sexta-feira, 25 de abril de 2008

O SAPO DA HORA

Voces vão engolir o bicho, custe o que custar?


Eu não engulo o sapo da hora. Veja o que escreveram ontem e hoje sobre a mudança do fuso horário do Acre, que será uma hora a menos em relação a Brasília. O projeto de lei do senador Tião Viana foi sancionado ontem pelo presidente Lula e entrará em vigor dentro de 60 dias.

Evandro Ferreira, pesquisador do Inpa, do Blog Ambiente Acreano:

"O anúncio da medida foi feito "ao vivo" pelo senador Tião Viana (PT-AC), autor do projeto, direto de Brasília, durante o telejornal noturno da TV Acre, a afiliada da TV Globo no Acre.

Como no passado, mudança não teve o aval da população. Foi interessante ouvir o Senador afirmar, durante a entrevista, que seu projeto "corrige" um autoritarismo histórico, que foi o fato de a população não ter sido ouvida quando do estabelecimento do fuso horário do Acre, em 1913.

A sanção de ontem do projeto do Senador em nada muda o panorama pois a alteração do fuso horário patrocinada pelo senador também foi feita sem que nenhum acreano tivesse o direito de opinar contra ou favoravelmente.

Uma diferença, entretanto, salta aos olhos no processo de aprovação do projeto que criou o sistema de fusos horários no Brasil em 1913 e o do Senador, que o modificou 95 anos depois.

Enquanto o primeiro foi aprovado diante de uma necessidade verdadeira de organizar a situação caótica em que o país vivia pela falta de um sistema de fuso horário, tendo sido votado e sancionado sem maiores pressões políticas ou populares, a aprovação do projeto do senador Tião Viana foi manchada pela forte suspeita de barganha política movida pelo forte lobby das principais empresas de comunicação do país, que fazem campanha ostensiva contra a entrada em vigor da Portaria 1.220/2008".

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Moisés Diniz (PC do B), líder do governo estadual na Assembléia Legistativa do Acre, que iniciou o debate sobre a mudança do fuso horário:

"O fuso de quatro horas nos aproximará de nossa originalidade. Quem já dormiu e trabalhou na floresta sabe que os habitantes de lá acordam e dormem cedo. A madrugada é sua companheira.

Ganharemos uma hora de manhã mais amena e teremos uma hora a mais no final do dia, antes de ‘escurecer’, para que possamos ler um livro a mais na praça, caminhar, sorrir, brincar com os filhos, um sorvete, um aperto de mãos.

O Acre urbano tem apenas quatro décadas. Éramos, há mais de dez mil anos, uma poderosa federação de povos, a dançar sob a luz da lua, a pele de onça dos tambores, o mariri, a caiçuma, a ayahuasca.

Depois veio o europeu, o nordestino. Foram seis décadas de seringal, de rio limpo e ensolarado, de exploração humana também. Pobres seringueiros e ricos patrões. Mas, só os últimos viviam nas cidades, preocupados com o fuso, o relógio.

A massa de trabalhadores extrativistas vivia na floresta, no isolamento mortífero das colocações. Acordava cedo, na madrugada trabalhava como se já tivesse o sol.

O fuso de quatro horas vai levar o ponteiro do relógio para perto da nossa história, das nossas origens. Quanto mais próximos da madrugada mais sintonia entre nós e o sol, nosso modo de vida na floresta, todos os nossos ancestrais.

Nós vamos ficar do lado do sol. E não consideraremos que ficarão na sombra aqueles que discordam do nosso ponto de vista. Todos eles fizeram o Acre se tornar mais vibrante, elástico e tolerante nesse debate, com o seu ponto de vista, a sua argumentação".

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Mário José de Lima, acreano, professor de economia na PUC-SP:

"Estamos diante de uma decisão que explora aspectos ligados ao metabolismo dos seres vivos, na medida em que, uma grande variedade deles, entre os quais os humanos, usam a noite para recomposição das forças do corpo. Vale aqui, uma curiosidade: os colibris, um ser que despende quantidades incríveis de energia para realizar seus vôos, chegam, mesmo, a alcançar estados letárgicos durante a noite.

