terça-feira, 12 de maio de 2009

NÃO DÁ MAIS PARA ESPERAR

Marina Silva

Para quem imagina a Amazônia apenas como expressão de uma grandiosa floresta, o conhecimento de que ela é também a casa de mais de 25 milhões de brasileiros veio de maneira dolorosa, por meio das imagens das enchentes dos últimos dias. Da mesma forma, parece quase incompreensível que o Nordeste, costumeiramente associado à seca, esteja assolado pelo excesso de chuvas.

Até o último fim de semana, segundo a Secretaria Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional, os estragos provocados pelos alagamentos já haviam deixado um saldo de 38 mortos, quase 800 mil pessoas afetadas e danos em 287 municípios localizados nos estados do Ceará, Maranhão, Piauí, Paraíba, Rio Grande do Norte, Bahia, Alagoas, Amazonas e Pará. Os prejuízos ultrapassam 1 bilhão de reais só no Nordeste.

Em novembro do ano passado, o país assistia estarrecido as enchentes e deslizamentos em Santa Catarina. Em menos de um ano, portanto, temos perdas irrecuperáveis em vidas, histórias de vida e bens materiais, além de desequilíbrios econômicos regionais de monta.

A discussão de fundo nesse período tem sido a pertinência de se atribuir esses fenômenos a mudanças climáticas provocadas pela excessiva emissão de gases do efeito estufa em todo o mundo, detectadas pelos especialistas do IPCC-Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU. Para o climatologista Carlos Nobre, do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) e membro do IPCC, eventos extremos, como chuvas abundantes que quebram recordes históricos na Amazônia e no Nordeste e seca persistente em partes do Sul e no Uruguai e Argentina, fazem parte de um quadro de aquecimento do planeta. Embora fenômenos semelhantes tenham ocorrido no passado, agora estão muito mais intensos e frequentes.

Nas regiões isoladas e carentes da Amazônia e do Nordeste tais ocorrências pioram a já insustentável condição social da população, aprofundam a miséria, solapam os pequenos patrimônios construídos a muito custo, danificam a precária infraestrutura local e afetam sobretudo a produção agrícola de subsistência. Nas cidades, bairros inteiros desaparecem, deixando milhares de pessoas ao desamparo, em abrigos precários, tendo que lidar com o drama da perda ou afastamento de suas casas, ao mesmo tempo em são forçadas a suportar condições muito adversas de alimentação, higiene e riscos de doenças.

A imprensa tem reportado a dificuldade das autoridades para lidar com isso, o que mostra o quanto estamos despreparados para essa nova e preocupante realidade. É urgente o envio de toda ajuda aos atingidos pelas enchentes e pela seca, mas é vital nos prepararmos porque elas acontecerão cada vez com maior intensidade e frequência.

Não podemos continuar olhando esses fenômenos climáticos como fatos isolados ou "acidentes". A comunidade científica alerta que já vivemos sob efeitos das mudanças do clima e isso demanda completa revisão na forma de elaborar e implementar políticas públicas. É imperativo que passem a incorporar o componente da segurança ambiental em seu planejamento, de modo a criar uma nova competência nas estruturas públicas e novos comportamentos preventivos na sociedade. Ao mesmo tempo, é impensável recuar um só passo na aplicação da legislação ambiental. Tentar afrouxar cuidados ambientais é o mesmo que manter permanentemente acesa a chama do caldeirão do caos.

A Convenção do Clima recomenda três eixos de atuação. O primeiro, da mitigação, diz respeito ao que se pode fazer para atenuar o processo. Embora ainda difuso e insuficiente, é possível verificar um esforço nesse sentido, em termos globais. O segundo é o da adaptação às novas realidades, e o terceiro é o do enfrentamento das vulnerabilidades. Esses dois últimos têm um deficit enorme de implementação, com custos altíssimos para a sociedade em geral e insuportáveis para as pessoas diretamente atingidas.

