quarta-feira, 25 de março de 2009

ACREANOS REAGEM AO "ACRIANO"


O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em vigor desde o dia 1º de janeiro, fez surgir no Acre um movimento de políticos e intelectuais em defesa do gentílico acreano para continuar designando quem nasce no Estado. A reação ao "acriano" como a única grafia correta para quem é natural do Acre, como sugere o Acordo Ortográfico, mexeu com o brio daqueles que gostam de se orgulhar como os únicos que são brasileiros por opção.

Na verdade a nova questão do Acre ganhou contornos de movimento quando a deputada federal Perpétua Almeida (PC do B) percebeu a reação espontânea da população, vários artigos em jornais e blogs, e decidiu convocar intelectuais do Estado para enfrentarem o caráter restritivo do Acordo Ortográfico em relação Estado e sua história.

- Descobrimos que as contestações devem ser dirigidas para a Academia Brasileira de Letras, mas devidamente fundamentadas e com a salvaguarda de instituições afins, como a Universidade Federal do Acre, a Academia Acreana de Letras, a Assembléia Legislativa e os demais poderes. Acreano era uma variação assumida pela população desde o surgimento do Acre, mas agora o Acordo Ortográfico quer eliminá-la e não vamos aceitar - assinala a parlamentar.

Os documentos da história do Acre mostram que havia divergência quanto ao acreano e acriano, mas a primeira grafia acabou prevalecendo no processo histórico da conquista do Estado. O presidente da Assembléia Legislativa do Acre, deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), já convenceu seus pares da Mesa Diretora a baixarem um ato para que gentílico seja preservado nos documentos oficiais.

- Tomaremos essa decisão amparados em pareceres da Academia Acreana de Letras e da Universidade Federal do Acre. É a nossa identidade social, histórica e cultural que está sendo ameaçada e não poderíamos aceitar isso passivamente. Nós não somos "acrianos" - afirma Magalhães.

Até o governador do Acre, Binho Marques (PT), aderiu ao movimento. Na semana passada, Marques deu ordens para que a estatal Agência de Notícias do Acre descartasse o "acriano" que fora adotado pelos redatores após o Acordo Ortográfico ter entrado em vigor no país.

O gramático e filólogo Evanildo Cavalcante Bechara (foto), 81 anos, titular da cadeira nº 16 da Academia Brasileira de Filologia e da cadeira nº 33 da Academia Brasileira de Letras, em breve receberá uma comitiva de políticos e intelectuais acreanos que se sentem ofendidos quando tratados como acrianos.

- Eu vejo no movimento pela manutenção do acreano uma devoção ao nome. Os árabes dizem: dar nomes às coisas é sinal de possuí-las. Então eu vejo o movimento sentimental dos acreanos com alegria, porque eu vejo o respeito pela forma escrita. Como filólogo, repito, isso me causa muita alegria. Mas como técnico da língua, vejo em acreano com "e" um erro de história da língua. Quer dizer, nós estamos defendendo acreano em nome da história do Estado, mas contrariando a história da língua. Então o que há é a história da língua, que é universal, contra a história dos acreanos, que é digna de respeito e admiração, mas é muito pontual. Mas vamos ver - pondera.

Vale a pena a leitura da entrevista com Evanildo Bechara no Blog da Amazônia.

17 comentários:

Grupo de Choro Afuá disse...

Concordo completamente com o Bechara.

Há também muitas coisas importantes a ser mudada no Acre, principalmente não votar em quem apoia o mensalão que bate em manifestante. Coisa feia...

Unknown disse...

Já passamos por pelo menos 05 reformar ortográficas, essa reforma levou quase 20 anos pra ficar pronta, muita discurssão, claro que a industria editorial vai lucrar e muito com essa reforma nos paises que usam o português como língua. Mas não por causa do E ou do I que eu vou deixar de ser menos acreano ou menos brasileiro.
Ao invés de ter preguiça de ler, entender e aplicar toda a reforma, deveriam se preocupar em como vamos resolver a estagnação economica que vem aí como reflexo da crise, deveriamos cobrar do governo que exiga das empresas que ganham as obras de infra estrutura que usem insumos de melhor qualidades de suas obras, deveriamos cobrar uma fiscalização mais eficaz contra quem pega um carro e sai em disparado pela cidade, furando sinal vermelhor e matando pessoas, deveriamos reclamar dessa grana preta que vai para a "imprensa acreana" (se é que pode se chamar assim), deveriamos exigir uma auditoria nesse contrato do governo com a cia de selva. Porque estamos passando por um surto de dengue? Porque o teto do PS desabou logo depois de ser reformardo? Porque o moleque que pegou o carro do pai e matou uma criança inocente está solto? Porque nunca criaram uma solução para o caótico trânsito na nossa cidade? porque os ex-guardas territoriais não estão tendo o apoio necessário que merecem? Porque na periferia a população padece de TUDO, desde infraestrutura até o saneamento básico? porque nunca criaram uma ação social forte e consistente para tentar tirar o maior numero possivel de jovens do ócio e da delinquencia?

