quarta-feira, 17 de junho de 2009

VIÚVAS E VIÚVOS DO DIPLOMA

Acabou a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista no Brasil. Por oito votos a um, o Supremo Tribunal Federal considerou incompatível com a Constituição a exigência da graduação em jornalismo para o exercício da profissão.

- Um excelente chefe de cozinha poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima estarmos a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área. O Poder Público não pode restringir, dessa forma, a liberdade profissional no âmbito da culinária. Disso ninguém tem dúvida, o que não afasta a possibilidade do exercício abusivo e antiético dessa profissão, com riscos eventualmente até à saúde e à vida dos consumidores - foi um dos tantos argumentos do ministro relator Gilmar Mendes.

Meu amigo Antonio Alves, jornalista que não é diplomado nem sindicalizado, pondera:

- O problema é que a gente lê qualquer coisa, mas ninguém come qualquer comida.

Outro amigo, Cláudio Leal, jornalista diplomado na Bahia, em atividade em São Paulo, argumenta a favor do fim da exigência do diploma:

- Não vai aumentar o número de jornalistas. Vai até diminuir, o que é bom pro país. Essa raça não é boa.

Autodidata, gostei da decisão do STF, por entender que quem nascer para o jornalismo será jornalista. Mas fico a me questionar sobre o destino daqueles que nunca escreveram uma reportagem e não são sequer capazes de escrever um bilhete, embora ostentem o título de professores de jornalismo. Da mesma maneira penso sobre o destino da legião de rapazes e moças que buscam um diploma sonhando em ser Wiliam Bonner ou Fátima Bernardes.

Gosto do trecho de uma entrevista que o admirável repórter Ricardo Kotscho concedeu à revista Caros Amigos há cincos anos, quando revelou:

-Eu queria, como todo moleque, ser jogador de futebol. Não deu certo. Aí, fiz uma brincadeira que o cara que não dá certo em nada na vida acaba sendo jornalista. E quando não sabe nem escrever nem fotografar vira chefe.

E Renato Pompeu completou:

-E se não sabe ser chefe vai ser professor.

-Professor de jornalismo... Bem completado - acrescentou Kotscho.

Quem pode se contrapor aos argumentos da Taís Borjas Gasparini, advogada das Empresas de Rádio e Televisão do Estado de São Paulo, a entidade que pedia junto com o Ministério Público Federal o fim da obrigatoriedade do diploma? Segundo ela, o jornalismo não deve ser comparado às profissões de "médico, engenheiro ou piloto de avião".

- Ao contrário destas profissões, o jornalismo é um exercício puramente intelectual. Depende talvez do domínio da linguagem e do vasto campo de conhecimentos humanos. Mas muito mais que qualificação, é a lealdade, curiosidade, sensibilidade e ética que o jornalista deve ter. A obtenção desses requisitos não se encontra nos bancos da faculdade.


Bem, o fim da obrigatoriedade do diploma deixa muitas viúvas e viúvos, sobretudo entre os sindicalistas da "catigoria".

17 comentários:

Altemar disse...

Eu quero ser jornalista.
Primeira lição: "Bem amigos da rede Roubo, sorriam, vocês estão sendo enganados"
Tá todo o mundo em pânico em pela notícia, mas eu "se amarrei", tenho futuro?

Ismael disse...

Notícia excelente!

MARCOS VENÍCIOS disse...

ESSA RAÇA NÃO É BOA

kkkkkkkkkkkkkkkkkk

Dulcivania Freitas disse...

Muitos são cozinheiros mesmo, tenham diploma ou não, pois vivem só requentando os releases das assessorias.

Anônimo disse...

Gostei dessa ideia da capacidade intelecutal, isso tambem pode sevrir para advogado? filosofo? e etc?

Iberê disse...

O engraçado é que o Cláudio Leal tem razão. Vai diminuir o número de jornalistas.

Ou melhor, vai diminuir o número de gente que se diz jornalista por que tem diploma. A turma "raçuda" continua.

Ou seja, vaso ruim não quebra fácil assim, não!

Cartunista Braga disse...

Quer dizer, Altino, que qualquer cozinheira continuará ostentando o título de culinarista? Haja receita de bolo! Viva a PAÇOCA (Profiçonais Açociados do Colunismo Çocial Acreano)!

Anônimo disse...

O que não consigo entender é como pessoas que entraram para o jornalismo sem sequer o ensino fundamental completo e aprederam tudo o que precisavam na prática com outros colegas experientes defedem com unhas e dentes o tal canudo. Penso que no jornaismo tudo é dom. Dons de escrever, desenhar, fotografar, diagramar... Os melhores jornalistas são e sempre serão os experientes e não os diplomados.

