quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

MARINA SANGRA SOZINHA

Até agora nenhuma manifestação do PT ou de seus caciques no Acre -o governador Binho Marques, o ex-governador Jorge Viana e os senadores Tião Viana e Sibá Machado-, a respeito do cerco formado contra a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, por causa do desmatamento da Amazônia.

Até o governador Ivo Cassol, de Rondônia, personagem das páginas policiais, atira pedra em Marina chamando-a de despreparada. Enquanto isso, os petistas acreanos preferem ficar caladinhos, em concordância ou sem coragem de discordarem do ponto de vista bobo assumido por gente como o presidente Lula.


Binho, Jorge, Tião e Sibá com certeza sabem que não dá para apoiar a ministra sem desapoiar o presidente, que merece um protesto vibrante e viril destas matas. Aliás, a respeito da polêmica o jornalista Ricardo Noblat fez um ótimo comentário no blog dele:


"Acreditem: deixo de comentar muitas coisas que Lula diz ou faz para não pegar fama de quem implica com ele. Para não ser apontado como blogueiro de uma nota só. E para não cansar os leitores me repetindo.

Acharia mais agradável me dedicar a escrever sobre minha neta recém-nascida. E enquanto escrevi sobre Luana os elogios foram unânimes. A política divide. A família une ou pode unir.

Mas há ocasiões que não posso ignorar o que Lula disse ou fez. E em sua intervenção pública sobre o crescente aumento do desmatamento da Amazônia ele cometeu um monte de sandices.

Para censurar a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, que denunciou o desmatamento de 3.250 quilômetros quadrados de floresta somente no último trimestre de 2007, Lula disse:

- Você vai ao médico detectar que está com um tumorzinho aqui e, em vez de fazer biópsia e saber como vai tratar, você já sai dizendo que estava com câncer.

Se Lula quis comparar a devastação da Amazônia com um eventual câncer, Marina estava dispensada de providenciar qualquer biópsia para constatar que o câncer existe. E que se dissemina há décadas.

O ritmo da devastação da Amazônia havia diminuído. Voltou a crescer segundo levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O mesmo instituto a respeito do qual Lula disse o seguinte:

- (...) é o maior instituto de pesquisas da América Latina e de muita seriedade.

Por que Lula não se cala ou não muda de assunto antes de tentar desacreditar o que apurou o maior instituto de pesquisas da América Latina, considerado por ele muito sério?

Prossigamos. Lua admitiu que "o desmatamento da Amazônia é preocupante". E acrescentou: "É como se você tivesse uma coceira e achasse que é uma doença mais grave".

Se o desmatamento é preocupante não pode ser comparado a uma coceira que se cura com relativa facilidade. Se é uma coceira não é preocupante. Elementar, meu caro.

No auge do escândalo do mensalão, Lula repetiu que ninguém podia ser acusado de nada antes de ser julgado pela Justiça. Os 40 suspeitos de envolvimento com o mensalão foram promovidos à condição de acusados pelo Supremo Tribunal Federal.

Vale-se Lula do mesmo argumento para ser condescendente com quem desmata a Amazônia:

- Se a pessoa fez desmatamento ilegal, vamos ter que entrar na Justiça, dificultar-lhe financiamentos nos bancos públicos.

A ameaça de fechar a toneira dos financiamentos públicos é velha. Não se materializou até hoje.

Esperava-se dele uma palavra de indignação com os criminosos que agridem o meio ambiente. Mas para esses, identificáveis a olho nu, Lula reservou palavras de conforto:

- A gente não pode culpar soja, feijão, gado, sem-terra, não pode culpar ninguém antes de investigar o que aconteceu.

Esqueceu de citar os madereiros. Mas certamente eles também não podem ser acusados antes que se investigue.

Quem mais poderia ser culpado? Os índios? As Ongs? Para essas, de origem estrangeira, Lula reservou uma tirada que lembrou os generais-presidentes da época da ditadura quando reagiam às reclamações de entidades internacionais preocupados com o desrespeito aos direitos humanos no Brasil:

- Vão plantar árvores no países delas.

Marina se tornou um incômodo de bom tamanho para Lula. Muito maior do que o incômodo provocado por ministros que usam o cartão corporativo para pagar tapioca e gastar o dobro do que ganham. Se pudesse, Lula já teria se livrado dela.

Mas em sua fragilidade, Marina é mais forte do que desejaria Lula. E do que desejariam os plantadores de soja, os pecuaristas e os madereiros que estão pouco se lixando para a preservação do meio ambiente.

(Abaixo, um exemplo da "coceira" a que se referiu Lula. Data de antes da retomada da devastação em larga escala. O exemplo vem do Mato Grosso, Estado governado por Blairo Maggi, o maior plantador de soja do mundo, a quem Lula costuma chamar de "parceiro".)"

ESTADO DE SÍTIO

Deu no site da estatal Agência de Notícias do Acre:

"O carnaval popular somente será permitido no pátio da Arena. Nos locais onde possa ocorrer movimentação de foliões ou som alto policiais em motocicletas aquiridas pelo Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) estarão fiscalizando e punindo o descumprimento dessa regra.

O Corpo de Bombeiros pediu apoio à Marinha do Brasil na fiscalização das embarcações no rio Acre durante a festa".

O texto acima já foi suprimido do site, mas com certeza o Rei Momo ainda está de ressaca. O governo do Acre destinou mais de R$ 800 mil para transferir o carnaval do centro histórico de Rio Branco para o estacionamento do estádio Arena da Floresta. É preciso saber quem movimenta realmente a empresa que vai privatizar o lucro com a folia. Cada camarote, por exemplo, custa R$ 1,3 mil. Momesca mesmo é o pedido de apoio à Marinha do Brasil, que não tem presença no Acre, para vigiar foliões. Mais fácil seria pedir apoio à Marinha da Bolívia. E mais: onde estamos que policiais podem punir algum cidadão? Estão perdendo a noção de poder.

Toinho Alves está perplexo e comenta:

- Do jeito que a coisa anda, o próximo Rei Momo será nomeado e não mais eleito. A disputa política se dará entre a prefeitura de Rio Branco e o governo do Acre, envolvendo os magrelos Marcos Vinícius e Daniel Zen, respectivos presidentes das fundações de cultura da cidade e do estado. Faremos uma tomada de peso.

MARCHA DO LULA

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

HILDEBRANDO TENTA SUICÍDIO

O ex-deputado Hildebrando Pascoal tentou suicídio ao ingerir dose excessiva de calmantes que mantém em seu poder na cela do presídio de segurança máxima Antonio Amaro, em Rio Branco, e encontra-se internado no Pronto Socorro do Hospital de Base.

A depressão do preso se agravou a apartir do final de semana, quando o protético Sete Pascoal, irmão dele, fraturou o pescoço em acidente de carro e morreu antes dos primeiro socorros.

O ex-deputado compareceu ao velório do irmão algemado e escoltado por policiais federais. O ex-chefe do esquadrão da morte que dominava o Acre chorou ao ver o corpo do irmão.

- Os presidiários notaram que ele estava cambaleante e avisaram a direção do presídio, que por sua vez decidiu encaminhá-lo para observação médica. A diretora do presídio disse que ele ficou mais abatido desde que recebeu a notícia da morte do irmão - afirmou o jornalista Itaan Arruda, assessor de imprensa do governador Binho Marques.

Veja no blog do deputado Edvaldo Magalhães (PC do B) o que Hildebrando Pascoal e seu bando faziam com as vítimas. Clique aqui.

NALUH MERECE


Naluh Gouveia, minha coleguinha desde o Colégio Acreano, tapa o nariz e a boca e salta para mergulhar a partir de hoje no cargo de conselheira do Tribunal de Contas do Estado do Acre.

O "tribunal do faz-de-conta", como ela o denominava enquanto sindicalista, vereadora e deputada estadual petista.

Não é pior do que nenhum outro que lá chegou para ganhar mensalmente salário acima até de R$ 30 mil enquanto vida tiver.


Naluh também merece continuar na luta.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

AÇÕES VIRTUAIS DE LULA NA AMAZÔNIA

João Capiberibe

O desmatamento disparou na Amazônia entre agosto e dezembro de 2007. O sistema DETER - Detecção do Desmatamento em Tempo Real, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)- informa que o desmatamento pode chegar a sete mil quilômetros quadrados nos últimos cinco meses do ano passado.

O presidente Lula, assustado, convocou uma reunião de emergência com os ministros Marina Silva (Meio Ambiente), Dilma Rousseff (Casa Civil), Reinhold Stephanes (Agricultura), Tarso Genro (Justiça), Nelson Jobim (Defesa) e Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário), além do diretor-geral da Polícia Federal.

Após cinco anos e 24 dias de governo, Lula continua tratando a Amazônia em reuniões de emergência.

A falta de sensibilidade de Lula com as questões ambientais e, em particular, com a Amazônia, vem de longe. Tanto, que militantes e simpatizantes do PT preocupados com políticas para a área estimularam a organização de fóruns de debates específicos sobre esses temas bem antes da vitória de 2002.

Em 2000, em Belém, aconteceu o 1º Fórum Amazônico. Lula não compareceu, deixando seus organizadores frustrados e ainda mais preocupados com a falta de atenção demonstrada por ele.

Em novembro de 2001, em Macapá, foi realizado o segundo e último fórum de discussão sobre alternativas de desenvolvimento sócio-ambiental para a região. Eu estava concluindo o segundo mandato de governador, cujo programa, fundamentado no do desenvolvimento sustentável, transformara-se em vitrine de projetos inovadores e bem sucedidos.

Lula compareceu. Ouviu atentamente e participou das plenárias e debates. Suas intervenções encheram de esperança a platéia. Saímos eufóricos do encontro, convictos que a Amazônia de nossos sonhos e lutas se realizaria com Lula na presidência do Brasil.

No dia seguinte, na companhia do então governador do Acre, Jorge Viana, de Vicente Trevas, da direção nacional do PT, e Lourival Freitas, do diretório estadual, levamos Lula a Laranjal do Jarí, uma enorme favela sob palafitas. Dívida social inconteste de um mega-projeto do multimilionário americano Daniel Ludwig.

Em seguida, rumamos até a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru, onde visitamos a fábrica de biscoitos e óleo de castanha do Brasil, resultado da iniciativa e força de vontade de uma cooperativa de castanheiros com o apoio do governo do Amapá.

