sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

FOLHA DESTACA VIAGEM AO JURUÁ

Pra começar: acreano que gosta mesmo de passear não vai para o baixo Juruá matar pium, naquela que é considerada uma das regiões com menor densidade demográfica do planeta. O povo daqui gosta mesmo é da costa do Sauípe, Fortaleza, Rio, Florianópolis, Miami, Paris.

O "iate" citado em reportagem do jornal Folha de S. Paulo (abaixo) é a embarcação de pesca da família Benchimol, dona das lojas Bemol e da distribuidora Fogás. Conheço o Umuarama, barco de luxo de uso exclusivo da família, indisponível às empresas que promovem turismo na região.

Hoje, no Amazonas, é rotina a realização de eventos em barcos cujo conforto não pode ser comparado aos batelões e recreios que singram nossos tortuosos rios.

Participei, em julho de 2006, do
simpósio internacional de religião, ciência e meio ambiente organizado pelo patriarca da Igreja Ortodoxa. Durou uma semana (veja aqui) no Rio Negro, tendo à frente o luxuoso Ibero Star, além de 10 barcos, entre os quais estava o Igaratim-Açu, usado pela mesa diretora da Assembléia Legislativa para percorrer o Juruá e o Solimões.

Hábil na política, o deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), presidente da Assembléia, deve estar rindo à toa por causa da visibilidade alcançada por sua expedição. No ano passado, ele percorreu a Estrada do Pacífico, no Peru, e a mídia não deu a menor atenção. Neste ano, porém, em pleno recesso, há mais de duas semanas a expedição ao Juruá tem sido destacada em blogs e jornais do Acre, Amazonas e São Paulo.

Ainda bem que Magalhães foi transparente ao tornar público que estava percorrendo o Juruá, um dos rios mais importantes do planeta, mas que pouca gente tem coragem de enfrentá-lo por ser uma das regiões com maior incidência de praga de insetos. Teria sido hipócrita se tivesse tentado conferir algum valor científico numa viagem de apenas 10 dias.

A Folha acabou pautada pelo site AC 24 horas, que sabemos não se afinar com o presidente da Assembléia por causa da defesa aberta que faz da escória da política acreana. O principal redator de um noticiário eivado de inverdades sobre a expedição é Edinei Muniz (leia mais), assistente do
advogado do ex-deputado Roberto Filho, acusado de tramar com o filho o assassinato de um juiz, de uma promotora e de um oficial de justiça. Magalhães contribuiu pesadamente para que a Justiça mandasse o seu ex-colega para um presídio de segurança máxima, onde se encontra até hoje.

Aliás, o repórter Leônidas Badaró, que participou da expedição, foi procurado por Muniz logo após a viagem. Acusado pelo Sindicato dos Jornalistas do Acre de exercício ilegal da profissão, Muniz ofereceu a Badaró R$ 500 por alguma foto na qual algum deputado estadual aparecesse ingerindo bebida alcoólica.

A gente sabe que iate é a mesma coisa que embarcação, mas quando se usa a palavra iate num título de reportagem como foi editada a da Folha, o efeito que se tem é outro. Entendo bem dessas filigranas semânticas. Mas a reportagem da Folha é bastante esclarecedora, embora contenha algumas imprecisões em decorrência de que o jornal se habituou a usar apenas telefone para a cobertura, a partir de Sampa, da imensa Amazônia.

O engraçado é que a Folhapress, do mesmo grupo que edita o jornal que trata a expedição com exotismo, vende o trabalho de Odair Leal, fotógrafo oficial da Assembléia do Acre, que fez as melhores fotos da viagem. Ontem mesmo eles pediram fotos a Leal. Clique aqui para conferir.

Espero que na próxima expedição a Folha de S. Paulo também seja convidada pela mesa diretora, para ver de perto e contar de certo.

Leia a reportagem da Folha, assinada por Matheus Pichonelli:


Assembléia do Acre paga passeio de iate

Viagem de 4.375 km pelos rios Juruá e Solimões teve 5 deputados estaduais

Segundo a Casa, R$ 40 mil foram gastos; deputado diz que objetivo era observar as margens, afetadas pela "ocupação de ribeirinhos"

Em pleno recesso, a Assembléia Legislativa do Acre promoveu um passeio de iate pela Amazônia que levou deputados, empresários, representantes indígenas e jornalistas para "conhecer de perto os problemas dos rios" da região.

O custo da "expedição" foi de cerca de R$ 40 mil, de acordo com a Assembléia.

Ao todo 24 pessoas, entre elas cinco deputados estaduais, percorreram 4.375 quilômetros dos rios Juruá e Solimões. Saíram de Cruzeiro do Sul (590 km de Rio Branco) em 3 de janeiro e chegaram a Manaus no dia 12. Um dos convidados, o deputado Juarez Leitão (PT), levou a mulher e dois filhos.

Durante a expedição, os convidados conheceram as cidades ribeirinhas, fizeram mergulhos, nadaram, pescaram, jogaram dama, xadrez e ouviram apresentação de violão.

