Estudo e resolução da Academia Acreana de Letras
Consultada pelo presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Acre, deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), sobre a Base V, letra c, do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, a respeito da mudança do gentílico acreano para acriano, a Academia Acreana de Letras (AAL) pronuncia-se em defesa dos 129 anos de história que consagram o "acreano".
Clique aqui e leia na íntegra o estudo assinado pelo professor e poeta Clodomir Monteiro da Silva, presidente da AAL.
Abaixo, a resolução da AAL sobre a polêmica. O documento pode ser baixado aqui.
"RESOLUÇÃO DA AAL N º 001 – 2009
CLODOMIR MONTEIRO DA SILVA, Presidente da Academia Acreana de Letras , que “tem por finalidade cultivar a Língua Portuguesa e as produções literárias”, conforme seu Estatuto, Arts. 4°, 32 e 34, usando suas atribuições e prerrogativas, com base nos Arts 216, da Constituição da Republica Federativa do Brasil, e 202, da Constituição do Estado do Acre, nos quais fica consagrado que “... constituem patrimônio cultural os bens de natureza material e imaterial, tornados individualmente ou em conjunto, portadores de referências à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade...” e
CONSIDERANDO QUE:
1 - A AAL, no dia 23.03.2009, por oficio, recebeu da Presidência da Assembleia Legislativa do Estado do Acre consulta sobre o Acordo Ortográfico, que em sua Base V, letra c, retira o gentílico ACREANO, um dos principais portadores de referências à identidade ACREANA;
2 - ESTE SODALÍCIO, em 25.04.2009, aprovou o parecer elaborado por esta Casa, e, posteriormente, o encaminhou a sua Excelência Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Acre, com a sugestão de que o mencionado ACORDO ORTOGRAFICO seja revisto, na parte que se refere à mudança do gentílico ACREANO.
3 - A EXCLUSÃO DO GENTILICO ACREANO como forma escrita oficial do Novo Vocabulário da Língua Portuguesa (VOLP) foi alem dos propósitos de unificação do Acordo Ortográfico dos Países de Língua Portuguesa, pois aduziu questões morfológicas e desconsiderou o processo cultural da formação deste gentílico, desde sempre um item da identidade do povo do Acre.
4 - O GENTILICO ACREANO, pleno da história do topônimo Acre, formado com o sufixo -ano, de registros em cartório, documentos oficiais, livros, artigos científicos, contos populares, folclore: que é forma consagrada pelo uso regional há mais de 129 anos. ACREANO está em dicionários respeitáveis do idioma pátrio, como Nascentes, Aulete, Aurélio e Houaiss, sustentando as duas formas, ou seja, duas variações - acreano e acriano. Mesmo assim, a população sempre elegeu acreano como a forma de denominar aquela pessoa nascida no Acre.
5 - ACREANO é legítimo patrimônio cultural, rico como signo e metáfora de sua formação multicultural e nas obras de seus artistas dos gestos, da fala, da escrita, da música etc. A Literatura Acreana auriverde, por mais de 70 anos, povoa as colunas de Patronos Fundadores e Sucessores da Academia Acreana de Letras, enriquecida nas barrancas e barracas de lutas, forjada no coração e mãos curadoras, de um médico e poeta, Francisco Mangabeira, nordestino acreano na universalidade de sua arte, ao compor no Hino Acreano: “Que este sol a brilhar soberano, Sobre as matas que o vêem com amor, Encha o peito de cada acreano”.
6 - A INEXISTÊNCIA de gentílico a ser mudado, substituído, preferido ou preterido, em função de Acordo, Decreto, Lei, estranhos a esta população cujo nome, banhado de sacralidade, em sua oralidade remota e remissiva, da forte tradição que a engendra, a nordestina desencantada e reencantada, com o lugar, povo e tradição que a recebeu e, amalgamando-se com ela, vem enriquecendo o mosaico cultural brasileiro, da qual este próprio é conformado, onde acriano e acreano não podem ser considerados etapas de uma evolução linguística, sob camisa-de-força de padrões apenas linguísticos, que aceita e pratica concessões; que nem por isso separam brasileiros dos demais lusófonos.