O Brasil tem que começar a conviver com uma agenda sistemática de adaptação, ou seja, montar uma estrutura à altura das necessidades da população, atuando preventivamente para reduzir perdas humanas e prejuízos individuais e coletivos. É urgente pensar em mecanismos adicionais à atuação dos bombeiros e da defesa civil, e em treinamento para a população, de modo a que possa minimamente tomar iniciativas em sua auto-defesa.

Não podemos mais tratar essas situações como parte do processo natural e conhecido de convivência com a natureza. A verdade é que passamos dos limites e, agora, espera-se que tenhamos pelo menos instinto de sobrevivência para reconhecer que é preciso mudar para enfrentar as dificuldades. Por mais difícil que seja essa adaptação, ainda faz mais sentido do que nada fazer e apenas contabilizar seguidas desgraças.


Marina Silva é professora secundária de História, senadora pelo PT do Acre, ex-ministra do Meio Ambiente e colunista da Terra Magazine.

10 comentários:

Vingador disse...

Bem,
Amo a Senadora e sua causa, só que acredito que o problema das enchentes na amazônia se dá mais devido a ocupação desordenada das varzeas dos rios do por mudança climatica, se formos pesquisar melhor veremos que já houve enchentes maiores e que causaram menores problemas justamente pelo fator ocupação do solo.

Cruzeirense disse...

Aleluia! Alguem comentou em um post da Marina. Dá um Ipod pra ele Altino.

Ele merece, afinal esses posts da Marina são tão úteis... assim como uma bicicleta para um peixe.

Unknown disse...

Olá Altino, adorei ler um pouco do seu blog e aproveito para te convidar a participar de um projeto de um livro sobre o Brasil, escrito e produzido por brasileiros. Leia mais no site do projeto http://projetolivrobrasil.wordpress.com/ e participe! Abracos e parabéns pelo blog! Maira Engelmann

Marcelo disse...

Amazônia apenas como expressão?
gases do efeito estufa?
quadro de aquecimento do planeta?
A imprensa tem reportado a dificuldade das autoridades para lidar com isso?
nova e preocupante realidade?
envio de toda ajuda aos atingidos pelas enchentes e pela seca!
elaborar e implementar políticas públicas?
Não podemos mais tratar essas situações como parte do processo natural e conhecido de convivência com a natureza?

Anônimo disse...

Altino, Marina. Marina, Altino:

Altino, sou morador no visinho muncípio de Rio Branco o Quinari. (Quinari, é assim que gostamos de ser chamdo). Sempre tennho lido seu trabalho, e o admiro como Jornalista.

Marina: Sou eleitor seu desde a sua primeira cantidatura e todos os canditados a governo e deputas do PT deste estado. Portanto sou Petista.

Vejo que se faz necessário a preocupação com a preservação da Amazônia, mas vejo também que muitos que não tem conhecimentos dos povos que habita este nossa região falam sem conhecimentos de causa, e, eles também não sabem a situação que vive os pequenos colonos, os assentados e micros pecuaristas que produz somente para o seu sustento e não têem uma vida dígna como muitos pseudos "ecologistas". Sempre que se fala em preservação, vejo sempre um "gargalo entalado na guéla". Preservar sim: mas os que são obrigados a preservar precisam de serem reconhecidos.

Em face deste tema, escrevi num blog que tenho, uma crônica com minha visão sobre os que falam muito em preservação, inclusive atores "Global" que quando esteve neste estado saiu daque resmungado com a quantidade de insetos, e muito denegrindo a imagem do estado do Acre.

Se puderem perder um pouquinho de seus preciosos tempos gostaria que lesse a minha crônica que publiquei no meu blog dias atras.

UM GOSTO SEM GOSTO – VIVA A NATUREZA, VIVA A VIDA.

Recentemente foi mostrada na mídia uma exposição cujo tema era ecologia, eco-sistema , meio ambiente e os cambaus.

