quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

BLOGUEIRO NA REDE


Por ser filiado a partido, ter cargo comissionado ou mandato, tem gente que acha que os outros não são trabalhadores. É para eles que preparei este post a partir da nova rede, de onde escrevo algumas vezes. Minha filha Iara fez a foto. Em tempo: vejam o blog Tempo Algum, do cronista bissexto Antonio Alves.

De São Paulo, o paulista trabalhador Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa, envia dois poemas de Mário de Andrade sobre o Acre. Cada poema tem um título, mas foram publicados originalmente um como intróito do outro.

- No caso da foto, o caboclo não dorme -produz um blog. Ou dorme, fingindo que produz um blog. Certamente dorme, e o blog é produzido por alguma entidade da floresta, que o Acre tem dessas coisas. De qualquer maneira, a foto prova que um sujeito pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. No caso, em duas redes diferentes ao mesmo tempo - comenta Luciano.

Descobrimento
Mário de Andrade

Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.

Esse homem é brasileiro que nem eu.


Acalanto do seringueiro
Mário de Andrade

Seringueiro brasileiro,
Na escureza da floresta
Seringueiro, dorme.
Ponteando o amor eu forcejo
Pra cantar uma cantiga
Que faça você dormir.
Que dificuldade enorme!
Quero cantar e não posso,
Quero sentir e não sinto
A palavra brasileira
Que faça você dormir...
Seringueiro, dorme...

Como será a escureza
Desse mato-virgem do Acre?
Como serão os aromas
A macieza ou a aspereza
Desse chão que é também meu?
Que miséria! Eu não escuto
A nota do uirapuru!...
Tenho de ver por tabela,
Sentir pelo que me contam,
Você, seringueiro do Acre,
Brasileiro que nem eu.
Na escureza da floresta
Seringueiro, dorme.

Seringueiro, seringueiro,
Queira enxergar você...
Apalpar você dormindo,
Mansamente, não se assuste,
Afastando esse cabelo
Que escorreu na sua testa.
Alguma coisas eu sei...
Troncudo você não é.
Baixinho, desmerecido,
Pálido, Nossa Senhora!
Parece que nem tem sangue.
Porém cabra resistente
Está ali. Sei que não é
Bonito nem elegante...
Macambúzio, pouca fala,.
Não boxa, não veste roupa
De palm-beach... Enfim não faz
Um desperdício de coisas
Que dão conforto e alegria.

Mas porém é brasileiro,
Brasileiro que nem eu...
Fomos nós dois que botamos
Pra fora Pedro II...
Somos nós dois que devemos
Até os olhos da cara
Pra esses banqueiros de Londres...
Trabalhar nós trabalhamos
Porém pra comprar as pérolas
Do pescocinho da moça
Do deputado Fulano.
Companheiro, dorme!
Porém nunca nos olhamos
Nem ouvimos e nem nunca
Nos ouviremos jamais...
Não sabemos nada um do outro,
Não nos veremos jamais!

Seringueiro, eu não sei nada!
E no entanto estou rodeado
Dum despotismo de livros,
Estes mumbavas que vivem
Chupitando vagarentos
O meu dinheiro o meu sangue
E não dão gosto de amor...
Me sinto bem solitário
No mutirão de sabença
Da minha casa, amolado
Por tantos livros geniais,
"Sagrados" como se diz...
E não sinto os meus patrícios!
E não sinto os meus gaúchos!
Seringueiro dorme ...
E não sinto os seringueiros
Que amo de amor infeliz...

Nem você pode pensar
Que algum outro brasileiro
Que seja poeta no sul
Ande se preocupando
Com o seringueiro dormindo,
Desejando pro que dorme
O bem da felicidade...
Essas coisas pra você
Devem ser indiferentes,
Duma indiferença enorme...
Porém eu sou seu amigo
E quero ver si consigo
Não passar na sua vida
Numa indiferença enorme.
Meu desejo e pensamento
(...numa indiferença enorme...)
Ronda sob as seringueiras
(...numa indiferença enorme...)
Num amor-de-amigo enorme...

Seringueiro, dorme!
Num amor-de-amigo enorme
Brasileiro, dorme!
Brasileiro, dorme.
Num amor-de-amigo enorme
Brasileiro, dorme.

Brasileiro, dorme,
Brasileiro... dorme...

Brasileiro... dorme...

4 comentários:

Anônimo disse...

Parabens pelo blog. Checo todo dia daqui dos EUA. Mato muita saudade da terrinha, dou muita risada, passo muita raiva tambem! Teu blog eh um grande servico.

Cartunista Braga disse...

KKKKKKKK Só pra matar de ódio e inveja os odiosos e invejosos, né não? KKKKKKKKKKKKK
Ei, Altino, a Marci tá é com saudade dum gemido de armador - Nheeeec, nheeec!-, de um ventilador movido a canela.

Cláudia Assad... disse...

Gostei da foto. O Macbook deu ares de modernidade no ambiente rústico.

Anônimo disse...

Marmenino, quando eu descobri qual era o nome q eles usam aqui pra rede (nao eh net), ganhei uma q veio la de Louisiana, veio toda chique, empacotada e com um selinho bem pequenininho com a bandeira brasileira e escrito: Made in Ceara'. Foram risos por 3 semanas. Os cearenses ainda vao dominar o mundo. E viva no's!... Amei as poesias!...