terça-feira, 13 de maio de 2008

CARTA DE DEMISSÃO DE MARINA SILVA

A íntegra da carta de demissão da ex-ministra Marina Silva, do Meio Ambiente:

"Caro presidente Lula:

Venho, por meio desta, comunicar minha decisão em caráter pessoal e irrevogável, de deixar a honrosa função de Ministra de Estado do Meio Ambiente, a mim confiada por Vossa Excelência desde janeiro de 2003. Esta difícil decisão, Sr. Presidente, decorre das dificuldades que tenho enfrentado há algum tempo para dar prosseguimento à agenda ambiental federal.

Quero agradecer a oportunidade de ter feito parte de sua equipe. Nesse período de quase cindo anos e meio esforcei-me para concretizar sua recomendação inicial de fazer da política ambiental uma política de governo quebrando o tradicional isolamento da área.

Agradeço também o apoio decisivo, por meio de atitudes corajosas e emblemáticas, a exemplo de quando, em 2003, Vossa Excelência chamou a si a responsabilidade sobre as ações de combate ao desmatamento na Amazônia, ao criar o grupo de trabalho composto por 13 ministérios e coordenado pela Casa Civil. Esse espaço de transversalidade de governo, vital para a existência de uma verdadeira política ambiental, deu início à série de ações que apontou o rumo da mudança que o País exigia de nós, ou seja, fazer da conservação ambiental o eixo de uma agenda de desenvolvimento cuja implementação é hoje o maior desafio global.

Fizemos muito: a criação de quase 24 milhões de hectares de novas áreas de conservação federais, a definição de áreas prioritárias para conservação da biodiversidade em todos os nosso biomas, a aprovação do Plano Nacional de Recursos Hídricos, do novo Programa Nacional de Florestas, do Plano de Ação Nacional de Combates à Desertificação e temos em curso o Plano Nacional de Mudanças Climáticas.

Reestruturamos o Ministério do Meio Ambiente com a criação da Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental, da Secretaria de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e do Serviço Florestal Brasileiro; com a melhoria salarial e realização de concursos públicos que deram estabilidade e qualidade à equipe; com a completa reestruturação de equipes de licenciamento e o aperfeiçoamento técnico e gerencial do processo. Abrimos debate amplo sobre as políticas socioambientais por meio da revitalização e criação de espaços de controle social e das conferências nacionais de Meio Ambiente, efetivando a participação social na elaboração e implementação dos programas que executamos.

Em negociações junto ao Congresso Nacional ou sem decretos, estabelecemos ou encaminhamos marcos regulatórios importantes, a exemplo da Lei de Gestai de Florestas Públicas, da criação da área sob limitação administrativa provisória, da regulamentação do art 23 da Constituição, da Política Nacional de Resíduos Sólidos, da Política Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais. Contribuímos decisivamente para a aprovação da Lei da Mata Atlântica.

Em dezembro último, com a edição do Decreto que cria instrumentos poderosos para o combate ao desmatamento ilegal e com a Resolução do Conselho Monetário Nacional, que vincula o crédito agropecuário à comprovação da regularidade ambiental e fundiária, alcançamos um patamar histórico na luta para garantir à Amazônia exploração equilibrada e sustentável. É esse nosso maior desafio. O que se fizer na Amazônia Serpa, ouso dizer, o padrão de convivência futura da humanidade com os recursos naturais, a diversidade cultural e o desejo de crescimento. Sua importância extrapola os cuidados merecidos pela região em si, e revela potencial de gerar alternativas de resposta inovadora ao desafio de integrar as dimensões social, econômica e ambiental de desenvolvimento.

Hoje, as medidas adotadas tornam claro e irreversível o caminho de fazer política socioambiental e da economia uma única agenda, capaz de posicionar o Brasil de maneira consistente para operar as mudanças profundas que, cada vez mais, apontam o desenvolvimento sustentável como opção inexorável de todas as nações.

Durante essa trajetória, Vossa Excelência é testemunha das crescentes resistências encontradas por nossa equipe junto a setores importantes do governo e da sociedade. Ao mesmo tempo, de outros setores tivemos parceria e solidariedade. Em muitos momentos, só conseguimos avançar devido ao seu acolhimento direto e pessoa. No entanto, as difíceis tarefas que o governo ainda tem pela frente sinalizam que é necessária a reconstrução da sustentação política para a agenda ambiental.

Tenho o sentimento de estar fechando um ciclo cujos resultados foram significativos, apesar das dificuldades. Entendo que a melhor maneira de continuar contribuindo com a sociedade brasileira e o governo é buscando, no Congresso Nacional, o apoio político fundamental para a consolidação de tudo o que conseguimos construir e para a continuidade da implementação política ambiental.

