domingo, 27 de abril de 2008

NEO-AMIGO DA FLORESTANIA

Vejam as declarações de Assuero Veronez à Folha de S. Paulo. Ele é tratado no Acre pelos petistas do "governo da floresta" como aliado da florestania, além de ser um dos articuladores do Fórum de Desenvolvimento Sustentável do Acre, presidido pelo ex-governador Jorge Viana.



"Floresta é um ativo de baixíssimo valor econômico", afirma ruralista; Ministério do Meio Ambiente diz que afirmação é inaceitável e irresponsável

"Presidente da comissão de meio ambiente da principal entidade sindical ruralista, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), Assuero Veronez diz que o avanço da pecuária na Amazônia e a derrubada de madeira é uma resposta do setor ao "baixíssimo" valor econômico da floresta.

"A floresta é um ativo de baixíssimo valor econômico e, de outro lado, há uma atividade econômica que dá retorno e dá renda. Você não pode desconsiderar que a pecuária é uma atividade econômica rentável. A Amazônia tem uma vocação extraordinária para a pecuária."

Segundo Veronez, não há relação entre desmatamento e pecuária com a violência no campo. "Acho que não dá para fazer essa relação direta. Os casos de violência estão em todas as atividades econômicas numa região onde falta Estado. Se a pecuária é a principal atividade naquela região, estatisticamente tem que ocorrer alguma coisa com relação a essa atividade. Não consigo estabelecer uma conexão direta", diz.

Confrontado com a afirmação de Veronez sobre o valor da floresta, o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, contra-atacou. "Não há justificativa para agir de forma ilegal, com violência, com desagregação social, cultural e ambiental. Esse argumento é inaceitável."

Para a CNA, o governo tem se preocupado apenas em "constranger" e "intimidar" os produtores da região amazônica, sem encontrar soluções para a demanda de crescimento local, como a situação das famílias levadas para lá pelo próprio governo, nos anos 70 e 80.

De acordo com Capobianco, a correlação entre desmatamento e a violência no campo é "absolutamente direta". Sobre os ataques da CNA ao governo, ele diz: "Sempre que você não tem como justificar um ato, primeiro você culpa alguém, quase sempre o governo", afirma".

Comentário enviado ao blog por Mário José de Lima, professor de economia da PUC-SP:

"Assuero Veronez tem como característica pessoal apresentar seus pontos de vista a partir de idéias econômicas. É sempre possível chegar a alguma teoria a cada vez que ele fala.

Dia desses, ele falava de uma relação negativa entre “desenvolvimento econômico e floresta”. Quanto maior o nível de desenvolvimento econômico das nações menor a dimensão das florestas e vice versa. Assim dito, caberia ao Brasil avançar na destruição floresta, na desflorestação, para avançar no combate a miséria – segundo ele.

Hoje, mais uma afirmação de Veronez cheia de sabedoria econômica: "A floresta é um ativo de baixíssimo valor econômico e, de outro lado, há uma atividade econômica que dá retorno e dá renda. Você não pode desconsiderar que a pecuária é uma atividade econômica rentável. A Amazônia tem uma vocação extraordinária para a pecuária."

Nesta fala, o empresário repete uma idéia do pensamento econômico liberal sobre a alocação eficiente dos recursos. A ação empresarial, na busca do melhor uso dos fatores, ou seja, aquele capaz de render o lucro mais elevado ou o máximo de lucro, é resultado da consideração do custo de oportunidade, ou alternativas de emprego dos recursos. Até aí, podem dizer os liberais, ele está coberto de razão e assim deve proceder.

Acontece que as tais afirmações se apóiam numa idéia de custos econômicos que não incorpora os custos não contabilizados pelas atividades econômicas. É uma posição que desconsidera, usando linguagem técnica, as externalidades da produção. Estas podem ser positivas e negativas e, mesmo segundo a visão liberal, podem criar um viés nos sinais emitidos pelos preços e gerar níveis produtivos e preços fora do ponto de maior eficiência. Portanto, mesmo na consideração do pensamento que ele assumes para construir sua fala, fica no meio do caminho, manipulando a teoria para alcançar o resultado que ele quer.