7 – O GENTILICO ACREANO traduz a liberdade expressiva de uma comunidade, 129 anos de história. E que essa liberdade de escolha possui uma razão universal, que é a finalidade expressiva dos falantes acreanos, no uso de tradições e costumes. A importância de ser acreano se confunde com a própria importância do mundo em que se vive. Assim, mais que um ecossistema, região ou bioma, mais que a porção mais verdejante do planeta, o Acre é um poema. Ser acreano é uma epopeia brasileira. Sendo imperioso preservar as duas formas, a histórica e a lingüística, pois ambas são vertentes do conhecimento humano. A primeira tem maior possibilidade de retratar o Acre e sua gente, da forma mais completa possível, porque está plena, recheada da identidade regional.
8 - NENHUM ACORDO pode toldar preceitos constitucionais que sustentam a construção da subjetividade, da identidade das gerações que estão construindo o patrimônio cultural, os bens de natureza material e imaterial, com que foram construídas. Se o “Rio comanda a vida”, como lembra em uma de suas obras Leandro Tocantins, ACREANO comanda o rio da vida de seu destino amazônico, brasileiro e universal, como mudar a história por imposição de um Acordo Ortográfico que interfere na essência de institutos jurídicos constitucionais do Estado do Acre e da Republica Federativa do Brasil?
RESOLVE:
Art. 1°
- REAFIRMAR A POSIÇÃO DESTA CASA DE QUE O GENTILICO “ACREANO” É PATRIMÔNIO BRASILEIRO, BEM DE NATUREZA IMATERIAL, TORNADO INDIVIDUALMENTE E EM CONJUNTO, REFERENCIAL DA IDENTIDADE CONSTITUINTE E CONSTITUÍDA DE UM POVO QUE ESCOLHEU SER BRASILEIRO E SOUBE COM TRABALHO, ORGANIZAÇÃO E DIGNIDADE CONQUISTAR A SOLIDARIEDADE E APOIO DOS BRASILEIROS, NOS MOMENTOS DECISIVOS DE SUA HISTÓRIA.
ART. 2º
- A AAL ENVIDARÁ, SEMPRE, ESFORÇOS PARA O RETORNO E PERPETUIDADE DO GENTÍLICO ACREANO NO VOCABULARIO DA LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL, AINDA QUE SURJAM DISPOSIÇÕES EM CONTRÁRIO OU ACORDOS DANIFICADORES DO LEGADO DA AÇÃO E MEMÓRIA DO ACRE
Art. 3°
PERMANECER ALERTA, VIGILANTE, CUMPRINDO A MISSÃO QUE A SOCIEDADE ACREANA LHE DEU COMO GUARDIÃ DA LÍNGUA PÁTRIA, CONTINUANDO A UTILIZAR OFICIALMENTE O GENTILICO ACREANO.
Art. 4°
ESTA RESOLUÇÃO ENTRA EM VIGOR A PARTIR DA PRESENTE DATA.
Art. 5°
FICAM AS DIRETORIAS DA AAL INCUMBIDAS DO REGISTRO, PUBLICAÇÃO E DIVULGAÇÃO DA PRESENTE RESOLUÇÃO
Rio Branco, 7 de maio de 2009
Clodomir Monteiro da Silva
Presidente da AAL
3 comentários:
A AAL cumpriu seu papel, a contragosto de alguns acrianos. Prefiro mesmo que utilizemos os dois gentílicos. Acreanos seríamos nós - nascidos no Acre e ainda entranhados pelas raízes culturais profundas herdadas de nossos ancestrais acreanos através do tempo -, já que somos inflexíveis na defesa de nossa cultura.
Acrianos seriam os outros, menos comprometidos com essa mesma cultura e mais preocupados em obedecer leis morfológicas ultramarinas, esquecendo que o Brasil deixou de ser colônia portuguesa em 7 de Setembro de 1822.
Nossa Senhora!
Qualquer universitário de história faria melhor defesa, já que o único caminho defensável para nos contrapormos a esta imposição é, sem dúvida, a tradição de nosso povo.
O texto é uma confusão:
Às vezes, emprega uma verborragia ininteligível e, por vezes, uma pobreza vernacular indescritível,
Perguntas:
Isso foi uma academia de letras que fez?
Foi durante o chá das cinco?
Santo Deus!
Tão Acre!
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