quarta-feira, 31 de maio de 2006

DELIBERADA CONTRADIÇÃO

Governo Lula faz opção por modelo que depreda a Amazônia

Mário Menezes

Dois eventos acontecidos em Brasília, nos dias 25 e 26 últimos, dão bem a medida das reais prioridades do Governo Lula para a Amazônia, e de seu compromisso com o desenvolvimento sustentável na região.


No dia 25, uma quinta-feira de grande movimentação política na capital, presidido pelo ministro da Fazenda e com grande pompa, aconteceu o anúncio do pacotaço, produzido em 30 dias pelo Planalto, para socorrer o agronegócio dos prejuízos provocados pela conjuntura macroeconômica a que a maioria dos demais setores também está submetida. O pacote também busca assegurar os recursos demandados por grandes obras na região, boa parte das quais sabida e reconhecidamente inviável do ponto de vista econômico e ambiental.

No dia 26, uma sexta-feira politicamente esvaziada, como são as sextas-feiras de Brasília, coordenada por dois representantes de segundo e terceiro escalões do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Integração, realizou-se, no período da tarde e em um auditório escondido da Esplanada dos Ministérios, reunião entre o governo e a sociedade civil para discussão de uma proposta de desenvolvimento para a região, fundamentada na sustentabilidade: o PAS-Plano Amazônia Sustentável.

As medidas anunciadas no primeiro evento, empacotadas a toque de caixa, terão sua execução assegurada pela liberação de nada menos de R$ 32 bilhões, sem nenhuma consulta à sociedade brasileira e à população regional atingida por essa iniciativa governamental. Já a proposta do plano de desenvolvimento regional sustentável colocada à discussão na reunião esvaziada de sexta-feira, a título de consulta participativa a ser estendida aos estados amazônicos, dormia nas prateleiras da Casa Civil, desde abril de 2004, e é desprovida de qualquer fonte que assegure os recursos que demandaria, bem como dos instrumentos de política para sua implementação.

Essa acachapante contradição, além de expor um estilo pouco ortodoxo de lidar com o interesse público e de destinar dinheiro idem, em um ano de eleição presidencial, evidencia o quanto é mal disfarçado o discurso ambientalista do governo, que se lixa para as conseqüências trágicas de medidas dessa natureza para a região. Enquanto segmentos da sociedade e parte do próprio governo, comprometidos com a sustentabilidade regional, estão mobilizados no esforço de reorientar o modelo de desenvolvimento a que a Amazônia está submetida, o Planalto se posta, radicalmente, na contramão dessa via, pavimentando (em alguns casos até literalmente) o caminho já trilhado pelo comboio da ocupação desordenada, que na região avança e se consolida como vetor da destruição.

Entretanto, com um pouco de vontade política, o governo Lula poderia estar se valendo da oportunidade única de coexistência dessas duas medidas, para fazer do plano de sustentabilidade regional a contrapartida ao generoso socorro que está prestando ao setor Agropecuário e ao agronegócio, em particular. Além da coerência política dessa postura, o governo estaria promovendo um salto de anos, talvez décadas, no processo de ordenamento regional almejado pela sociedade brasileira.

Mas, em compensação, agindo da forma incoerente como estão, Lula e o PT terão dois planos de desenvolvimento para a Amazônia, a serem apresentados à sociedade, na campanha eleitoral: um, forjado no hoje conhecido mundo real do governo e do partido, que faz o jogo e agrada em cheio setores de peso da economia depredadores do meio-ambiente na região, e outro, construído no castelo de fantasias edificado com a intenção de abrigar os anseios daqueles que, despudoradamente, foram usados como artilharia pelos ferrenhos opositores "ambientalistas" a governos de ontem, hoje no Poder.

Com essa deliberada contradição, perdemos todos, inclusive pelo mau exemplo de se fazer política de cunho imediatista, ainda que o preço desse imediatismo seja pôr em risco o futuro da Amazônia.

Mário Menezes é agrônomo e trabalha na Amazônia há 32 anos, 20 dos quais mais diretamente com a problemática sócio-ambiental da região, inclusive no Acre. Já trabalhou em ONGs como o Instituto de Estudos Amazônicos e Ambientais e, atualmente, é colaborador da Amigos da Terra - Amazônia Brasileira.

O RIO NÃO ESTÁ PARA PEIXE

A paulistana Laís Mussarra tem 19 anos, mora no Butantã, e escreve desde sempre. Trabalha numa empresa de informática na Avenida Paulista e estuda na Faculdade de Tecnologia do Estado de S. Paulo (Fatec). Perambulamos em Sampa no ano passado, depois que ela se tornou leitora e crítica assídua deste blog. Quando disse que via tanto futuro no brilho de seus olhos, Laís respondeu: "Eu também tenho muitas esperanças. Vou ser uma escritora e vou falar muito bem de você". Minha amiga decidiu abrir a gaveta para enviar a história seguinte.


Laís Mussarra

Um pouco adiante da várzea esquerda daquele rio, já adentrando na mata, Genário sentado sobre os calcanhares, amolava uma faca. Resmungava baixinho coisas que, de onde eu estava, não pude ouvir. Estação ruim aquela, em que os pássaros quase não voam, do verde da folha só sobra a estria vergada, de resto marrom. A manhã nascera rosada, agora já quase em seu fim, não mais. Dia seco de céu muito azul.

Colocando a faca na bainha levantou-se ligeiro, jogou a sacola nas costas e se dirigiu ao barquinho muito medíocre. Genário era homem já velho, de barba crescida escondendo as feições rudes de seu rosto; olhos grandes e redondos, e as mãos já apresentavam a gastura disforme de longos anos de pescaria: calo sobre calo. Pescador o era “desde piá” como costumava dizer, e orgulhava-se do ofício, o mesmo do pai, avô vida de histórias que os dedos não mais podiam contar.

O Sol a pino esquentava sua cabeleira e logo meteu o chapéu na cabeça; já no centro do rio jogou sua rede e pôs-se a, pacientemente, esperar o rebuliço dos peixes. Assim ficou, por uma, três, e na quarta hora e meia desistiu.

Na margem, agora transportava suas ferramentas, sua gastura, olhar comprido e peixe algum; com os pés atolados na lama, descansou as mãos na cintura. Olhou a vastidão. O vento resfria, mas parece que o dia não transpira, sempre a mesma visão. Sem muito alarde, vinha se aproximando um homem, cuja aparência nada diferia de Genário: roupa suja e cabelo emaranhado. Veio ao seu encontro e o saudou. Genário tirou o chapéu em cumprimento. Proseou rosto rente a rosto, baixo e discreto. Pude ouvir algo: “sujeito mole de corrida, sem faca ou pistola, deve para mim e mais uma dúzia; merece o merecido pois, além disso é ladrão de mulher, cá no meio do mato, quase o catei erguendo a barra de saia da minha dona, que vinha fazer oferenda no dia do Santo” dizia o homem, “ah! Não tarda a ver a casa do demônio, cabra safado” disse com raiva Genário, e dando uma quantia a ele, o homem saiu sem mais nada a recomendar.

Não hesitou em despender mais algumas horas, na beira do rio, para trabalhar em sua faca. O fez muito sério e compenetrado, sem pressa, como uma arte bela, que não vê tempo nem motivos para se parar. Já noitinha julgou boa hora aquela de ir embora, com a cesta vazia e a cabeça cheia foi-se. E foi no burburinho de fim de dia na vila, que Genário, recostado na parede de uma loja fechada viu sair do boteco, Tião. Jogou a ponta do cigarro fora e sabendo o caminho que o infeliz iria percorrer, segui-o até a ruela mais afastada do movimento habitual.

Tião cambaleava embriagado. Resmungava, ria, e certa hora, de tanto rir, agachou no chão tossindo feio. Ele estava coberto por uma sujeira grossa, de terra molhada que seca no corpo, e achando pouco, ainda no chão. Bebeu mais da garrafa que carregava. Levantou, apontou o dedo pro alto e ia proferir alguma frase vazia quando Genário o chamou. Prontamente virou-se para responder ao chamado, mas já estavam bem próximos um do outro e em um segundo sentiu a faca cravar-lhe certeira o coração. Arregalou muito os olhos, tanto que Genário pensou que iriam saltar em seu rosto. Vendo Tião já no chão, agarrado em seus pés, deu um chute a fim de ver seu rosto. O homem não mais podia gritar. Mais oito facadas, rasgando pele a todo canto do corpo. Isso não por maldade, mas porque Tião tinha “sangue ruim”, e como “vaso ruim é difícil de quebrar” quis certificar-se. . “Não mato ninguém pelas costas”.

Essa era a atividade secundária de Genário, e, se o rio não estivesse para peixe, primária.

terça-feira, 30 de maio de 2006

TACACÁ NÃO ENGORDA

Jones Santos

Amantes do tacacá agora podem tomá-lo sem se preocupar com o excesso de calorias. Isso porque, na verdade, o excesso não existe. Uma pesquisa dos alunos Joel Marcel Furtado e Lidiane Pimenta, do curso de Nutrição da Universidade Federal do Pará, quebrou o mito do alto valor calórico desta iguaria da culinária paraense. Eles comprovaram em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que o tacacá comercializado em Belém tem em média apenas 123,09 Kcal; enquanto o consumo calórico recomendado para pessoas adultas no jantar é de 1.200 Kcal. Dessa forma, o tacacá possui um baixo teor calórico para o seu volume, que é em média de 544 ml.

