sexta-feira, 30 de junho de 2006

CONVIDADOS DO PATRIARCA

Há mais ou menos dois meses, um relatório da Jupiter Research apontou que blogueiros e especialistas que escrevem na web exercem influência "desproporcional" na internet - formam grupo pequeno entre os usuários, mas estao determinando os assuntos das conversas e criando tendências de negócios no mercado europeu.

Mais da metade dos usuários é passiva e nao contribui para a web. 23%, por outro lado, reagem quando estimulados. A parcela restante é ativa - atraves de foruns, sites ou blogs. De acordo com o relatório, a influência mais forte dos blogs é sobre a midia tradicional.

Lembrei da pesquisa ao receber hoje o convite de um dos cardeais da Igreja Ortodoxa, o metropolitano John de Pergamon, para acompanhar, entre os dias 13 e 20 de julho, no rio Amazonas, o simpósio sobre religião, ciência e meio ambiente intitulado "Amazonas, Fonte de Vida".

O evento reunirá dezenas de cientistas, teólogos, líderes religiosos e ambientalistas, altos funcionários de organismos internacionais, representantes do governo brasileiro, sertanistas, chefes indígenas e jornalistas dos mais influentes órgãos da imprensa ocidental.

Sua Santidade Ecumênica Bartolomeu I, o patriarca de Constantinopla e líder espiritual de 250 milhões de cristãos ortodoxos gregos espalhados pelo mundo, estará presente. Ele é o incentivador do evento, organizado sob o co-patrocínio do secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan.

- Menos de uma semana depois de a Copa do Mundo terminar, com ou sem o hexa, a atenção internacional sobre o Brasil migrará do futebol para a Amazônia - escreveu na semana passada o jornalista Paulo Sotero, do Estadão, referindo-se a um evento único neste quarto de século em que a preservação da floresta tornou-se preocupação planetária.

Durante seis dias, embarcados no navio Iberostar e numa flotilha auxiliar, ou voando em aviões charter, os visitantes percorrerão zonas de desmatamento, áreas de conflito e reservas ecológicas, conversarão com representantes de comunidades locais e verão o encontro das águas e as belezas da paisagem tropical.

Palestras e debates estão programadas para cinco reuniões plenárias durante os longos deslocamentos pelo rio. O simpósio da Amazônia será o sexto de uma série e o primeiro fora da Europa, depois dos realizados nos Mares Egeu (1995), Negro (1997), Adriático (2002), Báltico (2003) e no Rio Danúbio (1999).

O ponto alto do evento será uma cerimônia ecumênica de bênção das águas do Amazonas, no dia 16. Esperado para o encerramento do simpósio, em Manaus, no dia 20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não confirmou presença.

Vou viajar para Manaus na boa companhia de outros quatro convidados acreanos, da etnia yawanawa: o líder Joaquim Tashka, Laura Soriano e as pajés Raimunda Putani e Kátia Hushahu.

Quem disse que blog é mídia apenas de adolescentes ou desocupados?

GREENPEACE PROTESTA

Organização reivindica julgamento imediato para
mandante de assassinato de Irmã Dorothy


O fazendeiro Regivaldo Galvão, o Taradão, acusado de ser o mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang, em Anapu (PA), em fevereiro de 2005, foi posto em liberdade ontem, após ficar pouco mais de um ano preso. Por maioria de votos (três a dois), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) deferiu o habbeas corpus para que o réu seja solto para aguardar o julgamento em liberdade.

O mais irônico é que o julgamento vem sendo adiado por meio de recursos do próprio acusado. Os pistoleiros que praticaram o crime, Rayfran das Neves e Clodoaldo Batista, e o intermediário, Amair Feijoli, já foram julgados e condenados a 27, 17 e 18 anos de prisão, respectivamente. O outro mandante, Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, aguarda julgamento na prisão.

- A decisão do STF causou indignação em toda a sociedade. A Justiça precisa marcar imediatamente o julgamento dos mandantes, sem mais demora, para evitar que a impunidade se consolide, colocando em risco a integridade de todos os cidadãos - afirma André Muggiati, do Greenpeace.

A impunidade no Pará não é novidade. Um outro fazendeiro acusado de ser o mandante do assassinato do sindicalista Orlando Canuto, em Marabá, aguarda, em liberdade, há 18 anos o seu julgamento pela justiça estadual.

Irmã Dorothy
A missionária norte-americana naturalizada brasileira Dorothy Stang, 73 anos, foi assassinada com seis tiros em Anapu, no Pará, no dia 12 de fevereiro.

Irmã Dorothy vivia há mais de 30 anos na região da Transamazônica e dedicou quase a metade de sua vida a defender os direitos de trabalhadores rurais contra os interesses de fazendeiros e grileiros da região, de forma absolutamente pacífica.

Desde 1972, ela trabalhava com as comunidades rurais de Anapu pelo direito à terra e por um desenvolvimento sustentável, sem destruição da floresta.

UM AMERICANO NO ACRE

De passagem pelo Pesquisa de Blogs, do Google, encontrei o blog "An American in Acre", do antropólogo Matthew Meyer. Interessado em globalização, modernidade, movimentos religiosos e política de drogas, Meyer criou o blog em junho para registrar seu trabalho de campo no Acre. Faz até a gentileza de citar este modesto blog.

quinta-feira, 29 de junho de 2006

JUSTIÇA BRASILEIRA

Por maioria de votos (três a dois), a Primeira Turma do STF concedeu liminar ao empresário Regivaldo Pereira Galvão, acusado de ser um dos mandantes do assassinato da missionária americana Dorothy Stang. Os defensores da soltura do empresário consideraram a prisão preventiva ilegal.

Os ministros Cezar Peluso (relator), Sepúlveda Pertence e Marco Aurélio deferiram o habbeas corpus para que o réu seja solto, vencendo os ministros Ricardo Lewandowski e Carlos Ayres Britto.

Peluso argumentou que a prisão preventiva não pode ser utilizada como antecipação de pena e como justificativa para a “sede de vingança coletiva”. Segundo o ministro, o clamor público não é cláusula legal que enseja a prisão cautelar. Também ressaltou que não constitui fundamento idôneo para a prisão a invocação da gravidade do crime.

- Considero a prisão preventiva absolutamente ilegal - concluiu o ministro, determinando a soltura imediata de Regivaldo Pereira, se por outro motivo não estiver preso.

A Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Seção Pará, divulgou nota lamentando a decisão do Supremo Tribunal Federal.Para a presidente da comissão, Mary Cohen, a decisão representa um estímulo à violência e á impunidade no Pará.

- Deixar livre o acusado de um crime tão hediondo contra uma defensora dos direitos humanos, deixa também todos os outros defensores dos direitos humanos na Amazônia cada vez mais vulneráveis aos predadores da floresta e da vida - avalia Mary.

Em outra decisão, da Justiça Paraense, foi negado o pedido de revisão de sentença a Clodoaldo Carlos Batista, outro acusado de envolvimento no crime. Clodoaldo foi condenado a 17 anos de reclusão, no dia 10 de dezembro de 2006.

O recurso foi apreciado hoje de manhã pela 2ª Câmara Criminal Isolada, do Tribunal de Justiça do Pará, que teve como relator o desembargador Rômulo Nunes.

Fonte: STF e OAB/PA

A AMAZÔNIA É BRASILEIRA

Samanta Novella

Atualmente, e já faz um tempão, empresas internacionais estão explorando a floresta, quer seja pública ou não. Pode se ver o resultado no desflorestamento da Amazônia, mas não se vê os resultados no desenvolvimento e condições de vida das populações locais, porque são sempre os mesmos que ganham.

Então por que, em vez de globalizar os recursos da floresta para as multinacionais não poderíamos globalizar a preservação da floresta entre os cidadãos do mundo, utilizando os mesmos meios de pressão? A Amazônia fica pertencendo ao Brasil, mas a sua preservação é internacionalizada.

Isto é transformar "títulos de exploracão" de 40 anos que estão sendo concedidos às empresas internacionais em "títulos de preservação" por 40 anos a cada cidadão. A terra fica brasileira.

Há um equívoco quanto à transcrição do projeto. Calculei mais ou menos 150 euros por hectare, mais uma soma anual. Uma parte desse dinheiro seria para o governo, para compensar o que ele tocaria em taxas de parte das empresas que explorarão a floresta. Outra parte, seria para financiar a preservação com o governo federal.

