sexta-feira, 1 de junho de 2007

TRILHOS NA MATA

No debate sobre obras de infra-estrutura na Amazônia, governador do Amazonas defende ferrovias ao invés de estradas

Manoel Francisco Brito

Eduardo Braga, governador do Amazonas, teve uma reunião importante no último sábado em Manaus com políticos, professores do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), empresários locais e representantes de algumas Ongs. O encontro, oficialmente, destinava-se a explicar à platéia pontos da nova lei estadual contra o aquecimento global. De certo modo, foi um pouco mais do que isso. Passado o período das explicações, Braga e o empresariado discorreram sobre a necessidade de se fomentar pesquisas e estudos sobre a região para subsidiar decisões políticas e de investimentos. “Eu estou na Amazônia há 30 anos e foi a primeira vez que eu ouvi autoridades dizendo isso. É uma mudança radical de paradigma” , conta o biólogo Adalberto Val, diretor do Inpa.

A demanda por mais informação não foi a única surpresa da reunião. Braga aproveitou também para jogar no ar um balão de ensaio. Cauteloso, usando o gerúndio como escudo, disse que seu governo estava estudando a possibilidade de aposentar a proposta federal de recuperar e asfaltar a BR-319, que liga Manaus à Porto Velho, e por no seu lugar uma ferrovia. Apesar de a idéia não ser necessariamente nova, o fato de ela ter saído da boca de um chefe de executivo da região é quase uma revolução. Afinal de contas, sempre que os governadores de estados da Amazônia e presidentes da república, do general Emílio Garrastazu Médici a Lula, encamparam a necessidade de ligá-la por via terrestre ao resto do país, as únicas opções apresentadas sempre foram as rodovias.

“É um conceito novo”, diz Val. “E pelo menos o debate é muito bem vindo”. Principalmente levando-se em conta o estrago que rodovias fizeram na floresta amazônica ao longo dos últimos 40 anos. A abertura de estradas na região iniciada durante o regime militar deu margem a um processo de ocupação desordenado e violento, responsável direto pelo aumento do desmatamento. Sem qualquer controle governamental, levas de imigrantes penetraram mata adentro, colonizando beiras de rodovias ou utilizando o seu leito como ponto de partida para a abertura de estradas clandestinas, que só serviram para agravar os impactos ambientais e o caos da ocupação.

“A ocupação a partir das estradas foi devastadora”, diz Marcelo Marquesini, do Greenpeace. “Pelo menos na teoria, ferrovias permitem um controle maior da penetração”. Val concorda. “Rodovias provocam uma maior capilarização da presença humana. Elas facilitam voce encostar um caminhão cheio de gente com motosserras em qualquer lugar ao longo do seu traçado para desmatá-lo e colonizá-lo”. Nas estradas de ferro, que conectam diretamente uma estação à outra, esse tipo de penetração torna-se mais complicado. Além disso, elas tem uma escala mais baixa de impacto do ponto de vista da poluição.

Manoel Francisco Brito é da equipe do site O Eco. Clique aqui para ler a reportagem completa.

6 comentários:

Anônimo disse...

O tema merece uma boa discussão.
A rodovia BR 364 Rio Branco/Cruzeiro está em obras desde o início da decada de 1970. Talvez se opção tivesse sido uma ferrovia a obra já poderia estar pronta.
O opção ferrovia poderia ser estudada também para o trecho Cruzeiro/Pucalpa a qual inevitavelmente cortaria o Parque Nacional da Serra do Divisor.

Anônimo disse...

Conhecendo a realidade do povo que vive no interior do amazonas, acho a idéia de ferrovia super interessante em todos os pontos de vista.
Com certeza o impacto ambietal será menor do que a rodovia e alem do mais acredito que seja o unico jeito para a região em que o na maioria o solo é argiloso, com certeza uma ferrovia ira trazer um desenvolvimento sustentável para amazonia, imaginem so na parte de turismo.
Júnior Carvalho

Fora disse...

Irra, bota ferrovia, \o/, mas acho que não será possivel, pelo menos aqui no Acre, porque se mudarem de idéia agora, hoje, exatamente neste momento, os governantes darão um grande atestado de burrice ou simplismente perderão alguns apoios, grana.

Arison Jardim

Cartunista Braga disse...

Podemos levar esse debate além. Imagine ligar o Brasil literalmente de norte a sul. Sonhemos pois, com uma viagem de Rio Branco a São Paulo em um trem bala, numa velocidade de 280km/h. O que levaria quase quatro dias, por estradas esburacadas, terrivelmente perigosas e pedágios caros poderia ser feito em cerca de 15 horas no maior conforto. Este sonho pode não estar tão distante. Leia mais no http://www.vermelho.org.br/diario/2006/0208/0208_trem-bala.asp

Sandro Ricardo disse...

Há 10 anos comento esse projeto nos lugares que passo: A MELHOR MANEIRA DE LIGARMOS RIO BRANCO A CRUZEIRO DO SUL É ATRAVÉS DE FERROVIA, É MAIS BARATO, É RÁPIDO. E agora em época de NÃO VAMOS POLUIR, é muito menos poluente. Essa idéia eu ouvi de um grande amigo, o primeiro gerente da MERCEDES-BENS em Rio Branco, Jaime Freitas, hoje com 72 anos, paulista e muito conhecedor dos problemas do Acre.

Sandro Ricardo disse...

Vocês já pensaram o que os empresários de máquinas pesadas, os construtores vão pensar dessa idéia? Eles que ganham uma "baba" todo ano para que as estradas possam ser abertas provisóriamente não vão deixar essa idéia fluir "má de jeito ninhum". E os grandes empresários de Cruzeiro do Sul que estocam produtos durante o verão para venderem no inverno por valores exorbitantes, vão achar o que disso? Imaginem trem de carga para Cruzeiro! Fico lembrando dos meus sonhos de cruzar a Europa de Trem! Acorda acreano. Huummm! mais pode ser aqui, na minha terrinha, na Amazônia. Já tô sonhando de novo. Acorda acreano.