quinta-feira, 19 de junho de 2008

SAÚDE À ESPERA DE SOCORRO







Há menos de um mês constatei que em Rio Branco, a capital da hepatite, desde dezembro do ano passado não se faz exame da doença no Laboratório Central (Lacen) da Secretaria de Saúde. Avisei ao sub-secretário Sérgio Roberto, que por sua vez delegou a um subordinado que me desse explicações sobre o fato.

O subordinado negou a falta do kit para exame de hepatite, mas acabou admitindo que havia "um pequeno problema" quando sugeri que levasse alguém para fazer exame.

No mesmo dia compareci ao gabinete do governador Binho Marques e pedi que uma de suas secretárias transmitisse a ele a situação. Ela tomou nota, mas desde então, lamentavelmente, jamais obtive resposta. Clique aqui e leia, no site do Grupo Otimismo de Apoio ao Portador de Hepatite, sobre uma realidade que atinge o país inteiro.


Faz mais de dois meses que venho tentando, a pedido de meu médico, Eduardo Farias, vice-prefeito de Rio Branco, fazer um exame de dosagem de TSH (tireóide) na Fundação Hospital do Acre. Tomei a liberdade de enviar ontem uma mensagem para o e-mail pessoal do governador comunicando-lhe que não existe o reagente para tal exame na Fundhacre.

Mesmo sem o reagente, meu sangue foi coletado no dia 24 de abril para ser estocado até que o produto fosse adquirido. Mas aceitaram fazer a coleta em decorrência da boa vontade em resolver que sempre demonstra o sub-secretário Sérgio Roberto, a quem chegaram a informar que o reagente não estava em falta. O "resultado" foi liberado após mais de um mês.

Pois bem, voltei ao médico anteontem. Tanto ele quanto eu ficamos surpresos porque o exame não fora feito. Ao abrir uma folha grampeada de papel, estava escrito "sem reagente".

Falei ontem com o médico Thor Dantas, diretor da Fundhacre, e com Sérgio Roberto, que demonstrou irritação com a situação e prometeu resolvê-la. O médico explicou que estão num cabo-de-guerra com alguns fornecedores, em decorrência de um novo sistema de compra que está sendo adotado, mas que meu caso seria resolvido. Horas depois fui informado que, além de mim, outros pacientes serão atendidos nesta manhã em laboratório particular.

Não tenho razão de duvidar da disposição verdadeira da cúpula da Secretaria de Saúde em oferecer melhor atendimento à população, mas existe gente no meio do caminho pondo a perder todo o esforço. Meu drama não é nada diante das imagens expostas aqui. O Hospital de Urgências e Emergências de Rio Branco, popularmente conhecido como Pronto Socorro, está em situação lastimável após as seguidas reformas que consomem altas somas de verbas públicas.

Das três salas cirúrgicas existentes, uma está interditada por causa das goteiras. Outra sala cirúrgica não pode ser utilizada porque o carro de anestesia permanece quebrado, não permitindo a realização de "anestesia geral", que é o tipo de anestesia mais utilizada dentro de um hospital de trauma.

O Pronto Socorro deveria contar com pelo menos três carros de anestesia, isto é, um para cada sala de cirurgia. Isso poderia possibilitar a realização de até três cirurgias simultaneamente, uma probabilidade que pode acontecer a qualquer momento, caso haja algum acidente envolvendo mais de uma vítima.

Na verdade existem os três carros de anestesia, mas dois deles estão estão quebrados há mais de dois anos. Ou seja: chegando dois ou mais pacientes graves no Pronto Socorro, um vai ser operado e o restante terá que esperar.

Além disso, um dos carros de anestesia está descalibrado, é considerado de péssima qualidade técnica e coloca o paciente em sério risco de vida se for utilizado no atual estado. Outro carro de anestesia está completamente avariado e sem nenhuma condição de uso.

Há três meses a direção do hospital afixou na parede do setor de repouso médico o seguinte aviso: "Comunicamos aos servidores que utilizam os repousos do HUERB que o Almoxarifado Central encontra-se com falta de tecidos para confecção de lençóis. Por isso solicitamos que tragam seus lençóis de casa para utilizarem no repouso, tendo em vista que em tal situação o paciente deve ser a nossa prioridade. Agradecemos a compreensão".

A última novidade da direção do Pronto-Socorro em relação aos médicos da instituição são os novos beliches. Eles foram fabricados com uma madeira conhecida na região como "lôro-bosta". Imaginem o cheiro que predomina no ambiente.