Esta lei é uma polemica e há bastante tempo (30 anos?) há pressão sobre o Brasil para internacionalizar a Amazônia, por causa da dívida externa. A pressão vem dos mesmos países "desenvolvidos" e organizações tipo OMC, Banco Mundial e até ONG, pois muitas apoiaram a lei. Existem muitos artigos sobre esta lei. É só ler.

Que não haja mal-entendido. Não sou brasileira, mas cresci no Brasil. O meu coração é brasileiro. Eu sinto revolta porque países desenvolvidos metem pressão no Brasil para internacionalizar os recursos naturais. Estes mesmos países construíram suas riquezas sobre a sangue das populações colonizadas, sobre o sangre das populações indígenas. Todos estes países que foram colonizados deveriam ter a sua dívida anulada, se justiça fosse feita sobre a historia.

Globalizar a "preservação da Amazônia" entre cidadão do mundo, deixando a Amazônia brasileira, com gerencia local, ajudando a preservação, é um conceito muito diferente das grandes ONG, que vão exercer o controle sobre as terras e tratar de "colonizar" as populações locais em colaboração com o Banco Mundial, que, em gestão ambiental, segue uma política produtivista desastrosa para os povos e a natureza.

Eu repito que ninguém toma propriedade da terra. Desculpem os erros de português. Espero que percebam as minhas intenções como são. Eu não estou completamente pronta. O meu site ainda não tem versão em português, mas vou tratar de fazer rápido, para que não haja mal entendidos.

A Amazônia é brasileira e continuará sendo.

Samanta Novella é a grafista franco-portuguesa da ONG Nature Rights (Direitos da Natureza), que está causando polêmica ao discutir entre jovens da classe média francesa a proposta de loteamento de áreas ainda intactas da Amazônia. O texto acima foi deixado por ela na caixa de comentários da reportagem "Utopia concreta", de Memélia Moreira. Fiz uma "tradução livre".

quarta-feira, 28 de junho de 2006

PULA-FOGUEIRA



Antonio Alves

"A friagem errou o São João”, disse o Altino, na varanda de sua casa, enquanto fumávamos um tabaco forte e observávamos o vento frio que chegava do sul no meio da noite. No final das contas, a friagem errou até a friagem, pois o amanhecer arrepiado logo afastou-se para dar passagem à quentura de um dia ensolarado como tantos outros deste verão aberto.


Muita gente errou o São João. Gente que costuma vir ao Acre por esses tempos e não apareceu. Mara e Mag ameaçaram vir mas, talvez achando que uma viagem ao Acre é só chegar ao aeroporto e subir na ponte aérea, acabaram ficando sem vaga no único vôo da única empresa e só poderiam chegar no fim da festa. Como Michelle, que chegou de Manaus num vôo atrasado só para ouvir os últimos cânticos da noite no Alto Santo.

Também eu andei errando o São João, deixando passar a data sem escrever uma palavra. São os tempos, que andam apertados pra quem quer ser muito ancho. Agora ando às voltas com milhões de palavras, minhas e dos outros, para editar e publicar. E ainda tenho que parar pra ver ronaldices nesses dias copais. Vez por outra sou brasileiro, também.

Vamos pra diante, pra ver o que se aproveita.

O jornalista Antonio Alves é dono do blog O Espírito da Coisa. Em tempo: pode se tranquilizar quem andava preocupado que a campanha do Binho Marques, no rádio e na TV, pudesse seguir o mesmo tom das vitoriosas campanhas de Orleir Camli e Jorge Viana, que foram feitas pela Companhia de Selva. Toinho dividirá a condução do programa eleitoral com os marqueteiros Davi Sento Sé e Gilberto Braga.

ACREANA NA NORUEGA

Maria Lunde

Hoje estava num dia bem chato. Não consegui encontrar nada que me distraísse. Estava numa saudade que não explicava. De repente, me peguei procurando os contatos no Skype. Quando busquei os nomes de todos do Acre, o primeiro nome que encontrei foi Altino Machado.

Achei o nome familiar e resolvi conferir o perfil. Não estava a procura de um namorado, pois sou casada. Procurava por alguém que pudesse me contar tudo que anda acontecendo no Acre, pois sou de Cruzeiro do Sul e moro na Noruega.

Tem dias que a saudade dói e fico pensando nos amigos, na comida, no sol, em tudo. Olho para trás e não acredito que vim parar aqui, onde a temperatura faz 20 graus abaixo de zero e as pessoas almoçam às 17 horas.

Parece mentira, mas na Europa tem sol à noite inteira. Quando cheguei aqui, não queria dormir, pois não havia noite. O sol só baixa um pouquinho e, às 4 horas da manhã, está tudo claro novamente.

No inverno, a neve só é divertida no primeiro dia. Depois é deprimente. O amanhecer acontece às 9 horas e, às 16 horas, está tudo escuro. Foi uma mudança muito radical. O mais radical para mim foi o idioma. Aqui todos falam inglês, crianças e adultos, sem exceção. Necessitava de tradutor para tudo.


Agora já me viro, falo tudo errado, mas todo mundo entende. Estou me acostumando, tenho amigas brasileiras que também são casadas com noruegueses, e acabamos nos considerando como uma família.

Na escola, estudo com muitas pessoas de outros países, muitas delas refugiadas do Afeganistão, do Irã, da Somália - é aquele povo muçulmano, que usa um monte de pano e a gente só vê os olhos. Esses refugiados são também pessoas do Chile, da China, da Tailândia e de Angola.

Aqui as pessoas são tão frias quanto o país. Nao existe aquele calor humano que os brasileiros têm. É muito, muito diferente. Os noruegueses são pessoas muito individualistas e não são prestativos como a gente brasileira. Também são muito positivos, no sentido de não abrir exceção para eles. Não tem aquilo que conhecemos como “jeitinho brasileiro”

Para eles, o que importa é que a pessoa trabalhe. Todo profissional aqui é bem pago. Um médico tem um salário igual ao de uma faxineira, pois ambos recebem por hora. Existe preconceito contra os refugiados, pois a maioria são pessoas totalmente acomodadas, que recebem dinheiro do Estado e freqüentam a escola porque é obrigação. A maioria não quer nada mesmo com a vida.

Quando estava no Brasil, achava que refugiados eram pobres coitados. Agora entendo que é um bando de vagabundo. Os noruegueses odeiam eles. Custam muito caro para o Estado.

Mas voltando a falar de onde comecei, da saudade, lembra? Pois é, quando vi o endereço de sua pagina, parecia que era uma grande mentira porque seu conteúdo me fez relembrar tudo do Acre. E até fiquei com raiva de mim ao constatar que morei aí a minha vida inteira e não tive acesso aos seus textos.

Nao acreditava que no Acre existisse uma pessoa como você, com tanta bagagem. Mas é melhor tarde do que nunca. Espero que você tenha o reconhecimento que você realmente merece.

Fiquei muito feliz de ter encontrado tanta coisa sobre a minha terra, escrita por um conterrâneo, que eu achava que não existia. Fiquei mesmo muito contente e me perdi em cada frase. Cada linha escrita por você expressa muita segurança e originalidade.

Do fundo do coração, meus parabéns.

terça-feira, 27 de junho de 2006

JOAQUIN PHOENIX

O ator americano Joaquin Phoenix vai passar os dias 14 e 15 de agosto na companhia dos yawanawá, na Terra Indígena do Rio Gregorio, em Tarauacá (AC), no Sudoeste da Amazônia brasiliera.

Ele foi um dos apoiadores da produção do filme "Yawa - história do povo yawanawa".

A militante do movimento ambientalista Heart Phoenix, mãe do ator, conhece as lideranças yawanawa desde 2004, durante o lançamento do documentário em São Francisco (EUA).

Quem aproximou a família Phoenix à tribo foi o canadense Joshua Sage, que dirigiu o Yawa em parceria com os yawanawa.

segunda-feira, 26 de junho de 2006

UTOPIA CONCRETA

ONG francesa propõe loteamento na Amazônia por 1 euro




Memélia Moreira


O loteamento de áreas ainda intactas da região amazônica ao custo de, no mínimo, um euro por ano, está sendo discutido entre jovens da classe media francesa. A proposta, que vai arrepiar nacionalismos exacerbados, é da organização Nature Rights (Direitos da Natureza) coordenada pela grafista franco-portuguesa Samantha Novella.