A pesquisa, com o título “Capacidade Média da Cuia e Valor Nutritivo do Tacacá Comercializado em Belém-Pará”, foi orientada pelo professor Francisco Nascimento, do departamento de Nutrição da UFPA. Para a determinação do valor nutritivo, os alunos coletaram 51 amostras de tacacá de 17 vendedores, três de cada um, em diferentes bairros de Belém. Todos os vendedores estavam credenciados junto à Secretaria Municipal de Economia (Secon).

Dos componentes do tacacá, o mais calórico é a goma com, 39,75 Kcal em média; seguida de perto pelo camarão com 39,37 Kcal. O menos calórico é o jambu, com apenas 14,83 Kcal, enquanto o tucupi fica com 29,14 Kcal. De todas as amostras coletadas, a que apresentou maior número de calorias foi a do bairro da Cidade Velha, com 188 Kcal. A amostra do bairro de Jurunas apresentou apenas 90 Kcal, o menor valor de todos os analisados. Além disso, o jambu contem ainda ferro e fibras.

O peso médio do tacacá encontrado na pesquisa foi de 569,5g; desta massa, 17,1g são de carboidratos, 10,19g são de proteínas e 1,9g de lipídeos. A capacidade média das cuias ficou em 1025,63 mL, embora o volume de conteúdo ocupe apenas pouco mais da metade dessa capacidade.

Esses valores demonstrados na pesquisa garantem que o tacacá é um alimento saudável que pode ser consumido por qualquer pessoa, com um pouco de cuidado para quem é diabético ou hipertenso. Além disso, não é problema para quem não quer engordar ou está de dieta.

Jones Santos é da assessoria de imprensa da Universidade Federal do Pará, cujo site é muito bom. Comparem com o vergonhoso site da Universidade Federal do Acre, no qual sequer consta a citação de que já existem cursos de física, química, música e artes cênicas. A diferença é que, no Pará, o site é controlado por jornalistas dedicados. Na universidade do Acre, o setor de comunicação é controlado por um professor buchudo de educação física. Coisas da política rasteira da instituição.

MAGRO REPÓRTER



Montezuma Cruz

Na expectativa de um dia me encontrar com vocês, também lhes digo que esses encontros promovidos pelo Altino Machado trazem a inspiração para o momento e o futuro que se misturam. A lamparina que o Altino (que linda recordação, amigo!) comprou no comércio de Rio Branco e ilustrou o texto de reminiscências do Pena também fez parte da minha infância.


Naquela época, sem energia elétrica na cidadezinha em que fui criado, a lamparina e o lampião a gás decoravam as paredes de madeira da maioria das casas simples de Teodoro Sampaio (SP). Haja fuligem, haja querosene Jacaré!...

Cidade pobre, formada por nordestinos solidários, cresceu desse jeito, à luz de velas, lamparina e lampião. Tem uma das melhores águas potáveis do País. Meninos, abastecíamos a casa com latas de 20 litros, na única caixa-d'água local. Só mais tarde a situação melhorou.

Graciliano Ramos e dureza da vida, tema que o Pena expôs na palestra aos advogados; as dificuldades de acomodação de Ivone Belém ao chegar em Brasília; a arte do encontro patrocinada pelo Altino neste rico espaço de renome nacional e internacional, tão útil e imprescindível para acreanos, amazônicos e brasileiros.

Realmente, isso emociona a gente. Seres humanos frágeis e imperfeitos que somos, quando deparamos com textos que nos remetem a um pedaço do passado, conseguimos enxergar a longa estrada da vida (do jeito que Milionário e José Rico cantaram e cantam no rádio), e vemos o quanto caminhamos e ainda iremos caminhar.

Fico feliz ao sentir que Altino, Ivone, Pena, Saramar, Juarez Nogueira, e outros que entram nessa conversa têm objetivos comuns, entre os quais, o reconhecimento e a gratidão. Eu digo que também sou imensamente grato às pessoas que me proporcionaram ensino, alegria e souberam me advertir e aconselhar.Creio que devemos nos firmar em atitudes construtivas e ao mesmo tempo enérgicas e perseverantes.

Assim, na condição de magro repórter que circulou por um pedaço desse Brasil do Norte e ganhou tantos presentes, espero continuar merecendo novos presentes. Vocês, por exemplo, estão entre as pérolas que pretendo colocar sobre a cômoda do quarto e na estante da biblioteca — espaços valorosos num lar.

Antes de conhecer o Blog do Altino, eu já o imaginava capaz de promover o encontro (e reencontro) de pessoas com histórias tão bonitas. Quando leio, agora, o que vocês escrevem, consigo ver um pouco do coração e da mente de cada um.

O jornalista Montezuma Cruz foi repórter da Folha de S.Paulo, O Globo e Jornal do Brasil — em Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Porto Velho (RO) e São Luís (MA); O Estado de S.Paulo em Presidente Prudente e Ourinhos (SP); chefe de Redação da sucursal da Folha de Londrina em Foz do Iguaçu (PR). Editor de Internacional no Diário do Norte do Paraná (Maringá-PR). Editor do Porantim, jornal do Conselho Indigenista Missionário em Manaus (AM). Correspondente da Revista do Mercosul (RJ) na fronteira Brasil-Paraguai-Argentina. Foi assessor de imprensa do senador Amir Lando. É redator de Cidades no Jornal de Brasília.

APOSTO UM PANGARÉ

O jornalista Cláudio Humberto tascou hoje na coluna dele mais um torpedindo equivocado sobre o Acre:

"Pragmatismo
Os neocomunistas do PPS de Roberto Freire negociam alianças com o PFL e esperam eleger até sete governadores. Apostam na derrota do PT no Acre com o ex-deputado Márcio Bittar, líder nas pesquisas".

Pois bem, enviei pro e-mail dele a seguinte mensagem:

Caro Cláudio Humberto, quando você menciona o pragmatismo dos neocomunistas do PPS, o pragmatismo soa como sendo mais seu do que deles. Aposto com você um pangaré como o futuro governador do Acre será Binho Marques, do PT. Aposta fechada?

Caso ele aceite, quando ganhar a aposta decidirei entre Evo Morales e Diogo Mainardi a entrega do pangaré como presente.

THE NEW YORK TIMES

Tribo amazônica espera lucrar com rã das árvores

Paulo Prada
da reserva indígena de Campinas

Fernando Katukina é chefe de uma tribo indígena que vive em grande parte sem água corrente, eletricidade ou elos com o mundo fora de seu canto remoto do oeste da Amazônia.



Mas Katukina diz que possui um tesouro que pode estar na vanguarda da biotecnologia. Se o projeto iniciado pelo chefe tiver sucesso, as riquezas da tribo serão transformadas em algo que ele e o governo brasileiro acreditam deter grande promessa para a indústria farmacêutica global: a secreção de uma rã venenosa.

Os xamãs tribais usaram a mucosidade como remédio ancestral para tratar doenças, dores e até preguiça. Os ingredientes ativos têm propriedades anestésicas, tranqüilizantes e outras. Os pesquisadores dizem que a promessa está em isolar os peptídeos da secreção e depois reproduzi-los na produção de remédios contra hipertensão, ataque cardíaco e outras doenças.

Katukina já tem o apoio do governo do Brasil, que vê no projeto uma oportunidade para desenvolver sua própria pesquisa de farmacêuticos. Em particular, o desafio científico da rã, conhecida localmente como kambo, vai aprofundar o conhecimento do Brasil no ramo farmacogenético -o uso combinado de genética e farmacologia- e aproveitar o conhecimento tradicional dos povos indígenas.

"O conhecimento tradicional também pode ajudar a medicina moderna e gerar benefícios econômicos significativos", disse Bruno Filizola, coordenador técnico do projeto e biólogo do Ministério de Meio Ambiente em Brasília, capital.

A dimensão indígena também é crucial porque o Brasil, como outras nações em desenvolvimento, está tentando combater o que entende como biopirataria, o roubo de recursos biológicos de habitats naturais do país para uso comercial. Apesar de o projeto ainda estar nos primeiros estágios, cerca de 20 cientistas estão buscando um patrocínio inicial de perto de US$ 1 milhão (em torno de R$ 2,2 milhões) de mais de uma dúzia de universidades, governos estaduais e de agências federais.

Há muito mais que esperança ingênua em jogo. Os pesquisadores brasileiros já ensinaram aos agricultores do país, que hoje estão entre os maiores exportadores, a manipular os solos e alterar as lavouras que não eram adequadas ao clima do país. Agora, muitos cientistas acreditam que a ciência pode transformar as florestas brasileiras em laboratórios produtivos.

"O Brasil tem uma comunidade grande crescente de pesquisadores dispostos a desenvolver sua própria pesquisa e produtos", disse Joshua Rosenthal, vice-diretor de uma divisão de treinamento internacional e pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisa em Bethesda, Maryland.

Pesquisadores brasileiros não esquecem o caso da jararaca, a cobra da Amazônia. A gigante farmacêutica Squibb usou o veneno da cobra para desenvolver o captopril, um remédio para pressão sangüínea comercializado a partir de 1975. Apesar de estar disponível na forma genérica desde 1996, o remédio foi o produto de maior venda da empresa, hoje parte da Bristol-Myers Squibb, e arrecadou US$ 1,6 bilhão (em torno de R$ 3,5 bilhões) em 1991.

"Por causa dos erros do passado", diz o documento do Ministério de Meio-Ambiente brasileiro, "o captopril não é brasileiro".

