quarta-feira, 25 de março de 2009

ELIANE BRUM


Alegria por ter recebido Eliane Brum, a respeitada repórter especial da revista Época. Veio até minha casa às 6 horas da matina. Pediu para ser minha sombra o dia inteiro e fazer um perfil do que chamou "blogueiro mais influente do Acre". Sugeri que chegasse àquela hora para que percebesse a vida acreana transtornada após a mudança do fuso horário.

Além da boa prosa, abrimos os trabalhos com mingau de banana, tapioca, café, castanha in natura, suco de cupuaçu, bacuri, além de outras frutas menos cotadas. Após o café, foi atendida ao pedir para experimentar um porronca. Mais adiante, a conversa foi interrompida algumas vezes para que pudéssemos acompanhar a evolução do tambaqui e bananas assados lentamente na brasa. A conversa avançou pela tarde.

Eliane Brum é gaúcha e uma das mais premiadas jornalistas brasileiras. Ganhou quase 40 prêmios de reportagem, como Esso, Vladimir Herzog, Ayrton Senna e Sociedade Interamericana de Imprensa.

Quando ela estava em São Paulo e perguntou se eu topava a entrevista, aceitei sob a condição de que trouxesse um exemplar autografado de O Olho da Rua (Editora Globo), o terceiro livro dela, que reúne de forma ampliada 10 reportagens que foram publicadas de modo resumido na revista.

Eu nem lembrava mais da "exigência" que fizera para ser entrevistado. Por volta das 17 horas, quando começamos a nos despedir, Eliane Brum tirou da mochila um exemplar do livro, cruzou as pernas na cadeira mais próxima e demorou ao menos cinco minutos a escrever uma caprichosa dedicatória.

Munida de caneta, folhas de papel ofício e excessiva simplicidade, ela havia mergulhado na minha rede e flutuado no céu de minha varanda.

Eliane Brum tem o dom ouvir. É por isso que suas reportagens são reconhecidas como literatura da vida real.

17 comentários:

Iberê Thenório disse...

Essa escreve bem, hein, Altino? Fiquei ansioso para ler o perfil.

(Mas que maldade fazê-la acordar tão cedo pra ver o dia negro às seis da matina aí no Acre!)

ALTINO MACHADO disse...

Grande Iberê! Na verdade ainda tentei demovê-la da mira de minha maldade, mas ela não aceitou. Além de saber ouvir, ela é tão atenta e atenciosa quanto a "minha" jibóia que habita no telhado da casa. Elas se entenderam olhando uma para a outra. Mande uma mensagem pro meu e-mail. Forte abraço, cara.

Leila Ferreira disse...

Com certeza a entrevista foi ótima. Vai ser um perfil caprichado, uma das jornalistas mais premiada do Brasil e o blogueiro mais conceituado do Acre, não poderia começa melhor “tirando as seis da matina”, mingau de banana, tapioca, café, castanha in natura, suco de cupuaçu, ai e que a conversa fica interessante. Ansiosa para ler este perfil.

Leila Ferreira

Editor disse...

Caro Altino, sou um blogueiro do interior do Acre, precisamente a nossa querida Quinari, participei da oficina ministrada pela Eliane Brum, apesar de ainda não ser formado em jornalismo sou leitor constante de suas matérias.

Só tenho um pedido a fazer, no seu blog não tem nenhum do Quinari, se possivel me linkar ficarei grato.

o endereço é: www.gilbertoquinari.blogspot.com

você pode colocar o nome Quinari ok?

forte abraço!

Anônimo disse...

Parabéns, sobretudo por colher os frutos da sua competência, Altino.

Francisco Chico disse...

Considero a Sra. Brum uma boa jornalista, já li diversas reportagens da referida jornalista. Assustei-me com a matéria, por ela feita, intitulada "Porto Velho: a cidade que não estava lá". Pareceu-me outra Eliane. O que vi, entre verdades, foi um texto carregado de adjetivos e adverbios - acho que nem preciso refletir sobre essas classes de palvras - qualquer estudante de jornalismo sabe o efeito que elas podem causar num texto jornalístico que busca pela precisão e verdade. Ao ler o seu texto, publicado em Época, lembrei-me das sempre atuais palavras de M. Foucault - a vontade de verdade. O texto da Sra. Brum nesta matéria, especificamente, é tendencioso e subjetivo - basta uma análise mais crítica e presa ao texto. Não entendi a real intenção. Devo mencionar que, apesar de morar em Porto Velho, sou cearense, moro aqui há 4 anos, e não estou defendendo idéias bairristas, apenas refletindo sobre o fazer joranalístico, sobre o texto e o discurso no jornal - algo de fundamental importância - não sei minhas idéias aqui espressas serão postadas, mesmo que não sejam, deixo um abraço fraterno a todos e o desejo de um fazer jornalístico coerente!
Francisco E. Sousa, Porto Velho-RO.