Ela desembarca no Brasil em agosto para registrar sua organização e visitar comunidades indígenas e camponesas. A partir daí, Samantha, que tem pouco mais de 20 anos, vai escolher a área-piloto para estabelecer seu projeto que pretende reduzir o índice de destruição da Amazônia.

A autora do projeto quer levar a proposta a todos os países ricos da Europa e já trabalha no registro de sua organização também nos Estados Unidos. No documento dirigido aos futuros compradores ela diz que “os custos da proteção serão divididos por milhares, e talvez milhões, de indivíduos, permitindo assim utilizarem os mesmos meios de pressão dos lobbies onipotentes que governam no lugar dos governantes”.

A Nature Rights colocou no ar um site com versões em francês, inglês e português. No site, em letras garrafais, lê-se: "L´Amazonie este en vente!" (A Amazônia está à venda". Confira detalhes projeto, aqui.

A proposta de Novella começa a ganhar adeptos dentro e fora da França. Jean-Pierre Dutilleux, cineasta belga que, nos anos 90, levou o cacique Raoni até ao presidente Miterrand, anunciou seu apoio ao projeto da Nature Rights. Novella irá a Bruxelas nos próximos dias se encontrar com Dutilleux para discutir o assunto.

Jean-Pierre Dutilleux produziu em 2003 o filme Amazon Forever. O filme conta a história de Nicolas, um jovem cineasta aventureiro que chega ao um vilarejo na Amazônia para filmar um antigo ritual tribal, o Kuarup. Lá ele se apaixona por Luacema, filha do chefe Ayupu. Após ter sido iniciado nos costumes locais, Nicolas se conscientiza da iminente ameaça que paira sobre seus novos amigos: a destruição da floresta. A câmera se torna sua arma.

Privatização da floresta
O projeto tem como base a lei 11.284, sancionada em março deste ano, e que terceiriza a maior floresta tropical do mundo. No lugar de conceder à empresas o direito de exploração “racional” da Amazônia, o projeto da Nature Rights quer que esta concessão seja compartilhada com “pessoas do mundo inteiro, que poderiam adquirir, individualmente, um hectare de terra para preservação”. Trocar títulos de exploração dos recursos naturais por títulos de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável.

O montante de recursos da “compra” dessas terras seria utilizado para fiscalização e controle dos desmatamentos e, principalmente, para desenvolver projetos com as populações das comunidades das áreas a serem protegidas.

Ainda sem ter conhecimento do espaço onde pretende trabalhar, Samantha Novella procura parceiros interessados em elaborar os projetos de desenvolvimento. Durante sua viagem ao Brasil ela quer entrar em contato com ecologistas, indigenistas e técnicos que possam trabalhar com suas propostas. A primeira área a ser visitada pela coordenadora do Nature Rights deve ser o Pará.

Proteção globalizada
Na apresentação da proposta, a coordenadora da Nature Rights deixa claro que os parceiros não serão proprietários de nenhum centímetro da Amazônia e, para “amansar” qualquer reação de bombardeio ao projeto sob o argumento da soberania nacional, Novella afirma que “A Amazônia é do Brasil e assim será para sempre”.

Mas, mesmo reconhecendo a legitimidade do Brasil ao seu território, o projeto faz uma ressalva e diz que “o patrimônio natural de nosso planeta não tem idioma, raça ou fronteira, nem taxas de câmbio” e em seguida argumenta ainda que está na hora de “globalizar a proteção da nossa natureza”.

Samantha compartilha da idéia de que “a Amazônia é um patrimônio mundial e nosso interesse comum é preservá-la porque ela pretence a todos e todos devem protegê-la”.

O argumento não é novo. No final dos anos 80, o então presidente socialista francês, François Miterrand, durante reunião da cúpula internacional dos países mais ricos do mundo disse que “a Amazônia é importante demais para ser protegida apenas pelo Brasil”. Houve reações de protesto por parte do Itamaraty, mas nenhum desmentido do Quai d´Orsay, onde funciona o Ministério de Relações Exteriores da França.

Mas Samantha desconhece o jogo dos interesses internacionais e garante querer simplesmente proteger os últimos “pedaços intocados da natureza”.


Samantha diz que projeto é "utopia concreta"

As palavras jorram quando Samantha Novella fala sobre seu projeto de loteamento simbólico da Amazônia. E foi nesse jorro, misturado com soluços que ela, num jantar em Paris, conversou com o embaixador brasileiro na França, Marcos Azambuja sobre a tarefa que se impôs: defender uma das últimas florestas do mundo.

O jantar aconteceu logo depois da aprovação da lei que privatize a floresta e ela não sabia que ele era embaixador. Quando soube, resolveu lhe escrever uma carta que foi o primeiro esboço do projeto que a própria autora classifica de “utopia concreta”.

Revoltada com a lei, Samantha criou então a organização Nature Rights e vem trabalhando durante todo seu tempo livre para m prática o projeto que, em sua opinião, é uma alternativa à destruição sistemática da Amazônia.

Nascida em Portugal de mãe marroquina e pai inglês, Samantha Novella passou os primeiros anos de sua infância numa fazenda entre o Brasil e o Paraguai, convivendo com o povo guarani e agora quer voltar ao Brasil e conversar com todas as pessoas dispostas a abraçar sua utopia concreta.

A jornalista Memélia Moreira, que vive na Flórida (EUA), escreve para a Agência Amazônia.

SIMPÓSIO NO RIO AMAZONAS

Mais de duzentos líderes religiosos, cientistas, ambientalistas e governantes do Brasil e do exterior vão se reunir no rio Amazonas, entre 13 e 20 de julho, para examinar os desafios ambientais e questões éticas relacionadas com a proteção do meio ambiente. O simpósio amazônico é patrocinado pelo Patriarca Ecumênico Bartolomeu I (foto) e pelo secretário geral da Organização das Nações Unidas, Kofi Annan.

A partir de Manaus, o simpósio vai usar dez embarcações para visitar vários locais de interesse ambiental, dando a seus participantes uma oportunidade de examinar as condições do rio Amazonas e conversar diretamente com residentes locais e especialistas. Na presença de centenas de convidados e dignitários, os líderes religiosos farão, no dia 16 de julho, a benção das águas do Solimões e do Rio Negro, no encontro das águas.

- Estou muito feliz por ter o privilégio de visitar a grande nação do Brasil e sua grande jóia, o rio Amazonas. O rio Amazonas simboliza a magnificência e vulnerabilidade da criação de Deus. Um dos maiores desafios de nosso tempo é a perda da floresta úmida tropical. Ela toca não só a vida dos povos indígenas e tradicionais que vivem na floresta, mas de toda a humanidade - disse o patriarca.

O simpósio terá início em em Manaus e contará com visitas à sede de mapeamento por satélite do SIVAM, à torre de observação florestal ZF2 e a Santarém (PA). Viajará também ao Parque Nacional do Jaú, ao arquipélago Anavilhanas e a Mamirauá.

Ao longo da viagem, representantes regionais e internacionais discutirão tópicos abrangendo a ética ambiental e assuntos relevantes à Amazônia, como desmatamento, perda de biodiversidade, a introdução de organismos geneticamente modificados, ecossistemas amazônicos, os direitos e desafios dos povos indígenas e tradicionais e o impacto da Amazônia na mudança climática global.

O ponto alto do evento será uma cerimônia ecumênica de bênção das águas do Amazonas, no dia 16. Esperado para o encerramento do simpósio, em Manaus, no dia 20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda não confirmou presença.


Entrevista
Bartolomeu I: Patriarca Ecumênico de Constantinopla


‘Se amamos o Criador, devemos amar a criação’

Patriarca fala sobre lado espiritual da ecologia e reconhece dificuldades do diálogo de reconciliação com a Igreja Católica

Pelos cálculos do arcebispo metropolitano da igreja ortodoxa grega de Buenos Aires, monsenhor Tarasios, que responde por toda a América do Sul, há entre 20 mil e 50 mil cristãos ortodoxos no Brasil. Segundo o site www.ortodoxiabrasil.com, eles se concentram em 12 Estados e no Distrito Federal. Há uma dúzia de paróquias na cidade de São Paulo e outro tanto no interior do Estado.

Apesar da escassez de seu rebanho no Brasil, Bartolomeu I, o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, possui laços de família com o País. Três de seus primos, filhos de um irmão de seu pai, vivem em São Paulo - e dois deles o encontrarão pela primeira vez durante a visita que fará ao Amazonas, no mês que vem.

