domingo, 29 de março de 2009

CASO ENCERRADO

De J.R. Guzzo, da revista Veja:

"Um bom momento para examinar com mais calma como funciona a cabeça dos políticos brasileiros é logo depois que eles dão por "encerrado" qualquer dos casos em que vivem se metendo. Como se sabe, é assim que resolvem praticamente tudo, quando a coisa fica feia: dizem que o assunto não existe mais, e pronto. O senador Tião Viana, do PT, fornece um exemplo admirável, no noticiário mais recente, das vantagens oferecidas por esse estilo de vida. Sabia-se que o senador, no começo do ano, disputara e perdera a presidência do Senado Federal para José Sarney e, mais ainda, para seu homem forte, Renan Calheiros; na ocasião, foi dito que ele estava do lado do bem. Sabe-se, agora, que fez uso de um bem público em proveito particular, e, quando foi descoberto, prometeu ressarcir o Erário da União. Feito isso, deu o episódio por "encerrado".

A vida seria uma maravilha se o cidadão comum pudesse se comportar da mesma maneira no seu dia a dia – se pudesse, por exemplo, ignorar o prazo de 30 de abril para entregar à Receita Federal sua declaração de renda. Na hora em que a Receita viesse para cima dele, e é certo que virá, prometeria entregar o documento mais tarde e daria o caso por "encerrado". Não se recomenda a ninguém fazer esse tipo de coisa; se fizer vai acabar arrumando, com cem por cento de certeza, uma tremenda dor de cabeça. É só para quem está na vida pública que existe a opção de passar por cima das regras e exigir, em seguida, que não se toque mais na história. É por isso, justamente, que vale a pena tocar em histórias como a do senador Tião Viana, pois é nessa hora, quando ele diz que o problema acabou, que o problema de fato começa. No seu mundo mental, a partir daí, está tudo bem – e se está tudo bem é claro que todos, ele e seus colegas, ficam à vontade para continuar na mesma batida.

Os fatos, no caso, são simples. Em um certo momento, algum tempo atrás, o senador Tião pegou um celular de propriedade do Senado Federal, cujas faturas mensais são pagas pelo público, e entregou à filha, para que ela o utilizasse durante uma viagem pessoal ao México. Abriu campo, com isso, para uma série de perguntas de ordem prática. Por que, em primeiro lugar, ele entregou à filha um objeto que não lhe pertence? Por distração não pode ter sido. O senador, pelo que se imagina, sabe o que é seu e o que não é; não sai por aí pegando os celulares dos outros para falar de graça e não gostaria nem um pouco se alguém fizesse a mesma coisa com ele. Mas um celular do Senado, no seu modo de ver as coisas, não é realmente do Senado – é dele, para usar como bem entender, no Brasil ou no México. Nesse ponto o senador Tião não faz nada que a maioria dos seus colegas não faça; estão convencidos de que os bens exigidos por eles para exercer as suas funções – automóveis, residências, passagens aéreas e tudo o mais que conseguem arrancar do Erário – servem para atender a sua conveniência pessoal. Se alguém lhes lembrar que esses bens pertencem ao patrimônio público – ou "ao povo brasileiro", como gosta de dizer o partido do senador Tião –, vai ser tratado como um débil mental. Em qualquer caso, acham que o assunto é "pequeno", o que nos leva à pergunta seguinte: se uma conta de celular com ligações do México, por exemplo, é algo "pequeno", por que o responsável por ela não a pagou do próprio bolso, logo de cara? Já que o público está condenado a pagar as despesas maiores, poderia pelo menos ser poupado das despesas menores. O senador Tião, naturalmente, não é um morto de fome; poderia muito bem ter pago as conversas da filha. Mas não quis. Só concordou, pelo que ficou demonstrado, quando o caso apareceu no noticiário.

Surgem, aí, mais perguntas. Quanto o contribuinte teria de pagar se essa história continuasse escondida? O senador Tião não diz; acha que ninguém tem nada a ver com isso, a partir do momento em que prometeu cobrir a despesa. Como não fala, permite que apareçam todas as adivinhações sobre o montante. O que se sabe é que o senador, segundo ele próprio informou, levantou um empréstimo, a ser quitado em 72 prestações, para pagar o que ficou devendo pela viagem mexicana do celular. Quem levanta um empréstimo de seis anos para pagar uma conta de telefone? Não se entende.

O comentário mais comum, diante desse tipo de questão, é que não adianta discutir as partes quando o problema está no conjunto. Mas o diabo não se interessa pelo conjunto; ele gosta, mesmo, é de lidar com as partes. Sabe, por longa experiência, que se cuidar bem delas o conjunto sempre acaba vindo, mais cedo ou mais tarde."

3 comentários:

Vingador disse...

Bem,
É uma pena a oposição aqui do Acre não ter uma agenda política definida.
Lembro que quando o Flaviano apareceu embriagado dirigindo um carro foi um escândalo, o Narciso dormindo no plénario outro Deus nos acuda e agora vemos alguns problemas virem a público e a oposição não consegue se articular para pelo menos causar um arranhão nos Petista.
Além desse problema segundo a Fundação Getúlio Vargas temos ospiores índices em educação do País.
Sobre a questão da educação para se constatar isso basta ler os comentários que são publicados nos jornais locais.
E enquanto isso a oposição briga entre si...Uma pena.

Péricles disse...

Essa história do caso encerrado parece aquela na qual o pitboy estupra a vizinha pobre, o pai dela se revolta e vai à delegacia. Quando o delegado sabe da história e vê que o pitboy é filho de poderosos liga pro pai dele. O pai do pitboy chega à delegacia todo arrogante e pergunta: "Quantas vezes o meu filhão fez mal à sua filha?" O pai pobre diz: "Por que o sr. está me perguntando isso?" "Porque eu pago R$ 50,00 por vez e O ASSUNTO ESTÁ ENCERRADO..."

Sem brincadeira, o caso do Tião era pra Comissão de Ética, processo de cassação etc. Só que o ambiente ético e moral do Senado está muito apodrecido (ali ninguém presta) e eles sabem que o Tião é de jogar merda no ventilador. Assim... ASSUNTO ENCERRADO.

Espero que a população não se esqueça disto com tanta facilidade. Este moço quer governar o Acre em 2011.

landwhite disse...

A OPOSIÇÃO DO ACRE DEVERIA DAR MAIS ATENÇÃO AOS AGENTES ÉNITENCIÁRIOS QUE REPRESENTAM UMA CATEGORIA DE 1.080 SERVIDORES CIVIS E MAIS DE 15.000 VOTOS... SE ABRAÇASSEM A CAUSA DELES QUE É JUSTA E DÍGNA CERTAMENTE HAVERIA DE TER RESPEITO PARA SE FALAR EM OPOSIÇÃO.