Apesar de abrigar a maior floresta atlântica do mundo e um dos mais diversos ecossistemas do planeta, o Brasil em geral tem demorado a desenvolver seu patrimônio genético -as plantas e animais dentro de seu território e o potencial de lucro que oferecem. O documento do ministério também lamenta o atraso histórico na pesquisa brasileira e a conseqüente perda de bilhões em receita de fármacos, produtos agrícolas e outros bens comerciais.

Um resumo do Projeto Kambo, escrito por uma equipe de pesquisadores do Ministério de Meio Ambiente, diz: "O patrimônio genético nacional pode ser chave para a transformação do Brasil no contexto político e socioeconômico global."

Os países em desenvolvimento promovem cada vez mais a idéia de desenvolver e comercializar seus remédios tradicionais e artes locais. Eles estão questionando os direitos dos estrangeiros de explorar produtos derivados de substâncias locais.

Em uma reunião da ONU, na cidade de Curitiba no mês passado, delegados de nações em desenvolvimento pediram mudanças na lei internacional para permitir que os governos impeçam o patenteamento estrangeiro -ou ao menos compartilhem dos lucros- de recursos biológicos encontrados em seu território.

Em dezembro, em uma reunião da Organização Mundial de Comércio em Hong Kong, o ministro de comércio da Índia disse aos delegados que o progresso nas negociações internacionais dependia de mudanças nessas linhas.

A indústria privada está temerosa. O caminho da pesquisa até o desenvolvimento de um produto é longo e caro. Raro é o composto que pode se tornar a próxima droga milagrosa ou outro sucesso comercial sem ser adulterado, argumentam.

"As nações em desenvolvimento devem trabalhar para desenvolver seus próprios recursos -e não bloquear os esforços de outros para pesquisar e investir", disse Alan Oxley, ex-embaixador australiano de assuntos comerciais que hoje é consultor em Melbourne e dirige um instituto de pesquisa patrocinado em parte pela indústria farmacêutica americana.

O Brasil quer tomar a dianteira com o kambo. O projeto foi lançado no ano passado depois que Marina Silva, ministra de meio-ambiente do Brasil, recebeu uma carta de Katukina, chefe da tribo, denunciando o uso do veneno de Kambo por pessoas de fora. Seus benefícios observados nos últimos anos fomentaram o comércio pirata do veneno em cidades pelo Brasil.

Se mal administrado, o veneno pode ser perigoso, advertiu Katukina. Além disso, se o ganho econômico gerado pelo remédio não reverter para a tribo, chamada Katukina, seu uso equivaleria à biopirataria, disse ele.

Silva, nativa do Estado da tribo, o Acre, concordou. Ela autorizou a criação do projeto do ministério para estudar o kambo, estipulando que os lucros derivados da pesquisa fossem compartilhados com a tribo.

"O conhecimento é da tribo", disse ela em recente entrevista telefônica. "Ela deve dividir as recompensas."

Os pesquisadores estudaram o kambo, ou Phillomedusa bicolor antes. Chamada de rã macaco gigante em inglês, porque sobe alto nas árvores, o kambo atraiu atenção dos pesquisadores estrangeiros há décadas. Alguns dos compostos do veneno, secretado pela pele da rã, foram até mesmo patenteados no exterior.

Ainda assim, enquanto os pesquisadores tentam entender o veneno, nenhuma das patentes levou a produtos de sucesso. "Esses compostos têm efeitos potentes na fisiologia humana", disse Paul Bishop, bioquímico da ZymoGenetics, empresa farmacêutica de Seattle e detentor de cinco patentes baseadas no veneno de kambo. "No entanto, não compreendemos plenamente a ação a secreção ou porque ocorre nas defesas dessa rã de árvore."

É aí onde o Brasil espera progredir. Enquanto biólogos e químicos investigam o kambo, seu habitat e a composição do veneno, uma equipe de antropólogos e médicos estudará o impacto de longo prazo de seu uso na tribo Katukina.

Em uma manhã em março, dois pesquisadores da Universidade Federal do Acre visitaram a reserva da tribo, uma seção de 320 quilômetros quadrados de floresta perto da fronteira com o Peru.

Ali, em meio a cinco conjuntos de cabanas de madeira, dois xamãs concordaram em administrar o remédio, chamado de "vacina do sapo".

Reginaldo Machado, biólogo, tirou a camisa e ficou suando ao lado do xamã mais velho, que tocou a ponta quente e vermelha de um galho em brasa três vezes no ombro do cientista. O outro xamã, com outro galho na mão, emplastrou as minúsculas queimaduras com o veneno gosmento.

Machado, que estava sofrendo com pedras nos rins crônicas, levantou-se depois de segundos, com ondas de calor, náusea e dores de estômago. Dez minutos depois, voltou, surpreso.

"De fato, me sinto mais forte", disse ele. "Há mais aqui do que mito."

Apesar das roupas ocidentais há muito terem substituído as saias de capim tradicionalmente usadas pela tribo, a vacina de sapo é um dos costumes úteis que os katukina preservam.

Depois de pegar a rã nas árvores, os membros da tribo amarram-na entre dois pilares, coletando a secreção de suas costas e laterais com um pedaço de madeira, onde fica secando. Então eles soltam o animal e depois, com água ou saliva, reidratam o veneno antes de aplicarem-no.

Apesar do termo "vacina", a substância não vacina contra nenhuma doença ou germe específico.

Quando o corpo processa as toxinas -que explicam a indigestão e suores de Machado- seus compostos induzem o que os usuários chamam de uma sensação prolongada de bem-estar e alerta. Como os índios acreditam que o veneno aguça os sentidos, os caçadores katukina usam-no com freqüência: fileiras de cicatrizes de queimaduras marcam seus braços, peitos e barriga.

A maior parte dos katukina fala apenas a variante tribal de pano, um grupo lingüístico amazônico. O chefe Fernando Katukina, apenas um dos dois membros da tribo que trabalham fora da reserva, está convencido do valor do kambo e convencido que o medicamento, se usado por outros, pode melhorar a economia da tribo, que atualmente está em nível de subsistência.

"A vacina nos pertence", disse ele. "A ciência pode nos ajudar a desenvolvê-la, mas o conhecimento o kambo é katukina."

Fonte: UOL.

MISTÉRIO DA CLARIDADE



Antonio Alves

O que significa este céu azul em que passeiam leves nuvens de branquíssimo algodão, esta luz espalhada por sobre o verde limpo, este brotar repentino de flores amarelas por toda parte?

O que quer dizer uma chuva forte na tarde do derradeiro domingo de Maio? Por que essa insistente cantoria de passarinhos, essa algazarra de crianças, esse pé-de-vento que resolve, de repente, espalhar as folhas no terreiro?


Há algo inexplicado na cor muito viva dessa parede nua, que exibe seus tijolos, e na maneira como o sol faz e desfaz e refaz sobre ela desenhos de sombra e luz.

Aqueles cachorros brincando na beira da estrada, o modo com saltam e correm, o olhar que me dirigem quando passo, sem medo, como se me convidassem a entrar no jogo, isso certamente é um enigma.


Há, sem dúvida, um motivo para que justamente agora aquela linda moça desça do ônibus e sorria para o namorado que a esperava e se abracem e saiam caminhando de mãos dadas, conversando tão alegres.

E o sabor desta fruta, que fica na memória muito tempo depois de ter estado na boca, traz uma mensagem e quer comunicar alguma coisa muito importante.


O que há, afinal, por trás de tudo isso?


Li o texto do Toinho Alves, no blog O Espírito da Coisa, e fiquei com água na boca ao lembrar do cupuaçu colhido ontem. Quebrei-o na tentativa de encontrar dentro dele alguma dica para decifrar os enigmas. Permanece o mistério da claridade.

segunda-feira, 29 de maio de 2006

QUANTO MAIS EU REZO...

Vou expor publicamente, mais um vez, um caso de comércio da "vacina" do sapo kambô, com endereço, local e hora marcados. Embora esteja em vigor no país uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que proíbe a propaganda da "vacina", o comércio continua livre.

O Ministério Público e a Polícia Federal seguem omissos diante do problema, que configura crime ambiental, charlatanismo e até põe em risco a vida de pessoas desavisadas.


Anteontem, uma pessoa leu reportagens publicadas aqui sobre a vacina do kambô e deixou o seguinte comentário:

- Prezado Altino, se possível, me informa locais de aplicação de kambô que estejam fazendo puro comércio do mesmo. Obrigada, Monik.

Publiquei o comentário, mas enviei para o e-mail da leitora o pedido para que se identificasse, pois não é meu papel indicar para uma desconhecida pontos de aplicação comercial de kambô. Disse-lhe, ainda, que necessitava conhecê-la, saber quem era. Pois bem, acabo de receber uma resposta fanática e hilária, mas verdadeira.


"Ola Altino,

Fazendo uma pesquisa na internet sobre kambo passei pelo seu site(blog), onde relata que muita gente está ganhando dinheiro com isso. Então resolvi te escrever fazendo aquela pergunta. Sou contra todo comércio com o que é sagrado e tenho minhas razoes para tal.

Desde 2004 frequento um Instituto Espiritual Xamanico extremamente sério e que estará promovendo a aplicação de kambô por apenas R$ 30,00, num pacote fechado que inclui curso de abertura de chacra coronário por apenas R$ 20,00, somando um total de R$ 50,00.

O referido Instituto realiza nos finais de semana rituais sagrados com ayauaska. como curas e bênçãos e lua cheia por apenas R$ 7,00 (custo/despesa). Muito tem-se comercializado com este santo vinho das almas e conhecimentos sagrados. Minha essência divina desaprova 100% isso. Não se deve visar lucros com o que vem do Alto. O preço é alto.