Não será a primeira viagem de Bartolomeu I para a América Latina. Suas andanças pelo mundo já o levaram a Cuba e ao México. Abaixo, trechos da entrevista que concedeu ao Estado:


Por que seu interesse pela Amazônia?

Sabemos que há uma preocupação mundial com a Amazônia. Queremos conhecer e aprender. E queremos oferecer nossa perspectiva e contribuir para o diálogo que leve à solução dos problemas. O simpósio em si não trará nenhuma solução. Mas acreditamos que a participação de especialistas de diferentes disciplinas e países, bem como de formuladores de políticas, facilitará o entendimento, pois trará ao debate as dimensões científica e espiritual da ecologia.

O que o senhor espera alcançar com o simpósio?

Nosso objetivo não é resolver todos os problemas ecológicos, mas sensibilizar as pessoas, criar consciência ecológica. É obrigação sagrada da igreja proteger a criação, de acordo com a vontade do Criador. Essa é a razão, em última análise, pela qual o Patriarcado Ecumênico decidiu abraçar esse trabalho. Achamos que é nosso dever. Atuamos em colaboração com a Igreja Católica, que é a maior das denominações cristãs, o que aumenta a eficácia dos nossos esforços e seu impacto junto aos fiéis. Se dizemos que respeitamos e amamos o Criador, temos então que respeitar e amar sua criação.

O Brasil é o país que tem o maior número de católicos batizados. A reconciliação das Igrejas Católica e Ortodoxa acontecerá um dia?

Será um longo caminho. Temos um fosso criado por uma separação de nove séculos e meio. Iniciamos um diálogo há quase 50 anos, quando o papa Paulo VI e o patriarca Atenágoras tiveram um encontro histórico na cidade de Jerusalém, ao final do Concílio Vaticano II. Levantaram-se as excomunhões mútuas que as igrejas haviam decretado. O diálogo teológico começou depois da visita do papa João Paulo II ao Patriarcado, em 1979. No entanto, a comissão mista formada para estudar os pontos de diferenciação dos dois sistemas, com o objetivo de chegar a um consenso, entrou em crise depois de 20 anos de trabalho.

Por quê?

O problema gira em torno das igrejas ortodoxas do movimento uniata, que seguem Roma. Elas mantêm os paramentos e ritos litúrgicos das igrejas orientais mas estão unidas a Roma. Os ortodoxos acreditam que os chamados ritos orientais foram uma invenção de Roma para fazer proselitismo junto aos cristãos do leste. Os nossos irmãos católicos romanos dizem aos ortodoxos que não são teologicamente educados, que não há diferença substancial entre as igrejas, que a diferença está só nas roupas, e que se trata apenas de mencionar o nome do papa de Roma na liturgia, porque somos todos o mesmo povo.

E não é assim?

O entendimento ortodoxo é que esse não é um argumento honesto e sincero. Depois do colapso do comunismo, várias das igrejas uniatas que seguem Roma passaram a desfrutar de mais liberdade e assumiram atitudes agressivas em relação aos ortodoxos. Houve uma reação forte e o diálogo parou. Em setembro passado convoquei os representantes de todas as igrejas ortodoxas e propus a retomada do diálogo, que foi aceita. Roma também concordou. Em setembro próximo haverá, em Belgrado, a primeira reunião plenária da comissão de 30 teólogos ortodoxos e 30 teólogos católicos. O tema será a estrutura da igreja.

Qual é a maior diferença?

É a posição hierárquica do bispo de Roma na estrutura geral da igreja cristã e isso nos leva ao principal obstáculo em nossas deliberações. Nós, ortodoxos, dizemos que o papa tem a primazia do amor e da honra. A Igreja Católica afirma que o papa tem também a primazia de jurisdição sobre toda a igreja cristã e pretende que isto seja um direito divino, enquanto que nós entendemos que se trata de um direito criado pelos homens.

A entrevista, concedida ao jornalista Paulo Sotero, foi publicada na edição de ontem do jornal O Estado de S. Paulo.

O ACRE MAIS ISOLADO

Thadeu Moura

Lamentavelmente o Acre ficará ao sabor do monopólio da Gol em decorrência da crise vivida pela Varig. Quando existe um monopólio em qualquer setor, os perdedores são somente os usuários do serviço. Rio Branco teve experiência na década passada em relação ao monopólio do transporte urbano, quando se observou um serviço caro e de má qualidade. A concorrência entre as empresas favoreceu os usuários, que chegaram a ter at'ônibus com ar-condicionado sem ter tarifa diferenciada.

No caso da Gol, sendo a única empresa a voar para Acre, podemos dar adeus àquelas bem vindas promoções. Mas pode ficar pior. Ontem, no site da Gol, tentei fazer a compra de uma passagem no trecho Rio Branco/Natal para participar de congresso médico. Para minha surpresa o trecho não existe. Entrei em contato com o atendimento on-line, porém a resposta foi a mesma.

Portanto, para sair de Rio Branco para Natal, deveremos comprar dois trechos, por exemplo, de Rio Branco para Brasília e de Brasília até Natal, o que sem menor sombra de dúvida deixa a passagem bem mais cara, favorecendo unicamente a Gol.

Mas, olhando as outras opções de vôo, verificamos que não é só para Natal que existe esta dificuldade. Outros destinos bastante utilizados pelos acreanos também não constam na lista da Gol.

E agora?

Quem tiver dúvida pode verificar no site da própria Gol.


Thadeu Moura é médico cirugião

domingo, 25 de junho de 2006

SILVANA DE FARIA DITCHAM



Altino,

Olá! Como vai você?

Sou acreana, de Rio Branco, e vivo há 20 anos na Europa. De vez em quando vou ao Brasil para visitar a família. Tenho recebido visitas de acreanos aqui. Meu irmão, que vive entre Rio Branco e Manaus, esteve comigo ultimamente por um mês.

Vivo em Londres e, às vezes, leio na internet os jornais locais. Descobri sua página completamente por acaso, enquanto pesquisava sobre a novelista Glória Perez. "Caí” no seu blog e li alguns dos seus artigos e comentários. Em primeiro lugar, impressionante que você seja autodidata e escreva com tanta eloqüência, de modo desconcertante, visto os assuntos que trata.

Deve ser muito perseguido mesmo, como comentou na sua apresentação. Fiquei fã da sua irreverência, que é uma rara qualidade, porque é feita com fineza e certamente justa, pois não está sendo “pago” pra escrever. Isso me deixa acreditar que você é autêntico e agora consulto seu blog todos os dias e quero lhe agradecer pelas notícias, fotos e artigos.

Bem, vivendo assim tão longe, quero dizer que não morro de “saudades” do Acre ou do Brasil, nem da comida, nem do calor, muito menos dos piuns do seringal. Sinto saudade de pessoas e muito delas já se foram. Sinto saudade de lugares, mas muitos deles já não existem literalmente, como o seringal Mercês, dos meus antepassados, que virou pasto pra boi dos ‘paranaenses’.

Lembro de pessoas, como a Kátia, a Sonja que foi ‘rainha da primavera’, a Fátima Barros, a Socorro (hoje é Beth-juiza- Maia), a Kátia (irmã da Norminha), o Geraldo Barbosa, o Eduardo (irmão do Geraldo), o Júnior Adonay e muitos que vai custar listar. Estavam um ou dois anos na minha frente, mas como eu cantava e tocava violão junto com o Junior Adonay e Eduardo, sempre pensavam que eu era da turma deles, mas eu era apenas um ou dois anos abaixo. Menina buchuda mesmo.

Eu sou atriz, estou terminando um mestrado em filme e vídeo, sou também roteirista, mas muitos dos meus trabalhos ainda não foram publicados. O meu trabalho como atriz é inédito no Brasil.

Tive uma vida muito intensa e sempre fui uma “revoltada” contra o sistema do Brasil -política, costumes sociais, o meio artístico feroz! E essa é uma das razões por estar vivendo até hoje na Europa. Mas escolhi viver aqui sobretudo porque construí família: tenho duas filhas, marido e tudo o que isso representa.

Hoje estou aos poucos voltando às minhas raízes e estou preparando um documentário-filme para 2007 sobre os yawanawa. É um projeto ambicioso e devo passar uns seis meses aí no Acre para isso. Por sinal, adorei as informações no seu blog sobre os yawanawá.

