sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

FLORESTA DIGITAL

O Acre e o Distrito Federal: 100% wireless grátis

Peter T. Knight


O Acre e o Distrito Federal têm grandes diferenças: população, geografia, IDH, PIB por capita, partidos políticos no poder. Mas têm um objetivo comum – construir redes de banda larga que devem oferecer acesso à internet sem fio grátis a todos seus residentes.

Seus governos reconhecem que o direito do cidadão à informação é fundamental numa economia cada vez mais globalizada e baseada no conhecimento – tanto para a justiça social quanto para a competitividade. Em outros estados brasileiros há municípios que compartilham esta aspiração ou já o realizaram. Mas, ao que eu saiba, o Acre e o Distrito Federal são os primeiros entre os estados brasileiros a procurar realizar este direito via construção de redes sem fio com acesso grátis e cobertura de todo seu território. Nos dois casos, a meta é chegar à cobertura de 100% do seu território até 2010.

No caso do Distrito Federal, o programa para realizar esta meta já existe e tem nome: Brasília 100% Wireless, e é responsabilidade da Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (SECT), que conta com o apoio da Universidade de Brasília (UnB) para seu desenho. A rede começa a partir da fibra ótica já existente no DF e contará com uma cobertura WiMAX e distribuição local via redes Wi-Fi e Wi-Mesh, por isso será uma rede híbrida. A primeira etapa, a ser realizada em 2008, incluirá o Plano Piloto e Taguatinga, com acesso público internet para 1 milhão de brasilienses, em média. Na segunda etapa, o projeto será implantado nas demais Regiões Administrativas, dando acesso público a 2,5 milhões de cidadãos.

No Acre, a idéia é criar uma rede semelhante em ambiente bem mais difícil, dadas as condições geográficas e topográficas da Amazônia. A primeira fase abrangeria a capital Rio Branco e os municípios de seu entorno e posteriormente se estenderia aos municípios ao longo da BR 364, que corta o estado até as proximidades da fronteira mais noroeste com o Peru e, na última etapa, chegaria às sedes dos outros municípios, prevendo inclusive comunidades indígenas e ribeirinhas. Por essas peculiaridades, no Acre será necessário usar conexões via satélite para complementar redes terrestres, sempre recorrendo a tecnologias sem fio (WiMAX, Wi-Fi e Wi-Mesh) para a distribuição local do sinal. O nome provisório é Floresta Digital, e o órgão responsável é a Secretaria da Gestão Administrativa, que também coordena a OCA, o programa de atendimento ao cidadão, que pretende universalizar o acesso aos serviços públicos básicos aos habitantes da região. Construir estradas na Amazônia é uma tarefa hercúlea e extremamente custosa. As estradas digitais parecem ser a saída mais viável para encurtar as distâncias e diminuir o isolamento.

No Distrito Federal, o programa Brasília 100% Wireless faz parte de um conjunto de políticas públicas que buscam criar a Capital Digital, inclusive com implantação de vários pólos e parques tecnológicos e o projeto DF Digital, também da Secretaria de Ciência e Tecnologia do DF, em parceria com a UnB, criado com o objetivo de oferecer à população do Distrito Federal cursos de informática e internet para inclusão digital, integrado com cursos de capacitação profissional para inclusão social, tais como empreendedorismo, telemarketing, auxiliar de escritório, gestão de microempresas, dentre outros. O projeto Brasília 100% Wireless também prevê a implantação do modelo “Escola Digital” em todas as Escolas Públicas do DF.

No Acre, a Floresta Digital será parte integral do programa de Florestania (um neologismo criado no Estado para descrever os diversos jeitos de se viver na Amazônia e suas peculiaridades na relação homem, cidade e meio ambiente), procurando o desenvolvimento sustentável com base nos seus recursos naturais, acima de tudo, a floresta amazônica e sua biodiversidade, agregando valor via conhecimento cada vez mais sofisticado. Uma das bases deste programa de desenvolvimento sustentável é o Programa Estadual de Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE-Acre) que, por sua vez, faz parte de “um novo estilo de gestão de políticas públicas envolvendo processos de empoderamento, diálogo e negociação entre o governo, a sociedade civil organizada e o setor privado”.

Outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro, têm planos de fazer todos seus municípios digitais com acesso à banda larga e pode ser que mais outros sigam neste caminho. O governo federal parece estar se movimentando para levar a banda larga a todas as escolas do país até 2010, o que poderia ser um grande apoio. Há, porém, muita demora e ainda fica para ser demonstrada se a prioridade destes outros governos é verdadeira.

Mas a cobertura total do território de estados com banda larga como um serviço grátis aos cidadãos parece ser inovação do Distrito Federal e Acre. Como financiar estes programas é uma pergunta que se apresenta, mas, combinando-se os recursos da união, dos estados e dos municípios com os aportes do setor privado e das instituições internacionais, e desenvolvendo-se parcerias com os fornecedores e as próprias operadoras, deve ser factível. Todo tipo de parceria é possível. E alguns municípios já estão mostrando o caminho. O que importa nesta altura do jogo é a vontade política de concretizar o direito dos cidadãos à informação, um direito, aliás, garantido pela Constituição Brasileira.

Peter T. Knight é consultor, empresário, escritor e agente de mudança com experiência internacional em educação à distancia, e-aprendizagem, e-governo, e-desenvolvimento, mídia eletrônica, bancos internacionais, fundações, ensino universitário e pesquisa econômica; contatos extensivos de alto nível na África (especialmente na África do Sul), América Latina (especialmente no Brasil) e no Leste Europeu e na Ásia (especialmente na Rússia). O artigo foi publicado na revista Banco Hoje, dirigida aos executivos financeiros.

3 comentários:

Edvaldo Magalhães disse...

Já estou me vendo plugado em seu blog lá da Foz do Breu.

ALTINO MACHADO disse...

Isto que será realmente a floresta digital. Vamos torcer para que a Assembléia do Acre contribua mais e mais para democratizar o acesso à informação no Acre. Vou passer agora por seu blog em busca das novidades. Grato.

@MarcelFla disse...

Não há o que dizer, o projeto é maravilhoso e a inclusão digital beneficiaria muitos cidadões em todo o Acre, mas com a pouca vivência que tenho parece-me que iria afetar muitas empresas, alguns grandes iriam perder, BrTelecom por exemplo, se houvesse wireless grátis ninguém pagaria ADSL, mas torço que vá para frente e nossos governantes lutem pelos NOSSOS interesses e não os dos grandes como costuma ocorrer.