Desde o primeiro momento que pisei no Céu Nossa Senhora da Conceição, meu reconhecimento foi imediato pela grandiosidade de nosso amado xamã Gideon e daquelas terras sagradas. Ha muitas obras de luz, porém lá é uma obra de luz e testifico isso cada vez mais por tudo que lá tenho vivenciado e observado.

Participei de dezenas de rituais e muito tem sido revelado pelo Astral Superior. Os que buscam a Luz com sinceridade de coração têm alcançado muitas curas e muitas bênçãos.

Mais de 7.500 drogados se libertaram totalmente de seus vícios, muitos vindos de falsas igrejas e locais que utilizam a santa bebida com drogas, na ilusão de que consagrando as mesmas estas deixaram de ser drogas. Não foi assim que o amado Irmão de Luz Irineu Serra ensinou e deixou bem claro em seu Estatuto.

O Caminho da Luz é lindo, porém estreito, mas traz recompensas infinitas aos que o buscam com sinceridade e muita firmeza.

Altino, caso não conheça este lugar pessoalmente ainda, recomendo que o faça o quanto antes. É o melhor presente que pode receber, te asseguro isso e assino embaixo com letras de ouro.

Se tua posição é essa, aí sim, vale a pena nos conhecermos. É tempo de Colheita Universal meu querido, se dê esta chance! Estou nas Terras Sagradas em todos os fins de semana que acontecem os rituais. Espero te ver por lá e então conversaremos.

Site do Instituto Nossa Senhora da Conceição.

Cordial abraço,

Monik"

DO CHUÍ A XAPURI



O pianista Arthur Moreira Lima se apresentou ontem no Calçadão da Gameleira, o centro histórico de Rio Branco, para mais de 500 pessoas, como parte da programação da segunda fase do projeto "Um piano pela estrada" ou "Do Chuí a Xapuri".

O pianista fez um longo percurso, "nos caminhos da fronteira", alcançando regiões diversas, dos pampas à Amazônia, passando por mais de 20 cidades históricas e por cidades novas, selecionadas pela importância geográfica, econômica ou política.


Ele dispõe de um caminhão-teatro, já conhecido desde o projeto "São Francisco, um Rio de Música", de 2003. Fez apresentações em cidades do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre, onde o projeto encerra após apresentações em Assis Brasil, Brasiléia e Xapuri.

O concerto durou uma hora e meia e teve no repertório obras de Bach, Beethoven, Chopin, Pixinguinha, Villa-Lobos, Ernesto Nazareth, Luiz Gonzaga, Astor Piazzola entre outros compositores da música clássica e popular brasileira e universal.

O pianista visitou o Acre pela primeira vez em 1982. Comparou o Acre que encontrou durante outras visitas com o Acre atual e não poupou elogios ao governador Jorge Viana, ao senador Tião Viana e ao vice-governador Binho Marques, assinalando a expressão política que o Estado alcançou no plano nacional nos últimos oito anos.

- Estou comovido com as coisas boas que estão acontecendo aqui. O Acre é um cantinho muito especial do Brasil. Ele agora tem uma imagem nova. Aqui é realmente a Amazônia legal. Legal no sentido de legal mesmo, de positivo, porque o Acre fez a opção pelo verde, pela exploração racional de suas reservas florestais. Às vezes quero desanimar, mas quando vejo homens na política preocupados com o coletivo, com o social, reacende a minha enorme fé no povo brasileiro.

Arthur Moreira Lima abriu o concerto tocando "Jesus Alegria dos Homens", de Bach, e o encerrou com a "Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro".

As interpretações de todas as músicas foram pontuadas por explicações sobre as obras e as vidas dos compositores e a relação deles com o ambiente cultural e político de seus respectivos países.

O contratempo ficou por conta da inconveniência do som do pagode que rolava no bairro da Base, do outro lado do rio Acre, e interferiu na audição do concerto. Apenas o Putanic desligou a aparelhagem de sua banda rude durante o concerto. Confira os dois vídeos a seguir.

Jesus Alegria dos Homens




Grande Fantasia Triunfal sobre o
Hino Nacional Brasileiro


domingo, 28 de maio de 2006

A ARTE DO ERRO

Existe gente que acha que sou hostil demais ao site Notícias da Hora, êpa!, Erros da Hora. O título e a imagem ao lado ilustram a manchete do EH sobre o livro "A Arte da política: A história que vivi", do ex-presidente FHC.

O livro cita o "Senhor X" - personagem da política envolvido “com quadrilhas no Acre e que teria pendências de milhões de reais com a Receita Federal”. Ele tentou derrubar FHC com gravações durante o escândalo da compra de votos.

A VEZ DA EPOPÉIA ACREANA

Lilian Fernandes


Glória Perez vai contar a história de sua terra natal

em minissérie que estréia em janeiro na Rede Globo


Espanhol de coração brasileiro, Luiz Galvez Rodrigues de Aria descobriu, no final do século XIX, quando trabalhava como jornalista no Norte do país, que a Bolívia pretendia tomar definitivamente o Acre com o auxílio dos Estados Unidos. Botou a boca no trombone pela imprensa e, depois, partiu para o território, declarando-o Estado Independente: foi a primeira etapa da guerra de anexação. Esta aventura mirabolante, que contribuiu decisivamente para que o Brasil seja o que conhecemos hoje, será contada por Glória Perez na primeira fase de "Amazônia — De Galvez a Chico Mendes", próxima minissérie da Rede Globo, cuja estréia está prevista para janeiro de 2007. José Wilker interpretará Galvez. Giovanna Antonelli também está confirmada no elenco.


— Não há como separar a história da conquista do Acre do destino da Floresta Amazônica. Se a Amazônia ainda é nossa, é porque os brasileiros do Acre se rebelaram contra a ocupação da região pelo capital estrangeiro, para quem a Bolívia havia arrendado aquelas terras.

A diplomacia entrou em cena quando a guerra estava ganha — diz Glória Perez, que teve mais um motivo para tratar desse capítulo da afirmação da identidade nacional em especial.

— É a história da minha terra, e é uma história fascinante! Sempre pensei em escrevê-la.


Diferentemente da lenda que o presidente da Bolívia, Evo Morales, andou ressuscitando, o Acre não foi trocado por um cavalo, frisa Glória:

— O Acre foi trocado, sim, por muitas vidas. A guerra da conquista foi uma luta sangrenta. Imagine um exército seringueiro, armado de rifles e facas, enfrentando o exército formal da Bolívia, com os armamentos mais modernos!

A autora acreana migrou com a família para o Rio aos 16 anos, porque o pai queria que ela e seu irmão chegassem à faculdade e em seu estado não era possível ir além do ginásio (atual segundo segmento do ensino fundamental). No começo deste mês, Glória visitou a capital do Acre, Rio Branco, e a região do Vale do Juruá para tratar da minissérie. Viajou acompanhada de um grupo que incluía o diretor da trama, Marcos Schechtman, e o produtor Sérgio Madureira. Enquanto eles procuravam locações, ela conhecia pessoas e ouvia histórias.

— Tenho a equipe de pesquisadoras que me acompanha sempre ( Giovana Manfredi, Sandra Regina e Bianca Medeiros ) e estou em diálogo permanente com o pessoal do Acre, que tem sido essencial para a pesquisa — conta.

Glória mantém contato com Ilzamar, viúva de Chico Mendes, seringueiro assassinado em 1988 dentro de sua casa, em Xapuri, e de companheiros dele, como o primo Raimundão Mendes Barros. Seringueiros de outra safra, bem anterior à de Chico Mendes, também têm lhe contado histórias. Assim como jornalistas, historiadores e escritores acreanos. A autora baseia-se ainda em livros históricos e biografias. E dois romances lhe servem de referência: "O seringal" e "Terra caída". Os autores de ambos, respectivamente Miguel Ferrante e José Potyguara, são acreanos.

As gravações começarão em setembro, e a batalha para escalar o elenco já está em curso. "Amazônia — De Galvez a Chico Mendes", nome que ainda pode mudar, terá 52 capítulos divididos em três fases, que cobrirão um período de 100 anos. Elas serão divididas nos temas "Galvez", "Plácido de Castro" (militar gaúcho que comandou um exército de seringueiros e tomou definitivamente o Acre) e "Chico Mendes".

Além de aprender mais sobre a História do Brasil, os telespectadores poderão acompanhar grandes paixões. Quando se pergunta para a autora se haverá uma história de amor permeando a trama, a resposta é:

— Uma só, não. O que não falta é história de amor! A começar pela de Galvez.

Da Revista da TV, do jornal O Globo.

CESÁR E BINHO

À esquerda, César Messias (PP), cruzeirense, ex-militante da Arena, ex-presidente da Assembléia Legislativa durante a gestão do primo e ex-governador Orleir Cameli, fazendeiro e crítico dos ideais do seringueiro Chico Mendes; à direita, Binho Marques (PT), paulistano, ex-militante do clandestino Partido Revolucionário Comunista, ex-ator de teatro amador, historiador e educador, vice-governador, amigo e defensor das idéias de Chico Mendes.

A César o que é de César e a Binho o que é de Binho. Mas falta aos pré-candidatos ao governo pela Frente Popular do Acre sincronia e simetria no uso dos relógios.

sábado, 27 de maio de 2006

O DIA DA RECORDAÇÃO



Claiton Pena

Ou hoje, ou amanhã, não me recordo bem, é comemorado o dia da recordação.

