terça-feira, 21 de julho de 2009

COMO NO TEMPO DA DITADURA

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri, Dercy Teles de Carvalho Cunha, relata a história do seringueiro Nonato Venâncio Flores, o Caboquinho, expulso nesta segunda-feira (20) da Reserva Extrativista Chico Mendes por força da fiscalização do ICMBio, com auxílio da Polícia Federal:

"Caro Altino,

Escrevo para denunciar o fiscal do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) conhecido como Zé Carlos. Ele abusou e humilhou o seringueiro Raimundo Nonato Venâncio Flores, conhecido por Caboquinho, que em dezembro próximo passado adoeceu e, por morar só, foi realizar tratamento de saúde em Porto Velho (RO), onde tem familiares, retornando em março deste ano. Ao chegar em Xapuri foi informado de que sua casa havia sido arrombada pelo fiscal, que deixou as portas abertas com todos pertences do seringueiro dentro.

Caboquinho conta que antes de ir pra colocação, foi chamado pelo fiscal pra dizer que não botasse mais os pés na colocação, alegando que o fato do mesmo ter se ausentado por três meses caracteriza abandono de posse e o local passará a ser a sede do ICMBio. O seringueiro argumentou que iria voltar por ser aquele seu local de trabalho e moradia desde 1992. Segundo Caboquinho, ao dizer isso Zé Carlos o ameaçou dizendo que se voltasse iria sair de lá preso e moído de pau pela Polícia Federal. Mesmo assim o seringueiro não se intimidou e foi pra sua colocação.

Ao chegar lá, encontrou as portas arrebentadas, dando por falta dos seguintes pertences: duas botijas de gás, quatro machados, dois terçados, dez rastelos, cinco trenas, quatro regadores, quatro enxadas, cinco boca-de-lobos, oito pratos, dez talheres e uma foice. Mesmo assim continuou trabalhando no local sem reclamar do ocorrido a ninguém.

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Na semana próxima passada, o seringueiro foi surpreendido em seu local de trabalho pelo fiscal, que estava acompanhado de policiais militares, mandando que o seringueiro desocupasse a colocação. O seringueiro resistiu. Porém, Zé Carlos o ameaçou dizendo: "hoje tu não sai, mas eu vou voltar aqui com a Polícia Federal e vou te mostrar como você tem que desocupar. Você é um invasor, essa terra é da União". E ofendeu o seringueiro com palavras de baixo calão.

Realmente o fiscal cumpriu o que havia prometido. Nesta segunda-feira, 20 de julho, o seringueiro estava limpando o sítio em volta da casa em companhia dos senhores Evaristo Maciel da Silva e José Maria Evangelista, quando o dito fiscal chegou em companhia da Polícia Federal e expulsou o mesmo de sua colocação, acusando o de invasor.

Indefeso e humilhado, o seringueiro não teve outra alternativa a não ser obedecer. Vejamos a que ponto nós chegamos. Lembro dolorosamente esse filme na época da ditadura militar, quando os seringueiros eram expulsos de suas colocações sob ameaça dos pistoleiros, jagunços e polícia, todos a serviço dos fazendeiros.

Jamais imaginei que no atual governo pudéssemos reviver fatos como esse. Funcionários do governo federal, exercendo os mesmos métodos da ditadura: terrorismo, humilhação, criminalizando os trabalhadores. Será que não basta os mesmos estarem condenados a fome e extinção por estarem proibidos de fazerem seus roçados de subsistência? Lembro toda nossa luta em defesa da floresta, quando tínhamos a ilusão de que estávamos defendendo o que era nosso. Grande engano. A prova está aí: só porque o seringueiro se ausentou três meses de sua colocação por motivo de doença perdeu o direito. Cadê o direito de posse que conquistamos? Não vale mais não? Quer dizer que se o trabalhador ficar doente é obrigado a morrer à mingua? Porque se sair perde o lugar.

Vale ressaltar que na colocação de Caboquinho foi realizada uma experiência de desenvolvimento sustentável, onde foram plantadas várias espécies que estão produzindo frutos e madeira, no caso do plantio de teca. Será que quem trabalhou e investiu não tem direito sequer a uma indenização?

O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri repudia com veemência essa atitude do fiscal do ICMBio e solicita providência por parte de seus superiores no sentido de coibir os abusos, humilhações e constrangimentos causados pelo fiscal ao seringueiro.

Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri firme na luta.

Dercy Teles de Carvalho Cunha
Presidente"

8 comentários:

Anônimo disse...

Altino, você chegou a conversar com o Anselmo Forneck ou alguém da PF?!

Anônimo disse...

Esse cidadão funcionário do IBAMA citado, é costumeiro cometer esse tipo de abuso mas vale ressaltar que é só contra os humildes bem entendido, pois contra os grandes que fazem e desfazem, ele fica quietinho. Altino, se vc tiver o desagrado de conhecer ele pessoalmente já vai perceber só em olhar pra cara do cidadão, como ele tem impáfia e se acha o cara,não sei como é que um individuo desse entrou nos quadro do IBAMA, mas deve ser daqueles daquela época antes de 1988 que entravam pela janela. Acho que esses orgão deveriam fiscalizar melhor os seus funcionários, dos abusos que eles cometem diariamente, mas vale lebrar só contra aquelas pessoas que não tem poder aquisitivo e não conhecem seus direitos, mas não nos esqueçamos estamos no Brasil.