Yorranna Oliveira disse...

Ainda bem que sou bolsista do Prouni e não pago(diretamente) a faculdade. Nem vou tentar contabilizar as horas de sono perdidas para fazer trabalhos acadêmicos, estudando, lendo para não ser apenas uma profissional tecnicista, mas humanizada. Técnica até um macaco(como diz um professor meu) se treinado pode aprender, mas ser humano antes de ser repórter, jornalista, enfim...são outros quinhentos.
Yorranna Oliveira

Anônimo disse...

Podiam logo extinguir todos os diplomas do Brasil, a comecar pelo de bacharel em direito, ai qualquer um poderia ser cozinheiro, engenheiro, jornalista, sociologo e ate ministro do supremo, que tal?

Unknown disse...

A verdade, com diploma ou sem diploma, o que um profissional de comunicação tem mais é que aprender a falar e escrever num bom português pra não ficar “descendo pra baixo e subindo pra cima” ou pra não confundir “ciclo da vida” com “círculo da vida” e outras barbáries. Afinal são profissionais com os quais esbarramos a todo instante: em nossa casa (TV) nos automóveis (rádio), quando abrimos um jornal, quando acessamos um site de notícias e por aí vai.
O que dá pra perceber é que quanto menos preparado é o cara mais arrogante ele é, principalmente aqui na terrinha, onde quase que a totalidade deles é puxa saco desse ou daquele grupo político. E o que eles menos exercem na verdade é liberdade de opinião e isenção. Portanto “O Jornalista” tão pouco vai se importar se é com diploma ou sem diploma.

Charles Foster Kane disse...

Diploma nunca foi comprovante de profissionalismo em nenhuma area.Muitos saem das "privadas" (instituições de ensino), com o tão sonhado canudo que o "papi" bancou achando que já é um profissional(tisc), concordo que a experiência conta muito, mas a burocracia manda mais, o canudinho "inútil" talvez uma dia servirá...talvez um dia as tetas sequem...e os experientes sem diploma tenham que encarar um concurso...(sem QI é claro).
É caro Altino Machado, respeito os profissionais verdadeiros, responsavéis e éticos, mas um coisa é certa a "máquina foi feita pra emperrar" e não pra funcionar perfeitamente, talvez um dia...

Unknown disse...

Anônimo experimenta ser operado por um cidadão que não tem diploma nem experiência na medicina. Mas antes passa pela funerária e encomenda o paletó de madeira.Antigamente tivemos grande rábulas, que em nenhum momento delustraram o embate jurídico, conheci um em Tarauacá que me ensinou muitas coisas embora eu já fosse diplomado. Agora, cada categoria defenda seu nicho. Por mim todos poderiam e deveriam advogar. Depois me fale sobre a Espada de Dâmocles.

Ulisses Silva disse...

A mesma coisa poderia acontecer com os diplomados em direito, que o diploma só serve pra ter status ;)

Unknown disse...

Advogado não tem status, recebe honra. Se a pessoa quer status melhor mesmo é ser barnabé, de preferênia sem concurso público. Eu, em vez de status, prefiro honra, mesmo porque, o homem veio do pó e para o pó retornará.

Ulisses Silva disse...

Não tem status? Qualquer probleminha que um advogado se envolve já sai logo gritando pra todo mundo ouvir: Eu sou advogado!
E não é justo que alguém que não pode cursar uma faculdade de direito, mas que leu, debateu, participou de palestras e cursos e aprendeu muito mais que alguns que fizeram faculdade, receberem suas "honras" sem precisar do importantíssimo diploma?
No dos outros é refresco... =)

Unknown disse...

Honor(ário), caro Ulisses. Quanto a esses que vivem gritando que são advogados, são dignos de pena, haja vista que vivem se envolvendo em problemas, e pensam que gritando vão prevalecer ( e creio que esses problemas, derivam certamente do álcool). Não pode é perder a audiência na segunda-feira e alegar AIDS (Álcool Ingerido Durante a Semana). Muitos deles nem ingressam na advocacia, preferem fazer cursinho e se preparar para concurso na Magistratura, no Ministério Público, etc., e aí será pior a emenda que o soneto (arrogância, prepotência, despreparo), mas sempre existirão os ADVOGADOS que os combaterão, até que a justiça prevaleça. Estamos sempre às ordens Ulisses, mesmo porque em meu entendimento a defesa do direito suplanta o honorário, então a sentença favorável nos dará a certeza do dever cumprido. Abraços Ulisses (apenas cuidado com o canto das sereias)