Um dia para homenagear as recordações. Já imagino o que você pode estar pensando: era só o que faltava, tem dia para tudo? Tem sim. Eu não vejo utilidade para tantas datas. Mas quer saber de uma coisa? Não me atrapalham. É até bom para quebrar a rotina.

Uma das recordações para comemorar é minha chegada a Rondônia, em agosto de 1980. Como bem lembrou o jornalista Montezuma Cruz ao jornalista Altino Machado, naquele dia passei fome por falta de dinheiro. Montezuma e eu vendíamos exemplares do jornal alternativo Barranco para pagar o hotel, em Vilhena. Ganhamos a passagem de ônibus até Ji-Paraná, e dali, Airton Gurgacz nos despachou para Porto Velho, também de graça. Ele deve ter tido pena da gente.

Data boa para recordar, não porque gosto de sofrer. Aqueles foram dias muito difíceis. Lembrei ao Altino que não devemos nos esquecer de nossas origens. Em 94 fiz um rápido pronunciamento na OAB/RO e lembrei Graciliano Ramos, para quem a dureza da vida precisa ser encarada como tal, nua e crua – ditas por ele em outras palavras, muito tocantes, porque Graciliano é assim.

Lembrar minhas origens transcende ao simples recordar. Força-me a ser solidário, para seguir o exemplo daqueles que me acolheram. Prende-me ao chão, a boa terra de Rondônia, para dar valor a tudo que temos aqui, especialmente, às milhares de pessoas de coração imenso. Parece uma grande corrente, do primeiro que acolheu o segundo, que acolheu o terceiro, que protegeu o quarto, que... enfim... acolheu o milionésimo, e assim, infinitamente.

Sempre escrevo sobre a gratidão, uma virtude maravilhosa. E, ser grato, significa manter na mente as recordações das pessoas que te ajudaram. Muitas me ampararam, e eu repeti o gesto, sem olhar a quem, sem contar quantos. Apenas copiei uma atitude que reputo das mais dignas. A melhor maneira de ser grato não é devolver o favor, e sim, reproduzi-lo em escalas eternas, a quem possamos ajudar.

No dia da recordação, a maior e mais forte recordação que tenho, e que carrego sempre comigo, é a de imenso carinho e amor daqueles que sempre me protegeram, e me deram a oportunidade de viver e ser feliz em solo rondoniense. Não tenho o título, mas meus dois filhos são cidadãos de Rondônia, o que me projeta ainda mais às raízes desta terra, porque minha família é meu grande tesouro. E peço a Deus, todos os dias, para sermos um grande Estado. Temos território e temos um povo batalhador. Falta só um detalhe. Você concorda?

Claiton Pena é advogado, jornalista e publicitário em Porto Velho (RO). Escreve crônicas três vezes por semana no jornal Estadão do Norte. A imagem acima é da uma lamparina que comprei casualmente ontem, no Bazar do Chefe. Ela me faz recordar um Acre não tão antigo, quando a gente passava a noite em volta da lamparina a brincar ou a contar e ouvir histórias. Quando amanhecia o dia, era necessário lavar bem as narinas recheadas da tisna ou fuligem da lamparina. Apesar do Luz para Todos, do Governo Federal, ainda é a lamparina quem mais ilumina as casas na floresta. Contemplando-a lembro dos versos de Brandão, quase bregas na voz de Raimundo Fagner: "Beleza só se tem quando se acende a lamparina/ Iluminando a alma se entende a própria sina". Segue outro recuerdo, de outra jornalista:


Ivone Belém


Ler o texto do Claiton e contemplar a foto do Altino levou minha memória para uma lembrança tão boa. Desembarquei em Brasília no dia 24 de fevereiro de 1991, formada em jornalismo, sob mandado de segurança, pela Universidade Federal de Pelotas (UCPel).

Recebi autorização judicial para a formatura às 18h do dia 30 de janeiro de 1991 e às 21h estava, em meio a mais de 30 colegas togados, recebendo meu certificado de conclusão de curso.

Horas em claro até o dia 22 de fevereiro, quando embarquei no ônibus da empresa Itapemirim, que me levaria de Pelotas a Porto Alegre para então seguir viagem de 36 horas para a capital do Brasil, o eldorado do jornalismo brasileiro.

Uma etapa definitiva de separação da minha família – pai mestre de obras, mãe operária da indústria de conservas alimentícias e muitos irmãos lutando naquele frio úmido de Pelotas.

Ao chegar em Brasília, caçula, eu era a primeira filha que tinha um diploma e – ironicamente – a primeira a deixar a sua terra. Com uma bolsa de viagem e meia dúzia de peças de roupas confeccionadas pela minha mãe, bati à porta de três coleguinhas que já não moravam mais nos endereços que eu tinha apontado.

Esqueci (não evitando o trocadilho) a máxima do jornalismo, a de checar a informação, num ato falho de quem não quer ter motivos para desistir de uma determinação.

O jornalista pelotense Gilnei Lima, morto há alguns anos em acidente de automóvel, me levou à casa de um casal de jornalistas Mônica Izaguirre (hoje repórter especial de economia do Valor Econômico) e Vinícius Dória (hoje âncora de programa nacional da Rede 21). Os dois cederam o quarto do bebê que chegaria em dez dias, o Guilherme.

Dali, fui morar na casa do estudante da UnB e, depois, aluguei quarto na casa de uma senhora evangélica, dona Maria Helena, que não tinha como pagar as prestações do recém comprado apartamento funcional da 104 Norte.

Nesta época, quarenta dias depois do meu desembarque em Brasília, eu já tinha trabalhado no jornal Bsb Brasília e já ocupava a vaga de repórter especial da RBS (Zero Hora e Diário Catarinense), com um salário suficiente para mandar uma ajuda para minha mãe em Pelotas.

Desde então, são incontáveis as pessoas que colocaram um tijolinho na minha história. Esse papo vai longe e eu vou parando para agradecer ao Claiton por ter ativado a chama da minha memória e ao Altino por estar sendo – desde que o conheci – um amigo que tem colocado diversos tijolos na edificação da minha vida e na do João Donato, meu marido.

Ivone é uma mulher admirável, uma amiga que a vida meu deu. Clique aqui para compartilhar de nossa emoção.

sexta-feira, 26 de maio de 2006

VAMOS AO PARQUE



A foto do pôr-do-sol foi tirada hoje, às 17 horas. Os dias e as noites de maio no Acre são plenos de beleza. Em breve, quando começar a onda de queimadas de florestas e pastagens, o brilho do sol e das estrelas será ofuscado pela densa fumaça e não haverá leitos suficientes nos hospitais para receber crianças e idosos com problemas respiratórios.


Estudantes estão organizando uma reunião neste sábado, às 17 horas, na Concha Acústica Jorge Nazaré, no Parque da Maternidade. Querem fazer o que chamam de “verão consciente”, em que vão ficar de olho nas queimadas e outros problemas que se agravam durante a estiagem amazônica. Os leitores deste blog que moram em Rio Branco, ou perto, também estão convidados para acompanharem o movimento dos jovens.

- Talvez uma pressão pública forte consiga resultados - assinalou o jornalista Antonio Alves, do blog O Espírito da Coisa.

A estudante Tuanne Farias, do Colégio Meta, criou a comunidade "Verão Consciente", no Orkut, que já conta com 67 participantes. Eis a mensagem dela no tópico da comunidade:

- Oie Gente!! Eu e alguns amigos estamos preocupados com a situação que talvez nos deparemos esse verão!! Vocês também? Se não, mais atenção agora: lembram de como ficou o Acre ano passado, principalmente no mês de setembro, quando se intensificaram as queimadas? Pois é, a meteorologia já confirmou que esse ano vai ser pior.. :( Essas mudanças na temperatura, ora frio ora quente...o rio secando.. td que nem ano passado... Então gente... fiquemos preocupados.. vamos nos manifestar.. formular idéias que visem mudanças contra esse desrespeito com a natureza!! Por favor, levemos isso a sério.. temos que agir hoje, agora...para que possamos garantir um ambiente agradável para nós e para as gerações que virão nos próximos anos!!! Contamos com a paticipação de todos!!

Convide seus amigos, a namorada, os filhos... Repasse o convite. Vamos ao parque.

AGORA É LIXO

O deputado estadual Moisés Diniz protocolou requerimento no qual pede a instalação, em caráter de urgência, de uma comissão da Assembléia Legislativa para investigar a destruição de armas históricas, que estavam sob a guarda da Polícia Federal. Essas armas teriam sido utilizadas na Revolução Acreana, como rifles Winchester, calibre 44, o conhecido "papo amarelo".

- Se essas armas históricas tiverem sido destruídas, alguém vai ter que responder por isso. Um delito histórico desses é como destruir uma planta única que carregue a cura de uma doença. Não tem como remediar - argumentou Diniz.

De acordo com informações da coordenadora do Departamento do Patrimônio Histórico e Cultural do Estado, Maria Leuda da Silva, entre as armas sob a guarda da Polícia Federal, havia trinta delas contemporâneas aos grandes eventos da história acreana.

A coordenadora informou ainda que fez a solicitação para que as armas históricas ficassem sob a guarda do Museu da Revolução, mas que a superintendência regional da PF afirmou não ter autonomia para a cessão e que essa permissão só seria possível se obter em Brasília.

- Algumas pessoas ainda não entenderam que o Acre é o único estado que fez uma revolução para ser brasileiro. Quando isso não é compreendido, a nossa história não é respeitada - finalizou o parlamentar.