Yorranna Oliveira disse...

Francisco,

Discordo totalmente de você quando colocas que o texto sobre Porto Velho foi “tendencioso e subjetivo” e repleto de “advérbios e adjetivos”. Eliane Brum é uma repórter premiadíssima e faz um tipo de jornalismo pouco prático no Brasil, o jornalismo literário, que não se prende às amarras burocráticas das redações e muito menos faz das regras dos manuais de jornalismo camisa de força na construção de um texto. Ela domina todas essas regras e, justamente por dominá-las, Eliane sabe a hora certa de quebrá-las.

O Jornalismo Literário humaniza o exercício da prática da reportagem, através de textos que fogem à estética convencional concebida nas redações dos jornais. Brum escreve uma “arte de informar para transformar” como diria Ricardo Kotscho sobre o ato da reportagem.
Eliane Brum vai ao extremo disso, como mostra nas linhas abaixo, extraídas de seu terceiro livro “O Olho da Rua”.

“Nós escolhemos o ofício de contar a história contemporânea do país. Aceitamos essa responsabilidade. O que fazemos transforma-se em documento. Então, não temos opção: precisamos contar direito.” (Brum, 275).

Jornalistas Literários praticam isso todos os dias.


Yorranna Oliveira

Francisco Chico disse...

Yorranna... não disse, mas...
É preciso ler, também, pelas entrelinhas!
Não quero levantar bandeira sobre o fazer literário: sua prática ou construção jornalística. Não analisei o estilo literarário da reconhecida Eliane Brum, todas matérias ou publicações - Direcionei o enfoque, especificamente, a matéria intitulada "a cidade que não estava lá".
"O Jornalismo Literário humaniza", eu também creio nisso. E é por crer em tal coisa que me surpreendi com a matéria da referida jornalista. Apenas para ilustrar, uma pequena passagem: "A atmosfera é pesada e triste. Não parece um lugar para pessoas" (palavras de Brum sobre a cidade de Porto Velho publicada na matéria).
Não compreendo de que modo esta fala insere-se no contexto de "humanização". Ao contrário, assusta-me! É deveras subjetivo. O olhar que direcionamos a algo (ou alguém) é, sim, pessoal e subjetivo. Qualquer outra pessoa poderá sentir a atmosfera da cidade de outro modo - um olhar mais alegre, menos pessimista, menos sombrio, menos generalizante. Não estou julgando o trabalho ou competência da Sra. Brum, entretanto, não é pelo fato de tratar-se de uma "repórter premiadíssima" que não devemos tecer comentários sobre o que é revelado na tecitura textual. Revelada por ela mesma, pelos adjetivos, pelos advérbios, pelas entrelinhas, pelo que se quis dizer, pelo que se deixou de dizer e pela vontade de verdade.
Francisco E. Sousa

Francisco Chico disse...

Yorranna não disse, mas...
É preciso ler, também, pelas entrelinhas!
Não quero levantar bandeira sobre o fazer literário: sua prática ou construção jornalística. Não analisei o estilo literarário da reconhecida Eliane Brum, todas matérias ou publicações - Direcionei o enfoque, especificamente, a matéria intitulada "a cidade que não estava lá".
"O Jornalismo Literário humaniza", eu também creio nisso. E é por crer em tal coisa que me surpreendi com a matéria da referida jornalista. Apenas para ilustrar, uma pequena passagem: "A atmosfera é pesada e triste. Não parece um lugar para pessoas" (palavras de Brum sobre a cidade de Porto Velho publicada na matéria).
Não compreendo de que modo esta fala insere-se no contexto de "humanização". Ao contrário, assusta-me! É deveras subjetivo. O olhar que direcionamos a algo (ou alguém) é, sim, pessoal e subjetivo. Qualquer outra pessoa poderá sentir a atmosfera da cidade de outro modo - um olhar mais alegre, menos pessimista, menos sombrio, menos generalizante. Não estou julgando o trabalho ou competência da Sra. Brum, entretanto, não é pelo fato de tratar-se de uma "repórter premiadíssima" que não devemos tecer comentários sobre o que é revelado na tecitura textual. Revelada por ela mesma, pelos adjetivos, pelos advérbios, pelas entrelinhas, pelo que se quis dizer, pelo que se deixou de dizer e pela vontade de verdade.
Francisco E. Sousa

Adriano Dal Molin disse...

