terça-feira, 3 de julho de 2007

YORENKA ÃTAME

Índios ashaninka criam "Escola Saberes da Floresta" para ensinarem extrativistas e ribeirinhos do Vale do Juruá a estabelecerem uma relação com a floresta sem danos ambientais


Além de lutar diariamente para conter a invasão e a destruição dos recursos naturais de suas terras por madeireiros peruanos, na fronteira do Brasil com o Peru, no Vale do Juruá, a Associação Ashaninka do Rio Amônia (Apiwtxa) ainda consegue se mobilizar para inaugurar no sábado a Yorenka Ãtame – Escola Saberes da Floresta, uma iniciativa que poderá se tornar num marco na defesa das florestas da região.

A Yorenka Ãtame pode ser um exemplo de como restaurar o meio ambiente e ter uma facilidade muito mais prática de ensinar os ribeirinhos. Apoiada pela Rede de Amigos da Escola, Governo do Estado do Acre e prefeitura de Marechal Thaumaturgo, a escola é um desafio do povo ashaninka, que vai ensinar a população branca da região a estabelecer uma relação com a floresta sem danos ambientais.

"A Escola é um desafio grande para o nosso povo, para enfrentar até mesmo os conhecimentos acadêmicos", afirma Benke Pinhanta, ashaninka criador e coordenador da escola. Segundo Benke, a escola veio para mostrar um novo modelo que a comunidade ashaninka desenvolveu voltado à segurança e sustentabilidade alimentar.

"As coisas ficam muito entregues na mão do governo, prefeitura, dos políticos, e muito pouco nas mãos dos representantes do cooperativismo", assinala Benke.

A escola vai receber até 80 pessoas de uma vez, 40 pessoas em cada curso, e conta até com os recuros da Internet. Benke avalia que hoje há muita discussão sobre como fazer com relação aos problemas ambientais.

"Tem muitas pessoas quase gritando que está se acabando a floresta, o ar, as águas, estão mudando o clima. Mas isso está acontecendo porque a gente não está construindo para amenizar o que está acontecendo. A parte científica deve se voltar para o lado prático também", aconselha.

Benke considera o manejo a coisa mais séria. "O erro é que estão estudando o que vem de fora: a experiência de manejo florestal que aconteceu na Europa - França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos, a parte acadêmica sobre os planos de manejo dos recursos de uma forma econômica. Para a gente, não dá para copiar aquele modelo de fora".

Ele disse que na Europa existe pouca floresta nativa, muito já foi destruído e o que resta na maioria é monocultura de pinheiro e outras espécies. "Temos que ter o nosso inventário porque muitas coisas boas já foram construídas com essa diversidade de madeira, a ciência e a consciência que o povo tem aqui sobre esse manejo", acrescenta.

Como a Universidade da Floresta está se revelando fora de foco, como um campus avançado da Universidade Federal do Acre com cinco cursos em Cruzeiro do Sul, a escola Yorenka Ãtame quer por em prática a transmissão dos saberes da floresta dos índios para os extrativistas e ribeirinhos.




PROGRAMAÇÃO

Sábado – 7 de julho
07:30 h – Café da manhã
08:00 h – Mesa de abertura com exposição do objetivo do evento – lideranças Ashaninka
08:30 h – Roda de conversa sobre o que é Yorenka Ãtame – Escola Saberes da Floresta e como devemos ser parceiros
10:00 h – Intervalo para o lanche
10:30 h – Inauguração com a presença de convidados, plantação de mudas e visita às instalações
da escola Yorenka Ãtame – Escola Saberes da Floresta
12:00 h – Almoço com Piarentsi
14:00 h – Apresentação do Projeto Yorenka Ãtame - Escola Saberes da Floresta e considerações
15:30 h – Vídeo e palestras
18:30 h – Jantar
20:00 h – Concentração espiritual - Kamarãpe;

Domingo – 8 de julho
09:00 h - Visita à aldeia Apiwtxa
14:00 h - Festa de Piarentsi;

Local: município de Marechal Thaumaturgo

2 comentários:

Anônimo disse...

Quando o Benke fala que não dá para ficar copiando o modelo de manejo dos outros países está mais do que certo. É sério essa questão. Quando escuto ambientalistas tratando de convenções e acordos que nasceram a partir de determinações dos países ricos como a questão climática, por exemplo, de que elas devem ser seguidas, me causa muita indignação, pois vejo que estamos no caminho errado. Os povos que habitam a floresta e dela tiram seu sustento sabem mt bem que tipo de ajuste, determinação e valor é preciso para se preservar o meio ambiente

Anônimo disse...

Bela e genrosa iniciativa dos irmãos Ashaninka, de criar uma Escola para nos ensinar como conviver com a floresta e os recursos naturais. Erramos durante séculos, e os resultados foram terríveis para a Natureza e para os seres humanos. Espero também usufruir das lições.