Comentário enviado ao blog por Leudes da Silva Souza, do Departamento de Patrimônio Histórico do Acre:


"No início da Campanha do Desarmamento, o Departamento de Patrimônio Histórico, diante da possibilidade de que armas históricas estariam entre o arsenal que seria recolhido pelo Ministério da Justiça, entrou em contato com a Policia Federal no Estado do Acre, para garantir a preservação das referidas armas.

A resposta da PF no Acre foi que o Patrimônio teria que contactar a PF de Brasília na tentativa de apurar as informações necessárias e propor que as possíveis armas pudessem ser doadas para compor o acervo histórico do Departamento.

Do contato com a PF de Brasília soubemos que não haveria a possibilidade de que as armas fossem doadas porque, segundo normas jurídicas, a partir do momento que as peças são recolhidas, só podem ser entregues ao Exército Brasileiro. É interessante informar que a situação se repetiu em vários estados brasileiros.

A respeito do comentário que o blogueiro Altino Machado faz, na nota intitulada "Memória acreana no lixo", antes de publicá-la deveria ter procurado o Departamento de Patrimônio Histórico para esclarecer como aconteceu todo o processo, principalmente porque o jornalista traz uma bagagem profissional em apurar fatos para construir a notícia com veracidade".

Leudes, desnecessário dizer de minha admiração e respeito por seu trabalho. A minha crítica se baseou no que foi relatado pelo site Notícias da Hora, que reproduziu basicamente a sua explicação feita agora. Uma coisa você não pode negar: a memória da história acreana empobreceu ontem, quando um trator retorceu 30 armas que foram usadas pelos bravos conquistadores do Acre. Você, eu ou qualquer outro cidadão acreano poderia ter chamado a atenção da opinião pública para impedir que o Exército destruisse o patrimônio. Você mesma poderia ter se movimentado para fazer com que o caso chegasse ao conhecimento do governador Jorge Viana, que é um dos entusiastas da preservação do patrimônio histório acreano. Ele certamente teria acionado o presidente Lula, de quem é amigo pessoal, o senador Tião Viana, a ministra Marina Silva, os ministros da Justiça e do Exército. Eu garanto que teria sido dado um jeitinho legal, bem brasileiro, e o Exército não teria destruído as 30 armas que foram empunhadas pelos revolucionários que conquistaram o Acre. Não adianta tentar tapar o sol com uma peneira: você e eu passamos a semana mais preocupados com a polêmica sobre os geoglifos e esquecemos de proteger as armas históricas, não é? Lamentavelmente, neste caso, a memória acreana virou ferro velho. Agora é lixo.

Mensagem enviada pelo deputado estadual Moisés Diniz (PC do B):

"Caro Altino,

O seu blog é a bola da vez! Parabéns!

Quanto à destruição de armas históricas, protocolei nesta sexta-feira um requerimento pedindo uma Comissão de Sindicância da Assembléia Legislativa para investigar esse delito. Acredito que será aprovado na terça-feira.

Aos que acharem que agora é tarde, eu pergunto: e quando alguém é assassinado, devemos esquecer o assassino, só porque não dá para reparar a vida?

Se nós tivéssemos conhecimento disso antes, teríamos feito uma boa confusão. E sei que você ajudaria.

Um abraço,

Dep. Moisés Diniz"


Do escritor friburguense Jayme Jaccoud:

"Altino.

Como novo "freguês" do seu blog, tomei conhecimento da absurda e irreparável perda de um pedaço da história do Acre. É lamentável.

Aqui, em Nova Friburgo, há alguns anos, quase aconteceu o mesmo. Um motorista da prefeitura informava-se onde deveria jogar um monte de papel velho que fora colocado em seu basculante.

O informante achou estranha a consulta e foi ver a papelada. Nada mais eram do que milhares de documentos da vila de Nova Friburgo, desde 1820, ano da instalação da vila, que se achavam amontoados numa sala que queriam desocupar. Eles deram origem ao atual Pró-Memória de Nova Friburgo.

Estou com pena do gato preto. Num caso idêntico, em Nova Friburgo, o gato que estava num dos seculares eucalíptos da praça central, foi salvo pelos bombeiros com a ajuda de uma escada Magirus.

Um abraço do

Jayme Jaccoud"

O GATO PRETO

Faz três dias que este gato preto permanece acuado a mais de cinco metros de altura, nos galhos do pé de jambo de meu quintal. Foi perseguido ao invadir o território do Kaman (cachorro em yawanawá), meu dócil cão da raça American Staffordshire Terrier. Já prendi Kaman e tentei forçar a fuga do gato, cutucando-o com uma vara longa. Mas ele se distanciou da vara, fazendo malabarismos para não vir ao chão.

Quando solto, Kaman espraia-se no gramado, ocupando algum ponto próximo ao jambeiro, de onde mantém um olho fechado e o outro aberto, apontado pra sua caça.
Suspeito que o gatinho possa achar que virou passarinho, não queira mais descer e morra inane. O medo dele é tanto que...

Imagino que o felino esteja sofrendo com bastante sede, dor de barriga e cãibras. O que devo fazer para salvar o gato? Ou não devo interferir, para que se cumpra o desígnio da natureza?

UMA LEITORA NA FINLÂNDIA

Pirjo Kristiina Virtanen

É bem interessante ler o Blog do Altino e Página 20, pois faz relembrar o ano que eu vivia no Acre. Naquele tempo conheci todas as maravilhas que o Acre tem, especialmente os valores diferentes representados pela população indígena.

Gostaria de comentar que o objetivo do projeto da Universidade de Helsinque é reconstruir a história da Amazônia somando as outras iniciativas de pesquisa na Amazônia brasileira, o treinamento dos estudantes e professores, fornecer as informações sobre os valores culturais dos sítios arqueológicos para os moradores na área, e fortalecer políticas públicas de preservação.

Fiquei surpreendida pelas acusações contra os arqueólogos estrangeiros. Pelo menos aqui na Finlândia não se encontra o material arqueológico ilegalmente removido de sítios no Acre. Nem o material coletado legalmente, pois ele deveria ficar no Acre para divulgar o patrimônio histórico e humanidade da Amazônia. Mas isso ainda carece enormemente de recursos humanos e financeiros.

Falta esclarecer que ainda não foi feito nenhum tipo de escavação ou coleta, nem durante a primeira visita da equipe ao Acre, em 2000, pois a missão era tomar conhecimento dos sítios tendo em vista uma possível futura colaboração científica entre a nossa universidade e a Universidade Federal do Acre (Ufac) em um projeto arqueológico.

Uma amostra pequeníssima de carvão, que foi analisado no laboratório da Universidade de Helsinque, fez parte do projeto das ciências naturais entre a Universidade de Turku e Ufac.


Logo depois da primeira visita do Dr. Pärssinen ao Acre, ele observou que os sítios arqueológicos estão parcialmente destruídos por causa da remoção de terra e construção de estradas. Por isso, ele informou o Departamento de Patrimônio Cultural e Ufac que os sítios eram interessantes e que ele se dispunha a tentar obter financiamento com o intuito de realizar uma pesquisa científica em cooperação entre os dois países - Brasil e Finlândia.

Tudo valeu a pena, se a alma não é pequena.


Conheci a finlandesa Pirjo Kristiina Virtanen numa manhã do verão amazônico. Chegamos a marcar uma entrevista, mas ela acabou desistindo com o argumento de que estava há pouco tempo na região. Ela é antropóloga da Universidade de Helsique. Realizou pesquisas no Acre sobre a identidade dos jovens indígenas nos centros urbanos da Amazônia contemporânea. Iniciada em 2003, ganhou forma no projeto de pesquisa "Modernização na Amazônia: a visão de mundo e a estrutura social de jovens indígenas no Acre", aprovado, em início de 2005, pelo CNPq e a Coordenação de Estudos e Pesquisas da Funai.

QUEM SABE, DEPOIS DA COPA

Embora já seja considerado um foragido da Polícia Federal em Mato Grosso e esteja sendo caçado desde a quarta-feira, dificilmente o ex-deputado federal Ronivon Santiago (PP-AC), ex-técnico e fanático por futebol, vai permitir que lhe devolvam ao xadrez antes da final da Copa do Mundo.

Ele teve sua prisão preventiva revalidada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). É acusado de receber propina para apresentar emendas prevendo a aquisição de ambulâncias no esquema descoberto durante a Operação Sanguessuga.

Em outra oportunidade, quando estava com prisão decretada, Ronivon Santiago escapou do cerco da Polícia Federal viajando no bagageiro de um carro, de Rio Branco até Porto Velho.

Daqui a pouco pode ser que reapareça no Acre, para bebemorar fantasiado de torcedor no "Bar Sagrada Família". É esse mesmo o nome do bar da família do foragido.

quinta-feira, 25 de maio de 2006

MANEJO FLORESTAL MUNDIAL

O manejo florestal sustentável teve um aumento significativo desde 1988 e é uma tendência crescente, segundo o mais abrangente levantamento sobre o assunto, divulgado hoje pela Organização Internacional das Madeiras Tropicais.

A má notícia é que cerca de cerca de 95% das florestas tropicais no mundo encontram-se desprotegidas pois diversos países não contam com recursos, nem incentivos econômicos para prevenir o desmatamento.

- Os avanços conquistados serão apenas passageiros se a comunidade internacional não assegurar às nações um benefício econômico em decorrência da manutenção [das florestas]" - afirma o comunicado da organização.