Lula pode assim testemunhar, as possibilidades de um modelo de desenvolvimento capaz de combinar atividade econômica com eqüidade social e conservação ambiental.

No retorno, Lula falou do que viu e ouviu dos castanheiros. Fez comentários otimistas, falando do futuro da Amazônia sustentável e da participação no governo de quadros com a visão e experiência na construção do novo paradigma, caso se elegesse presidente.

Os castanheiros do Iratapuru e de toda a região sul do Amapá comemoraram a eleição de Lula. Afinal, tinham um presidente que sabia o que era um castanhal, também festejaram nossa eleição para o Senado. Consideravam-me uma voz confiável junto ao presidente. Não esqueciam o dia em que chegamos juntos para visitá-los.

Poucos meses depois da posse, em Rio Branco, com pompa e circunstância, Lula lançou o Programa Amazônia Sustentável (PAS). O documento, mesmo sem que tivéssemos sido convidados a contribuir, preenchia o vazio da falta de políticas públicas para a Amazônia. Saí da solenidade convencido de que daríamos uma demonstração ao mundo, de competência para desenvolver e conservar a Amazônia.

Depois daquela solenidade, nunca mais se ouviu falar do PAS e a Amazônia continua detentora da maior biodiversidade do mundo, de 20% da água doce do planeta, mas condenada a destruição pelo avanço dos madeireiros, da soja, do boi, da transformação de essências em carvão vegetal para produção de ferro e agora da cana-de-açúcar. Atividades que contam com todo tipo de incentivos públicos, da pesquisa ao financiamento subsidiado.

Enquanto isso, os castanheiros do Iratapuru e da região sul do Amapá, que festejaram a eleição do presidente operário, perderam o apoio dos governos federal e estadual. Relegados pelo poder público, sobrevivem graças às parcerias com indústrias comprometidas com a conservação ambiental e responsabilidade social.

Ancorado na repressão aos crimes ambientais, o governo anuncia, depois de mais uma reunião de emergência, que a lei vai ser cumprida com rigor, doa a quem doer. Ora! Em um país que não consegue fazer cumprir as leis nas cidades, onde o crime organizado divide o poder com o estado, como acreditar que agora o governo vai ter braços para chegar aos criminosos que agem na floresta com a conivência de políticos que compõem a base de sustentação do governo Lula.

Para concluir, repito o que digo desde o assassinato de Chico Mendes: enquanto não se estabelecer em nossa sociedade uma nova relação homem-natureza, que fundamente as políticas públicas para a Amazônia, de nada vai adiantar reuniões de emergência ou ações virtuais para apagar incêndios de verdade. A Amazônia vai continuar ardendo e nós brasileiros vamos continuar sendo conhecidos como predadores diante dos olhos do mundo.

João Capiberibe, ex-prefeito, ex-governador, ex-senador pelo Amapá. Atualmente vice-presidente nacional do PSB.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

TOINHO APANHA NO XADREZ

Uma madrinha do poeta Toinho Alves disse que vai mandá-lo chamar a morte quando chegar a hora dela porque ele nunca tem pressa. Aquele que é considerado o melhor enxadrista do Acre perde um torneio, culpa a falta de tempo e quer revanche.

"Depois de alguns anos parado, não sei se por causa de uma grande nostalgia trazida pela notícia da morte de Bobby Fischer, voltei a participar de um torneio de Xadrez. Foi neste domingo, na sede da AABB: cinco rodadas, com o incrivelmente volátil tempo de 40 minutos para cada jogador (uma hora e vinte minutos para jogar a partida inteira).

Encontrei duas dezenas de jovens, a maioria dos quais ainda usava fraldas quando disputei minhas partidas oficiais mais recentes. Joguei contra uma jovem, Marcela, que me chamou de “senhor” e perguntou há quantos anos eu jogava Xadrez. Fiz uns cálculos mentais e respondi, para espanto dela: “há mais de 35 anos”. Acho que eu também me espantaria, há 35 anos, se encontrasse um pitecantropus erectus no meu primeiro torneio".

Leia mais no blog O Espírito da Coisa.

EXPEDIÇÕES

Um grupo de parlamentares está retido na Antártida por conta do mau tempo. Os parlamentares -12 deputados federais e um senador- saíram do Brasil na terça-feira e deveriam ter retornado na sexta-feira passada. As más condições de tempo da região e o cancelamento de vôos são comuns, segundo a FAB.

Os parlamentares foram para a Antártida em uma expedição oficial a convite da Marinha do Brasil para conhecer os trabalhos na Estação Comandante Ferraz, a base brasileira no continente. O grupo chegou ao local na quinta-feira, após fazer escala no Rio Grande do Sul (onde receberam roupas especiais) e no Chile (em Punta Arenas), para então desembarcar na base chilena (Presidente Eduardo Frei), de onde a comitiva partiu, de navio, rumo à estação brasileira.

Referindo-se à Expedição Juruá Sempre, promovida pela mesa diretora da Assembléia Legislativa e contestada pela OAB do Acre, o deputado Luiz Calixto (PDT) comenta:

- Viagens de parlamentares para conhecer realidades é um fato usual no Brasil. No Acre, que também é Brasil, o mundo veio abaixo quando parlamentares e jornalistas foram ver de perto uma parte da Amazônia.

Leia mais na Folha Online.

MACAXEIRA EM BERLIM

Deu na Folha de S. Paulo:

"Benedito Batista da Silva, o seu Bené, é um produtor de farinha-d'água que até pouco tempo atrás só havia saído de Bragança, interior do Pará, para ir a Belém. De um avião, nunca tinha nem chegado perto.


Há dois anos, o ofício de transformar mandioca na pedaçuda farinha fez dele personagem de um curta documental e o levou a Turim, na Itália, para participar de um congresso de pequenos agricultores. Agora, o resultado dessa incursão o conduz novamente à Europa. Só que, desta vez, direto para a tela grande.

Idealizado e produzido pela chef carioca Teresa Corção e dirigido por Manoel Carvalho, o documentário "Seu Bené Vai pra Itália" foi selecionado para a segunda edição do Culinary Cinema --Expanding Our Horizons (cinema culinário --expandindo nossos horizontes), programa do 58º Festival de Berlim. A mostra, que tem ainda outro brasileiro, "Estômago", de Marcos Jorge, acontece entre 11 e 15 de fevereiro".

Temos indubitavelmente, em Cruzeiro do Sul, a farinha mais gostosa do planeta. Mas fracassamos em conquistar até o mercado nacional. Leia mais na Folha Online.

sábado, 26 de janeiro de 2008

UMA RECEITA INSUSTENTÁVEL

Como destruir a Amazônia sem sair de casa

João Meirelles Filho


Se você acha que a culpa do desmatamento é do governo, você tem razão. Claro que é culpa da inoperância dos órgãos públicos, que não conseguem controlar desmatamentos, queimadas, e nem a lenha que garante o seu pãozinho de cada dia nas padarias da região e de boa parte do Brasil. Será que a culpa é só daqueles a quem você emprestou seu voto e sua confiança, daqueles a quem você passou procuração para decidir, em seu nome, o que você consome nos super-mercados? Ou será este um problema da Nação a que você e eu pertencemos, ou fingimos pertencer?

Como você se sente diante do circo anual quando o chefe da Nação esbraveja ao ver as taxas de desmatamento fora de controle e solta decretos a torto e a direito, esperando que sejam cumpridos? Você acha que seus chefes realmente levam a sério este assunto? O que eles pensam quando servem seu George (o Bush) um churrasco para ele na Granja do Torto?

Até quando você vai acreditar nesta novela? Nesta conversa de que medir desmatamento e queimadas serve para alguma coisa? Só serve para dizer o que você já sabe muito bem: a coisa vai muito mal, cada vez pior. Afinal, medir desmatamento e queimada é medir conseqüência e não causa. É como medir a febre do doente, certificar-se que ele tem mesmo febre e, ir dormir, ir fazer churrasco, nada fazer, esperando, que, se tudo der certo, um dia, o doente, se sobreviver, irá melhorar.

É assim que age o governo que você elegeu, porque, você, cidadão brasileiro, não liga a mínima para as causas que provocam desmatamento e queimada. Ou melhor, não está muito interessado em saber que quem causa a destruição da Amazônia é você mesmo, ao comer o seu bifinho de cada dia, o seu churrasquinho de fim de semana, o seu pãozinho de cada dia.

O que efetivamente causa desmatamento? Na Amazônia a resposta é muito clara: a pecuária bovina extensiva, que responde por mais de 3/4 do estrago, e bem depois, muito depois, vem as outras causas, a soja (que cresce rapidamente), a retirada de madeira (que financia as novas derrubadas e pastagens), e muitas outras que, claro, juntas, são terrivelmente devastadoras. Aliás, esta é a história do Brasil. A história da pata do boi. Assim, seus tataravôs engoliram a Mata Atlântica e a Caatinga, e seus pais e você devoram o Cerrado e a Amazônia.

Só se cria boi porque há consumidor de carne. O pecuarista só existe porque ganha mais dinheiro com o boi. Se outra coisa (legal) fosse mais lucrativa, mudaria de ramo. E o pecuarista só cria boi porque há cada vez mais consumidor querendo comer carne, carne barata.

Quem consome a carne da Amazônia é tanto quem mora na região (menos de 10% da produção), como os brasileiros das outras regiões (mais de 80%). A participação das exportações ainda é pequena, inferior a 10%, mesmo se considerar os 600 mil bois vivos que despachamos, sem pagar impostos, para a desabastecida Venezuela e o violento Líbano em guerra.

Hoje, na Amazônia, é possível produzir carne muito barata porque o alto preço social e ambiental não são considerados. O pecuarista raciocina: por que se preocupar em conservar as matas, as águas, as populações tradicionais e as milenares culturas? Por que seguir a lei trabalhista, pagar impostos, legalizar as terras, se não há fiscalização?

O Brasil decidiu (e você participa desta decisão como eleitor e consumidor) transferir 1/3 de seu rebanho para a Amazônia. Na década de 1.960 eram 1 milhão de bois na região, hoje, menos de meio século depois, são 75 milhões. Mais que em toda a Europa! Há muita gente envolvida, não são apenas aqueles 21 mil médios e grandes pecuaristas (com propriedades acima de 500 hectares). Há também 400 mil pequenos pecuaristas, em sua maior parte economicamente inviáveis.

Resultado: em menos de 40 anos, somente com a pecuária, destruímos mais de 70 milhões de hectares do mais complexo e desconhecido conjunto de florestas tropicais do Planeta. É pouco, você dirá, menos de 20% da região, ou, se preferir, meros 8% do território do Brasil.

