terça-feira, 27 de maio de 2008

HÁ QUASE 18 ANOS

Antonio Alves

Novembro de 1990. Em apenas dois estados, Acre e Amapá, os candidatos do PT tinham conseguido passar ao segundo turno das eleições para governador.

Lula, que havia perdido as eleições para Collor de Melo no ano anterior e era a grande estrela da oposição, estava em Rio Branco para participar da campanha de Jorge Viana.

Estávamos no aeroporto, aguardando um avião bimotor que os levaria aos municípios do interior. Além de Jorge e Lula, ia também a vereadora, recém-eleita deputada estadual, Marina Silva.


A conversa era descontraída. Lula repetia seu velho bordão de campanha:

- O trabalhador tem o direito de ter o seu carrinho, sua casinha com ar condicionado, tomar sua cervejinha no fim-de-semana” etc. Nesse momento, Marina o questionou:


- Mas Lula, nós vamos ter que criar uma alternativa aí. Porque, veja bem, se todo mundo tiver um carro e um aparelho de ar condicionado, quanta energia será necessária? Esse é um padrão de consumo insustentável.

Lula não se abalou. Disse que isso era “conversa das elites” que queriam negar os direitos históricos da classe trabalhadora, e repetia incansavelmente a lista de coisas que todo mundo deveria ter.

Marina ainda insistiu um pouco, falando na poluição causada pelos combustíveis fósseis e na inundação de grandes áreas para construir hidrelétricas, mas suas palavras pareciam cair ao chão após chocarem-se contra um muro, e a conversa morreu por ali.

Mudaram de assunto, chegou o avião, eu voltei para o estúdio com imagens do grande líder para colocar no programa eleitoral.

Tanta coisa que eu devia ter filmado...

Do blog O Espírito da Coisa, do poeta Antonio Alves.

Um comentário:

Acreucho disse...

Desde aqueles tempos, Lula já era fã e apoiava as grandes empresas e multinacionais.
Quem fabrica carros é multi.
Quem fabrica casas são as grandes empreiteiras.
Ar condicionado são as grandes empresas.
Cervejinhas são fabricadas pelas maiores companhias deste país.
O Jorge incorporou o mesmo pensamento do Lula.
Sempre dizendo que o trabalhador da floreste tem que ter sua "terrinha", fazer "lavorinha", vender e ter um "dinheirinho", comprar um "sapatinho", uma "comidinha" melhor.
Tudo pra esse povo é no diminutivo para os outros e no aumentativo pra eles...