Fiquei sabendo pelo jornal O Globo da minissérie sobre o Acre, escrita pela acreana Glória Perez, e como sou também uma acreana e envolvida em filme, cinema, etc., quis saber mais sobre esse projeto.

Há alguns anos, quando surgiu o projeto de filme sobre Chico Mendes, fui escolhida pelo produtor David Puttnam (ele foi em Paris me conhecer pessoalmente) e pelo diretor Chris Menges para fazer parte do projeto. Eu iria fazer o papel de “Ilzamar”. O filme começava quando Ilzamar e Chico namoravam- ela com uns 18 anos, e ia até a idade que ele era assassinado.

Nessa época eu tinha 24 anos, mas eu era muito jovem, fisicamente. Fiz testes em Londres, fui aprovada e fiquei esperando pelo filme começar. Certo dia recebí um telefonema, seguido de uma carta, confirmando que o projeto havia sido parado por causa dos direitos do filme - uma confusão entre a família de Chico Mendes, produtores brasileiros, americanos, ingleses, etc. Se você quiser aprofundar, poderemos tocar pra frente depois, não me sinto em posição de falar nisso agora.

Bem, continuando... Fiquei muito triste desse projeto não se realizar, pois iria ter um impacto internacional e ia “empurrar” minha carreira de atriz. De lá pra cá, sempre leio e vejo tudo relacionado a Chico Mendes. Fui até Xapuri, visitei a casa onde vivia, filmei, encontrei a Ilzamar, foi uma emoção pra mim. Mas, como sempre, voltei pra Europa.

Minha vida (daria somente ela um romance!) é aqui e vivi uma reviravolta: abandonei a carreira artística por muitos motivos pessoais. Nessa época, morava em Paris, mudei para Londres, etc.

Depois de algum tempo sem trabalhar no meio artístico voltei (dessa vez atrás das câmaras) e também decidi fazer uma faculdade e por isso estou acabando o mestrado e penso daqui a um ano “atacar” o doutorado. Veremos...

O irmão do meu pai faleceu anteontem em Belém. Ele tinha 83 anos e passou praticamente toda a vida dele no Acre, nas matas dos seringais do pai dele. Meu pai faleceu há três anos, com 93 anos. Meu pai e meu tio se foram e com eles uma parte da história do Acre. Dois arquivos vivos que se apagaram. Ouvi a música do Vital Farias e me deu lágrimas nos olhos. É a vida.

Um grande abraço pra você e obrigada pelo seu blog. Li seu blog de cabo-a-rabo. Saiba que é o melhor dos 'brazucas' e o melhor dos jornais do Acre. Tem muita gente fazendo politicagem e é difícil encontrar imparcialidade. Como vivo tão longe, acho que seu blog me dá uma certa objetividade.

Silvana de Faria Ditcham

A Silvana cresceu entre Rio Branco e o Seringal Mercês, que era propriedade de seus pais Cézar Escócio Drummond de Faria e Tarcila Vianna de Faria. É casada com o baterista e percussionista inglês Martin Ditcham. Tem duas filhas: Oona, 15, filha de sua longa união com o diretor de cinema francês Gilles Béhat, e Maya, 3, filha de Martin Ditcham. Ela é irmã do advogado e compositor Cézar Escócio, que atualmente vive em Belém. Clique aqui para conhecer o site da Silvana.

JORNAIS DO ACRE

A imprensa acreana costuma encarar os fatos de modo tão pujante e verborrágico que se torna quase impossível alguém levá-la a sério. Vejamos dois exemplos que talvez expliquem o crescente desinteresse das pessoas pelos jornais.

O governo estadual liberou ontem o tráfego na BR-364, desde Sena Madureira até Cruzeiro do Sul. Após um ciclo de três ou quatro meses, ninguém poderá mais transitar nela e as cidades ficarão isoladas por causa da lama. Mas o jornal Página 20 traz essa pérola:

"Rodovia é reaberta com grande festa, marcando novo ciclo econômico e social para cidades do Acre". Clique aqui e leia. Sensata foi A Tribuna: "Reabertura da BR-364 tem festa e comemoração: em alguns dias, a vida do Vale do Juruá muda completamente".

Noutro caso, o meu amigo Marcos Vicentti, repórter-fotográfico do Página 20, adquiriu uma máquina para impressão de fotos digitais. Não há nada de extraordinário no equipamento, mas foi suficiente para o jornal perder o bom senso:

"Fotografia Imagem Digital (FID). Esse é o nome do mais novo empreendimento do repórter fotográfico Marcos Vicentti, que promete revolucionar o mercado da tecnologia digital no Acre". Clique aqui e leia.

Os quatro jornais diários da cidade, cujas tiragens variam de 300 a 3 mil exemplares, circulam basicamente em Rio Branco, onde existe uma população de quase 400 mil habitantes.

Dos jornais, Gazeta continua a mais esperta. Restringiu o acesso à sua versão on line aos assinantes da versão impressa. Preserva-se e poupa a paciência de leitores fora do Acre ao ocultar um conteúdo que não difere em nada dos demais.

sábado, 24 de junho de 2006

DONA JUSTA

Juarez Nogueira

Ao que parece, a Justiça Acreana dá com alguma celeridade a prestação jurisdicional. Assim seja, ad seculum seculorum.


Acá del mar, nas Minas, continua a lesma lerda: há de se ver que, no mesmo Juizado Especial, o qual trata das ditas causas de menor complexidade, há ano e meio rola e não desenrola uma ação que já ganhei. Mas ainda não levei.

Está lá, em grau de recurso para a Turma do próprio Juizado, naquela que chamo de fase contemplatória: o juiz contempla, mas não dá penada; o advogado contempla, a coisa adiada; as partes contemplam... o nada.

Isso é que é o pior: seja vítima ou réu, nada. Daí, ai, ai, vem essa decrepitude com a Dona Justa, a terrível certeza da impunidade, a sensação de que no país as leis são feitas por bailarinos para pernetas e de que a lei não é - com alguma exceção - a justiça e a justeza.

Por isso, Altino, pode comemorar duplamente: primeiro, o resultado; segundo, o fato de que pode dormir sem pesar a inquietação de ter que andar na lei, sem poder contar com ela.

Desculpe o "desabafo". Ah, hoje eu tô nos cascos. Vontade de mudar pro Acre... E aqui ainda estão vendendo/empurrando goela abaixo a imagem de Estado bem administrado. Sei, tô vendo...

O escritor mineiro Juarez Nogueira reside em Divinópolis.

quinta-feira, 22 de junho de 2006

O BLOG NA JUSTIÇA



O índio Sebastião Alves Rodrigues Manchinery (foto), o Sabá, não gostou do que escrevi aqui, com o título "Tire sua conclusão", e requereu no Juizado Especial uma indenização de R$ 12 mil por danos morais, com a alegação que de o chamei de ladrão e corrupto. Por causa do valor, a minha defesa foi elaborada na banca do advogado Odilardo Marques.

Refutei com o argumento de que agi dentro dos limites do exercício regular do meu direito e que não tive a intenção de macular a honra ou criar situação embaraçosa ao índio. Minha intenção era esclarecer à opinião pública quem é Sabá e até cheguei a enaltecê-lo.


Além disso, assinalei que meu objetivo era narrar, de forma transparente, a notícia que possuía, sem nada pessoal contra Sabá, a quem concedi espaço como direito de resposta.

Eis a decisão do juiz leigo Maurício Schuck:

"Dos elementos que foram carreados ao feito, mormente depoimento pessoal das partes, entendo sem razão o reclamante.

É que o reclamado não publicou a matéria com o propalado animus diffamadi vel injuriandi.

Apenas recortou e colou matéria que já estava a disposição da coletividade de internautas.

Não teve a intenção de macular o reclamante, dizendo a todo momento, quando da audiência de instrução e julgamento, que nada tem contra o mesmo e que sua real intenção era dar ciência à coletividade sobre a personalidade e atitudes levadas à efeito pelo reclamante.

Nos depoimentos pessoais este juízo se convenceu das alegações do reclamado. Tais argumentos mostraram-se verossimilhantes.

Não há como atribuir ao reclamado a autoria de inúmeras informações haja vista que outros sites tornaram públicas tais informações, valendo dizer que este não 'idealizou' o conteúdo nestes havido.