No entanto, esta superfície é superior à soma das áreas do estado do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro somados. Destruídos. Para que? Para você comer picanha, picadinho e croquete mais baratos. Será que alguém realmente se beneficiou com isto? Será que os filhos dos pecuaristas realmente terão uma vida melhor porque estão na Amazônia desmatada? Dificilmente. A pecuária não consegue garantir nem a rentabilidade de uma aplicação trivial em um banco, como a poupança ou um CDB. É o pior negócioque existe, só sobrevive porque é ilegal.

De cada três bifinhos que você come, um vem da Amazônia. Você não pergunta para o seu Zé açougueiro nem para o seu Diniz do Pão de Açúcar ou para o presidente do Carrefour, ou para outro dono de supermercado de onde vem a carne. Você também não pergunta de onde vem a soja, o arroz, e tantos outros produtos. Enfim, como consumidor você sabe muito pouco sobre o que você consome, qual o seu impacto no planeta, quantos quilos de carbono, de água, de suor foram gastos para produzir o seu luxo do momento. Seu fornecedor também não se interessa por educá-lo, informá-lo, orientá-lo. Para ele responsabilidade social é comprar meia dúzia de cestinhas e docinhos de comunidades “em alto risco social” e ganhar comenda e prêmio de associações empresariais.

E se você efetivamente perguntasse ao dono do estabelecimento? E se você fosse às últimas conseqüências, abandonasse o produto na prateleira? E se, de agora em diante, você fosse 100% coerente em relação a sua responsabilidade como cidadão, cidadão comedor das Amazônias? Das Matas Atlânticas? Você deixaria de comprar a carne que vem com gosto de Amazônia queimada, devastada e escravizada? A carne que saiu do norte de Mato Grosso, do sul do Pará, do Marajó, do centro de Rondônia, do sul do Acre e do Amazonas? Você deixaria de comer a Amazônia? Você seria capaz de abandonar seu antigo fornecedor de alimentos se ele não levasse a sério a sua pergunta: de onde vem esta carne? Ou melhor, esta carne vem da Amazônia?

Se sua resposta é: tanto faz, então sugiro que desligue a televisão, vá curtir o seu quente verão de aquecimento global e tome tudo isto como conversa para boi dormir. Se, entretanto, achar que vale a pena seguir adiante, então, tome uma atitude. Pilote com mais atenção o seu carrinho de compras. A cada passo que você dá no supermercado, é você quem decide o futuro do planeta (e não o dono do reluzente estabelecimento, ou o diretor de marketing da empresa, ou o gênio da agência de propaganda que ainda insiste em usar crianças ou em desrespeitar as mulheres para vender mais).

Se você quer entregar algo da Amazônia a você mesmo, ou a seus descendentes, deixe este olhar bovino de lado, abandone seu comportamento de consumidor passivo. O mundo todo já percebeu que o Brasil está transformando a Amazônia em um imenso curral. É isto que você quer? Você acha que o mundo vai mesmo ficar de braços cruzados vendo o Brasil fazer churrasquinho da Amazônia? Pois então, vamos agir, enquanto é tempo, antes que sejamos obrigados, envergonhados, a sofrer sanções internacionais hoje inimagináveis. Vamos enviar o boi de volta para o zoológico e para o presépio, de onde jamais deveria ter saído.

João Meirelles Filho nasceu em São Paulo e mudou-se para Belém há quatro anos. É empreendedor social, autor do “Livro de Ouro da Amazônia” (Ediouro, 2004) e dirige o Instituto Peabiru. Pertence à terceira geração de uma das mais prósperas famílias de pecuaristas do país.

BAIXA SEXUAL NO CARNAVAL

Telefonei para três proprietários de motéis em Rio Branco para saber quais são os dias mais movimentados nos seus respectivos estabelecimentos. Todos responderam que é dia dos namorados, réveillon e Natal, nessa ordem. Eles disseram, ainda, que a ausência de clientes durante o carnaval só perde mesmo para a baixa que se constata durante a Sexta-Feira da Paixão.

Não tenho como provar, mas essa pode ser a tendência nas demais capitais do país. Porém, o governo federal aproveita o período do carnaval para desenvolver todo ano uma campanha de 10 dias contra a Aids. O Acre, por exemplo, receberá hoje 1,3 milhões de preservativos a serem distribuídos durante o carnaval. A Coordenação Estadual do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids já começou a distribuir informativos, cartazes e camisetas no Estado.

No Blog do Noblat, a repórter Carol Pires revela que um estudo, divulgado na última quarta-feira pela Universidade Federal Fluminense, afirma que o Carnaval não está associado a um aumento no número de casos de doenças sexualmente transmissíveis. Clique aqui para ler mais sobre o desperdício de dinheiro público.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

ROBERTO FILHO CONTINUA PRESO

Deu no site do STF:

"A ministra Ellen Gracie, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), indeferiu o pedido de liminar no Habeas Corpus (HC) 93626, impetrado pelos advogados de Roberto Barros Filho, ex-deputado estadual e tenente reformado da Polícia Militar do Acre, e o seu filho, Roberto Barros Junior.


Eles foram denunciados pelo Ministério Público Estadual por, supostamente, terem praticado o crime de estelionato (artigo 171, parágrafo 2, inciso V, do Código Penal). A acusação é de que a família teria ateado fogo na própria residência com a finalidade de receber seguro no valor de cerca um milhão de reais.

Presos preventivamente no Complexo Penitenciário Francisco de Oliveira Conde, eles pedem no HC a revogação da prisão. A defesa requereu o afastamento, “em caráter excepcional”, da Súmula 691, para que Supremo possa analisar o habeas, mesmo após o indeferimento de pedido semelhante no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

No entanto, a ministra Ellen Gracie afirmou que, “a princípio, incide na espécie a Súmula 691”. Ela indeferiu a liminar e afirmou que eventual reexame da matéria caberá à Turma competente para julgar o caso".

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

O BAFO DA AMAZÔNIA

José Carlos dos Reis Meirelles

Estava lendo no blog as opiniões acerca da "Expedição Juruá Sempre", de Cruzeiro até Manaus.

E fico pensando que se nada de prático acontecer em decorrência dela (esperamos que sim), o Edvaldo Magalhães terá acertado, conscientemente ou intuitivamente, em algo que aprendi durante estes 38 anos de Amazônia, enfiado nos socavões mais distantes dela.


Vista de cima, em documentários ou filmes, a Amazônia é sentida superficialmente. Quando se está nela, seu bafo úmido atola nossos pés no chão, nos obrigando a pensar com os pés fincados nele, literalmente.

Não venham me dizer que isso pode ser feito de longe. Até pode, logo depois de sentir o bafo. Digo isso porque as salas do poder têm o efeito amnésia, fazem a gente esquecer a realidade.

Os homens públicos da Amazônia deveriam, pelo menos uma vez por ano, sentir o bafo da Amazônia. Muitos deles só pra lembrar de onde vieram.

E sabe que a Funai, com suas burocracias, está me fazendo passar muito tempo na frente do computador? Vou matar umas saudades do coração e ganhar a mata. Antes de começar a falar besteira, como a reportagem do Jornal Nacional.

Abração!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

LEITORADO

De Verônica Barbosa:

"Acabo de visitar o seu blog, indicado por um fotógrafo e jornalista britânico que planeja uma viagem até Xapuri para fazer uma reportagem sobre a fábrica de preservativos.

De fato, a idéia inicial de fazer a matéria surgiu à época da abertura da usina, devido ao seu ineditismo, pois é a única fábrica no mundo a produzir preservativos com látex de seringal nativo, e também pelo fato de ser um bom exemplo de utilização da mão-de-obra local (seringueiros), de forma a contribuir para o desenvolvimento sustentável da região. Quem sabe, até exemplo de bom investimento público, não é?

Mas eis que surgiu esta "suíte" meio triste do vazamento, que não invalida a idéia orginal, principalmente porque se trata de reportagem para veículos estrangeiros, mas certamente dá novo contorno ao assunto.

A visita ao seu blog me foi muito útil. Se, por um lado, confirmou a suspeita de minha alienação, de certa forma forçada pelos nossos "veículos de desinformação" responsáveis por horrores, como a matéria sobre a expedição dos deputados ao Juruá e Solimões, por outro estimulou a minha curiosidade sobre vida humana na Amazônia.

Digo isso porque em nossos grandes centros urbanos, alienados e alienantes, pensamos na Amazônia apenas como uma floresta gigante com a única e exclusiva função de produzir oxigênio para o planeta. Tenho um tremendo respeito por jornalistas como você, que na realidade considero que sejam muito mais brasileiros do que eu. Grande abraço".

De Sidnei Anhelli:

"Em primeiro lugar, quero parabenizá-lo pela excelente reportagem a respeito destas frutas gigantescas do Estado do Acre. Acho até que deveriam explorar comercialmente este achado tão gratificante para o nosso Brasil. Parabéns pelo patriotismo. Gostaria também de saber mais detalhes a êste respeito em livros, apostilas, reportagens etc. Será que existem outros frutos tão curiosos? Um abraço.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

METENDO A COLHER DE PAU NO MUNGUNZÁ

Simão Pessoa

Eu devo ter sido um dos poucos cabocos da região a não ter assistido a “matéria” veiculada no jornal Nacional, da Rede Globo, sobre a “Expedição Juruá Sempre”, feita por parlamentares acreanos no início do mês. Mas como sei que tipo de jornalismo canalha a “Vênus platinada” pratica diariamente, faço uma idéia de como a “matéria” foi produzida e exibida.

Pra ser sincero, desde a edição vergonhosa que fizeram daquele debate Lula-Collor (alguém ainda lembra?) há quase 20 anos, as notícias veiculadas pela rede Globo entraram no meu index de coisas proibidas até o final dos tempos. Ainda prezo pela minha sanidade mental – e seria de bom alvitre que mais gente fizesse o mesmo.

Às vezes, entre um cigarro e outro, fico matutando sobre que tipo de pessoa assiste (ou, muito pior, costuma levar a sério) as baboseiras apresentadas por Cid Morengueira e Sergio Chapolin (ainda são os âncoras-palhaços do noticioso ou já foram pro formol?) durante o horário nobre. Saber que o JN ainda é o principal informativo do país para a maioria dos brasileiros costuma me deixar macambúzio e levemente deprê. Tenho muita pena de quem assiste aquela josta.