Ainda mais. A afirmação do senhor Veronez está na contra mão, até mesmo, dos apologistas do sistema capitalista de produção, é dizer, está na contra mão dos teóricos do pensamento econômico burguês, os quais reconhecem que, para atender a ameaça ambiental, é necessário internalizar esses custos até agora desconsiderados. É necessário incorporar aos custos de produção os custos sociais, os custos sobre a sociedade, e aqueles sobre o meio ambiente. Este é um caminho que exige a consideração dos efeitos de desmatar sobre as populações regionais, sobre o planeta, sobre a vida regional.

Há uma nova racionalidade sendo imposta à ação de produzir contra a qual se opõe – ou, simplesmente, ignora - o senhor Veronez: uma racionalidade que incorpore o cuidado com o meio ambiente; uma racionalidade que incorpore a ética na ação de produzir, enfim, uma racionalidade que considere as condições de reprodutibilidade da espécie humana.

Desde um ponto de vista mais racional – racionalidade vista em consideração sobre a vida do homem – exige a consideração dos danos sobre o planeta. Mas, se tomamos a perspectiva correta de uma ética que não se limite aos interesses da classe dominante, implica considerações sobre as relações sociais produzidas pelo regime capitalista de produção. Isso implica avançar no sentido das idéias socialistas algo que, certamente, horroriza o senhor Veronez.

Quanto a isso, ele deverá afirmar, como liberal empedernido que deve ser, que age como indivíduo, deixando para cada outro indivíduo a resposta capaz de construir para si próprio o melhor dos resultados. Assim, cada um agindo em função dos seus interesses levará a construção do melhor social. Não é, realmente, que acreditem nisso. O que, efetivamente, querem é nos fazer acreditar nisso e, assim, aceitemos como naturais os resultados danosos da ação capitalista sobre os homens e sobre o planeta. Assim acreditando, faremos da pobreza um resultado das nossas ações como indivíduo. Esquecemos nossa posição de classe e o desmatamento ficará fora disso – como fica fora da afirmação pela qual iniciamos.

Enquanto nos mantemos presos numa posição omissa e passiva, frente às idéias disseminadas pelos liberais – os quais esquecem que o mundo atual em crise é resultados de suas ações e do seu predomínio social e político -, eles se sentem tão a vontade que até mudam o fuso horário apenas para compatibilizar os horários dos seus negócios que estariam, segundo eles, integrados numa globalização dos mercados. E por que tomam tais atitudes à revelia do povo? Pelo predomínio que constroem a partir de estruturas de coerção a partir das quais assumem o controle sobre nossas vidas. Enquanto estruturas postas a partir das nossas ações são, portanto, passíveis de superação, também, pela nossa ação".

9 comentários:

. disse...

Assuero falou oque todos sabem mas nao querem admitir, que o setor produtivo rende muito mais do que a floresta, que temos uma vocaçao enorme para o setor rural produtivo. Essa turma do Ministerio do Meio Ambiente poderia sair dos seus gabinetes e vim para a regiao, perguntar aos produtores rurais, se eles pretendem o conforto que a pecuaria traz ou se querem viver das migalhas que a sustentabilidade produz. Essa tal de florestania, sustentabilidade, ecologia, sao simples filosofias de buteco, so servem para enriquecer alguns espertinhos e afundar alguns milhares (nos amazonidas)

Anônimo disse...