Nosso trabalho à frente do MMA incorporou conquistas de gestões anteriores e procurou dar continuidade àquelas políticas que apontavam para a opção do desenvolvimento sustentável. Certamente, os próximos dirigentes farão o mesmo com a contribuição deixada por esta gestão. Deixo seu governo com a consciência tranqüila e certa de, nesses anos de profícuo relacionamento, termos feito algo de relevante para o Brasil.

Que Deus continue abençoando e guardando nosso caminhos.

Marina Silva".

9 comentários:

Anônimo disse...

Quem venceu?

Todos os que defendem "progresso e crescimento" (2 falácias da verborragia neo liberalizante) como lógica estruturante da economia política de um país; Venceu quem prefere a eficiência à Política como espaço público de enfrentamento dos interesses em choque numa sociedade. Melhor resolver pela via do gerenciamento e da eficiência do sistema do que com as bestas nas ruas,afinal, vai que a turba resolve se mexer e mudar o rumo das coisas;

Venceu o Lula, não de agora, o de trásprasmente, aquele da Carta aos Brasileiros, que desde os 90 já entregara a rapadura aos caninos afiados do grande capital, tudo em troca de uma chegadinha ao poder;

Venceram todos os que encontram na organização da vida como ela está, seus modos de viver e existir, mesmo que ao custo de milhões de vidas, humanas e outras formas de existência na Terra. Que se dane a vida, “e que tudo o mais vá pro inferno”, desde que os lucros estejam garantidos.

Ganhou os que gostam de levar vantagem em tudo, certo?

Quem perdeu?

Os de sempre, os deserdados, as gerações de antes, de agora e as que, teimosamente, possam aparacer. Perde os de maio de 68, novamente derrotados pelo lulismo;Perde ainda os militantes dos Empates, os que sonham e desejam outras formas de organização da vida e da relação com a natureza, pois afinal, todos somos Natureza.

Apesar de.....

Organizar o pessimismo, exigir das tantas Marinas destes Brasís que voltem a caminhar, de novo e outra vez, pelos varadouros do bom combate,pois por agora, JÁ BASTA!

Se podemos falar de algum legado a extraírmos da saída da Marina, poderíamos rapidamente realçar a impossibilidade, em que pese tantas vontades boas e sinceras, de modificarmos o real a partir das relações de Estado estabelecidas como estão;A total subserviência do Lulismo e de seu Governo e staff aos ditames mais duros do agro-negócio e, finalmente, a imperiosa necessidade de organizarmos o pessimismo.

Anônimo disse...

Por ironia, no dia em que a ministra deixa o governo, a Câmara aprovou uma medida provisória que pode contribuir para o desmatamento na Amazônia. A MP 422, aprovada nesta terça, ampliou de 500 para até 1,5 mil hectares a área que pode ser concedida pela União na Amazônia Legal sem licitação. Aprovada pela Câmara, a proposta vai agora ao Senado.

Anônimo disse...

Desdobramentos:

1) Marina voltará para o Senado e ao invés de denunciar as pressões que a levaram a denunciar e a falta de uma política ambiental séria por parte do Governo Federal vai imediatamente aderir ao bloco de apoio a Lula no Congresso. Terminará disputando com a Ideli Salvatti o título de puxa-saco mor

2)Sibá et entourage virão para o Acre e Binho imediatamente o nomeará para uma sinecura na Governo Estadual

3) Tião e Jorge elogiarão a ex-ministra e se calarão. Binho tentará se equilibrar entre o apoio a Marina e a Lula. Como sempre, conseguirá apoiar os dois...

Unknown disse...

Como ela já disse antes: "Perco o pescoço mas nao perco a cabeça"

Anônimo disse...

sobre a posição do Binho no comentários Desdobramentos são pertinentes.Binho pode realmente ficar aonde ele mais gosta, no muro dos silêncios, fazendo aquela cara de coroinha que rouba as óstias mas ainda assim é o preferido do padre.rs.rs.

Anônimo disse...

Altino,

Uma pergunta de um dos 300 do blog: O que o agora ex-suplente, ex-trabalhador, ex-sindicalista, ex-ex, Sibá Machado irá fazer da vida.

Pobre Sibá, terá que voltar para sua condição EX-HUMANA !

Luiz Matos disse...

Se ele ocupar algum cargo no governo do estado, nascerá um novo profeta: o Anônimo (terceiro de cima pra baixo)!

E se Marina entrar pro naipe de Ideli Salvatti meu voto vai para Flaviano Melo na próxima eleição. (Nem que seja para presidência de bairro)

Anônimo disse...

A marina já saiu "centralizada". Vai ficar pianinho. Tem ideologia, pero no mucho

. disse...

ja vai tarde