Aliás, se grande parte da população brasileira, incluindo a cabocada de nossa região, já tivesse assistido ao documentário “Muito além do Cidadão Kane”, de Simon Hartog, produzido em 1993 pelo canal 4 da BBC, eu nem precisaria fazer esse prolegômeno. Sim, o documentário discute o poder e a filhadaputice da rede Globo e teve sua exibição proibida no Brasil. Mas dá pra ser “baixado” na web. Cacem.

De qualquer forma, resolvi meter minha colher de pau no panelão de mungunzá dessa discussão bizantina e – por que não? – meio provinciana. A “Expedição Juruá” deveria servir de exemplo para os parlamentares amazônicos, que só costumam ver as comunidades ribeirinhas olhando de cima, a bordo de aeronaves (em época de eleição, evidentemente, a história é outra).

O relato comovente do jornalista Leonildo Rosas [leia aqui], por exemplo, deveria ser matéria obrigatória nas escolas públicas, nas discussões das academias, nas mesas de botecos, nos sindicatos e associações de moradores, além de ser replicado ad nauseaum em todos os blogs que estão discutindo seriamente a problemática amazônica.

Entre outros méritos, o relato/reportagem de Leonildo faz um contraponto perfeito à distorção midiática vinda do sul-maravilha, eivada de preconceitos contra os nativos. Sem dourar a pílula, o repórter mostra que o rei está nu, que as políticas públicas não chegam (e não vão chegar se não houver luta e gritaria) aos mais desassistidos, que ainda há muito pra ser feito para proteger a floresta e que o caboco amazônico é, acima de tudo, um “brabo”. Quem nem siri na lata. Sobrevive de teimoso.

Causa perplexidade perceber que no lugar de estarem discutindo seriamente o que fazer para incluir essas populações marginalizadas no desenvolvimento socioeconômico da região, alguns formadores de opinião acreanos estejam mais preocupados com picuinhas, como saber que tipo de bebida foi servida a bordo da embarcação e quem pagou pelo bolo de aniversário de um deputado. Isso não passa de cabotinismo estéril, hipocrisia travestida de “boas intenções”, vôos acrobáticos em uma piscina vazia.

O deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB), a quem não conheço pessoalmente, está de parabéns. Em pleno recesso parlamentar, ele reunir meia dúzia de parlamentares, colocar a tropa em um barco e enfrentar mais de 4 mil quilômetros de “estrada aquática”, convenhamos, é uma verdadeira façanha. Quantos políticos podem dizer que conhecem a Amazônia sem terem feito uma viagem assim?

Os bem intencionados (sim, o inferno está cheio deles) podem argumentar que “um médico não precisa pegar malária para conhecer os sintomas de doença” para justificar o fato de “que ninguém precisa fazer uma viagem dessas para descobrir o que todo mundo já sabe”. Claro, isso é argumentação meia-boca de iracundos (estão no quinto círculo do inferno de Dante). O fato é que a presença física de parlamentares nessas comunidades perdidas não só lhes aumenta a auto-estima como reacende a esperança de que dias melhores virão.

Plagiando Milton Nascimento, na canção “Nos bailes da vida”, “todo parlamentar tem de ir aonde o povo está”. E foi isso que os deputados acreanos fizeram. Criticá-los, quem há de? Eles fizeram o certo, estão combatendo o “bom combate”. Se o resultado prático da expedição ainda vai demorar a sair (políticas públicas não são construídas da noite pro dia), são outros quinhentos. O mais importante é que o deputado comunista colocou a pedra pra rolar. Não é pouca porcaria.

Simão Pessoa é jornalista e escritor amazonense, editor da revista Amazonia Viva. Clique aqui e leia o blog dele sobre arte e cultura.

SIRIGÜELA


Palavrinha que existe no dicionário Houaiss como serigüela. Mas está lá, no Aurélio: "1. Árvore anacardiácea (Spondias purpurea), da América tropical, cujo fruto, elipsóide, amarelo e sumarento, é semelhante ao taperebá (q. v.), porém muito doce. 2. O fruto dessa árvore".

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

MÍDIA NACIONAL COMEU MOSCA

Chico Bruno

Acompanhei a partida, nos primeiros dias de janeiro, e toda a viagem da "Expedição Juruá Sempre", uma iniciativa da Assembléia Legislativa do Acre, nos blogs do jornalista Altino Machado e do presidente da Assembléia, deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), autor da idéia.

Não conheço nenhum dos participantes, mas conheço o percurso que fizeram. Fí-lo nos anos 70 pautado pelos Diários Associados.

A pauta tinha por objetivo mostrar como sobreviviam os ribeirinhos e a importância da navegação pelos rios Solimões e Juruá, pois era por obra e graça dela, que as comunidades ribeirinhas eram abastecidas. Naqueles tempos a viagem durava quase um mês entre Manaus e Cruzeiro do Sul.

Ao tomar conhecimento da expedição, entendi que o objetivo era mostrar aos acreanos e brasileiros a importância da navegação fluvial na Amazônia.

O Juruá é um rio sinuoso, com curvas e mais curvas que exigem muita perícia do timoneiro das embarcações que por ali circulam.

Uma pena que a iniciativa do deputado Edvaldo Magalhães tenha ganhado visibilidade não pelos seus objetivos, mas por uma reles disputa política.

A expedição foi transparente, foi reportada, dentro das possibilidades, em muitos sites e blogs do Acre e da Amazônia.

Portanto era do conhecimento de jornalistas dos grandes centros, que costumam diariamente navegar por sites e blogs de todo país a cata de notícias locais.

Infelizmente, a mídia nacional se fixou em uma querela acreana entre um site e o presidente da Assembléia, que por essa razão, classificou a expedição como uma viagem de lazer patrocinada com recursos públicos.

Ao invés de aproveitar o que a expedição revelou de positivo, como o transporte de material escolar para o ano letivo de 2008 pelo Juruá e Solimões, a mídia apostou na informação distorcida de um site e acabou comendo mosca.

Ao se tornar notícia nacional por um viés torto, a "Expedição Juruá Sempre" mostrou que às vezes existem interesses escusos em algumas informações divulgadas pela imprensa.

A mídia nacional comeu mosca pela falta de cuidado em checar a informação contida no site acreano.

Aliás, desde que fecharam suas sucursais, acabaram com os correspondentes fixos nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste e passaram a adotar o telefone como instrumento de trabalho, os grandes jornais têm vez por outra cometido graves injustiças.

O que intriga é o mico pago pela Rede Globo, que tem uma afiliada no Acre e deveria ter mais cuidado com a notícia veiculada.

A iniciativa de percorrer os 4.375 quilômetros entre Cruzeiro do Sul, no Acre, e Manaus foi relevante. Deveria ser obrigação para qualquer autoridade que queira falar da realidade amazônica.

Sinto apenas, que o presidente da Assembléia Legislativa do Acre, deputado Edvaldo Magalhães, tenha perdido a oportunidade de convidar o ministro Roberto Mangabeira Unger para participar da expedição. Quem sabe assim ele falaria da Amazônia com conhecimento de causa.

Leia mais sobre a Amazônia no site do jornalista Chico Bruno.

A FOZ DO JURUÁ NO JORNAL NACIONAL

Edvaldo Magalhães


A confusão provocada pelas notícias imprecisas sobre a "Expedição Juruá Sempre" me faz refletir sobre como o Brasil desconhece o Brasil. A Amazônia, nem se fala.

Quando um dos mais prestigiados telejornais do país mostrou imagens de parlamentares acreanos mergulhando no rio, pensei como os brasileiros poderiam entender tudo diferente se o apresentador informasse que ali o Juruá deságua no Solimões, formando o caminho de águas que permitiu nosso povo ocupar a região mais oeste e, até hoje, mais isolada do país.

A abordagem que o Jornal Nacional foi levado a dar sobre a "Expedição Juruá Sempre", acabou fazendo o que pode haver de mais lamentável no jornalismo: desinformar.

Um olhar sobre a realidade da Amazônia já espanta qualquer dúvida sobre os propósitos da expedição que varou noites navegando de Cruzeiro do Sul a Manaus em um barco que precisou até da ajuda de um “empurrador” (barco-motor que empurra outro com problema). Viajar pelos rios da Amazônia não é fácil. Por aqui não se passeia, ainda se desbrava.

Desde o início da navegação entre Manaus e Cruzeiro do Sul, há mais de cem anos, esta é a primeira iniciativa institucional que se lança no Juruá e no Solimões para avivar o debate de políticas públicas para essa hidrovia, principal responsável pela construção e sobrevivência das cidades e comunidades ribeirinhas no grande vale do Juruá.

A expedição teve propósito claro: buscar conhecimento prático, observar condições ambientais e levantar informações para defesa da revitalização e do fortalecimento deste eixo hidroviário como instrumento imprescindível para o desenvolvimento sustentável da região.

Não fomos ao Juruá em busca de uma nova espécie animal ou vegetal ainda não identificada pela ciência. Fomos aprender com a realidade dura dos que precisam percorrer os caminhos das águas para abastecer as nossas comunidades, para deslocar-se em busca de um socorro. Matando carapanãs, espantando piuns e mucuins.

Chamar atenção para os potenciais mal explorados e não explorados dos nossos rios, enquanto ainda há tempo de salvá-los, é causa justa. Esse foi o propósito da "Expedição Juruá Sempre" e continuará sendo motivação da Assembléia Legislativa do Acre.

Não se pode e nem se deve querer falar das coisas só por ouvir dizer. Fomos ver de perto para contar de certo. A expedição foi transparente. Anunciada antes, divulgada durante e depois. Todos puderam acompanhar via web. A distorção feita pode ser coisa comum da política.

Como agentes públicos, estamos permanentemente expostos e submetidos aos mais diversos questionamentos. Isso é bom. Faz parte da democracia que estamos construindo. Nosso dever é responder a todos. Com transparência e tranqüilidade.

Passado a fase do não propósito, trataremos do conteúdo correto.

A vida vai provar que cuidar dos rios e investir numa política hidrográfica fará bem ao Acre e aos que aqui moram. Mesmo os que estão esquecendo que somos filhos dos igarapés, netos dos rios e descendentes das chuvas.

O deputado Edvaldo Magalhães (PC do B) é presidente da Assembléia Legislativa do Acre.