Foi bonito ver os organizadores do tal evento mostrar coisas com o objetivo de conscientizar ao homem o grande risco que corremos se não houver um melhor aproveitamento de nossas riquezas, hoje, no que diz preservação do meio ambiente.

Lá tinha estátua de gelo se derretendo, sugerindo o derretimento das geleiras com o aquecimento global, buraco de ozônio e tal, e outros exemplos que foi assistido por muita gente.

Tinha vídeo mostrando uma casa pegando fogo e uma pessoa dormindo e não vendo nada, que na minha ótica queria dizer que tudo estava queimando em sua volta, e não se vê.

Vejo que tanta preocupação não será em vão, é possível que os objetivos serão alcançados com tanta ladainha - no melhor sentido da palavra – sendo exposta.
Chico Mendes morreu porque era presidente de um sindicato dos trabalhadores rural do interior do estado do Acre. Ficou famoso pela sua morte em face de defender interesses do seu sindicato, portanto era contra o desmatamento promovido pelos grandes fazendeiros ou os chamados “paulistas”. Porem, Chico morava na Amazônia, e fazia seus movimentos com conhecimento de sua causa, e das causas em si. Chico Mendes vivo teria alcançado seus objetivos? Sabe-se lá!

Fico a imaginar, se os grandes artistas plásticos, expositores de grandes obras que o tema sugere, ficar um final de semana sem ir ao clube, para protestar contra o desperdício de água para manter uma grande piscina, ou os seus produtos para preserva-la. Fico pensando se os tais deixarem de frequentar um grande Shoping Center, degustar um espumoso Chope nas belas praças de alimentação vendo suas crias se divertindo nos belo Play’s Glound’s, em solidariedade as crianças que vivem mata-a-dentro da Amazônia numa terra que não se pode produzir, para preserva-la. Não havendo produção, não há desenvolvimento!

Por Favor, não sou contra a preservação!!!!!!!!

Vou fazer minha exposição! Na minha exposição, vou pegar uma foto de uma “Patricinha” filha de um grande ecologista com o seu celular de última geração, ouvindo música baixada pela internet ou transferida pelo Bluetooth, ou em posse de um MP4. Vou colocar do ladinho, uma foto de uma menina da mesma idade aqui da Amazônia com um grande sorriso sem os dentes frontais. Vou colocar do lato da foto de uma menina calçando Nike e do outro lado a foto de uma aqui da Amazônia com seus 14 anos já com um “buchinho” de sete meses de gravidez, pois por falta de alternativa, perspectiva de vida, e, não haver melhor consciência dos pais, preferem sair de casa ainda menina moça e ir morar fora com um rapaz.

Do lado de uma foto de uma madame ecologistas com uma sacola da DaS-Lú, vou colocar uma foto de uma mulher ribeirinha que esta aqui colaborando com a preservação, segurando uma criança na mão, uma no colo e outra na barriga.

Cabe também em minha exposição, do lado de uma de uma grã-fina com o seu cachorrinho Chúauá saindo de um Pet Shop todo vestidinho com pelos penteados e unhas aparadas, uma foto das crianças da área rural, andando pelas estradas de barros com chuva ou sol para pegar o transporte que os conduzirá a escola na cidade.

Vou colocar do lado de uma foto de uma grande mansão, uma foto das casas modelo palafitas provocado pelo êxodo rural, pois mesmo sendo proprietários de pequenos lotes de terra, os colonos não conseguem lá viverem dignamente, vão provocar inchaço nos bairros periféricos das cidades.
E diga-se de passagem: um proprietário de terra com 20 hectares nos grandes centros onde já se destruiu o que tinha do meio ambiente, vivem com pose de rico. Diferente de um mesmo aqui da Amazônia com a mesma quantidade de terra , que vendem sua pequena produção do dia, para poder comer amanhã.

É muito bom discutir ecologia ou preservação, quando se esta numa situação bem confortável. Discutir e arrumar solução para preservação se faz necessário e é salutar, porem mostre-me o que tem para oferecer para as pessoas que na Amazônia vivem poder preservar e viverem dignamente.

