quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

TIÃO VIANA - ENTREVISTA

"É preciso colocar verdades na frente do diálogo e
a autoridade maior é das populações tradicionais"




O senador Tião Viana (PT) é autor de uma emenda de R$ 75 milhões ao Orçamento Geral da União para que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) desenvolva estudos de prospecção de gás e petróleo na fronteira com a Bolívia e o Peru.

O maior erro dele até agora foi o de ter anunciado o esforço baseado apenas na abordagem dos dividendos econômicos, sem ter mencionado qualquer preocupação com as questões ambientais numa região marcada pela alta concentração de biodiversidade, mananciais, índios isolados, populações tradicionais e áreas de preservação.

Tião Viana reconhece que cometeu um erro de comunicação e assegura que já havia dialogado com a direção da ANP para garantir a participação dos órgãos ambientais nos estudos de prospecção, o que, segundo afirmou, deverá ocorrer a partir de março.

Ele disse que continua comprometido com as causas ambientais e citou como prova mais recente o projeto apresentado durante a semana no qual propõe a adoção de critérios ambientais em todo e qualquer tipo de licitação que seja realizada no poder público.

- Cerca de 30% do Produto Interno Bruto do Brasil são hoje transferidos para compras governamentais, tanto no âmbito da União quanto dos estados e dos municípios - assinalou.

O senador acredita que seu projeto poderá significar uma enorme contribuição à preservação do meio ambiente brasileiro, principalmente da biodiversidade amazônica, considerada a maior e mais rica do planeta.

De acordo com o projeto, uma empresa de celulose que não realiza o manejo florestal sustentável ficará proibida de vender produtos a órgãos públicos. Ele quer que as empresas sejam obrigadas a adotar critérios de sustentabilidade ambiental caso queiram participar das licitações públicas.

Mas foi basicamente a respeito de meio ambiente, índios e a possibilidade de petróleo e gás no Acre que conversei hoje com o senador, no seu gabinete calorento de Rio Branco.

- Os índios têm que entender o seguinte: há ou não dano ambiental com a exploração de gás? Se for dito que não há, eles têm que ficar tranquilos, pois lá no Espírito Santo, onde estava a polêmica, já foi liberado pelos órgãos de meio ambiente e não haverá danos aos corais, não haverá danos ao mar. É preciso colocar verdades na frente do diálogo e a autoridade maior é das populações tradicionais. Se um povo indígena disser que naõ quer exploração em sua reserva, então não se explora. Mas as populações podem também, com royalties, permitir a exploração sem danos ao meio ambiente. Com isso, nós poderemos salvar toda essa comunidade, não deixar derrubar ou queimar mais uma árvore. Isso é muito melhor do que a gente ficar com fome, sofrendo, e as árvores sendo derrubadas e queimadas por alguns inescrupulosos - afirmou o senador.

A empolgação de Tião Viana quase não me permitiu fazer perguntas durante a entrevista. Vale a pena acompanhar esse debate negligenciado pela imprensa oficial acreana. Assista ao vídeo.

6 comentários:

Anônimo disse...

Altino,
parabéns pela reportagem.
Tião é politico. Isso se ver e se entende.
Muita conversa e especulação. Alias a ESPECULAÇÃO da ESPECULAÇÃO.
Quero ver o plano dele se funciona na PRÁTICA!
O Senador Tião já está no seu (segundo) mandato se esses pojetos que ele diz (à respeito dos Indios, meio ambiente, etc) estão aprovados, foram implantados e FUNCIONAM na REALIDADE HOJE, na ATUALIDADE, ele pode então sonhar com gás/petroleo no Acre...

Acho que devemos sim, questionar e exigir ATITUDES (dele) e desses que fazem lei e que a executam en nosso nome.

Esse projeto de exploração do Petróleo no Acre não vai causar mais DANOS que lucros?
Eu tenho cá minhas dúvidas.
Se existe hoje QUEIMA e gastos do Diesel que faz funcionar o Estado,
porque não explorar o BIO-DIESEL como alternativa e tão viável no Acre?
Porque não se fala nessa opção (barata) e possível?

De um lado ele diz
"Para explorar o gás/petroleo...vamos considerar as populações indígenas e o meio-ambiente.. se não quiserem não vai se explorado"
assim que também diz
"...Os indíos devem entender (assim que os ignorantes e do CONTRA) que o solo é da União- os recursos minerais são da União..."
que vão ser explorados assim mesmo.

Claro que Senador Tião chama essa DESCONFIANÇA e descrença, à "beleza" desse projeto - aos que o QUESTIONAM-
"Debate EQUIVOCADO, da IGNORÂNCIA, do PRECONCEITO"...