MALDADE

Aníbal Diniz

Preferi não me manifestar antes para aguardar a repercussão da notícia no final de semana, mas quero externar aqui e agora minha mais irrestrita solidariedade ao amigo leal e companheiro de tantas batalhas, o camarada Edvaldo Magalhães, sem dúvida uma das lideranças mais importantes do PC do B e da Frente Popular do Acre, que, por toda contribuição que tem dado para a melhoria da política e da sociedade em geral, não merecia o tratamento desrespeitoso que lhe deram no Jornal Nacional da última sexta-feira, com base em imagens de um simples momento de descontratação de um grupo que passou dez dias juntos no interior de uma embarcação.

Edvaldo convidou-me para fazer parte da expedição de Cruzeiro do Sul a Manaus através dos rios Juruá e Solimões. Confesso que fiquei com peso de consciência por não ter podido acompanhá-lo, devido às tarefas pendentes que tive que executar nos primeiros dias de 2008.

Não tenho a menor dúvida quanto a importância desta expedição, fazendo o ziguezagueado percurso de 4.300 quilômetros que tornam Manaus, capital do Amazonas, mais presente na vida das pessoas em Cruzeiro do Sul do que propriamente a nossa capital, Rio Branco.

Mesmo com o asfaltamento da BR-364, que, se Deus quiser, será concluído até 2010, Cruzeiro do Sul continuará dependente do transporte hidroviário pelos rios Juruá e Solimões, e nada mais legítimo que o presidente da Assembléia Legislativa do Estado, que é filho de Cruzeiro do Sul, promover uma expedição para ver de perto e colher informações sobre o longo percurso que produtos como o gás, o combustível, materiais de construção, gêneros alimentícios e tudo quanto se possa imaginar fazem para chegarem a preços tão altos ao Vale do Juruá.

E o interessante é que isso acontece há mais de cem anos, com inúmeros relatos, mas pouco sabemos a respeito.

Por isso, gostaria muito de ter participado desta expedição para colher pessoalmente minhas impressões. Ouvir pessoas, ver a realidade, tentar entender melhor a lógica mágica dos rios amazônicos por onde as cidades se formam e a vida acontece.

Infelizmente, a sociedade da informação na qual vivemos é apressada demais para dedicar tempo ao entendimento dessas coisas. E o mais lamentável ainda é saber que um colega da imprensa consegue trocar toda importância que a expedição representa pela possibilidade de ridicularizar um momento de descontração que o grupo decide viver no encontro das águas dos rios Juruá e Solimões, exatamente no sétimo dia de descida.

Se eu estivesse à bordo, não sei se teria tido coragem de pular no Solimões. Mas, se o fizesse, certamente não seria de paletó e gravata e nem de camisa de punho, como acertadamente refletiu o deputado Luiz Calixto. E também não me privaria de cantar parabéns para quem fizesse aniversário no percurso.

Ao companheiro Edvaldo, o meu abraço amigo e minha sincera intenção de estar com ele em outras expedições. Quem sabe não aproveitamos os dias de carnaval para uma nova edição daquele passeio à Serra do Moa que fizemos juntos em 2002!

No mais, o meu desejo para que continue firme, de cabeça erguida, que a experiência acumulada em tantas batalhas vencidas e a fé e os ensinamentos que ele cultiva desde os tempos de seminário lhe darão o suporte necessário para superar mais este momento desconfortável que alguém, por pura maldade, lhe causou.

O jornalista Aníbal Diniz é assessor do governador Binho Marques e suplente do senador Tião Viana.

domingo, 20 de janeiro de 2008

FLORINDO LARANJA


De Geovana, aluna de 1ª série, no blog Escrevendo com o escritor:

"A pequenina laranja encontrou a laranjinha. Elas já se conhecem há muito tempo. Elas foram brincar. A laranja e a laranjinha subiram na árvore. De repente um passarinho sem querer bicou a laranja e ela caiu no lago. A laranjinha foi buscar ajuda e o médico falou que a laranja morreu".

sábado, 19 de janeiro de 2008

REALIZAÇÃO PESSOAL

Leila Jalul

A formatura da primeira turma de curso de medicina da Universidade Federal do Acre foi motivo de manchetes na mídia local. Teve e terá direito aos festejos de praxe, tais como aula da saudade, placa comemorativa, baile de formatura, compra de anéis (acho que isso não mais, pois é cafona para os tempos modernos), e outras solenidades.

Dez criaturas, novinhas em folha, são a expressão viva do novo momento do ensino superior no Acre.

Aposentada do serviço público desde 1994, não tendo nenhuma pessoa conhecida entre os egressos, não tendo mexido uma única palha para a implantação do curso, sem conhecer nenhum dos professores e nenhum dos familiares, fiquei completamente tomada de alegria. A sensação de que esse curso faz parte de um esforço que também foi meu é inexplicável e real. Mas tenho razões que, se não explicam, justificam.

Quando inaugurada a Fundação Hospitalar do Acre, era reitor o professor Moacir Fecury. O curso de Enfermagem da Ufac possuía um quadro invejável de profissionais. Assim, muito rapidamente, cogitou-se ser a Fundação Hospitalar um embrião para a criação do curso de medicina. Falou-se em ser administrado por profissionais da enfermagem, servir de campo de estágio, até que a burocracia permitisse a criação de medicina. Foi uma idéia que não vingou. Não era o tempo.

A "catigoria" dos políticos da época, em Brasília e na paróquia, não possuía vontade nem cacife necessários para bancar um empreendimento dessa ordem. Quem teve, empenhou-se e realizou. Ademais, o quadro de médicos, à época, era insuficiente para atender os setores de saúde do Estado, seus consultórios particulares, fazendas de gado e mais 20 ou 40 horas semanais em sala de aula. Muito poucos eram especialistas capacitados para atividades didático-pedagógicas. Eram generalistas da medicina, embora escolhessem o campo de ação. Tudo a esmo.

A coisa mudou muito. O tempo exigiu. Enquanto isso, levas de estudantes seguiram para a vizinha Bolívia em busca da medicina. Primeiro um convênio entre o Estado e o país hermano. Protocolo oficial, tudo arrumadinho na Universidade de La Paz para receber os acreanos. A oferta era generosa e limitada, ao mesmo tempo. Não lembro o número de vagas oferecidas. Sei que eram poucas.

Em Cochabamba, na Universidad del Valle, os alunos acreanos descobriram outra brecha para cursarem medicina. Não havia, nem há, na Bolívia, a existência do famigerado vestibular. Há vagas, há alunos em sala. Não adianta querer discutir a política educacional boliviana. Um ano de propedêutica faz seleção natural para os seguidores do doutor José Barral y Barral. Teria que saber muito mais, ficar por lá muito mais, para emitir opinião. Ficando na Universidade do Vale, restrinjo-me ao curso de medicina que é o foco.

Boas instalações, laboratórios equipamentos e professores. Nas localidades de Tiquipaya e Kanarancho, moravam cerca de 12 alunos acreanos. Destes, 11 cursavam medicina. Apenas 4 concluíram. Um outro, por ter casado com uma aluna, concluiu engenharia civil, iniciada e quase completada em São José dos Campos. Também encontrei por lá dois paranaenses filhos de minha amiga de infância Judite Barreto dos Santos, que cursavam arquitetura. Os dois (um menino e uma menina), eram tenistas profissionais e muito considerados no esporte local. Eram agraciados com bolsas de estudo. No altiplano, as diferenças se destacam. Passei 40 dias conhecendo a área e o entorno, sem encontrar nada de anormal. Até aí.

Nos anos seguintes deu-se a revoada dos jacus. O crescimento de alunos/ano era avassalador. Começaram a surgir cursos de fundo de quintal, alunos do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul freqüentavam as aulas com botas e esporas, compravam provas, escandalizavam a sociedade local com seus modos grosseiros de peão de boiadeiro e filhos de papai fazendeiros, fechavam boates na base do tiro e outros vandalismos mais. Não gostavam do Savia Andina, nem do Pacha. Apenas isso.

O que era sonho, virou pesadelo. Estabeleceu-se o desrespeito, o descrédito e o preconceito contra o ensino boliviano e contra quem lá se havia graduado. Esses fatos levaram o Conselho Federal de Medicina a ter altíssimas precauções com os formandos na Bolívia, muito embora um bom número de profissionais médicos bolivianos, sem qualquer outra exigência, atuasse na política e na área de saúde, simultaneamente. Exemplo disso tem o doutor Armando Salvatierra, renomado. Não bastasse, na TV Bandeirantes, diariamente, o professor Wagner Horta enxovalhava a todos, sem qualquer conhecimento de causa e sem ressaltar as exceções.

Encurtando: os quatro alunos de medicina que formaram numa turma de 10, frutos da primeira leva, estão em situação confortável. Todos obtiveram o CRM através de exames de equivalência de estudos em universidades brasileiras, e conceitos obtidos através de provas orais e escritas. Tudo isso depois de haverem desembolsado 3 mil dólares para o tradutor oficial (verter o vocábulo anatomya para anatomia é trabalhoso) e mais uns bons trocados pelos carimbos e viagens para a realização dos exames. Todos já realizaram a R2. Agora, em 2008, um se prepara para um estágio em neurocirurgia pelo prazo de 6 meses nos Estados Unidos.

Uma trabalha num hospital de uma empresa que possui dois helicópteros estacionados no pátio para os deslocamentos de emergência. Outra possui uma clínica especializada em gastro-pediatria, faz PSF e muitos trabalhos sociais em Minas Gerais. Enfim, todos formados na Bolívia e muito bem, obrigada! Politicamente corretos. Não foram devidamente observados no Acre.

Estas são as razões de, juntamente com os formandos da primeira turma de medicina, embalde as ocorrências de fraude, me orgulhar e me realizar pessoalmente pela existência desse curso, como se tivesse feito parte de sua criação. Pode não ser o melhor curso do Brasil nem na melhor universidade brasileira. Mas é fruto do clamor de uma juventude filha de costureiras, seguranças, funcionários públicos e outros segmentos desprovidos de poder aquisitivo.

Não ficarão jamais acometidos da vaidade acadêmica de possuir a nobreza e a realeza do completo e complexo domínio em todas as áreas do saber. Não serão Deuses. As coisas aconteceram como deveriam ter acontecido. De Áulio Gélio Alves de Souza até Jonas Filho, fez-se o que tinha de ser feito, num escalonamento lógico e natural.

