater a barbárie e destruição ambiental produzida na esteira do capitalismo, seja nas formas convencionais ou naquelas “esverdeadas” com a ideologia do “desenvolvimento sustentável”.

Elder Andrade de Paula é professor da Universidade Federal do Acre

3 comentários:

lindomarpadilha.blogspot disse...

Caro Altino e caríssimo Elder,

Realmente precisamos aprofundar a ruptura com os eco-capitalistas, infelizmente muito bem estruturados no Acre (e em toda a região). A luta tem que continuar e a ordem é não recuar.

Bom trabalho.

Lindomar Padilha

Anônimo disse...

Bem,
Acredito que os descontentes estão aumentando, estão perdendo o medo de reclamar, este pessoal da frente está sem um líder por isso estão perdidos e, quanto mais pressão eles sentirem mais erros grosseiros vão cometer.
O que vemos é que depois de muitos anos no poder a arrogância já começa a tomar o lugar do caminho para uma política elevada onde se buscava o companheirismo, o desenvolvimento do Acre, o resgate daquele “orgulho de ser Acreano”, agora começa a ficar desnuda a verdadeira intenção daqueles que prometiam o povo no poder.
Hoje eles querem calar nossa voz, tentam usar a censura, pressionam ou cooptam os líderes sindicais, querem um povo de joelhos, mas começam aparecer pessoas lúcidas e preparadas para um “confronto” de idéias, colocando o contraditório na mesa e é isso que os está assustando, eles só lidam bem com quem baixa a cabeça, se alguém discorda é um reacionário.
Não podemos negar que eles sabem usar da política do medo, pois a única arma que ainda dispõem é o medo que ainda temos dos desmandos administrativos da antiga oposição, é isso que ainda infelizmente, mantém o poder da FPA.

Anônimo disse...

Parabéns pela lucidez, Elder! Um abraço, Renata. Ji-Paraná -RO.