Amazônia
Sobre a Amazônia, o estudo relata que apenas uma pequena parcela da floresta tem planos de manejo embora algumas companhias tem procurado a certificação florestal. "No entanto, a competitividade do manejo sustentável frente aos usos alternativos da terra [como exploração de desmatamentos ilegais em terras griladas], é frequentemente baixo, levando a um significativo desmatamento".

Para Roberto Smeraldi, diretor de Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, "a tendência mundial confirma a situação do Brasil: apesar dos avanços no manejo e na certificação, as florestas estão sendo convertidas, ou seja, destruídas, de forma crescente".


Eficiência dos planos
Segundo o relatório, o manejo florestal sustentável é empregado hoje em uma área equivalente à da Alemanha. Houve um salto de menos de 1 milhão de hectares, em 1988, para cerca de 36 milhões de hectares em 2005.

O estudo avalia a eficiência dos planos de manejo sustentável em florestas de vários países e analisa se as mesmas estão realmente sendo protegidas. A OIMT (em inglês, ITTO - International Tropical Timber Organization) é uma instituição que promove o manejo sustentável e o uso dos recursos florestais.

O relatório "Status of Tropical Forest Management 2005" (Estado do Manejo Florestal em Florestas Tropicais 2005) está disponível para download no site de "
Amigos da Terra - Amazônia Brasileira", que é a fonte do texto acima.

MEMÓRIA ACREANA NO LIXO

A reportagem do Notícias da Hora acertou ao registrar que o Exército destruiu 1.450 armas obtidas pela Campanha de Desarmamento, sendo 30 delas de valor histórico, pois foram usadas em combates de seringueiros brasileiros com os militares bolivianos durante a Revolução Acreana.

O Departamento Histórico e Cultural do Estado admite ter constatado no ano passado a existência das armas, mas esqueceu de pedir a cessão das mesmas ao Ministério da Justiça.

Que ninguém conte o mico ao Diogo Mainardi, que está sendo alvo de ações na justiça por ter dito que o Acre não vale um pangaré.

Da próxima vez, Mainardi poderá argumentar que não valemos um pangaré estropiado porque não temos memória sequer para redigir um ofício em defesa de nossa gloriosa história.

DUELO EM XAPURI

Promete entrar para a história o duelo musical do "Pelé do Piano" contra o "Cãozinho dos Teclados".

O pianista Arthur Moreira Lima (na foto, com o senador Tião Viana), costuma percorrer o Brasil com seu caminhão-teatro para levar a grande música de concerto aos mais diversos públicos, mas não tem sorte quando decide se apresentar no Acre.

Veja a comparação brega, feita pelo repórter Cleber Borges, do site Erros da Hora:

- O pianista Artur Moreira Lima, o Pelé do piano (sic), vai se apresentar no Acre no próximo dia 2, mas ao que parece o espetáculo não vai ser bom.

Pois bem, mais brega mesmo é o cantor Frank Aguiar, conhecido como "Cãozinho dos Teclados", que o prefeito de Xapuri, Wanderley Viana, contratou para fazer apresentação no mesmo dia e hora, a cem metros do local onde foi agendado pelo governo estadual o concerto do "Pelé do Piano".

Quem manda o PT ter exibido incompetência e perdido a eleição em Xapuri, a cidade conhecida mundialmente como a terra do líder sindical e ecologista Chico Mendes? O povo é o povo. Vai dar as costas ao "Pelé do Piano" para ir ao delírio com o "Cãozinho dos Teclados".

O prefeito da cidade, o valentão "Wanderlei Cotoco", já foi preso por tráfico de droga e condenado como usuário. É ex-cunhado do fazendeiro Darly Alves da Silva, aquele que foi condenado a 19 anos de prisão como mandante do assassinato de Chico Mendes. Achou pouco? Para saber mais clique em "Traficante, invasor e, agora, prefeito".

Lembro de um concerto do Arthur Moreira Lima, em Rio Branco, no começo dos anos 80, no Palácio da Cultura, quando a TV ainda era um bicho novo para os acreanos.

A certa altura, quando o pianista terminou a interpretação da Polonaise e se curvou em reverência aos aplausos da platéia, as luzes de uma equipe de reportagem da TV Acre, afiliada da Rede globo, foram acesas.

O saudoso repórter Aloísio Maia e o iluminador avançaram rumo ao palco, onde um lívido "Pelé do Piano" respondeu a três perguntas: O senhor gosta de tocar piano? Como se sente no Acre? Pode enviar uma mensagem ao povo acreano?

quarta-feira, 24 de maio de 2006

OS GEOGLIFOS DO ACRE

Denise Schaan

Como arqueóloga dedicada ao estudo da história pré-colonial da Amazônia há cerca de dez anos, preocupo-me seriamente com a proteção e preservação do patrimônio arqueológico, que vem sendo sistematicamente dilapidado, seja por pessoas inescrupulosas e que agem de má-fé, seja pela ignorância (no sentido de desconhecimento) muitas vezes dos próprios órgãos governamentais, que constroem rodovias e toda sorte de obras por cima de sítios arqueológicos. Por isso devo dizer que o esforço que o cientista Prof. Dr. Alceu Ranzi vêm demonstrando já há alguns anos no sentido de tornar conhecidos e proteger os geoglifos do Acre merece de todos nós apoio e reconhecimento.

Lamento que algumas pessoas tenham interpretado mal suas atitudes.
Eu ainda estava terminando meu doutorado nos Estados Unidos quando fiquei sabendo que o Prof. Alceu tinha estado no Museu Goeldi, em Belém, à procura de arqueólogos que quisessem estudar os geoglifos do Acre, sem sucesso. Quando tomei conhecimento do material que ele havia deixado, só pelas fotos pude perceber que tratava-se de uma das descobertas mais fantásticas da arqueologia amazônica – ou sul-americana – dos últimos tempos.

Durante muitas décadas, etnólogos e arqueólogos trabalhando na Amazônia, polemizaram sobre as formas de organização social e nível de complexidade sociocultural alcançados pelas sociedades indígenas que foram aqui encontradas pelos europeus (e rapidamente dizimadas) a partir do século XVI. Por muito tempo perdurou a tese de que sociedades complexas e populosas teriam-se desenvolvido apenas na várzea amazônica, não em áreas de terra firme.

Debate necessário
O estudo dos geoglifos do Acre e o entendimento da razão pela qual foram construídos e como aquela população se organizava em termos sociais, econômicos e culturais têm o potencial de provocar uma verdadeira quebra de paradigma dentro da disciplina arqueológica e mudar para sempre o curso dos estudos sobre as sociedades pré-coloniais amazônicas. Apesar de não ser arqueólogo, o Prof. Ranzi sabia que estava lidando com algo muito especial. Mais do que isso, via a possibilidade de aquele achado tornar-se também uma forma de valorizar a cultura local e com isso atrair turismo e renda para o Estado.


Apesar de existirem arqueólogos e arqueologia no Brasil, de forma mais estabelecida desde a década de 1960, por muitos anos os arqueólogos negaram a necessidade de revelar e divulgar para a sociedade suas descobertas. Felizmente este quadro está mudando. Quando o Iphan concede autorização para pesquisa, solicita que o projeto de pesquisa possua um item chamado “divulgação dos resultados”, o que significa que o arqueólogo deve se preocupar necessariamente com isso. No entanto, o cumprimento dessa exigência não é cobrado depois, o que considero incorreto.

A arqueologia é a única ciência que sistematicamente destrói seu objeto de estudo. Por isso, o arqueólogo tem a obrigação moral, ética e profissional de publicar e publicizar os resultados da pesquisa, para demonstrar que a destruição do patrimônio cultural trouxe algum benefício em termos do conhecimento produzido. É lamentável que um dos geoglifos tenha sido estudado em 1994 e que os resultados desse trabalho nunca tenham chegado ao público e à comunidade acadêmica. Espero que, decorridos 12 anos, ainda o sejam, pois a produção do conhecimento científico depende do debate. Quanto mais pesquisadores estiverem trabalhando sobre uma mesma área ou temática melhor!

Divulgar mais
Hoje em dia os pacientes de AIDs têm sua expectativa de vida aumentada graças a medicamentos que foram produzidos por diversos cientistas diferentes. Se houvesse apenas um cientista trabalhando nisso, teríamos uma taxa de mortalidade por AIDs ainda mais assustadora. Talvez se os geoglifos tivessem sido divulgados antes na mídia, muitas estradas não teriam sido construídas, outras tantas obras não os teriam irremediavelmente destruído. Eu sugiro que deveríamos gastar nossas energias, daqui em diante, para divulgar ainda mais entre a população os sítios do tipo geoglifo e pressionar vereadores e deputados para protegê-los com leis e portarias, que podem e devem ser criadas, pois a lei federal é muito ampla.


Quando fui ao Acre fazer o trabalho de levantamento para a Eletronorte, tive o cuidado de entrar em contato com a Universidade Federal do Acre e com os profissionais que estavam envolvidos com o assunto. Foi quando fiquei sabendo que havia em andamento um projeto da Universidade de Helsinque e que precisavam de um arqueólogo brasileiro para se integrar à equipe, o que aceitei de imediato. Além da possibilidade de estudar os geoglifos, essa será uma boa oportunidade para começarmos a formar profissionais de arqueologia no Estado, levando estudantes para campo, dando cursos e palestras. A intenção não é a de “roubar” o patrimônio arqueológico do Acre, pelo contrário, a idéia é conhecer o patrimônio (o que só é possível através da pesquisa) para poder preservá-lo.