O reclamado publicou informações colhidas acerca da administração do reclamante frente à Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), mencionando o fato de que esta teria instaurado procedimento para averiguar irregularidades na sua gestão e tais fatos foram publicados pelo site da própria Organização o que se constitui apenas e tão somente em animus narrandi, verdadeiro direito do reclamado assegurado pela Carta Política de 1988 (art.5º, inciso IV) e pela Lei nº 5.250/67.

Não vislumbro qualquer atitude discriminatória por parte do reclamado em relação à cultura indígena da qual faz parte o reclamante.

Repita-se que a todo momento o reclamado informava que sua intenção foi de ser 'transparente' e que 'nada tinha contra o reclamante', mencionando que durante o longo período em que exerceu o jornalismo – 22 anos - nunca atacou ou menosprezou os interesses e a cultura indígena.

O pedido de contraposto também não merece acolhida pois as publicações foram recíprocas e as alegações do reclamante não foram graves ocasionando, a meu ver, meros aborrecimentos ao reclamado não tendo o condão de tutelar o pedido condenatório nele contido.

Pelo que aos autos foi carreado julgo IMPROCEDENTE a presente reclamação, entendendo que o reclamado não denegriu a imagem do reclamante tendo apenas e tão somente divulgado fato noticioso que já era de conhecimento público e, com fulcro no artigo 269, inciso I, do CPC, extingo o processo com julgamento de seu mérito.

Sem custas por força do art. 55, da lei nº 9.099/95.

P.R.I.A.

Rio Branco/AC, 5 de junho de 2006".


Mais processos

Noutro processo, movido pelo empresário Narciso Mendes, dono do TV e jornal O Rio Branco, o Juizado Especial constatou a "ocorrência da prescrição e decadência do direito de oferecimento de queixa-crime". Foi acatado o pedido do Ministério Público para que fosse declarado extinto o pedido de punição.

Além disso, Narciso Mendes não apresentou provas que justificassem ausência numa audiência e acabou sendo condenado a pagar as custas processuais. O empresário não gostou do artigo "Dedo no suspiro".

Existe um terceiro processo, esse em andamento no Juizado Especial, movido por Raquel Dourado da Silva (foto), em decorrência do post "Venda de Kambô no Orkut".

Ela criou a comunidade "Kambô Milagre Indígena" e se sentiu ofendida porque copiei uma foto dela que estava disponibilizada no Orkut. Usei a foto para ilustrar o texto. É outra que pleiteia din-din.

quarta-feira, 21 de junho de 2006

O ACRE E A BIENAL

Acre recebe artistas que estarão na Bienal de SP

Curadora diz que Estado é importante para a "conceituação" do evento

Colombiano Alberto Baraya vai trazer de Rio Branco obra de 18 metros em forma de seringueira para o Pavilhão da Bienal, no Ibirapuera

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A RIO BRANCO

Há seis semanas, uma cena insólita chama a atenção dos visitantes do parque Capitão Ciríaco, em Rio Branco, capital do Acre: o artista colombiano Alberto Baraya, trepado em andaimes, lambuza de látex uma seringueira de 18 metros.

Em duas semanas, a borracha que envolve a árvore deverá ser retirada, mantendo o formato da seringueira, e será transportada para a 27ª Bienal de São Paulo, para ser exibida a partir de 7 de outubro, data da abertura da exposição.

"Esse é um desenvolvimento da série que denomino "Herbário de Plantas Artificiais". Até agora, eu coletava flores de plástico e as classificava, numa paródia às expedições botânicas do século 17. Agora, é como se eu conseguisse viabilizar algo que faltava a um colecionador, a própria árvore", conta Baraya à Folha, no parque.

Para construir sua obra, o artista realiza um trabalho basicamente artesanal. Ele mesmo compra o látex colhido logo cedo das seringueiras em Capixaba, uma vila a 80 km de Rio Branco, e depois o leva para envolver a outra árvore, onde trabalha com dois assistentes, um deles também seringueiro.

"Eu poderia ter feito essa obra de maneira mais tecnológica, mas achei importante construir uma árvore a partir de seu próprio material, ainda mais aquele que serve para criar flores artificiais", explica Baraya.

A idéia para o uso da borracha surgiu quando o artista participava de uma expedição pela Amazônia. "Fiquei fascinado por toda a história da borracha e, graças à residência, posso desenvolver esse trabalho", conta Baraya.

Trocas
Num ateliê da recém-inaugurada Usina das Artes, um centro cultural construído numa antigo engenho de manipulação de castanhas, o artista desenvolveu os protótipos para a grande obra que virá para a Bienal. Lá, ele cria centenas de folhas de borracha que irão também compor a imensa seringueira, auxiliado pelo artista local Ueliton Santana.

"Esse intercâmbio é outro dos objetivos das residências, pois certamente a presença dos artistas aqui em Rio Branco deixará muitas sementes", afirma a curadora da 27ª Bienal, Lisette Lagnado.

Além da grande seringueira de borracha, Baraya continua recolhendo flores de plástico para seu "Herbário" e também fotografa a maneira como essas plantas artificiais estão dispostas onde residem as pessoas da cidade, como o fez quando acompanhou Lagnado na visita à casa de uma sobrinha de Hélio Melo (1926-2001), artista que também toma parte da Bienal, e onde a curadora selecionou novas obras para a mostra.

O colombiano é um dos dez selecionados para realizar uma residência artística no país, um dos três escolhidos para Rio Branco. No último fim de semana, a curadora da Bienal, Lisette Lagnado, e o professor Marcos Moraes, coordenador do projeto das residências pela Faap, parceira da iniciativa, estiveram no Acre para acompanhar o trabalho do artista.

Fronteiras
Desde que escolheu o Acre como um dos temas da Bienal, Lagnado não retornava ao Estado. "Essa viagem serviu para confirmar a importância do Acre na conceituação da Bienal, pois esse é um local onde há uma intensa discussão sobre fronteiras", diz a curadora.

A fundação é também parceira da Bienal nas residências artísticas, sendo responsável pelo apoio local aos artistas. "Não temos palavras para agradecer a visibilidade que um evento como a Bienal proporcionará ao Estado", diz Souza.

Também passaram por Rio Branco as artistas Susan Turcot, do Canadá, e Marjetica Portc, da Eslovênia. Ambas realizaram workshops na cidade.

"De modo surpreendente, houve uma disputa pelo Acre. Outros artistas quiseram vir para cá e, curiosamente, ninguém pediu para ir ao Rio. Quando soube do projeto, o artista grego Xagoraris Zafos, que nem foi convidado a ser residente, veio para cá por sua própria conta", diz Lagnado. "Fiquei emocionada quando a Susan me escreveu e contou que havia uma Susan antes de Rio Branco e outra depois."

QUEM É ALBERTO BARAYA

ORIGEM
Nasceu em Bogotá (Colômbia), em 1968

FORMAÇÃO
Belas artes, na Universidade Nacional da Colômbia (1986-1991), onde hoje é professor

PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES

"Traces of Friday" (2003), no Instituto de Arte Contemporânea da Pensilvânia "Expeditión Européanne" (2005), no Palais de Tokyo, em Paris "Global Tour: Art, Travel & Beyond" (2006), em W139, em Amsterdã

Este modesto blog foi o primeiro a revelar que o Acre seria destaque na Bienal de São Paulo. E foi quem serviu de ponte entre a Bienal e a Fundação Elias Mansour, que tem servido de apoio. Engraçado é que a curadora da Bienal veio ao Acre e tentou falar comigo, mas o pessoal da fundação alegou que não sabia como me localizar. A irrealidade acreana me entendia. De qualquer modo, Kátia e eu assinamos ontem o documento no qual cedemos a tela "Um pedaço da mata", do Hélio Melo, para exposição na Bienal. Veja também neste blog os posts "Viva Hélio Melo", "Hélio Melo na Bienal" e "Bartolomeu Gelpi". Este assunto não interessa à grande imprensa acreana. A reportagem acima foi copiada da Ilustrada, na edição de hoje da Folha de S. Paulo.

SOLIDARIEDADE AO HIPÓLITO

Caro Altino,

reproduzo abaixo a mensagem recebida do meu amigo Hipólito Aparício, do Timor Leste. O Hipólito passou seis meses no Acre em 2001. Esteve aqui para estudar português sob a orientação da Dra. Luisa Lessa.

Nestes dias o Timor Leste esteve (está) em guerra civil e o meu amigo foi atingido com a perda da casa.