Anônimo disse...

Ué!
Não vão abrir nenhuma sindicância contra o tal Zé Carlos, não?
Se bem, que o seringueiro não é irmão de nenhuma deputada, né!
Porque se fosse...Ai!ai!ai!
CzSul

Anônimo disse...

Com certeza se fosse o irmão o qualquer outro apadrinhado da Deputada Federal, já tinham aberto uma investigação minuciosa e até punido e transferido o funcionário truculento citado.

Anônimo disse...

Altino, isso tem que ser denuciado ao MP Federal, pois estamos em pleno século XXI, e pessoas humildes estão sendo expulsas de suas casas e propriedades como antigamente, isso é um verdadeiro absurdo ainda acontecer.

Anônimo disse...

Altino

Antes de divulgar cartas como estas, você devia checar a fonte e consultar o outro lado.
O Zé Carlos não agiu por conta própria, a própria Policia Federal, não ia se prestar a um papel destes, se não hovesse motivo justificado para tal.
Se o ato foi cometido é porque havia lguma irregularidade.
Atitudes como estas só servem para incitar a opinião púbica contra as instituições, que não fazem senão zelar pelo bem público.
A presidente do Sindicato Rural de Xapuri vem nos ultimos meses tentando justificar ocupações e atividades irregulares na Reserva Extrativista Chico Mendes, defendendo a pecuária na Reserva, por ser ela própria uma pecuarista. O STR de Xapuri, lamentavelmente, pela sua história, não mais representa os interesses dos seringueiros e sim dos predadores da floresta.
Se isto fose verdade, porque você acha que as osganizações representativas dos seringueiros e os próprios seringueiros da Reserva não se manifestaram? Isto mostra que se trata de um ato isolado da presidente do STR, na tentativa de prejudicar as atividades em curso na Reserva para favorecer ocupações ilegais, como é o presente caso.
A versão apresentada pela mesma não flete a realidade.
Gosto muito do seu trabalho, mas você não pode veicular uma informação como esta sem antes checar os fatos.
Situações como estas podem, ao invés de solucionar conflitos, incitar discórdias ou até coisas mais graves.
Segue e-mail

Anônimo disse...

EXPRESSÃO DA VERDADE.

Altino. Faço saber que, caboquinho e Evaristo nunca foram seringueiros da colocação vaiquenquerzinho como afirma a sua defensora Dercy teles. Se pedirmos um comprovante da produção de um kg de borracha sólida ou um litro de látex produzidos neste lugar nos últimos dez anos, dificilmente eles o apresentarão, até por que nunca foram extrativistas. O caboquinho é vendedor ambulante em Xapuri e o Evaristo é pecuarista de médio porte no entorno da reserva e é o principal incentivador para que o caboquinho se aposse da colocação de forma ilegal para exploração de pecuária no interior da Resex. Ha aproximadamente oito anos atrás estiveram na colocação na qualificação de trabalhador assalariado para Ronaldo de tal, então administradores do lugar na época. Ronaldo é um funcionário público da FUNAI, não tem direito a qualquer benefício da reforma agrária e atualmente mora no Rio de Janeiro. Faço saber também que, desde que o senhor Ronaldo foi embora há quase dez anos, a colocação ficou desocupada até os dias de hoje. O caboquinho so aparecia na colocação na época da safra do abacate para coletar frutos e comercializar em Xapuri. O seringal possui aproximadamente 40 colocações com 50 famílias e se pedirmos informações na comunidade sobre esses supostos seringueiros, dificilmente alguém os defenderá como donos da colocação e muito menos como morador do local. Atraídos pela ganância e pelo o cadastro de moradores da Resex que está sendo feito neste mês de julho de 2009, somente agora voltaram para a colocação tentaram se apossar de fora ilegal. O caboquinho foi notificado e orientado a sair do local, houve resistência e solicitamos apoio da policia federal, não houve abuso de autoridade por parte das instituições envolvidas, apenas uma conversa verbal. Terras da reserva são para quem quer morar nelas e viver dela de forma sustentável. Quero esclarecer que Dercy Teles foi muito infeliz em suas injúrias, que seja, mas coerente em suas atitudes, deixe de ser nociva a pessoas de bem e principalmente pare de fazer apologia a ilegalidade e a imoralidade.

ZÉ CARLOS FISCAL ICMBIO RESEX CHICO MENDES _XAPURI

Anônimo disse...

Quero aqui fazer algumas correções a cerca destas afirmativas do Sr. Zé Carlos.
1º O Caboquinho este afastado da colocação por motivo de doenças e prova isto a qualquer momento;
2º Realmente o Evaristo não é seringueiro do Vaiquemquerzinho, mas está longe de ser um pecuarista de médio porte, ou mesmo ser ganancioso e incentivador da pecuária na RESEX. Na verdade o Evaristo possui um lote de 46 hectares dos quais 34 estão com cobertura vegetal original, e olhe que mora neste lugar há quase 30 anos.
Não há dúvidas de que o caminho que tem traçado o Caboquinho para ter seu direito reconhecido não condiz com o que determina o SNUC ou o Plano de Utilização da RESEX, mas a prática arrogante e truculenta que utiliza o Sr. Zé Carlos, aliás não só com o Caboquinho, não deixa margem para que justiça seja feita.