É possível que os colonos, não queiram nem tomar um Chopinho numa praça de alimentação de um Shoping, talvez ele nem fazem questão de ver suas crianças num sobe e desce nos Play Glound, suas meninas pode até nem sentir falte de um I-Phone, as suas mulheres não vão fazer questão de usar roupa da DaS-Lú.

É possível que os senhores colonos queiram dar boa alimentação, bom tratamento médicos e odontológicos para seus filhos, levar suas mulheres em bons hospitais para fazer prevenção de doenças, e eles talvez queiram botar um belo chapéu e uma bota de couro.

Esporeei uma grande foto tirada lá de cima, de um satélite, dos estado de São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso, das grandes fazendas agrícolas, das fazendas agropecuárias e escreverei: Aqui um dia foi mato! O que estes estados pagarão pela destruição que fizeram, e o que eles poderá pagar para que a Amazônia preserve?

Tem-se que pagar, e o pagamento têm-se que chegar no seu principal beneficiário!

Li em algum lugar que o sindicado dos trabalhadores de Xapuri, cujo sindicato o Chico Mendes foi assassinado, que seus dirigentes havia comprado briga com os institutos que controla ou fiscalizam os desmatamentos, que não era possível um pequeno produtor ou colonos, sobreviver somente do extrativismo. Que se fazia necessário um pequeno aumento da pecuária para dar melhores condições de vida, aos quem lá vivem.

O mundo esta com os olhos voltados para a Amazônia. Que a Amazônia preserve......mas preservar a custo zero?!

Cruzeirense disse...

SIMEI DE ALMEIDA...

Assino embaixo. Não podemos continuar no erro da preservação matando os que vivem nela.

O Brasil viveu três grandes falhas, que ficaram comprovadas.

1ª. Ciclo do café
2ª. Primeiro Ciclo da Borracha
3ª. Segundo Ciclo da Borracha.

A amazônia é um cemitério a céu aberto. Vocês acham o Holocausto um crime, uma massacre? Aqui na amazônia morreram 3 vezes mais pessoas.

Essa história de ecologia e florestania vai matar milhares de amazônicos. Ninguem vê isso. Só vê o bolso.

Anônimo disse...

Cruzeirense:

Preservar é necessário, como já disse em meu escreviamento, não acho justo preservar sem arrumar uma solução de vida dígna para quem vive mata-a-dentro da floresta. Os grandes centros acabaram com o que tinham, aumentam sensivelmente o gás carbônico e tantos outros poluentes e o mundo vem exigir que que a Amazônia preserve sem oferecer alternativa a que nela vive.

Abs.

Vingador disse...

Eita!
Acho que a Simei mistura crocodilo com cocô de grilo, fala muito e nada, muito confusa.

jletto disse...

Vejo que a senadora Marina Silva, é a única do PT que aínda continua com os mesmos pensamentos que o poder não mudou sua ideologia pois continua preocupada com o meio ambiente e sua preservação como um todo, Já não podemos falar do restante daqueles que no passado antes de chegarem ao poder pregavam uma coisa, agora eles até tem o mesmo discurso mas na prática é outra veja o caso do próprio Presidente da República, defende os interesses das grandes empresas contrariando os que eles pregavam no passado. Parabéns a Senadora Marina, que é a única que defende de verdade os ideais que o Chico Mendes, tinha e defendia pois o restante só querem se aproveitar da situação em benefício próprio.

Anônimo disse...

Para Vingador:

Prezado Vingador, primeiramente não é a Simei e sim o Simei.

Acho que você não tem conhecimento de entender texto ou para sua conveniência não quis entender.

Mesmo com sua crítica a minha crônica, fico feliz em faze-la, pois sempre nela exponho o que penso, diferente de quem faz crítica usando pseudônimo. "Os atos de criticar ou se expressar no anonimato, são atos de covardia, mede de expor o que pensa"

Saudações