Um recado aos formandos da primeira turma de Medicina, com invólucro em papel de presente: Meninos e meninas: realizando os sonhos seus, realizam um sonho meu. Nossos irmãos e irmãs brasileiros do Acre precisam de atenção. Cada conquista precedida de noites insones deverá ser convertida em tentativas de proporcionar saúde para os excluídos, ribeirinhos, periféricos e adjacentes. O som das hepatites, das verminoses, dos maláricos e desnutridos devem soar alto em seus ouvidos. É hora de lutar pela vitória do conhecimento.

Foi para o senador Tião Viana o gesto de agradecimento pela implementação do curso. Para o doutor Rodrigo foi à afeição devida ao grande incentivador e mestre da arte do bem querer aos necessitados. Paraninfo de formando é sinônimo de identificação. Paraninfo é o recheio da empadinha.

Que Deus os abençõe em cada procedimento médico e os ilumine no diagnóstico das desventuras humanas. Estou realizada. E feliz!

Nossa querida Leila Jalul já despachou a bagagem num caminhão e vai embora do Acre nos próximos dias. Faz bem. Ela explica:

- Vou. Posso voltar. Aqui é meu lugar. Com ou sem sabiá. Vou de corpo. A alma ficará na blogosfera acreana, algumas vezes séria, outras vezes doida, muitas vezes ninguém. Gosto de ser doida. É um contraponto aos poucos sérios de plantão. O Acre me encanta. Os poucos amigos são razão para viver e apostar no porvir. O Acre poderá nunca vir a ser o melhor lugar para morar, mas, com certeza, é o melhor lugar para questionar e amar. Sem delongas nem medos.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

ESTRANHO E MEDROSO SOU EU

Luiz Calixto


Em que pese nossas profundas divergências políticas, posto que sou um deputado de oposição ao governo do PT, tenho profundo respeito pelo deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), presidente da Assembléia Legislativa do Acre. É um parlamentar firme e idealista.

Durante a festa de confraternização de final de ano dos funcionários da Assembléia Legislativa nos encontramos e conversamos por alguns instantes, quando fui informado por ele sobre a viagem de barco, de Cruzeiro do Sul até Manaus. Não esperei sequer ser convidado e já disse a ele que também iria.

Nossos propósitos e expectativas em relação à essa expedição eram os mesmos: nascemos no Acre (ele em Cruzeiro do Sul e eu em Tarauacá), andamos pelo Acre, e precisamos, como representantes eleitos democraticamente, conhecer as potencialidades econômicas da nossa terra.


É preciso conhecer a realidade para propor alternativas capazes de gerar as oportunidades de exploração para geração de renda. Começamos a viagem a partir de Cruzeiro do Sul no dia 3 de janeiro. Tudo foi registrado e divulgado. Nada foi feito às escondidas. A transparência foi total.

Nossas paradas nas cidades de Eirunepé, Carauari, Coari e Manacapuru serviram, sobretudo, para que os blogueiros Edvaldo Magalhães, Roberto Brana e Altino Machado postassem fotos e relatos da viagem. Quem acessou aos blogs sabe disso.

Durante a viagem, eu e Edvaldo conversamos acerca dos desdobramentos que deveríamos fazer na Assembléia com o objetivo de vermos implementados, através de políticas de governo, a exploração econômica do roteiro que navegamos.

A viagem terminou no sábado, dia 12, e no dia seguinte retornei para Rio Branco. Logo no inicio da semana, o professor Ednei Muniz postou no blog dele uma foto da embarcação já anteriormente divulgada pelos nossos blogueiros e, sem ouvir ninguém, sem esperar a divulgação dos resultados da expedição, elevou a embarcação à categoria de iate. E só. Pura maldade e jornalismo rasteiro.

Sabe ele que uma viagem de quase 5 mil quilômetros, regados a muito pium nos rios considerados maiores do Brasil (Juruá ) e do mundo (Solimões), tem que ser feita com um mínimo de conforto e muita segurança. Todos os barcos que navegam na região são assim ou melhores.

Ato continuo, o presidente da OAB, Florindo Poersh, que também é advogado da TV 5, sabe-se lá como, conseguiu a fita bruta das filmagens e a repassou para a TV Globo, que selecionou as partes que quis e partiu para tentar desmoralizar o sentido da expedição, cuja partida fora divulgada por ela no jornal do dia 2 de janeiro.

Faço aqui algumas perguntas a Florindo Poersh e ao senhor Ednei Muniz:

- Se fosse a intenção de fazer algo subterrâneo teríamos permitido que a viagem também fosse composta por cinegrafista e fotografo?

- Qual o pecado cometido em cantar parabéns para o deputado Juarez Leitão? Todos os dias, em alguma repartição pública, se prestam homenagens a alguém que está aniversariando. Incivilizado é não fazer isso.

- Qual o erro de quem, em 5 mil quilômetros de rios, resolveu dar um mergulho? Queriam o que? Que pulassem de paletó e gravata? Estranho sou eu que, por medo, não fiz isso.

Mas isso não vai me amedrontar. Continuarei insistindo no propósito da viagem e trabalharei para a implementação de políticas públicas para a exploração econômica do roteiro percorrido.

Se houver desgaste, o suportarei. Quem acompanha minha trajetória política sabe que não arredarei um milímetro sequer das minhas convicções. Não sou oposicionista de momento.

Quanto aos questionamentos feitos pela OAB-AC, tenho certeza que a Mesa Diretora os responderá com a maior transparência e rapidez. Nada fizemos de ilegal.

E espero que a OAB continue cumprindo o seu papel e que essa atitude não seja apenas o reflexo de uma questão pessoal que o presidente da OAB tem contra o deputado Edvaldo Magalhães.

O deputado estadual Luiz Calixto (PDT) é o opositor mais radical ao governo petista do Acre.

"EU TAMBÉM QUERO IR"

Do sertanista José Carlos dos Reis Meirelles Júnior sobre a polêmica expedição organizada pela Assembléia Legislativa do Acre nos rios Juruá e Solimões:

- Sempre existem outros interesses por traz de cada notícia. São raras as notícias isentas porque quase todo jornalista ou dono de veículo de comunicação é um político partidário. Toda notícia sempre terá tantas versões quanto forem as tendências políticas envolvidas. É o jogo da democracia. Como a iniciativa me parece realmente relevante para que se possa conhecer um pouco mais da realidade amazônica, os deputados acreanos deveriam anunciar o roteiro da próxima expedição. Mas me convidem porque também quero ir.

Meu caro: o segurança da Assembléia que aparece sentado tomando cerveja durante a reportagem do Jornal Nacional estava num bar e não no interior do barco como o telespectador é induzido a acreditar. O desembargador Arquilau de Castro Melo comandou expedições ao alto Juruá enquanto presidia o Tribunal de Justiça. Não foi criticado por isso. Jorge Viana, durante os oito anos de governo também dirigiu caravanas de convidados ao Peru, Bolívia e pelo interior do Acre. Até eu estive com ele em La Paz, quando o presidente boliviano perguntou acidamente, ao final da apresentação de cada membro da delegação, se ficara algum acreano no Acre. O senador Tião Viana também tem dirigido várias expedições de reconhecimento, dentro e fora do Acre, mas não tem sido atacado por isso. O jogo na política é realmente pesado e tudo o que foi exibido no Jornal Nacional já havia sido relatado e mostrado na web. É forçar demais a barra ao apresentar um "parabéns pra você" ou mergulho no rio como um atentado à ética. Existe tanta coisa realmente grave acontecendo na Amazônia e que a mídia teima em não enxergar. Meirelles querido, não esqueça também de me convidar quando conseguir organizar aquele encontro sobre índios isolados que o governador do Acre Binho Marques prometeu ajudá-lo a realizar à sombra das florestas que margeiam rio Envira. Eu também quero ir.

FOLHA DESTACA VIAGEM AO JURUÁ

Pra começar: acreano que gosta mesmo de passear não vai para o baixo Juruá matar pium, naquela que é considerada uma das regiões com menor densidade demográfica do planeta. O povo daqui gosta mesmo é da costa do Sauípe, Fortaleza, Rio, Florianópolis, Miami, Paris.

O "iate" citado em reportagem do jornal Folha de S. Paulo (abaixo) é a embarcação de pesca da família Benchimol, dona das lojas Bemol e da distribuidora Fogás. Conheço o Umuarama, barco de luxo de uso exclusivo da família, indisponível às empresas que promovem turismo na região.

Hoje, no Amazonas, é rotina a realização de eventos em barcos cujo conforto não pode ser comparado aos batelões e recreios que singram nossos tortuosos rios.

Participei, em julho de 2006, do
simpósio internacional de religião, ciência e meio ambiente organizado pelo patriarca da Igreja Ortodoxa. Durou uma semana (veja aqui) no Rio Negro, tendo à frente o luxuoso Ibero Star, além de 10 barcos, entre os quais estava o Igaratim-Açu, usado pela mesa diretora da Assembléia Legislativa para percorrer o Juruá e o Solimões.

Hábil na política, o deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), presidente da Assembléia, deve estar rindo à toa por causa da visibilidade alcançada por sua expedição. No ano passado, ele percorreu a Estrada do Pacífico, no Peru, e a mídia não deu a menor atenção. Neste ano, porém, em pleno recesso, há mais de duas semanas a expedição ao Juruá tem sido destacada em blogs e jornais do Acre, Amazonas e São Paulo.

Ainda bem que Magalhães foi transparente ao tornar público que estava percorrendo o Juruá, um dos rios mais importantes do planeta, mas que pouca gente tem coragem de enfrentá-lo por ser uma das regiões com maior incidência de praga de insetos. Teria sido hipócrita se tivesse tentado conferir algum valor científico numa viagem de apenas 10 dias.

A Folha acabou pautada pelo site AC 24 horas, que sabemos não se afinar com o presidente da Assembléia por causa da defesa aberta que faz da escória da política acreana. O principal redator de um noticiário eivado de inverdades sobre a expedição é Edinei Muniz (leia mais), assistente do
advogado do ex-deputado Roberto Filho, acusado de tramar com o filho o assassinato de um juiz, de uma promotora e de um oficial de justiça. Magalhães contribuiu pesadamente para que a Justiça mandasse o seu ex-colega para um presídio de segurança máxima, onde se encontra até hoje.

Aliás, o repórter Leônidas Badaró, que participou da expedição, foi procurado por Muniz logo após a viagem. Acusado pelo Sindicato dos Jornalistas do Acre de exercício ilegal da profissão, Muniz ofereceu a Badaró R$ 500 por alguma foto na qual algum deputado estadual aparecesse ingerindo bebida alcoólica.

