sábado, 22 de dezembro de 2007

19 ANOS DEPOIS

Sílvio Martinelo

Dezenove anos da morte de Chico Mendes.

Na semana passada, fui a Xapuri com Ivete e Tiago, meu filho, estudante de Jornalismo. Ele queria conhecer Xapuri.

Ivete aproveitou para rever seus parentes, os Figueiredo/Maia.

Fomos visitar o túmulo de Chico. Não consegui rezar, como fariam os bons cristãos.

Só ler aquela mensagem que ele deixou aos jovens. Nota-se que fez um esforço para colocar alguma coisa de socialismo.

Chico tivera nos últimos anos de vida uma forte influência da Revolução Sandinista. Daí o nome do filho Sandino.

Ao lado do túmulo de Chico, o de Ivair Higino, também morto numa emboscada, cujos assassinos nunca foram punidos. Mas quem lembra ou se importa?

No cemitério, Ivete conseguiu localizar o túmulo dos seus avós maternos, os Figueiredo. A avó dela era uma índia "amansada" pelos seringalistas, que morreu com 94 anos.


Do cemitério, passamos pela Casa Branca, a Intendência Boliviana, hoje museu. Uma bandinha tocava freneticamente. Ensaiava para as festas de final de ano.

Do barranco do Rio Acre, vi Plácido de Castro esgueirando-se nas sombras da madrugada, para surpreender os bolivianos ainda de ceroulas.

"Es temprano para la fiesta", reclamaram estremunhados os "patrícios".

Entre as peças do museu, chama a atenção um recorte do jornal Correio do Acre, um dos seis jornais que circularam em Xapuri.

Entre outras notícias da edição do dia 15 de janeiro de 1918, lê-se que um certo senhor Stanley estava visitando Xapuri, por aqueles dias.

Pertencia a uma fundação norte-americana e estava percorrendo os países da América do Sul. Naturalmente, de olho na borracha que o Acre ainda produzia. Donde se prova que o Acre sempre foi globalizado.

No museu chama atenção ainda um pedaço de pão de macaxeira petrificado.

Foi achado num seringal. Seria dos índios que escondiam o pão e esqueciam ao se mudarem de uma área para outra.

Do museu, passamos pelo comércio até chegarmos à casa de Chico Mendes.

A funcionária da Fundação, irmã de Ilzamar, explica tudo sobre como ele foi assassinado, os objetos que ainda permanecem intactos, seus livros.

Não precisava. Até a ajudei a reconstituir a cena do crime.

É que no dia seguinte ao assassinato, fui o primeiro jornalista a chegar na casinha, onde encontrei o delegado Nilson Alves de Oliveira, um policial competente, decente.

O sangue ainda estava quente no assoalho, nas marcas das mãos desenhadas nas paredes.

Como naquele 22 de dezembro de 1988, senti outra vez tristeza, revolta, saudade do Chico, que aprendera a admirar e tentara em vão ajudar a livrá-lo da morte certa e anunciada.

No caminho de volta, passamos ao largo da fazenda Paraná. Cabeças de gado pastavam e mugiam (muuuuu!) debaixo dos fios do Luz Para Todos.

Na sede da fazenda, Darli ainda está lá, dezenove anos mais velho, mais cego, mais brocha, apesar das garrafadas...

... porém, vivinho Alves da Silva.

O jornalista Sílvio Martinelo é um dos proprietários do jornal A Gazeta e escreve na coluna Gazetinhas. Era correspondete do Jornal do Brasil no Acre quando Chico Mendes foi assassinado, no dia 22 de dezembro de 1988.

4 comentários:

luis augusto simon disse...

eu sempre lia as gazetinhas, mas agora é preciso pagar... Altino, acompanhei, através da Internet, a campanha no Acre em que se elegeram Marina Silva, Geraldinho Mesquita e Jorge Viana. Só que minha memória está sofrendo de aminésia. Por isso, as perguntas.
1) Como se chama o candidato ao senado derrotado na chapa de Flavinao Melo? Nabor Júnior?
2) Como se chama o colunista de A Gazeta que era uma das vozes mais duras contra a campanha de Jorge Viana. Era carec, segundo se percebia na foto. Ainda escreve?
3) Como se chama um jornalista que virou estrela da chapa contra Jorge Viana. Ao que me lembro, ele tinha um passado de esquerda, ligado à Fente Popular. E, arrependido, aderiu a Flaviano e Narciso Mendes, com muitas acusações contra Viana.
Um abraço do Menon, um admirador do Acre.

Unknown disse...

Esse sentimento de rancor de trazer sempre à tona as fraquezas de um homem é deprimente. Porra, será que não dá para enchergar algo de bom. De ver que o Silvio Martinello também contribuiu muitíssimas vezes com a Frente POpular. Os espaços generosos em seu jornal, as matérias que produziu em favor do Acre do Jorge, da Marina, do Binho e do Chico Mendes. Não dá para perceber que vivemos um novo tempo no Acre. Se formos lembrar das cagadas do primeiro governo da Frente que culminou com a derrota do Angelim em 2002...já pensou!? Para béns ao Sílvio. Ele está sendo sincero. Temos que respeitar os sentimentos de um homem!

Unknown disse...

Silvio Martinello, ao lado de Elson Martins, Antonio Marmo, lideravam um grupo de acreanos entre os quais, Arquilau, Lhé e outros, nos anos setenta, deram voz aos trabalhadores rurais, aos seringueiros autônomos do Acre, ao membros da Contag, aos setores progressistas da UFAc, através das páginas do Varadouro. Foram "marcados para morrer" pelo mesmo grupo ao qual pertence o mandante da morte de Chico Mendes. Para realizar a cobertura de empates expuseram-se a ameaça das armas de jagunjços fechando estradas e caminhos. Assistiram grupos de manifestantes serem dispersos a bala para, no dia seguinte, se embrenharem mata a dentro cobrindo novos embates.

Pode ser que alguns esqueçam esses fatos, talvez, até mesmo, por chegarem muito recentemente a história acreana, outros porque a época desses acontecimentos ocupasse espaços bem mais confotáveis do outro lado do muro.

luis augusto simon disse...

Paula, eu não estou falando do sílvio. Eu me lembro da coluna dele, era muito agradável de se ler. Estou falando de outros dois jornalistas de quem gostaria de lembrar o nome. só isso.