Um abraço

Alceu Ranzi


"Prezado professor e amigo,


Tudo foi destruído e saqueado. Nada restou excepto as cinzas. Nada restou da minha casa. E com lágrimas nos olhos lhe peço ajuda com algum dinheiro para recuperar uma cabana para recomeçar a vida depois de tanta luta e suor para tê-la.

Se digne passar essa triste notícia aos amigos e colegas do Brazil.

O cordial abraco e sempre cheio de esperança lhe suplico a mao.

Hipólito Aparício"

Alceu Ranzi é paleontólogo no Acre. Diante do drama, quem estiver disposto a ajudar, pode escrever ao próprio Hipólito Aparício para combinar. Basta clicar aqui.

SAUDADE

Juarez Nogueira

Saudade,

a saudade do a.C.RE,
ancestral, antediluviana,
vem na corrente cósmica,
cai na corrente sanguínea e, inoculada, incorpora,
faz-se luz lembrada, atávica.

Outro nome dessa saudade é esperança.

É o que nos salva do sentimento de orfandade

quando se revolvem as memórias
banidas do paraíso
a que se deseja retornar
e, incólume, pertencer, permanecer.


Saudade não é falta, é permanência,
vontade de que a alegria seja refúgio e descanso,
céu de toda a estrada,
ida, retorno, chegada.

Essa alegria, difícil, dói.

Destaco em versos o comentário poético do escritor mineiro Juarez Nogueira, deixado no post "Saudade e tristeza".

NO REINO DA FLORESTA

O Roberto Vaz, editor do site Erros da Hora, finalmente retirou a manchete "Jorge Viana diz que Márcio Bittar tentar caçar candidatura de Binho Marques".

Como na irrealidade da floresta tudo é possível, resta saber se haverá uma "espera" da hora na caçada. O correto é cassar, Vaz. Caça no dicionário. Alguém pode me dizer quem cassa registro profissional de "jornalista"?
Clique aqui para conferir o título genial.

BELA E MISTERIOSA



Pra começo de conversa, devo confessar de cara que não acredito na existência de disco voador. Mas o que aconteceu comigo hoje, às 5h34 da manhã, é minimamente estranho.

Sempre me incomodou a possibilidade de morar em prédio e perder um hábito cultivado desde menino: acordar durante a noite ou madrugada para mijar no quintal olhando a lua e as estrelas.

A alvorada estava tão bonita hoje que entrei em casa e peguei a máquina fotográfica. Tirei algumas fotos de um ângulo, a partir da porta da cozinha. Acendi um porronca e tirei mais fotos, a partir da área na frente da casa.

Eram visivelmente belas a lua e a estrela. Quando fiz a antepenúltima foto, percebi a presença de mais dois pontos (um fosco e outro luminoso), naquele momento em que as máquinas digitais congelam temporariamente a imagem captada. Imaginei que fosse alguma gotícula de orvalho ou qualquer outra sujeira e passei rapidamente o tecido da camiseta sobre a lente e tirei outra foto.

A surpresa veio ao descarregar as imagens no notebook e constatar o desaparecimento do ponto fosco e o deslocamento do ponto luminoso.

A lua e a estrela que meus olhos viram realcei com um círculo negro. E os pontos fosco e luminoso foram realçados em vermelho. Clique sobre as fotos para visualizá-las ampliadas. Envio as fotos originais para quem estiver interessado em examiná-las.


Se é verdade que existem E.Ts e aqueles queriam aparecer no blog, a mensagem deles está dada. Foi uma alvorada bela e misteriosa.

SAUDADE E TRISTEZA

"Oi Altino,

já faz uns dias que estou sumida do espaço cibernético. Muito trabalho na universidade. Sabe como é a vida.

Hoje de manhã, 8h30, acessei a internet para visitar seu blog. Fui percorrendo este espaço tão rico em informações e pessoas maravilhosas.

Me deparei com a música Saga da Amazônia, com os yawanawá, me lembrei das conversas com Tashka, vi esta linda preguiça com sua cara linda....

E não deu: estou chorando até agora. Lágrimas de saudades e de tristeza.

Não sei nem o que escrever. Maldita distância, maravilhoso Acre. Saudades, saudades, saudades!

Assim não vale!

Um grande beijo

P.S.: este e-mail fica só entre nós, ok?

OK! Combinado, estimada leitora. Fica mantido o sigilo da fonte, mas saiba que eu também já chorei assim, de saudade e tristeza do Acre. Espero que já tenha cessado o seu pranto, para evitar que a Europa seja inundada. Caso apenas a seleção do Parreira submergisse, iria pedir pra você chorar mais.

terça-feira, 20 de junho de 2006

FESTIVAL YAWANAWA



Joaquim Tashka Yawanawa e Biraci Nixiwaka Brasil

Em junho de 2002, foi realizado o I Yawa. Aquele primeiro evento surgiu a partir de uma conversa interna das lideranças tradicionais, que fizeram uma reflexão da história e da vida de nosso povo na atualidade.


Após uma grande reflexão dos ganhos e perdas que tivemos depois de mais de um século de colonização, vimos que todas nossas danças, expressões artística, cultural e espiritual não foram apagadas e esquecidas da memória de nosso povo.

Elas tinham sido apenas deixadas para atrás, dando vaga aos costumes ocidentais trazidos pelos patrões seringalistas e missionários. A maneira que encontramos para mostrar isso para nossa própria gente foi organizar uma semana dedicada à nossa cultura ancestral.

Yawa é uma semana de celebração de dança, expressão artística, cultural e espiritual do povo yawanawa. Yawa é a ligação do povo yawanawa com o criador e seus antepassados. Nos conecta ao mundo “moderno” sem perder nossa identidade cultural, que nos fortalece como um povo indigena com uma cultura, língua e tradicão diferente.


É também um ato de agradecimento aos espíritos da floresta pelos bens que ela oferece, pelos momentos de alegria que a comunidade está vivênciando. É um sinal de boas vindas aos visitantes. Não há palavras para descrever a sensação de estar presente numa roda de mariri yawanawá, na aldeia Nova Esperança. É o contato direto com a floresta e seus habitantes.

Bem, aquele primeiro evento causou um grande impacto na comunidade e mudou a história de nosso povo. Para nós yawanawá, o YAWA foi o renascimento e o redescobrimento como um povo com uma cultura, uma identidade e uma espiritualidade vivas em pleno século XXI.

Aproveitamos aquela oportunidade também para fazer a gravação do primeiro filme sobre a história e a vida do povo yawanawa, o qual esperamos que, através de nossos cantos e nossas imagens, tenhamos inspirado outros povos indígenas ao redor do mundo que estão em processo de resgate de sua indentidade cultural e ancestral.

Em 2003 realizamos o II YAWA. O evento aconteceu entre os dias 1 a 7 de de Julho de 2003. Reuniu todos os 620 Yawanawá que vivem na Terra Indígena do Rio Gregório, além da visita ilustre do governador Acre, Jorge Viana, além de convidados que vivem ao redor dos centros urbanos e em outras regiões do Estado do Acre.

Em 2004 – III YAWA. O evento aconteceu entre os dias 10 a 15 Agosto e contou com a participação de todo o povo yawanawá da Terra Indígena do Rio Gregório, além de visitantes convidados pela Organização Yawanawá. Naquele ano, participaram vários outros grupos indígenas que foram visitar e conhecer um pouco mais da cultura do povo yawanawa.

Em 2005, IV YAWA. O evento aconteceu entre os dias 25 a 30 de Julho. Naquele ano, o povo yawanaw celebrou muitas conquistas alcançada nos últimos anos, que vão desde os projetos sociais, ampliação da Terra Indígena do Rio Gregório até o lançamento da grife yawanawa. Tivemos também a visita do governador Jorge Viana e do senador Tião Viana.

O V YAWA será realizado entre os dias 25 a 30 de julho. Contará com a participação de todo povo yawanawa, além de convidados ilustres. O festival Yawa, tem se tornado uma referência de celebração da Cultura ancestral do povo Yawanawa.

Joaquim Tashka Yawanawa e Biraci Nixiwaka Brasil são dois jovens líderes do povo da queixada.

POVO YAWANAWA

O povo ywanawa, do grupo étnico pano, vive na Terra Indigena do Rio Gregorio, com 92,8 mil hectares, situado no município de Tarauacá (AC), no Sudoeste da Amazônia brasiliera. Divide seu território com o grupo indígena katukina. O grupo yawanawa sempre viveu em seu território tradicional.