Na viagem, um tronco que havia caído no rio após uma chuva avariou o eixo do barco, que teve de ser rebocado. A diária da embarcação é de R$ 3.250, segundo o presidente da Casa, deputado Edvaldo Magalhães (PC do B).

O iate, chamado Igaratim-Açu, possui 32 metros de comprimento e 6,5 metros de largura. Tem 14 cabines com ar-condicionado e suíte, salões de refeição e de vídeo, além de antena parabólica e GPS.

Segundo um gerente operacional de viagens da região, que pediu para não ser identificado, em uma viagem entre Manaus e Cruzeiro do Sul seriam gastos R$ 40 mil só com diesel. Ele avalia que os custos da viagem sejam de R$ 160 mil.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Acre, Florindo Poersch, disse que um requerimento será protocolado hoje na Assembléia pedindo esclarecimentos sobre a viagem. "Se for caracterizado algo ilícito, providenciaremos uma ação para devolução do dinheiro."

O presidente da Assembléia rebateu as críticas. Segundo ele, o objetivo da viagem era que a comitiva observasse a situação das margens dos rios e da mata ciliar "comprometida com a ocupação de ribeirinhos". "Não adianta investir em asfalto se não levarmos em conta a situação dos rios. Depois da viagem, podemos debater e votar propostas", disse.

Ele disse que irá sugerir que o trajeto percorrido se torne um roteiro turístico.

7 comentários:

Unknown disse...

Oi Altino.
Sem tecer críticas ou comentários quanto ao motivo da matéria de hoje no blog.
Quero aqui registrar que achei todas as fotos lindas. Nossa.. quando vemos as paisagens da Amazônia retratadas a saudade apertada do AC!
Um abraço.

Saudades do Acre disse...

Segundo o Aurélio, expedição é um grupo que se destina a pesquisar, explorar, estudar uma região, “geralmente em caráter científico”. “Geralmente”, pode e deve ser entendido como “não obrigatoriamente”. Portanto, aspar ironicamente o termo, querendo desqualificá-lo, como fizeram a Folhapress ou o Sr. Muniz, denota no mínimo má-fé e no máximo ignorância total da semântica do mesmo.
Pelo que sei, essa expedição, de cunho político, teve o intuito de um estudo preliminar sobre as condições atuais da bacia, visando colher subsídios para alimentar propostas parlamentares relativas a preservar sua integridade e apresentar projetos adequados para o desenvolvimento da região. Atitudes como essa, da mesa diretora, se merecem algo, são nossos aplausos.
Se os políticos paulistas, há décadas atrás, tivessem agido assim, o seu Tietê não agonizaria hoje. Portanto, ao jornalista autor do texto da Folhapress quero lembrar duas coisas:
-Escolha sua fontes com mais critério
-O Acre não é São Paulo, e o Juruá não será um Tietê

Luiz Matos disse...

Altino,
você está sendo hipócrita e incongruente - além de contraditório.
A farra foi ilegal e vergonhosa. Dinheiro público gasto a toa.
As fotos e as charges ficaram lindas, mas se você não tivesse sido convidado não estaria levantando bandeira.

Me diga quais os benefícios das tal 'expedicao'? Ver deputado de sunga ou presenciar o saudosismo de visitar lugares de onde muitos sao oriundos?

Lastimável!

Luiz Matos

Luiz Matos disse...

"O iate, chamado Igaratim-Açu, possui 32 metros de comprimento e 6,5 metros de largura. Tem 14 cabines com ar-condicionado e suíte, salões de refeição e de vídeo, além de antena parabólica e GPS."

Meu caro,
se isso não for iate é o que?
Voadeira?!

Eufrásio disse...

Ihhh... No Jornal Nacional tmb!!

De início achei a idéia interessante, porém incluir cervejinha no cardápio e levar parentes complica a coisa.

Cruzeirense disse...

Sei que minha opinião não muda nada, mas procurei e não achei nenhuma justificatifa lógica para essa viajem ser paga com dinheiro público.

Altino, pela primeira vez vi você ser parcial nessa história. Será que foi pelo fato de ter participado?

Sei que você foi convidado etc, etc. Mas sua credibilidade fico muito abalada não por ter ido. Mas por estar defendendo essa farra com nosso dinheiro.

Taí uma coisa que eu gostaria que ver você comentando como antes, com imparcialidade, com patriotismo, com a mão no coração como você sempre fez.

Lamento mesmo. Não por você ter ido, repito. Mas por você ter tomado partido de uma situação que sei que você não seria a favor se estivesse vendo pelo lado de fora como nós.

Sinceramente, fiquei triste pela primeira vez com seu blog. É uma pena.

Abraços.

Unknown disse...

Marystela,
Você é completamente alienada.
Pelo jeito só lê revista em quadrinhos por que tem fotos!
Tem vários sites com imagens da Amazônia. Assim, não precisava gastar o dinheiro público.