A gente sabe que iate é a mesma coisa que embarcação, mas quando se usa a palavra iate num título de reportagem como foi editada a da Folha, o efeito que se tem é outro. Entendo bem dessas filigranas semânticas. Mas a reportagem da Folha é bastante esclarecedora, embora contenha algumas imprecisões em decorrência de que o jornal se habituou a usar apenas telefone para a cobertura, a partir de Sampa, da imensa Amazônia.

O engraçado é que a Folhapress, do mesmo grupo que edita o jornal que trata a expedição com exotismo, vende o trabalho de Odair Leal, fotógrafo oficial da Assembléia do Acre, que fez as melhores fotos da viagem. Ontem mesmo eles pediram fotos a Leal. Clique aqui para conferir.

Espero que na próxima expedição a Folha de S. Paulo também seja convidada pela mesa diretora, para ver de perto e contar de certo.

Leia a reportagem da Folha, assinada por Matheus Pichonelli:


Assembléia do Acre paga passeio de iate

Viagem de 4.375 km pelos rios Juruá e Solimões teve 5 deputados estaduais

Segundo a Casa, R$ 40 mil foram gastos; deputado diz que objetivo era observar as margens, afetadas pela "ocupação de ribeirinhos"

Em pleno recesso, a Assembléia Legislativa do Acre promoveu um passeio de iate pela Amazônia que levou deputados, empresários, representantes indígenas e jornalistas para "conhecer de perto os problemas dos rios" da região.

O custo da "expedição" foi de cerca de R$ 40 mil, de acordo com a Assembléia.

Ao todo 24 pessoas, entre elas cinco deputados estaduais, percorreram 4.375 quilômetros dos rios Juruá e Solimões. Saíram de Cruzeiro do Sul (590 km de Rio Branco) em 3 de janeiro e chegaram a Manaus no dia 12. Um dos convidados, o deputado Juarez Leitão (PT), levou a mulher e dois filhos.

Durante a expedição, os convidados conheceram as cidades ribeirinhas, fizeram mergulhos, nadaram, pescaram, jogaram dama, xadrez e ouviram apresentação de violão.

Na viagem, um tronco que havia caído no rio após uma chuva avariou o eixo do barco, que teve de ser rebocado. A diária da embarcação é de R$ 3.250, segundo o presidente da Casa, deputado Edvaldo Magalhães (PC do B).

O iate, chamado Igaratim-Açu, possui 32 metros de comprimento e 6,5 metros de largura. Tem 14 cabines com ar-condicionado e suíte, salões de refeição e de vídeo, além de antena parabólica e GPS.

Segundo um gerente operacional de viagens da região, que pediu para não ser identificado, em uma viagem entre Manaus e Cruzeiro do Sul seriam gastos R$ 40 mil só com diesel. Ele avalia que os custos da viagem sejam de R$ 160 mil.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Acre, Florindo Poersch, disse que um requerimento será protocolado hoje na Assembléia pedindo esclarecimentos sobre a viagem. "Se for caracterizado algo ilícito, providenciaremos uma ação para devolução do dinheiro."

O presidente da Assembléia rebateu as críticas. Segundo ele, o objetivo da viagem era que a comitiva observasse a situação das margens dos rios e da mata ciliar "comprometida com a ocupação de ribeirinhos". "Não adianta investir em asfalto se não levarmos em conta a situação dos rios. Depois da viagem, podemos debater e votar propostas", disse.

Ele disse que irá sugerir que o trajeto percorrido se torne um roteiro turístico.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

PT ASSIMILA CRÍTICA DO PC DO B

Nota diz que o partido quer Josemir Anute
ocupando mandato deixado por Naluh Gouveia


"O Partido dos Trabalhadores, em total respeito ao capital político e aos espaços institucionais legitimamente conquistados nos últimos 17 anos através da ampla política de alianças com os partidos que formam a Frente Popular do Acre – FPA, vem a público reafirmar seu total reconhecimento e gratidão à ex-deputada Naluh Gouveia, cujos mandatos parlamentares e a militância estudantil e sindical servirão sempre de inspiração e exemplo para todos os petistas.

Tanto o Diretório Regional quanto a Executiva Regional do PT querem deixar claro para os demais partidos da Frente Popular e para a sociedade em geral, que a eleição de Naluh Gouveia para compor o quadro de conselheiros do Tribunal de Contas do Estado - TCE, com o voto favorável de todos os deputados da nossa bancada parlamentar na Assembléia, foi uma decisão que muito nos honrou e engrandeceu, por se tratar de uma demonstração inequívoca da aptidão de nossos quadros dirigentes para as mais diversas funções públicas.

Assim sendo, que fique claro também aos demais partidos da Frente Popular e à população acreana, que Naluh Gouveia foi uma militante fiel e consciente de suas responsabilidades partidárias, e por isso contará sempre com o respeito e a consideração, tanto dos dirigentes, quanto dos filiados e militantes petistas.

A sua decisão de se desfiliar do Partido dos Trabalhadores deu-se em função dos requisitos exigidos para se habilitar a ocupar a função de conselheira do Tribunal de Contas do Estado – TCE e contou com a total aprovação de todos os petistas.

Nós do PT entendemos que, com sua renúncia ao mandato parlamentar legitimamente conquistado, a vaga deixada na Assembléia Legislativa deve ser ocupada pelo primeiro suplente da Frente Popular do Acre, no caso o Sr. Josemir Anute, do PR, que faz jus ao mandato de deputado estadual para manter a maioria da Frente Popular do Acre naquela casa legislativa.

Qualquer atitude contrária a este entendimento, parta de onde partir, não contará com a aprovação e muito menos o apoio do Partido dos Trabalhadores, que continuará envidando todos os esforços para que os direitos de cada um dos militantes dos partidos que integram a Frente Popular do Acre sejam respeitados e os espaços legitimamente conquistados nas eleições de 2006 sejam garantidos.

Em síntese, para o PT do Acre, não há dúvida quanto à fidelidade da sempre militante ex-deputada Naluh Gouveia e, da mesma forma, que o mandato ao qual ela renunciou no parlamento estadual seja ocupado pelo suplente Josemir Anute.

O PT quer a Frente Popular unida e a continuidade dos avanços conquistados para o bem do povo acreano!

Partido dos Trabalhadores – Acre, 15 de janeiro de 2008".

EDVALDO CRITICA PT E FRENTE POPULAR

O deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), presidente da Assembléia Legislativa, bateu forte e colocado ao concluir artigo a respeito de seus aliados no PT e na Frente Popular do Acre:

"Nós da Frente Popular só nos constituímos em força majoritária da política acreana pela capacidade de aglutinar amplas forças em torno de um projeto de desenvolvimento para o Acre. O hegemonismo unilateral sempre leva à derrotas. Vide o que ocorreu com os partidos comunistas do Leste Europeu, para citar exemplos de casa. Para os que querem levar o projeto de Frente Popular mais adiante se faz necessário pensar e agir de forma plural.

Posiciono-me por que encaro como grave o que se está tentando.

Todos têm o direito de buscar e ocupar seus espaços na política. Só que na vida tudo tem hora, tem o respectivo lugar.

Subtrair direitos não contribui em nada para com o projeto político que estamos construindo no Acre.

Não é elegante querer ganhar o jogo na base do gol de mão e na cara do juiz".

Clique aqui para ler a íntegra do artigo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

VAI DIABO, VAI LOGO

Leila Jalul

"Já vão tarde
fora de hora
calças rasgadas
e bundas de fora"

Esta e outras trovinhas foram muito utilizadas na minha infância. Era recitada aos berros quando a meninada, após horas de brincadeiras, resolvia ir para casa, com medo de apanhar, justo na hora que alguém estava prestes a ganhar uma partida de vôlei de charco, ou de baleado, no campinho da igreja.

Bando de medrosos! Mais vale uma lambada nas costas do que interromper o melhor da festa. Minha preferida não era aquela. Sempre fui mais língua suja. Era esta:

"Vai diabo,
vai logo
vai cagar no mato
e limpar o toba
com o salto do teu sapato"

Tudo para contar um quadro "imperdível", um tal "De volta para a minha terra", no programa Domingo Legal, do Gugu Liberato.

De fachada, parece um bonito gesto do menino louro, cria do distinto Senor Abravanel. Afinal, quem não deveria admirar e enaltecer o carinho com que o nosso delicado herói trata os menos afortunados?

São os arigós da Bahia, das Alagoas, do Delta do Parnaíba e de todo o resto da região do agreste e dos alagados, que, por falta de oportunidade e/ou capacidade para o trabalho, ou por outras razões, não decolaram na capital paulista.

São o pai, a mãe e uma reca de crianças, normalmente morando em periferias e lixões, magoados com a sorte madrasta, geladeiras e prateleiras zeradas, desempregados e sem um tostão furado para empreender a viagem de volta. E voltam, felizes. Voltam para o outro lado do nada.

Lá no outro lado do nada, uma mãe sofrida lembra, entre uma lágrima e outra, os filhos que foram e não podem voltar. E se voltarem voltarão com menos do que quando partiram.

O quadro já é bem antigo. Tem longos minutos de duração. Acontece com um matiz de estardalhaço, bem próprio dos amantes da filantropia com direito a reconhecimento público.

Algumas viagens de volta são de avião. Outras, de ônibus ou cata-corno, como alguns nordestinos classificam o transporte coletivo rodoviário. O jornalista vai junto, mostrando as belezas das áreas dos cantões secos, capins queimados, casas de taipa. Logo atrás, um caminhão da Granero vem com móveis novos, de legítimo aglomerado, e alguns eletrodomésticos básicos.

Noutro carro, um ano de cesta básica, alguns produtos da Cazo ou de outro anunciante, para que a mulher possa ser revendedora e, enfim, para a garotada, a linha dos brinquedos do nosso bom samaritano. Caramba! Já ia esquecendo: tem também um envelopinho com uns trocados dentro, para, dependendo do mercado local, o chefe da família possa iniciar um novo negócio na cidade, vila, roça etc.

O processo de deportação (ou seria desova?) é completo.

Um bom antropólogo e um não menos bom sociólogo saberiam bem explicar esse retorno ao ponto de partida que, nos últimos anos, por baixo, por baixo, já retirou das ruas paulistanas pelo menos uns 600, 800 cabras da peste inservíveis ou improdutivos. Não sei como o bom ariano trata ou pensa dessa gente simples. Uma coisa eu sei: educado como ele só, jamais recitaria as minhas trovinhas.

