segunda-feira, 26 de maio de 2008

A EX-PATROA DA SENADORA

O comentário "Marina é a utopia do PT", da professora Célia Pedrina, em destaque abaixo, me fez lembrar de um 7 de Setembro em Rio Branco, há seis ou sete anos.

Após os desfiles, no centro da cidade, caminhava com a senadora Marina Silva. O trânsito na Rui Barbosa fora interrompido e por isso bastante gente também caminhava na rua.

De repente, na esquina em frente ao Hotel Rio Branco, Marina pediu-me para esperá-la ali. Atravessou a rua e surpreendeu uma mulher com um abraço caloroso, demorado mesmo.

Marina estendeu os braços, a mulher correspondeu ao gesto e permaneceram algum tempo conversando de mãos entrelaçadas. Atravessei a rua lentamente e logo estava próximo delas.

A mulher era branca, alta. Aparentava ser pelo menos 10 anos mais jovem que Marina.

Com certeza não foi por causa de minha aproximação, mas logo soltaram as mãos, voltaram a se abraçar e se despediram felizes.

- Você sabe quem é ela? - perguntou quando prosseguimos a caminhada.

- Eu a conheço de vista, mas não sei o nome dela - respondi.

- Ela era minha patroa. Trabalhei como doméstica na casa dela um bom tempo - disse Marina Silva.

Foi a maior demonstração de humildade que já presenciei. A humildade que falta aos reizinhos que tomaram de conta do PT e do País.

Utopia e ilusão
Gosto dos "pensamentos imperfeitos" de meu amigo Luciano Martins Costa, um mestre do jornalismo, para quem a utopia é uma realidade possível, porque é idealizada em cima de premissas reais, enquanto a ilusão é uma projeção impossivel, porque idealizada em cima de premissas falsas.

- Imaginar que podemos ter uma sociedade perfeita, sem competição entre as pessoas, onde tudo possa ser partilhado por todos, é uma ilusão, pois contraria tudo que sabemos sobre a natureza humana, como a inveja, o ciume etc. Agora, imaginar uma sociedade que busca a sustentabilidade pela criação de um sistema econômico e político no qual as necessidades e desejos da sociedade possam ser alcançados sem comprometer os direitos das sociedades futuras (nossos descendentes), é uma utopia possivel, pois nesse cenário a natural competitividade humana pode ser administrada dentro de padrões que atendam a esse objetivo maior e coletivo, de se alcancar uma sociedade aceitável para hoje, sem destruir aquilo que permitirá sua permanência. O problema do PT é que uma parte dele construiu um projeto de ilusões e assumiu o poder em cima dessa plataforma irreal, desautorizando os que insistiam na utopia possível. Depois, desembarcaram direto da ilusão para o cinismo - assinala Martins Costa com exclusividade ao blog.

3 comentários:

morenocris disse...

Bom dia, Altino.


Triste Amazônia ou o empate de Marina Silva

João de Jesus Paes Loureiro


Tu és frágil sim
mas tu és forte.
Tu pareces uma delicada lenda xapuri
mas tu és forte.
Tu pareces uma pétala da floresta
mas tu és forte.

Tu estavas ali
braços cruzados contra o latifúndio.
Tu estavas ali
braços cruzados contra os grãos da morte.
Tu estavas ali
cabeça erguida contra as chamas das queimadas.
Tu estavas ali
contra os tratores e correntões do erro.
Tu estavas ali
o coração na mão a defender
teus antigos irmãos
irmãos de sempre.

A teu lado estava Chico Mendes.
A teu lado estava Dorothy Stang.
A teu lado estavam Pe. Josino, Espártacus, Canuto
Paulo Fonteles, Mártires do Araguaia,
Ianomâmis, Zumbi, Ajuricaba
Guaimiaba, Herzog, Luter King,
Cristo, Caruanas, Édson Luís
legiões de rostos desaparecidos
rostos que poderiam ter sido nossos filhos
nossos pais, irmãos, nossos amigos
que desceram à cova e se plantaram
sementes da Amazônia e do Mundo que queremos.

Ai!Amazônia!Amazônia! Quem te ama?

Ai! Marina! Marina!
Que posso a ti oferecer senão o sonho
a indignação e o desespero,
quando buscaste apenas a terra da doçura
para o índio, nativo da terra
para o colono, semente da terra
para a Amazônia, paraíso na terra.

Nenhum decreto há de enterrar tua luz
porque tua luz há de queimar decretos.
Tu que és da Amazônia
a Amazônia retiraram de tua mão.
Mas não há força humana ou desumana
capaz de retirar
a Amazônia cravada em teu coração.
.............

Paes Loureiro é escritor paraense, reconhecido internacionalmente.

O blog dele:

http://paesloureiro.wordpress.com/

.............

Parabéns! Bela Pessoa Humana.

Beijos.

*Você também, Altino.

Wesley Diogenes disse...

Muito emocionante esse texto, e um dos mais belo que li aqui.

Lembra-me muito um conto que sempre consegue arrancar meus suspiros...


É impressionante como a história e trajetória da Marina é linda, inédita e surpreendente, lembra muito como falei um história que a gente só acredita que exista em uma ficção literária ou novela coisa do tipo, mas temos o privilégio de sabermos que essa história é real.


Eu trabalho na biblioteca da Floresta Marina Silva como guia das exposições, todos que foram lá sabem muito bem que temos a sala Marina, quando tenho turmas de alunos de 04 à 17 sempre pergunto que aqui já sabe ler? todos responde que já sabem, aí eu concluo falando que com 16 anos Marina ainda não sabia...
e depois retomo a sua história de persistência e luta, que mais se parece com a de um herói criado por um autor bem louco e fantasioso da nossa literatura. hehehe

ps.: Carpe Diem à todos e Viva Marina Silva que tenta sobreviver em meio ao caos e abandono ideológico que sofreram seus companheiros.

Unknown disse...

"...a “utopia” não se efetiva como uma decorrência de “determinações socialmente postas”...". [De um texto que publiquei, recentemente, n'A Gazeta.]

Seria, de fato, uma ilusão, a idéia de uma sociedade fraterna? Ou ilusão é imaginarmos que somos capazes de remendar o capitalismo para alcançar a reprodução (sustentabilidade) da Humanidade?

A competição é resultado de 'natureza humana' ou nasce de forma exacerbada com os desdobramentos do modo de produção capitalista?

Preciso de uma demonstração de que seja possível a existência do capitalismo sem os resultados que nos levaram aos dias angustiados atuais. Preciso que me demonstrem que o "mal-estar" dos dias atuais não sejam resultados necessários dos desdobramentos do modo de produção capitalista.

A sociedade em que vivemos é na verdade uma ‘socialização’ reproduzida objetivamente nos termos do modo de produção capitalista. A afirmação desse modo de produção é a negação da realização da utopia.

...quanto ao abandono do barco que os trouxe ao 'porto atual' pode ser resultado do cinismo que marca suas personalidades. Talvez.