São tantos questionamentos que os nossos deputados, "pensadores", "formadores de opinião" deveriam se preocupar com assuntos mais importantes do que esse sentimento de revolta por causa de uma letra.... vão pra c%$@&...

Hércules

Mateus Costa disse...

O que deve ser mantido, é sim o desejo do povo, do orrgulho que eles tem pelo gentilico, a mudança do nome, não fara tanta diferença na História da Língua, mas e no respeito, admiração que o povo tem, o que é do povo, é do povo e ponto final.
Mateus, Itapetinga-BA, Brasil.

Anônimo disse...

Dom Quixotes da Política

É inteiramente louvável e digno de reconhecimento o esforço do deputado Edvaldo Magalhães (presidente da Aleac) e da deputada federal Perpétua Almeida que, em atenção ao "clamor popular" contra o uso do adjetivo "acriano", mobilizaram tantas estruturas de poder e representação a fim de derrubar mais essa arbitrariedade cometida contra os acreanos, em sua relação simbólica com a língua e com o qualificativo de procedência, tão importante para a identidade sociocultural de um povo.
O que admira, entretanto, é que as mesmas estruturas de poder e importantes lugares de representação não tenham sido acionados quando aconteceu uma agressão e arbitrariedade ainda maior contra o povo acreano: a mudança artificial do nosso horário para atender a demandas da Rede Globo e, evidentemente, beneficiar, na forma de publicidade, o senador acreano que encabeçou tal projeto. Nem é necessário lembrar que nesta agressão, a da mudança do horário, a violência não é apenas simbólica e cultural, por interferir inclusive em nossa relação com a natureza; trata-se, sobretudo, de uma agressão com implicações bastante materiais e concretas, que afetaram (negativamente) o cotidiano de pais, mães, crianças, professores, trabalhadores ..., obrigados a saírem de casa com tempo ainda escuro para cumprirem suas respectivas obrigações. Também não é preciso lembrar que, de forma similar, neste caso registrou-se clamor popular até maior, não só amplificado pela mídia, por intelectuais ou políticos, mas nos espaços da rua, dos bairros, das escolas, das empresas, das lojas, dos lares etc. Apesar disso, não se viu manifestação alguma ou providências tão prontamente encaminhadas por parte desses setores que agora se levantam contra o "acrianos".
Tais contradições, não tão difíceis de perceber, chamam atenção para algumas cositas:
1° - É muito fácil (e portanto digno de pouco mérito) empreender acirrada batalha contra algo cujo agente social ou político não está claramente identificado. O Congresso? A Academia Brasileira de Letras? O Acordo Ortográfico? Até aqui temos agentes genéricos e, portanto, nenhum! No caso da mudança de horário os agentes ficaram muito bem demarcados e identificados, o que até facilitaria ações mais pontuais por parte de representantes que comprassem a briga em nome do estranhamento causado ao "homem comum".
2° - Como decorrência desse primeiro aspecto, fica claro até onde nossos "representantes legais" estão dispostos a ir em nome do interesse geral. Ou seja, quando há interesses fortes e bem demarcados a questão muda de figura. Sem falar que é sempre bom ter a seu favor a simpatia da matrona Rede Globo (Amazônica), o que sempre traz a possibilidade de se reverter em visibilidade e publicidade, apostando, evidentemente, na pouca memória da população (apesar de neste caso o organismo físico não colaborar muito no processo de esquecimento, sobretudo os intestinos, como bem disse alguém num texto publicado no site do Altino).
3° - Ao que esse caminho trilhado até aqui parece indicar, o comportamento de "nossos representantes" revela-se oportunista em ambos os casos. No caso do adjetivo, por querer ganhar crédito e visibilidade numa "acirrada" disputa contra ninguém. Muito provavelmente a ABL vai liberar sem crises a continuidade do uso de "acreanos", ninguém vai perder nada com isso mesmo. Vamos só manter a fama de briguentos, "diferentes" e de um povo cujo processo de incorporação nacional ainda não é completamente resolvido (e não devemos encarar isso como algo ruim). E no segundo caso, o do horário, nosso “defensores” revelam-se oportunistas por não quererem ou não ousarem se desgastar confrontando os interesses de um cacique político local, articulados ao de uma grande emissora de TV, sem falar nos ganhos em termos de visibilidade, como já mencionado. Ou seja, não fazem nada que não traga algum proveito próprio.