Evidentemente, que há, aí, forças sociais indicando este caminho, afinal, trata-se de uma fase adiantada do desenvolvimento do regime capitalista de produção. De um lado, o sistema adequa-se à organização dos sistemas produtivos, permite uma forma adequada ao aproveitamento da força de trabalho a custos mais baixos (cabe lembrar, os custos com iluminação, possibilidades de quebras de equipamentos, uma vez que há comprovação na redução do desempenho dos operadores, etc).

Por outro lado, é uma determinação de horários que se afirma pelo próprio crescimento da força política da classe trabalhadora, dado que garante o período de descanso na fase mais adequado a isso. Ou seja, o aproveitamento do período noturno para o descanso é resultado da própria evolução dos seres vivos".

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15 comentários:

Unknown disse...

O deputado Diniz diz que o novo fuso horário, agora Greenwich menos quatro hora, nos aproxima de nossa ancestralidade. Acha isso porque "A massa de trabalhadores extrativistas vivia na floresta, no isolamento mortífero das colocações. Acordava cedo, na madrugada trabalhava como se já tivesse o sol."

Falta ao deputado Diniz, membro de um partido que luta contra a exploração da classe trabalhadora - salvo mudanças no movimetno socialista que eu desconheça - avançar, ou esclarecer essas condições sob as quais se desenvolve o trabalho seringueiro.

Falta o deputado também lembrar que os seringueiros acordavam as 2-3 horas da madrugada para comerçar a rotina do corte e coleta do látex e terminavam o dia com a defumação do leite colhido, ao escurecer.

Isto, simplesmente, representava, uma das mais desumanas jornadas de trabalho para apoiar o desenvolvimento do regime capitalista de produção. O trabalho seringueiro alimentou a formação de um dos polos dinâmicos do crescimento industrial capitalista desde o final do século dezenove entrando seculo XX a dentro. É o trabalho seringueiro extraído sob um regime quase escravo que permitiu, também, a formação das riquezas amazônicas de meia dúzia de coronés de barranco e ouro tanto de casas aviadoras. Foi a exploração desumana de homens embrenhados na floresta submetidos ao isolacionismos - ou seja sem direitos e de possibilidades de construção de formas de resistência - que caracterizava esse sonho idílico - aliás, sonho não, devaneio - do caro deputado. Romper com essa jornada, caro deputado Diniz, foi uma conquista secular da classe trabalhadora. Retornar a ela não me parece ser o sonho da classe trabalhadora.

Unknown disse...

Sinceramente, não estou entendo mais nada. Acabo de reler o texto do camarada Diniz (nem sei se ele concorada que o chame assim) e entre as sugestões que formula sobre o novo fuso horário deparei-me, entre outras sugestões para a implantação do novo fuso, com a seguinte proposta:

"Depois continuaríamos com o mesmo horário de verão e, no próximo ano, negociaríamos para o Acre ser incluído no horário de verão."

Meu Deus! O deputado terminará trocando a noite pelo dia. Do jeito que vai terminaremos dormindo durante o dia e trabalhando a noite - sem sol. A explicação deve ser, como a que ele usa para defender a mudança do fuso: a temperatura no período noturno é mais adequada ao trabalho, é mais amena.

Eu continuo defendendo que se deve dar ao trabalhador condições melhores para o seu repouso, para a recuperação de suas forças, depois de jornadas de trabalho que nem sempre cumprem o limite das 8:00. O direito ao descanso é uma conquista da classe trabalhadora, resultado de lutas seculares.

Pé de Vento disse...

Bla, bla, bla...

Anônimo disse...

MUDAM A POLÍTICA, MUDAM AS OPINÕES, MUDAM OS HÁBITOS, COSTUMES,CULTURA E ETC...
E O POVO IDIOTA COMO SOMOS, FICA ASSISTINDO TUDO CALADINHO, ESQUECENDO AQUELA FRASE PEQUENINA, ESCONDIDA NO MEIO DE UM LIVRINHO CHAMADO DE CONSTITUIÇÃO, QUE DIZ: "O PODER EMANA DO POVO, E EM SEU NOME SERÁ EXERCIDO"
SENDO ASSIM ACHO QUE O MELHOR É NÃO ACREDITAR EM MAIS NINGUÉM.
AFINAL DE CONTAS SE SURGIR ALGUÉM QUE SE INTITULE DE HONESTO E VERDADEIRO, NÃO É PARA NINGUÉM ACREDITAR, POR QUE ELE ESTAR MENTINDO.PUTZ!