O primeirro contato com os "brancos" seringalistas aconteceu por volta do século XIV, quando vieram explorar a borracha na Amazônia. O segundo contato foi com os missionarios da Missao Novas Tribos do Brazil que vieram “evangelizar” a comunidade.


Por muitos anos foram forçados a conviver com seringueiros e missionários. Por mais de décadas, trabalharam para os patrões seringalistas. Não eram remunerados por seus trabalhos e ainda tinham que conviver com todo tipo de abusos em sua própria terra.
Cansados de tantas atrocidades, em 1984, o povo Yawanawa expulsou todos os brancos não indígenas de seu território.

Posteriormente, expulsou também os missionários da Missão Novas Tribos do Brazil, que até aquele momento estava evagelizando toda a comunidade e apagando sua cultura, crença e costumes tradicionais.


A população yawanawa é de 620 pessoas Terra Indígena do Rio Gregório, que está localizada em uma zona de difícil acesso. A maioria da população é composta por jovens e crianças.
Diferente de outros grupos amazônicos que estão espalhados em diferentes localidades, o grupo Yawanawa é único e todos vivem na mesma comunidade.

Apesar de está localizado bem distante da zona urbana, o grupo sempre esteve envolvido com organizações governamentais, não governamentais e empresas privadas buscando parcerias de trabalho para melhorar a qualidade de vida na floresta usando e desfrutando de suas festas tradicionais, rituais, costumes e língua.

Manter viva a memória do povo yawanawá é uma responsabilidade de todos da comunidade e faz parte de uma preocupação antiga da etnia em registrar a cultura tradicional de seus antepassados. Ao longo do contato com a sociedade brasileira, a tribo sofreu muitos processos de aculturação (casamento interétnico entre índios e brancos, grupos vivendo fora da aldeia, missões religiosas na comunidade etc.), que contrariam as normas e mudam a cultura.

Apesar do contato e da inserção no mercado do homem branco, mantemos e desfrutamos de nossa sua cultura. Os pajés (xamãs, líderes espirituais), são memória viva do povo yawanawá, que continuam ensinando aos jovens da aldeia a educação tradicional de nosso povo - afirma Biraci Nixiwaka Brasil.


Além de organizados tradicionalmente, os yawanawa também se mobilizam através da OAEYRG, que tem a missão de lutar para o bem estar da vida do povo Yawanawa.

A entidade é um instrumento de representacão política para defender o território, tradição, cultura e obter recursos para diversificacão das atividades produtivas e melhoria dos programas de educacão e saude, através de parcerias com orgãos governamentais, nãos governamentais, entidades indigenistas, humanitárias, ambientalistas e empresas envolvidas com as questões indígena e ecológicas.

segunda-feira, 19 de junho de 2006

FESTIVAL YAWA



Os índios yawanawá da Terra Indígena Rio Gregório, na Aldeia Nova Esperança, que têm acesso à web a partir de conexão por satélite, enviam convite para que este blog participe da quinta edição do Yawa - festival de canto, dança, expressão artítisca, cultural e espiritual da etnia.

O Yawa, que será realizado de 25 a 29 de julho, é promovido pela Organização de Agricultores Extrativistas Yawanawá do Rio Gregório (OAEYRG) e pela Cooperativa Agroextrativista Yawanawá (COOPYAWA).

O convite é tentador, pois os yawanawa querem que o evento seja apresentado aos leitores deste modesto blog. Farei o possível para atender ao convite do Joaquim Luís Yawanawa, Biraci Nixiwaka Brasil e Laura Soriano Yawanawa.

Para maiores informações sobre meios de transporte para chegar até a aldeia, quem estiver interessado deve fazer contato com a Organização Yawanawá nos escritórios de Tarauacá (68 3462 2025) e Rio Branco (68 3226 6919). Clique aqui ou aqui para ter acesso aos e-mails.

Os interessados em participar devem confirmar presença até o dia 10 de julho ou o quanto antes possível, para que possamos organizar a chegada e saída - afirma o líder indígena Joaquim Tashka Yawanawá.

Como chegar
Para alcançar a comunidade é necessário recorrer a diferentes meios de transporte. Partindo desde Rio Branco, viajar de avião de carreira da empresa Rio Branco Táxi Aéreo com destino a Tarauacá.

Partindo de Tarauacá, o meio mais rápido é viajar em avião monomotor durante 30 minutos até a aldeia Sete Estrelas, onde vive o povo katukina. Depois, viajar duas horas barco rio acima.

É necessário uma prévia combinação com o escritório da organização yawanawá em Tarauacá/Rio Branco para que um barco da organização esteja aguardando no Sete Estrelas.

Agora, no verão amazônico (época do evento) é possível viajar de Tarauacá, pela BR-364, até Cruzeiro do Sul, com destino ao povoado São Vicente, onde a rodovia atravessa o Rio Gregório, num percurso de duas hora de viagem.

De São Vicente, a viagem segue de barco motorizado subindo o Rio Gregório durante um dia. Em São Vicente também é necessária uma prévia comunicação com a Organização Yawanawá para que um barco esteja de prontidão esperando para seguir viagem até a aldeia.

Além de contar com o apóio da organização Yawanawá, em São Vicente existem barcos a motor dos moradores, que cobram R$ 300,00 por viagem até a aldeia Nova Esperança.

Para a ingresso de qualquer pessoa, seja qual for o propósito e objetivo de viagem, é necessário a assinatura de um termo de compromisso. Os índios se comprometem a receber os visitantes fraternamente, compartir casas, comida e oferecer as facilidades logísticas de material e de estrutura.

SAGA DA AMAZÔNIA

A novelista Glória Perez, que está escrevendo os capítulos da série "Amazônia - de Galvez a Chico Mendes", cuja estréia na Rede Globo está marcada para o dia 2 de janeiro de 2007, em julho/agosto volta ao Acre.

Ela aproveitou para saber qual era a música preferida de Chico Mendes. Respondi que a preferida do seringueiro era "Saga da Amazônia", do compositor paraibano Vital Farias, que certa vez deixou de cantar no Acre porque não viaja de avião. Segue a letra tão atual:

Saga da Amazônia
(Vital Farias)

Era uma vez na Amazônia a mais bonita floresta
mata verde, céu azul, a mais imensa floresta
no fundo d'água as Iaras, caboclo lendas e mágoas
e os rios puxando as águas

Papagaios, periquitos, cuidavam de suas cores
os peixes singrando os rios, curumins cheios de amores
sorria o jurupari, uirapuru, seu porvir
era fauna, flora, frutos e flores

Toda mata tem caipora para a mata vigiar
veio caipora de fora para a mata definhar
e trouxe dragão-de-ferro, prá comer muita madeira
e trouxe em estilo gigante, prá acabar com a capoeira

Fizeram logo o projeto sem ninguém testemunhar
pra o dragão cortar madeira e toda mata derrubar:
se a floresta meu amigo, tivesse pé pra andar
eu garanto, meu amigo, com o perigo não tinha ficado lá

O que se corta em segundos gasta tempo prá vingar
e o fruto que dá no cacho prá gente se alimentar?
depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar
igarapé, rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar

Mas o dragão continua a floresta devorar
e quem habita essa mata, pra onde vai se mudar?
corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá
tartaruga, pé ligeiro, corre-corre tribo dos Kamaiura

No lugar que havia mata, hoje há perseguição
grileiro mata posseiro só prá lhe roubar seu chão
castanheiro, seringueiro já viraram até peão
afora os que já morreram como ave-de-arribação
Zé de Mata tá de prova, naquele lugar tem cova
gente enterrada no chão

Pois mataram índio que matou grileiro que matou posseiro
disse um castanheiro para um seringueiroque um estrangeiro
roubou seu lugar

Foi então que um violeiro chegando na região
ficou tão penalizado que escreveu essa canção
e talvez desesperado com tanta devastação
pegou a primeira estrada, sem rumo, sem direção
com os olhos cheios de água, sumiu levando essa mágoa
dentro do seu coração

Aqui termina essa história para gente de valor
pra gente que tem memória, muita crença, muito amor
pra defender o que ainda resta, sem rodeio, sem aresta
era uma vez uma floresta na Linha do Equador...

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domingo, 18 de junho de 2006