Alguns de nós, que um dia se auto-denominaram "socialistas", ainda se lembram do tempo em que os empresários eram chamados de "patrões" e considerados uns exploradores que enriqueciam com o suor dos trabalhadores. Hoje eles são chamados de "empreendedores", mui dignos representantes do "setor produtivo" (alguém que faz parte de um setor improdutivo, levante a mão) e considerados benfeitores da humanidade porque "geram emprego" para nosso pobre e necessitado povo. O neo-liberalismo não triunfou no mundo externo, mas nas mentes e corações de ex-socialistas que venderam a alma pelas moedas do pragmatismo. Sei como é. Também não sou mais "socialista" ou coisa parecida. Mas não jogo fora a criança com a água suja. E os outrora bravos companheiros que hoje viraram puxa-sacos de patrão não precisam sentir vergonha, eu sinto por eles.

Anônimo disse...

Desculpe-me Assuero e Leandrius, mas acho que vcs nunca viram uma árvore de verdade, acho que vcs tem razão pois, quando não enxergamos as coisas é assim mesmo. Porém rogo a Deus para que um dia se vcs merecerem, possam somar com os soldados que defendem a vida. Quem sabe os filhos de vcs possam desfrutar dessa luta pela vida!

Anônimo disse...

Agora a discussão está ficando boa. Assuero disse o q muita gente só diz no confessionário. Trata-se de um fato que os ambientalistas precisam assumir para lutar pela floresta: fazer dinheiro com a floresta em pé ainda é muito difícil. Já vi morador de comunidade muito mais pobre q empresário querer derrubar a floresta para ter “5 mil cabeças de gado”.
Mas o dinheiro do gado etc. vem no curto prazo, isso é preciso divulgar. No longo prazo, estaremos condenando o Acre e a Amazônia a serem lugares inabitáveis. Já pensaram o Acre 5 graus mais quente quando tivermos 80 anos? Os pragmáticos (“produtivos” e políticos) devem notar q o pragmatismo seve pra manter a floresta lá, e com isso garantir nossa sobrevivência, da família deles e das nossas, de acordo com inúmeras evidências científicas.
Por que não investir em modos alternativos de ganhar dinheiro, como propõem vários projetos em reservas de todo o Acre e Amazônia? O dinheiro será menor em princípio, mas aposto q será mais lucrativo para seus filhos e netos, quando formos um gigante na área de biotecnologia, o único país q teve a sabedoria de manter sua floresta de pé. Alguém deu risada desse sonho? Eu não: é preciso acreditar, como os países “desenvolvidos” fizeram outrora. Mas a nossa realidade é diferente dos países desenvolvimentistas. O novo modelo é difícil de construir, e só vingará com a ajuda de todos os setores.
Abraços a todos

. disse...

Defendo a vida, defendo o ser humano, defendo o direito de todos terem o que comer em sua mesa, nao sei voce, senhor ou senhora anonimo, eu prefiro comer arroz, feijao e carne, se voce prefere comer planta, casca de arvore, capim, sei la, papai me disse que gosto nao se discute

Anônimo disse...

É impressionante o vastíssimo conhecimento que este senhor demonstra possuir, ao afirmar que “a floresta é um ativo de baixíssimo valor econômico”.
A ganância imediatista é parceira da ignorância e inimiga da ciência, do bem-estar social e da própria natureza. walmir.

Anônimo disse...

É impressionante o vastíssimo conhecimento que este senhor demonstra possuir, ao afirmar que “a floresta é um ativo de baixíssimo valor econômico”.
A ganância imediatista é parceira da ignorância e inimiga da ciência, do bem-estar social e da própria natureza. walmir.

Anônimo disse...

Isso. Depois de 500 anos investindo no agribusiness o Brasil ainda não saiu da miséria. Dizer que os paises desenvolvidos destruiram suas florestas para se desnvolver não considera toda a Mata Atlântica + 17% de Amazônia que foram pro saco sem resultados positivos para o País. O atraso do Brasil está na cabeça de seus governantes e políticos, que são, desde sempre, financiados por esse sistema rural.

Anônimo disse...

Amigo Leandrius, cascas de árvores também servem de alimentos e ainda mais, podem até curar doênças graves.