quarta-feira, 28 de novembro de 2007

UM MENINO KATUKINA

Edvaldo Magalhães



Quem vai carregar o menino?

Um cachorro guia a família.

O rumo é o de casa.

A casa que antes era no meio do mato.

Agora, está na beira do asfalto.

Uma moça carregada de banana.

De cabeça baixa, pra não voltar.

O peso da banana é do tamanho da vida.

Um menino vigilante, olhar atento.

A mãe, que é só um carrego.

Um carrego de banana grande.

E atrás, bem perto e longe, vai o menino.

Um menino quase do tamanho de um terçado.

Ele carrega o terçado, que cortou a banana,

Que a menina da frente carrega,

Que o irmão vigia,

Que a mãe carrega e não cansa.

Que ele, nu e só, no fim da fila,

Do lado quente do asfalto,

Reclama calado,

Porque não sobrou quem o pudesse carregar.

E lá vai ele, nu e no fim da fila.

Seguindo o cachorro,

A irmã,

O irmão,

A mãe.

É um menino Katukina.

Edvaldo Magalhães é presidente da Assembléia Legislativa do Acre e blogueiro. É bom o blog dele. Veja aqui. Foto de Sérgio Vale.

10 comentários:

Fora disse...

Noke Koi, Noke Koi, por que não Noke Koi, e sim Katukina?

AJ

Anônimo disse...

Esse mundo tá muito mudado...

Saracura agora mora no asfalto
A mocinha teve um filho piau
O salgado teve um filho fresco
O Edivaldo agora virou poeta

Tá tudo dominado, será o final dos tempos?

Ave maria, cheia de graça... ... ...

Anônimo disse...

Caro Altino,

Belo texto do Edvaldo, mas é preciso que se diga que boa parte dos compromissos assumidos pelo governo em relação as medidas mitigadoras e idenizatórias, em função da BR 364 cortar a terra dos Katukina, não foi cumprida. Os Katukina tem cobrado mas ninguém parece escutar.

Bom trabalho.

Lindomar Padilha

Anônimo disse...

...enquanto isso, os deputados (que ganham uma fortuna e ganham laptop de presente pago com o dinheiro da viuva) escrevem poesia. Tá certo. 'Faz de conta que aceito'.

Anônimo disse...

A foto (e quero falar apenas dela) é excelente. Sua força parece vir, justamente, dessa simultaneidade de mundos que teimamos em imaginar separados, mas que estão ali juntos. Não são poucos os desafios postos nos caminhos dos Katukina (ou Noke Kui, como queira).
Parabéns, uma vez mais, pelo blog.
Um abraço, Edilene

Anônimo disse...

Coitado do menino !
Quem vai carregar o menino n�o sei ! S� sei quem carrega esse bando de demagogos nas costas . Quem carrega somos n�s , que diferentes do cachorro n�o guiamos ningu�m , estamos sem rumo , escolhemos mau os representantes e os poetas .
A casa do povo � uma porcaria , a casa dos pobres as margens da estrada , do descaso , do asfalto ...., a mo�a carrega a banana de cabe�a baixa, n�o importa! O que temos que pensar � os nobres representantes do povo est�o sempre dando banana . Aqui banana para todos n�s , aqui poemas mau elaborados , pobres como o discurso fajuto que consegue enganar a popula�o ! Pobre povo , pobre mo�a , tem que baixar a cabe�a pela ignor�ncia de eleger que te destina a desgra�a . O peso da banana � do tamanho da vida? Deve ser , por�m o peso na consci�ncia deve ser maior .

Anônimo disse...

Estamos igual ao menino . Temos que seguir calados , ag�entando o calor da hipocrisia , da corrup�o , dos mandantes que antes se diziam povo e que hoje massacram o povo .Estamos nus , cansados e no fim da fila . Igual ao menino preferimos seguir um cachorro a seguir esses falsos populistas ..... meninos , podem ser katuquinas , podem ser qualquer um , s�o inocentes vitimas dessa pol�tica , de pol�ticos hip�critas que pensam no lado rom�ntico da desgra�a alheia . Como poeta o caro autor � um p�ssimo deputado .

Anônimo disse...

Essa foto das bananas, me lembrou a piada:" estou preocupado mesmo é com o compadre dos abacaxis". Pois é...é muita lasqueira. Os meninos já nascem armados na nossa florestania de poucos índios e muitos deles sem condição digna de vida, e já vai um bom tempo de novas cabeças no governo da floresta de poucos índios e muitos caciques.´uma população tão pequena que certamente não encheria estádio, Arena da Floresta.Então deputado!? Faça outro poema, quem sabe assim o senhor conseguirá mudar a situação.

Anônimo disse...

Na sétima linha "De cabeça baixa, pra não voltar", seria melhor "pra não votar". Acho que como a maioria dos militantes de esquerda o Edvaldo também tentou ser poeteiro, mas decidiu entrar pra política: melhor pra ele.

Anônimo disse...

Virou moda aqui nesse nosso Acre velho de guerra: Os comunistas deixaram seus argumentos construídos sobre as condições objetivas da sociedade, para se apoiarem em poesias de pé quebrado. Sei não, viu? "Faz de conta que tá certo."