Olá Altino, Francisco, Yorrana e demais leitores.

Não costumo entrar em debates na "blogosfera", mas não posso me furtar de confessar, estarrecido, que a Sra. Eliana Brum acertou na veia (no seria na ferida) ao descrever Porto Velho. Analisei mais uma vez o texto e constatei que de todos os adjetivos e advérbios utilizados, em tese, apenas “pesada” e “triste” podem ser eminentemente considerados subjetivamente. Em tese.

Muito me impressionou justamente o período destacado: "A atmosfera é pesada e triste. Não parece um lugar para pessoas. Ou pelo menos para exercer a cidadania". É perfeito. Merece um novo prêmio jornalístico. Mesmo eu, há vinte e cinco anos nesta cidade - e não pretendo mudar-me - não me conformo com o descaso com que nossos governantes maltratam a população que aqui vive. Sim, quem trata uma capital como tratam Porto Velho na verdade maltrata seu povo, que pode até ser alegre, mas com certeza não é a cidade que lhe inspira alegria.

A “vontade de verdade” é evidente. Como esquecer Aristóteles: “a verdade é a realidade”?

Quando ando por qualquer uma das nossas grandes avenidas sempre reclamei e sempre reclamo da descontinuidade do calçamento e do lixo em abundância. Por entender estes dois problemas como culturais (na região não se cuida de jardim, pois é tudo “cimentado”... o lixo é simplesmente jogado na rua, quando não queimado... ninguém faz questão de ter uma calçada bem feita, deve ser obrigação do município) entendo que os governantes deveriam em investir em educação, especialmente no tema cidadania. Mas como nossos políticos vão ensinar deveres?

Neste quarto de século que por aqui vivi, sempre houve deficiência na oferta dos serviços públicos, especialmente os essenciais: educação, saúde, segurança... Mais recentemente, a infra-estrutura de trânsito. Nada disso faz Porto Velho sequer parecer com um lugar para pessoas, muito menos para exercer a cidadania. Talvez nossa maior carência seja de líderes. Pessoas compromissadas com o desenvolvimento e com a qualidade de vida. Utopia, talvez...

Quando por aqui cheguei, ainda criança, senti o choque de realidade: a verdade era outra... Pavimentação? Não, poeira mesmo. Tratamento de esgoto? Nem coleta. Professor? Depende do dia. Médico? Só com fé. Na época não compreendia. E quando, inocente, indagava o beiradeiro, era apedrejado. Também, como ousava comparar Porto Velho com “outra realidade”? Eu mentia. Quanta ingenuidade.

Mas, como disse, ainda moro aqui, e não quero mudar... de cidade. Porque a cidade... ah, como eu quero mudá-la! E ainda verei uma cidade muito melhor para as novas gerações, e até para os forasteiros. Por quê não?

Yorranna Oliveira disse...

Pois é, Adriano...o problema é que as pessoas têm uma reação alérgica às verdades, por mais reais que sejam. Como dizia Nietszche, tudo depende do quanto de verdade somos capazes de suportar...daí é só esperar as reações, nem sempre positivas.Mas, o lado bom de tudo isso é possibilidade de discussão, debate entre as diferentes visões de mundo. Isso não tem preço!

Yorranna Oliveira disse...

Pois é, Adriano...o problema é que as pessoas têm uma reação alérgica às verdades, por mais reais que sejam. Como dizia Nietszche, tudo depende do quanto de verdade somos capazes de suportar...daí é só esperar as reações, nem sempre positivas.Mas, o lado bom de tudo isso é possibilidade de discussão, debate entre as diferentes visões de mundo. Isso não tem preço!

Yorranna Oliveira

Letrinhas juntas disse...