Acreucho disse...

O Diniz deveria acompanhar o Suplicy, pra tentar negociar a libertação de Ingryd Bettancourt nas selvas colombianas.
Que monte de besteira...

Anônimo disse...

Fiz uma pesquisa na minha escola, entre estudantes do ensino médio. Aqueles que são contra a mudança de fuso representam um traço, minoria das minorias.
E, se continuarem com esses defensores, vão desaparecer. Nunca vi tanta incompetência!

Anônimo disse...

O deputado Moisés fez uma brilhante defesa de mudança do fuso. Parabéns! Se quiserem contestar o deputado é melhor se prepararem...

Anônimo disse...

O professor Mário Lima está usando uma argumentação frágil, não escreve como alguém que vive e 'sente' o Acre no seu cotidiano. Escreve da lua! Rssrsss

Anônimo disse...

Que horas acorda essa turma do contra? Não será esse o motivo? Rsssrsss

Anônimo disse...

Dr. Mário Lima,

ACORDE! O senhor não sabia que os trabalhadores acordam mais cedo do que o senhor?

ACORDE, DOUTOR!

Anônimo disse...

O deputado Moisés só erra quando argumenta quando a não realização de plebiscito.
Ele sabe do que eu estou falando...

Anônimo disse...

O Altino AINDA NÃO ACORDOU, pois não publicou os meus comentários. E já são 8:40 horas. Rsssrsss

Anônimo disse...

Bela argumentação de Meu ex-colega e amigo Mário Lima. Não há dúvida sobre a sua consistência e relevância. Mário, tb me sentido indignada com a violência que "os donos do poder" estão fazendo com a alteração do fuso-horário no Acre; ao seu tempo natural e ao seu tempo cultural secular. Realmente o controle sobre o tempo advém historicamente do capitalismo - controle da disciplina do trabalho. Vale ler o importante historiador inglês E. Thompson que estuda o significado das distintas temporalidades entre vários os povos inscritos na história. Por isso temos que nos manifestar contra essa arbitrariedade do Estado em passar por cima dos diferentes ritmos temporais que regem a dança da vida dospovos da floresta.
Um abraço no Mario e no Altino.
lucia helena (antropóloga)

Unknown disse...

Cara Lucia Helena - exatamente a velha e conhecida intenção de dar organização ao processo de trabalho, estabelecendo mecanismos de controle da classe trabalhadora, está na raiz da formação do sistema de horários mundais (estudiosos recentes do tema, agora, falam em cronômetros). Por outro lado, a preservação de determinadas posições avançam com as lutas da classe trabalhadora: direito a jornadas diárias mais curtas, descanso e remuneração diferenciada por trabalho noturno. A diferenciação da remuneração noturna é ganho recente da luta da classe trabalhadora - trata-se do reconhecimento de que o trabalho noturno é mais desgastante, exatamente, por contrariar o ciclo entre período de atividade e de descanso naturais para determinadas espécies de seres biológicos - bióticos - no caso, os humanos que dormem durante a noite e têm período de atividades na fase de insolação (período com luminosidade. Somos até meios ceguinhos, relativamente a outras espécies).

Pois é isso que se afeta ao mudar o fuso horário acreano, até agora, colado a esse ciclo natural. E se faz com clara e declarada intenção de atender à classe dominante - aos seus interesses comerciais.

Lucia Helena, não deixamos de ser colegas, pois essa história de ser professor carregamos de uma vez para sempre - lembra a história de andar de bicicleta? Você poderia imaginar o Altino fazendo outra coisa que não jornalismo?

Um grande abraço para você também.

Anônimo disse...

Tá legal, adorei a fumaça na cortina, mas ninguém comentou, por acaso, que estamos baixando a guarda - pra não dizer a calça - para uma turma que não quer nos vender "imbecilização coletiva" em tempo real. Ora!