Willyan Sales disse...

Acreano sim! Acriano não!
Acreano sim! Acriano não!
Acreano sim! Acriano não!
Acreano sim! Acriano não!
Acreano sim! Acriano não!
Acreano sim! Acriano não!
Acreano sim! Acriano não!

Willyan Sales disse...

A História da Lingua é contrariada conforme colocou o nobre imortal desde sempre...

Unknown disse...

É realmente se percebe que este pessoal perdeu o norte das coisas. primeiro essa reforma vem sendo trabalhada a pelo menos 20 anos e ´so agora eles descobriram que a grafia iria muda? deixem de asneiras e vamos ao que interessa tirar o brasil do fundo do posso que estamos. por que será que nem o governador nem a ilustre deputada não moveram uma pena para que este horario (tião) não fosse mudado, este sim tem prejudicado e muito a população do "aquiry".

Unknown disse...

Realmente esse pessoal perderam o norte. Essa reforma levou quase 20 anos pra ficar pronta, e só agora nossos representantes descobriram que ela iria acontecer, deixem de Hipocrisia. Vocês devem estar preocupados em tirar os municipios, os estados e o país dessa "marolinha...". Vocês deveriam ter se preocupado para que não tivesse mudado o horario (tião). esse sim prejudicou o povo acriano.

Grupo de Choro Afuá disse...

Que faça então, Mateus, uma Língua Escrita próxima da realidade do povo, que a Língua Padrão seja a variante popular. Isso sim seria orgulho para o povo, ter sua variante valorizada, o resto é balela, conversa fiada.

Iracele disse...

Ufa!!!... Até que enfim, estou aliviada por ter encontrado pessoas que pensam até melhor do que eu e explicam ao pé da letra, os motivos pelos quais devemos continuar a ser ACREANOS!... Com certeza, até Plácido de Castro, está agradecendo lá no céu por não ter perdido em vão a sua preciosa vida. Afinal, ele lutou pelo ACRE e não pelo Acri!... Por isso, acredito que um dia - não muito distante - os ACREANOS possam ser consultados através de um Plebiscito (como fizeram para tirar as armas dos cidadãos de bens do Brasil)sobre o horário original dos Acreanos, que até hoje não me convenço nem me conformo que tenha que acordar 1 hora (uma hora) mais cedo todo dia, em função de um capricho de um único Senador que quis mostrar pro mundo, que tem poder até de mandar mudar o fuso horário de um povo!
Altino Machado, tomara continuar sua admiradora pelo admirável caráter que vc demonstra ter frente aos assuntos pertinentes às causas do povo ACREANO.

Grupo de Choro Afuá disse...

Deixa de conversa, Plácido de Castro apenas defendeu seu seringal, ele foi morto por um brasileiro, morto como são num garimpo, o ouro era a borracha. Ele nem sabia que estava lutando pelo Estado da florestania. Há muito Romantismo e pouco Realismo nessa História. Plácido de Castro é o modelo de herói do Romantismo. Queria que nosso herói fosse tipo Macunaíma, nosso herói teria outro caráter.

Marcel disse...

Defendeu seu seringal?? não me faça rir.
Plácido era demarcador de seringais e foi contratado pelo governo do Amazonas para comandar as tropas acreanas. Só veio a ganhar algo no Acre depois que ganhou a revolução. Só depois que ele comprou um seringal.
Os caras acham que heróis não podem ter ambição. Não podem ganhar nada depois de virarem heróis. Ele tinha que ganhar a revolução e se mandar né?? faça-me o favor. Queria ver vc no lugar dele, com um grupo de seringueiros que nem pegar em arma direito sabiam, contra um exército oficial de um país aliado a outro. Vc ia deixar de comandar um país recém-formado por causa do seu caráter?? d-u-v-i-d-o. e herói do romantismo?? tá precisando estudar um pouco as características do Romantismo hein??

Marcel disse...

Sobre a reforma, eles estão de parabéns por resistirem. Porém eu queria ter visto essa resistência contra a mudança do fuso horário também. Muita sacanagem não consultar o povo.
No início eu também fiquei de cara com essa história de "acriano". Não parece que estamos falando de nós. Mas com certeza há coisas mais importantes para se preocupar, como tirar Jordão da posição de segundo pior município em IDH do país, de o maior índice de crianças fora da escola...se resolverem os 2 problemas (o "acriano" e o Jordão),melhor ainda.