O Conselho Regional de Medicina do Acre e a Vigilância Sanitária se calam, a mudança do fuso horário do Acre parece tirar a atenção do médido e senador Tião Viana, enquanto algumas pessoas do governo tapam os ouvidos para os gemidos da população. Não vou dizer nada a respeito do Ministério Público do Acre para não acabar preso por força da sanha de alguém do parquet.

Mas um funcionário bem humorado do setor de saúde perguntou-me se sei quem é o maior frequentador do Centro Cirúrgico do Pronto Socorro. Diante de minha negativa, completou:

- O "doutor" Balde.



Atualização às 9h16: por conta da Secretaria de Saúde, foi coletado nesta manhã meu sangue no laboratório da Santa Casa para os exames TSH, T3 e T4. Estarão prontos na segunda-feira. Quando necessário, vou recorrer sempre ao atendimento público de saúde. Pago impostos para alimentá-lo, tenho direitos e farei sempre o que julgar necessário para colaborar com a sua plena melhoria. Esse é o objetivo do relato acima.

5 comentários:

Jalul disse...

Altino, diante do que você nos relata, é o MP que deve temê-lo e não você ao Parquet.
A Dra. Gilcely Evangelista, filha de minha querida Desembargadora Eva , tempos atrás andou dando uma batida nos postos de saúde e noutros centros, verificando e denunciando a ausência de médicos e o descumprimento dos horários destes nas diversas unidades de saúde. Confesso que, a princípio, estranhei o fato da Dra. Gilcely ter caído de sola em cima de um neurocirurgião. O especialista alegou motivos de força maior para não estar presente para o pronto atendimento de um traumatizado. Não lembro bem os detalhes.
Quando leio o que você expõe, penso que a Dra. Gilcely deveria dar uma voltinha para ver o estado de terminalidade do Pronto Socorro e do Laboratório que atende a população de baixa renda.
Ela há de ver, há de denunciar e chamar na grande os responsáveis por esta situação caótica.
Afora os casuismos, morrerei dizendo que o MP é um braço forte para que se faça justiça social. E por ser forte, incomoda. Incomoda ao ponto de lhe desejarem impor mordaças.
Continue cobrando, denunciando, mostrando o lixo que se quer esconder (não dá para esconder um balde debaixo dos tapetes). Repito: não tenha medo do MP, ele ainda terá em você um aliado. Faça sua parte.

Nadja Barros disse...

Altino, que lástima!!!!
Tenho vergonha, mas admito que não viajo com meus filhos para Rio Barnco, por medo de que se repita o que aconteceu com meu filho em 2002, na época com dois anos. Ele caiu e deslocou o cotovelo. Rodei a cidade e não encontrei urgência infantil aberta (era domingo de tarde). Fui ao PS e não havia ortopedista. Fui à Pronto Clínica e esperei a chegada do ortopedista, que já estava atrasadíssimo! Pedi licença às pessoas que já o aguardavam, que me dessem preferência, visto que meu filho chorava muito com dor. Todos concordaram e eu agradeci entre soluços!! Quando chegou, o DR., estava bêbado!!! Olhou a criança, disse que nunca tinha visto um cotovelo deslocar (!!!!!!!!) e me informou que rx somente na segunda pela manhã, por isso eu deveria manter o braço imobilizado daquela hora até o outro dia (como eu poderia imoblizar o braço de um menino de 2 anos, que não parava quieto nem pra comer?)
Quando cheguei em casa, consegui fazê-lo dormir e quando acordou, estava com o braço no lugar!!! Nestas horas, só DEUS!
Pelo visto, a situação não mudou nada em Rio Branco! Aliás, o que parecia impossível, aconteceu, a situação conseguiu ficar pior!!! Isto me dói na alma!!! Quando penso em voltar pra minha cidade, lembro desta e outras, e a vontade passa rapidinho!
Um abraço e tudo de bom pra vc e sua família! Nadja.

ALTINO MACHADO disse...

Em tempo: Nadja é dentista em Salvador (BA). O Acre está cheio de profissionais como aquele ortopedista. Não dá mesmo para ficar com dor de cotovelo. Felicidades pra vocês.

Nadja Barros disse...

Em tempo 2: A situação aqui em Salvador também não está lá "grandes coisas"!
O que me salva realmente é a "rede" de amigos queridos, alguns médicos e outros que sempre conhecem alguém que pode ajudar...minha vizinha que o diga, é pediatra e já deve estar cansada de me ver tocando sua campainha!... Abraços novamente!

Unknown disse...

Imagine os que não tem o endereço do gabinete do governador, o e-mail pessoal do mesmo e tão pouco tem acesso ao sub-secretário como ficam.