Temos o direito de QUESTIONAR, de duvidar, sim.
Não me venha falando do ALASKA!
Fale da REALIDADE BRASILEIRA e do estado do ACRE.
O próprio Brasil é um dos países conhecidos no mundo onde ainda impera a CORRUPÇÃO e o exemplo começa do alto- desde a Presidencia da República e a conivência dos politicos é um fato. Toda CAUSA de honra (quando isso levanta suspeitas) terminam em PIZZA.
O Senador Tião pode "ajudar" (usando suas próprias palavras) a levantar dinheiro para a exploração do Petróleo no Acre...
tal como citou com a ONG "SOS Amazônia"- que recebeu licitações e não mostrou serviço, não construiu nem uma "casa de paxiúba" para mostrar o recurso no (Ecoturismo)...
Quais as provas que dirão o contrário- que esse projeto de exloração do Petróleo no Acre também não vai vingar e sim acarretar Devastações Ecológicas e Socias?

Quem vai garantir que no final ñao restarão apenas buracos, maquinarias velhas e abandonadas e nem sequer uma "casa de paxiúba" de pé no lugar?
Qual vai ser a legacia que esse trabalho vai deixar aos Indios e habitantes locais?
Ai então ele fala de "royalties"... e do Alaska!
Esquece a realidade do Brasil.
Esse projeto me faz pensar na "Madeira-Mamoré"...
Que riqueza mais RICA do que a FLORESTA que existe, meu Deus?
As ONGs estão lá- atuando ou não elas representam entidades mas isso é porque o Brasileiro não está acostumado a DEBATER, INVESTIGAR, ir atrás da VERDADE.
Ele LEGA aos outros seu próprios direitos.
Não é o dever das ONGS ou do Governo de ESCOLHER em nosso lugar.
Diálogo sim, Sr. Senador. Debate, sim.
Com a BR 364 e essas "Modernidades" equivocadas, o Acre vai virar uma cratera.

Anônimo disse...

Abrindo um parêntese na entrevista do senador, gostaria de dizer que estive há pouco mais de 30 dias no Espírito Santo, mais precisamente em Guarapari, onde há uma plataforma da Petrobrás e discordo da afirmação de que não haverá danos aos corais e ao mar. Meu sogro nasceu lá, tem uma casa na praia e afirma que desde que uma mineradora chamada SAMARCO se instalou lá perto, a quantidade de peixe diminuiu e os pescadores a cada dia têm que adentrar mais o mar para conseguirem boa pesca. Com a instalação da plataforma da Petrobrás a quantidade de navios aguardando abastecimento aumentou, cheguei a ver quatro deles atracados por vários dias, e os moradores afirmam que há mudanças substanciais no mar, na vegetação e, principalmente, no aspecto social. A casa do meu sogro é uma das últimas ainda existentes na beira mar, que está tomada por prédios luxuosos, lanchas e pousadas. Os pescadores venderam suas casas por preços baratos e hoje o balneário é fonte de renda apenas para os que montam barracas na praia no verão.
Mas a população, principalmente os jovens, dizem que só não vei ter emprego quem não quer, pois a mineradora está ampliando a usina e vai precisar de mais mão-de-obra (barata e desqualificada) para trabalhar lá. Serão contratados mais vigias, carregadores, controladores de máquinas e, virão de fora, muitos engenheiros (não há uma única faculdade pública em Guarapari por que o ex-prefeito tem uma particular e diz que não há demanda local que justifique o pedido para uma pública) que alugarão os lindos imóveis disponíveis no local.
Talvez, quem sabe, possamos investir no ramo imobiliário lá no Juruá, investir em açudes para que, caso os rios sejam atingidos, as espécies de peixe existentes lá não entrem na lista dos passíveis de extinção, investir em cursos de empreendedorismo para comunidades tradicionais para que elas possam aproveitar as oportunidades que surgirão.
Mas pode ser que eles encontrem muita água e pouco petróleo e percebam que nosso bem mais precioso está além do alcance dos equipamentos de perfuração e dos modelos de desenvolvimento capitalista.
Lá vem eu novamente com essa visão de Pollyana...

Abraço.

Krisba

Anônimo disse...

Silvana, bem lembrada a história trágica da Madeira- Mamoré. Ilustrando seu parecer cito aqui uma frase já famosa de Gustavo Esteva: "Mi pueblo está cansado de desarollo,solo quiere vivir."

Anônimo disse...

Por que demonios esse homem quer botar mais tirar petróleo do Acre? O mundo já está pegando o fogo e ele quer colocar mais lenha na fogueira!

Anônimo disse...

mostrem pra ele como fica um local explorado... se ele for acreano mesmo, ele nao deixará o Acre se tornar um inferno.

Anônimo disse...

Que beleza a empolgação do Tião, o homem mal respira, falando em bilhões de dólares...
Dá pra ver as cifras brilhando em seus olhos. Pelo visto o batalhão da Rainha da Floresta tem que quadruplicar as rezas por este maravilhoso santuário de nosso Deus verdadeiro e seu humilde povo. Imagina a destruição que aconteceria na área da maior riqueza de biodiversidade do planeta! Espero que nossos indíos estejam com o espírito forte pra não sucumbir diante do deus dólar. Como disse Lindomar, vamos dormindo em paz...