Mas a musiquinha que toca ao final do quadro é cretina e serve de alerta aos que ousem migrar para a paulicéia desvairada, assim como quem diz: vem quem quer. Falta de aviso, não é.

"De que me adianta viver na cidade
Se a felicidade não me acompanhar
Adeus, paulistinha do meu coração
Lá pro meu sertão eu quero voltar".

O busilis da questão não está no ter ou não ter gestos de solidariedade. Nem no se fico ou se vou. Gostaria de saber das intenções.

As estatísticas mostram que não é nordestina a maioria da população carcerária. E mais: São Paulo tem a maior colônia japonesa fora do japão, a máfia chinesa anda por lá, bolivianos escravizados à luz do dia, chilenos, coreanos, israelenses, turcos, peruanos, italianos, portugueses, poloneses, libaneses, alemães, ucranianos, virginianos, skinheads e punks, catarinenses, porto-alegrenses e paranaenses, aos rodos. Muitos estrangeiros ilegais e nenhum deles tem um programa especial que se intitule "De volta para a minha terra".

Se não for perguntar demais, quem paga essa conta? Quem estimula essa desagregação?

"TÁ BRABO"


O sertanista José Carlos dos Reis Meirelles, chefe da Frente de Proteção Etno-Ambiental do Rio Envira, revelou ao blog que uma turma de 40 índios isolados passou pela aldeia Carijó, da etnia ashaninka, localizada próxima à sua base de trabalho. Os índios erraram um tiro contra uma criança ashaninka, roubaram quase tudo das casas e fugiram.

Meirelles, vencedor da última edição do Prêmio Chico Mendes, do Ministério do Meio Ambiente, disse que os ashaninka rastejaram, mas não encontraram, felizmente, a turma de isolados que se deslocou rumo ao rio Tarauacá.

- Estamos diante de um êxodo de isolados do Peru para o Brasil. Provavelmente um grupo que teve acesso a armas de fogo via saque. Ou então, a mando de madeireiros, estão perambulando na região dando uma de brabo. Felizmente o rio alagou como nunca nestes 20 anos que moro lá nos altos e aí fica difícil atravessar os igarapés.

E as providências que o sertanista tem sugerido aos governos estadual e federal?

- Bem, o Exército roeu a corda de uma operação que iria fazer na área. O problema é que existe um monte de firma brasileira construindo estradas no Peru, cuidado da nossa ligação com o Pacífico, e me parece que ninguem quer quizumba com o companheiro Alan Garcia. Tem um PAC entre os dois países. Já deu pra entender onde as pacas roem esse coco. Quando morrer um bocado de gente, talvez alguma providência. Eu disse talvez. Enquanto isso, a gente vai botando um pouquinho de areia na engrenagem que come a Amazônia. O vento é grande, o moinho maior. Sancho Pança está com pressão e colesterol alto. Rocinante nem mais relincha e Dom Quixote de La Mancha nem pinta e nem mancha. Tá brabo - concluiu Meirelles.

No alto, foto da enchente no rio D'ouro, que atingiu a casa da indigenista Paula Meirelles.

AMBIENTALISMO SEGUNDO O EVANGELHO


Deu no site O Eco:

"Não é de hoje que Marina Silva pende com força para o lado religioso da política. Além de não desgrudar de sua bíblia Católica, a ministra, ligada à Assembléia de Deus, participa agora de eventos voltados à difusão do Criacionismo. Pela doutrina, plantas e animais foram criados por Deus e não moldados pela evolução, como mostrou Charles Darwin. Vale lembrar que o casal Garotinho provocou polêmica quando tentou inserir o Criacionismo na rede escolar carioca, em 2004.

A crença da ministra no Criacionismo pode ser comprovada em entrevista gravada em vídeo depois de sua participação do Simpósio Criacionismo e Mídia realizado neste último fim de semana no interior de São Paulo. Perguntada se acredita no Criacionismo, Marina disse: “É impossível crer em Deus sem acreditar que ele tenha criado todas as coisas (...) Existe um projeto inteligente da inteligência divina que governa tudo isso.” A entrevista foi dada ao Canal O Q Há, voltado a jovens adventistas, que na visão da ministra é a linha do cristianismo mais antenada com a defesa do meio ambiente.

Na entrevista, a ministra Marina Silva criticou também o fato das escolas só ensinarem o evolucionismo de Darwin. Segundo ela, isso não dá a visão plural das teorias científicas sobre o surgimento da vida na Terra. Deixou claro inclusive que suas filhas estudam em colégios que ensinam tanto a Teoria da Evolução quanto o Criacionismo. Seu argumento é bem próximo ao que tem sido usado pelos defensores desta última linha nos EUA. Lá a introdução da “controvérsia no ensino” já se tornou até mesmo uma campanha de professores e pais religiosos".

Clique aqui para assistir ao vídeo da entrevista.

A IMPRENSA E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Análise inédita de textos publicados em 50 jornais de 2005 a 2007 mostra que a atenção da mídia no tema se intensificou, mas falta explorar as causas e possíveis soluções para o fenômeno

A mídia ainda tem muitos desafios para aprimorar seu trabalho na cobertura de mudanças climáticas. É o que conclui a pesquisa Mudanças Climáticas na Imprensa Brasileira, que a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) lança nesta terça-feira com o apoio da Embaixada Britânica.


O trabalho analisou 997 textos - entre reportagens, editoriais, artigos, colunas e entrevistas, publicados em 50 jornais - de julho de 2005 a junho 2007. O material representa uma amostra dos textos veiculados sobre o tema no período. A partir dos dados coletados foi elaborado um mapa bastante detalhado do tratamento editorial dispensado pelos jornais às alterações climáticas.

O ritmo da cobertura se manteve crescente no período analisado, especialmente no ano passado. No primeiro ano da análise identificou-se um texto publicado a cada cinco dias. Essa média cresce para uma matéria a cada dois dias no primeiro semestre de 2007.

- Essa pesquisa, pioneira, comprova que o tema vem ganhando cada vez mais visibilidade na imprensa brasileira, certamente influenciada por grandes acontecimentos internacionais, como o lançamento do filme Uma Verdade Inconveniente, de Al Gore, e a divulgação dos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC). Esses eventos permitiram que os jornalistas se familiarizassem com os fatos e a agenda relacionada ao fenômeno - explica Cristiane Fontes, gerente do Programa de Comunicação em Mudanças Climáticas da Embaixada Britânica.


Segundo a pesquisa, a temática esteve mais presente nos veículos de abrangência nacional (Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, O Globo e Correio Braziliense) e econômicos (Valor e Gazeta Mercantil). Enquanto os 44 jornais de circulação regional contribuíram, na média individual, com 1,46% dos textos veiculados no período, os quatro veículos nacionais somados aos dois de cunho econômico contribuíram - também na média individual - com 5,95% das matérias publicadas. Uma diferença superior a quatro vezes.

Falta de contextualização
Apesar do incremento na cobertura, o estudo mostra que a maior parte do material ainda carece de contextualização e apresenta, portanto, muitas oportunidades de aprimoramento. Do universo analisado, por exemplo, apenas um terço aborda as causas das mudanças climáticas e aponta soluções

- Você coloca as conseqüências, mas não sublinha os antecedentes e estratégias de enfrentamento da questão. Não adianta dizer que pode haver furacões, aumento do nível do mar, sem falar o que causa os fenômenos e o que pode ser feito, seja para mitigar ou se adaptar ao problema - esclarece Guilherme Canela, coordenador de Relações Acadêmicas da ANDI e responsável pelo estudo. Segundo o especialista, mesmo o percentual de textos que mencionam o que é uma mudança climática é muito pequeno. Apenas 1,1% dos textos esclarece esse conceito ao leitor.


Com base nos resultados da análise, Guilherme Canela ressalta que a mídia exerceu pouco sua função de monitorar as políticas públicas. "Se os especialistas apontam que o Brasil ainda não possui ações na área, isso não é desculpa. A imprensa não pode falar sobre o que não existe, mas pode fazer uma cobertura de cobrança", diz. De acordo com o estudo, dos 997 textos analisados, apenas 3% levantam a responsabilidade do governo, 0,9% do setor privado e 0,25% da sociedade civil.

Desenvolvimento fora do debate
A pesquisa Mudanças Climáticas na Imprensa Brasileira revela que menos de 15% do material relaciona o tema à agenda do desenvolvimento, apesar da importância dessa conexão para o debate sobre a busca de soluções. Segundo a análise, a perspectiva ambiental é a principal forma pela qual a mídia reporta a questão (35,8% dos textos), seguida pelo enfoque econômico (19,7%).

- A partir de agora é importante diversificar a cobertura para além da perspectiva ambiental e científica, assim como dar a ela contornos nacionais, apresentando à sociedade brasileira não apenas de que forma as mudanças climáticas podem afetar o desenvolvimento socioeconômico, mas também diferentes estratégias para combater o problema - afirma Cristiane Fontes, da Embaixada Britânica.


Entre os pontos positivos mostrados pelo trabalho, de maneira geral os jornais diversificaram as fontes ouvidas, consultando diferentes categorias de atores. Poder público, especialistas, técnicos e universidades, empresas não estatais e governos estrangeiros foram os mais ouvidos. O estudo também salienta um volume expressivo de material opinativo na amostra analisada: 26,7% são compostos por editorais, artigos, colunas e entrevistas.

Oportunidades
Em suas conclusões, os organizadores da pesquisa consideram que os elementos ainda pouco abordados pela mídia podem ser encarados como oportunidades para manter o tema em foco daqui para frente. Inclusive com a perspectiva de que, em 2008, surgirão novas pesquisas sobre os impactos das mudanças climáticas para o Brasil, o governo começa a trabalhar na elaboração de um Plano Nacional de Mudanças Climáticas e será dada continuidade ao Mapa de Bali, resultado da última Conferência das Partes da Convenção do Clima que vai nortear as discussões para um acordo pós-2012.


Ao oferecer ao jornalista interessado um panorama sobre o atual diagnóstico da cobertura - além de trazer dados de vários estudos internacionais - a pesquisa Mudanças Climáticas na Imprensa Brasileira permite ao profissional de imprensa detectar quais são os pontos nos quais ele pode avançar. Ao mesmo tempo, os dados são relevantes para que as fontes de informação aperfeiçoem o seu diálogo com os meios de comunicação nesse debate.

Clique aqui para baixar a íntegra do estudo.