Grupo de Choro Afuá disse...

Está querendo aprender as características do Romantismo as minhas custas, vai estudar você. Se eu falei que tem as características é porque tem, você só se baseia pela versão de Glória Peres. Falo e posso comprovar cientificamente, utilizando a História, Filosofia, Teoria da Literatura, até mesmo teorias políticas; não utilizando "novelinha" da Rede Globo. Qual a intenção do "pessoal" de forma sublimar enfatizar o herói Plácido de Castro? Queria que nosso herói fosse mau caráter, assim seria como macunaíma, aí iríamos desvirtuar certas pessoas que são tidas como heróis. Poderíamos até associar macunaíma a muitos políticos de hoje. Plácido de Castro (É) como um herói do Romantismo, o povo gosta, o povo ama, é o que vende.

Marcel disse...

E quem disse que eu me baseio na minissérie?? Baseio-me utilizando a História também.
Leio sempre os 2 lados para se tirar conclusão. Herói Romântico é o Álvaro, de "A Escrava Isaura". Plácido não tem nada haver com Álvaro. E quem é você para dizer que, se disse uma coisa,é porque é?? Ninguém pode discordar de você não?? E eu querendo estudar às suas custas?? kkkkk é cada louco...

Toda guerra tem como ideal a ambição e o poder. Não seria diferente na Revolução Acreana. Até parece que Plácido iria derrotar os bolivianos e, em seguida, desaparecer do Acre. Quem luta no pelotão de frente sempre terá um lugar no poder se ganhar. Sempre foi assim. Por que com Plácido seria diferente?? Ele foi morto por quem ficou com menos poder que ele, como muitos são.

Você disse que pode comprovar, então comprova aí que Plácido de Castro só defendeu seu seringal.
Plácido não é nenhum modelo exemplar de herói, mas qual o problema de o Acre reverenciar o líder da tropa da Revolução Acreana?? Só acho que deveria haver mais nomes a reverenciar, pois não foi só ele quem ganhou a guerra.

Marcel disse...

Parabéns pelo blog Altino.
Hoje resido em Santa Catarina, mas sempre vejo notícias do nosso Acre através do seu blog, que a cada dia fica ainda melhor.

Grupo de Choro Afuá disse...

Aprenda então!!! Mas continue estudando, não só História. Pelo nível do discurso se percebe o nível de leitura do cidadão. No Acre seringueiros travaram uma guerra com bolivianos por causa da borracha. Sendo que esses guerreiros brasileiros lutaram para continuarem sendo escravidados pelo sistema capitalista, pois todos sabem que serigueiro naquele tempo era tido como sinônimo de escravo. O Romantismo surgiu na Europa primeiramente na Inglaterra motivada pela Revolução Industrial, depois na França com a Revolução Francesa, Portugal com a Revolução dos liberais contra o poder absolutista, Almeida Garrett e Alexandre Herculano influenciados por Frederico Schlegel, Balzac, Dickens, Michelet e Victor Hugo, ambos Românticos motivados pelas idéias liberalistas. Uma das característica do Romantismo é valorizar a Nacionalidade, o patriotismo, para isso houve um resgate histórico e exaltação do herói medieval que mantinha um identidade sólida e imutável, um maniqueísmo, na Europa o herói foi o cavaleiro medieval, aquele "bozinho" que representa o bem que no final sempre vencerá o mal, esse mal seriam as barreiras que burgueses encontravam para ascender e ficar no poder. O que leva a conclusão que Plácido de Castro é o herói Romântico? Primeiro: foi uma batalha exaltando a pátria, como conquista nacional, nacionalismo. Segundo: foi uma luta do povo, uma das característica do Romantismo é a valorização do popular, tais como costumes, ambiente, lendas, folclore. Terceiro: a conquista foi da burguesia, pois os seringueiros lutaram para patrocinar o conforto dos burgueses, da mesma maneira que em Portugal. No Brasil temos o exemplo dos inconfidentes que eram burgueses lutando pela independencia, isto é, lutaram pela abertura dos portos e assim também negociar mercadorias com outros países, pois antes só se podia negociar com Portugal. Quarto: Plácido de Castro é tido com herói Romântico porque participa de uma guerra que envolve características nacionais, tal qual o Romantismo. Eles lutaram para poder transportar suas produções de borracha, tal impedimento incomodava e ameaçava o luxo da burguesia. Tá bom! cansei!! Tem que pagar para eu ensinar. Não estou ganhando nada com isso.