Então se a questão e a cidade de onde se vem, posso falar com propriedade sobre o que Eliane relata sobre Porto Velho. Venho de belo horizonte, minas gerais e nao tenho previsões para deixar PVH. Concordo com o cenário apresentado pela jornalista, e fato a especulação imobiliária querer arrancar o couro do recem chegados. A cidade nao chega perto de ser limpa, tem sujeiras e buracos por onde se olha, vermelho terra e a cor predominante, como encardido. Contudo, as criticas vieram com a intenção de melhorar uma capital de nosso pais. O que os moradores ou estrangeiros deviam fazer era vestir a camisa da cidade e lutar para sua melhora e abandonar o veu de coitadinhos, injustiçados ou de dondocas encarceradas em ambiente hostil. Isso aqui e Brasil e tem de se parecer com tal e sendo nascido Brasileiro tem o direito de estar em PVH. No lugar de reclamar os porto velhences deviam lutar para que as autoridades nao deixem que o melhor ponto da cidade seja o aeroporto. Exercer seu poder através do voto certo, voto em pessoas que amem a cidade e desejem faze-la parecer com uma capital!

Francisco Chico disse...

A princípio, acreditei que este espaço fosse servir para debater idéias sem emoções exageradas. É o diferente que nos enriquece e nos possibilita refletir sobre o que constituimos como verdade. O diferente, também, pode ser dito com consistência e conhecimento de causa. Porém, vejo que o discurso, por aqui, apresenta-se de forma incisiva, pronta e acabada - interlocutor de dedo em riste e bandeira em punho: "Eliane Brum é premiadissima", "Eliane merece prêmio", "cidade de porto velho é tudo isso"... E tudo isso é certo! Eliane é tudo isso! O Brasil é tudo isso! O Brasil é Rondônia, Acre e São Paulo! Não quero fazer análise sociológica - certamente, há pessoas com mérito maior para fazê-lo. Pretendia, apenas, rediscutir a escritura da Sra. Brum e sua performance discursiva em alguns textos. Afinal, a linguagem é uma poderosa ferramenta de interação social, e as pessoas que usam essas ferramentas geralmente não perdem tempo estudando as mesmas. Tendemos a usar a nossa habilidade lingüística sem analisá-las objetivamente. Bom, isto não minimiza a importância de tudo que foi dito aqui pelos nobres colegas. O equívoco talvez tenha sido meu. É possível que eu não tenha compreencido a proposta primeira. Ao amigo (ou amiga) LETRINHAS JUNTAS, sugiro a Moderna Gramática de Evanildo Bechara - contribuirá para que suas críticas aos porto VELHENSES sejam, de fato, vistas com algum crédito.
Francisco E. Sousa

Francisco Chico disse...

Inicialmente, vi no blog um interessante espaço para debater idéias destituídas de emoções exageradas. É o diferente que nos possibilita crescer e refletir sobre aquilo que constituimos como verdade. É possíver contrariar, dizer o inverso do que foi dito, porém, com conhecimento de causa. Vejo, aqui, discursos incisivos, prontos e acabados - interlocutor de dedo em riste e bandeira em punho: "Eliane Brum é premiadíssima", "Eliane merece um prêmio", "Porto Velho é tudo isso...". E tudo isso é verdade. Eliane Brum é grandiosa. Porto Velho é isto. O Brasil é isto. O Brasil é Rondônia, Acre e São Paulo. Não quero fazer análise sociológica. Sei que há pessoas com mérito maior para fazê-lo. Minha pretensão, humildememte, era apenas direcionar um olhar mais atento à escritura da Sra. Brum e, a partir disso, "escutar" novas opiniões. Afinal, A linguagem é valiosa ferramenta de interação social, e as pessoas que usam tais ferramentas, geralmente, não perdem tempo estudando as mesmas. Tendemos a usar a nossa habilidade linguística sem tentar analisá-la objetivamente. Talvez o equívoco tenha sido meu. É possível que eu não tenha compreendido a proposta primeira deste espaço. Bom, isto não tira a importância do que foi dito pelos nobres colegas. Ao amigo (ou amiga) LETRINHAS JUNTAS, sugiro a Moderna Gramática do grande Evanildo Bechara - contribuirá para que suas críticas aos porto VELHENSES, sejam, de fato, observadas com algum crédito.
Francisco E. Sousa

Sebastian Valle disse...

Peço permissão para publicar sua foto de Eliane Brum em meu blog.
Obrigado!

ALTINO MACHADO disse...

Bom proveito, Sebastian.