Não se pode preservar ou proteger aquilo que não se conhece. Pretendemos (e aqui tomo a liberdade de falar pelos pesquisadores finlandeses e pelo próprio prof. Alceu Ranzi) colaborar, na medida de nossas possibilidades, para criar as condições para que jovens estudantes interessem-se por arqueologia, para que a população se sensibilize para a importância de seu patrimônio arqueológico, para que se crie em um futro próximo na UFAC um curso superior em arqueologia e que os geoglifos transformem-se em atração turística, trazendo investimentos, emprego e renda para o Estado.

Acredito que isso só trará benefícios a toda a sociedade. De minha parte, como cientista, meu interesse é na produção do conhecimento científico. Mas não consigo ver como isso possa ser descolado da realidade social. Por isso meu desejo de que o resultado de nosso trabalho, de alguma forma, possa contribuir para melhorar a qualidade de vida da população, produzindo conhecimento que sirva para a elevação de sua auto-estima, formação de sua memória social e fortalecimento dos laços que a une ao seu território, para que seja possível um exercício pleno de sua cidadania.


Convidei a arqueóloga Denise Schaan, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi, a manifestar seu ponto de vista a respeito da polêmica em torno dos geoglifos. Ela estava disposta a não fazê-lo, mas achou positiva a resposta de Alceu Ranzi e mudou de idéia. "Caso você tenha chance de divulgar, preparei uma "resposta". Se você acha que devo modificar algo ou que está muito extenso, sinta-se à vontade para se manifestar. Novamente agradeço. Um abraço e parabéns pelo seu blog", respondeu a arqueóloga, cujo texto está reproduzido integralmente. Os leitores e eu agradecemos a valiosa contribuição, Denise. Clique aqui para saber mais a respeito do trabalho dela.

RECEITA CAPIXABA

Imaginem se a moda pega. Sete vereadores de Capixaba, um minúsculo município a 77 quilômetros de Rio Branco, foram presos porque realizaram um protesto inusitado: removeram o único terminal eletrônico do Banco do Brasil existente na cidade, que estava instalado na sede da prefeitura, mas não funcionava há 20 dias.

Foram presos Liberato Filho (PFL), Carlos Alves de Brito (sem partido), Ivonilson Silveira de Farias (PPS), Ocimar Slavim (PMN), Francisco Gomes de Oliveira (PTB) e Rômulo Ramos (PT).

A tropa de choque da Polícia Militar teve que proteger a delegacia. Parte da população tentou invadi-la para libertar os vereadores. Eles foram liberados após o pagamento de fiança no valor de R$ 350,00.

- Um sufoco extraordinário foi vivido pelos vereadores depois que cada um deles assinaram (sic) a Nota de Culpa - relata o site Notícias da Hora, epa!, Erros da Hora.

É revoltante a precariedade dos terminais eletrônicos do Banco do Brasil no Acre. Parece que não há fiscalização ou manutenção.

MARCOS VINÍCIUS NEVES

Do historiador e arqueólogo Marcos Vinícius Neves, presidente da Fundação Garibaldi Brasil:

Altino,


fico mais tranquilo ao saber que você e o Leonildo tenham chegado a um entendimento. Não interessa a ninguém uma troca de farpas entre dois bons jornalistas juruaenses. Até porque tenho alta estima por ambos.

No que se refere ao conteúdo de sua matéria de ontem, tenho o dever de informá-lo que existem distorções de informação que são extremamente perigosas. Como o conheço e sei que isso não partiria de ti, só posso pensar que essas incorreções se devem as suas prováveis fontes.

Por exemplo, em sua matéria voce diz que a vinda da Dra. Denise Schan ao Acre foi devida a ação do professor Alceu Ranzi junto à Eletronorte, o que não é procedente.

Segundo pude apurar, a pesquisa conduzida por essa arqueóloga (sobre quem eu não tenho nenhuma informação desabonadora, é importante que se diga) no estado do Acre, se deu pela necessidade de realizar o Eia/Rima, que é uma exigência legal para esse tipo de obra (instalação do linhão) Rondonia-Acre.

Ou seja, concordo contigo quando coloca a necessidade de um debate transparente sobre essa questão, especialmente no que diz respeito ao posicionamento ético imprescindivel à realização de pesquisas científicas responsáveis.

De todo jeito, esclareço que não há nessa discussão nenhum interesse de caráter financeiro, como é sugerido em um dos comentários que você postou hoje, mas tão somente a proteção de nosso patrimônio arqueológico e a ética profissional pela qual todos nós devemos nos pautar.

A sua disposição

Marcos Vinicius Neves

Caro Marcos, torço para que você também declare armistício em relação ao seu colega de pesquisas Alceu Ranzi. São dois estudiosos a quem estimo pela competência e compromisso com as causas acreanas. Quem deve ter ficado bastante incomodado com a situação é o prefeito Raimundo Angelim, que espera contar com os esforços de ambos na equipe dele para consolidar o museu de paleontologia do Acre. Sugiro que você e Alceu dialoguem com franqueza sobre as suas diferenças e sigam tolerantes em benefício da contribuição que ainda têm a prestar à história do Acre e da Amazônia. Acho lamentável que as acusações contra o Alceu Ranzi tenham surgido tão logo o prefeito anunciou neste blog, com exclusividade, o plano de construir o museu sob a coordenação do paleontólogo.

terça-feira, 23 de maio de 2006

ALCEU RANZI ESCLARECE

O Página 20 publica hoje o esclarecimento do paleontólogo Alceu Ranzi. Ele foi alvo de acusações infundadas no jornal, que teve como fonte, segundo o redator Leonildo Rosas, o historiador Marcos Vinícius Neves, presidente da Fundação Garibaldi Brasil.

"Senhor Redator:

Com relação às notas publicadas na coluna Poronga de 23 de maio de 2006, embora meu nome não seja citado, mas como interessado no tema, venho fazer alguns esclarecimentos:

Defesa - A imprensa do Acre, desde abril de 2000, vem constantemente publicando matérias, e divulgando positivamente a ocorrência, no Acre, de estruturas de terra, pré-históricas, denominadas Geoglifos.

As fotos aéreas de 2000, foram obtidas pelo Edison Caetano, usando um avião cedido pelo Gabinete Civil do Governo do Acre. Duas destas fotos, estão expostas em forma de banners gigantes na entrada principal do Palácio Rio Branco;

Em 2001, foi aprovado pela Fundação Elias Mansour – Lei de Incentivo à Cultura – o Projeto Geoglifos Patrimônio Cultural do Acre, os recursos permitiram sobrevôos e mais fotografias pelo Edison Caetano.

Com a publicação do relatório e das fotografias, o tema Geoglifos do Acre, recebeu ampla cobertura da imprensa e chamou a atenção de pesquisadores brasileiros e estrangeiros;

Datações - Em julho de 2002, esteve no Acre uma equipe de arqueólogos das Universidades de Helsinki e Turku (dentro de acordos firmados com a Universidade Federal do Acre).

Em novembro de 2002, estive na Finlândia, autorizado pela UFAC, e na oportunidade levei um fragmento de carvão para datação, retirado de um corte de estrada. Destas visitas resultou a publicação, em 2003, do livro Western Amazônia – Amazônia Ocidental. No livro estão as nossas impressões e o resultado da datação e também o relatório completo com fotos, resultado dos recursos da Lei de Incentivo à Cultura.

Como paleontólogo - considerando o Decreto Lei n° 4.146 de 4 de março de 1942, o trabalho independe de autorização prévia e é do conhecimento do DNPM (Departamento Nacional da Produção Mineral) - coletei a amostra para datação, o que é comum e rotineiro em nossas pesquisas.

Patrimônio cuidado - Em 1977, por ocasião do registro da primeira estrutura de terra (um círculo ainda não denominado geoglifo), pelo Dr. Ondemar Dias, eu estava presente, como estagiário da Universidade Federal do Acre. Portanto, testemunhei a descoberta do primeiro geoglifo do Acre, embora os méritos devam ser dados ao Dr. Ondemar Dias da UFRJ.

Transcrevo abaixo:

“Próximo à sede da Fazenda Palmares, durante a Expedição PRONAPABA de 1977, sob a direção do Dr. Ondemar F. Dias Júnior, participamos da descoberta do que viria a ser o primeiro geoglifo registrado no Acre.” (Relatório apresentado à Fundação Elias Mansour e publicado na pagina 137 do livroWestern Amazonia – Amazônia Ocidental).

Reparo - Com a Dra. Denise Schaan, do Museu Goeldi-Belém, temos uma parceria que envolveu os trabalhos para a Eletronorte e um capítulo no livro Geoglifos da Amazônia.

No Projeto Natureza e Sociedade na Amazônia Ocidental, já aprovado pelo IPHAN, sob a responsabilidade da Dra. Schaan, o principal pesquisador estrangeiro é o Dr. Martti Parssinen, Professor da Universidade de Helsinki. O Projeto conta com recursos da Academia de Ciências da Finlândia e está prevista a participação da Universidade Federal do Acre.

Ponto final - Em 2004, publicamos em co-autoria com o Dr. Rodrigo Aguiar, o livro Geoglifos da Amazônia – Perspectiva Aérea, cujo lançamento em novembro de 2004, no Museu da Borracha, foi noticiado pelo Página 20 e com ampla cobertura da imprensa do Acre.

Sou da opinião de que o tema “geoglifos” deve ser tratado de forma multidisciplinar envolvendo profissionais das mais variadas disciplinas, como arqueólogos, palinólogos, historiadores, geógrafos, botânicos, ecólogos e também paleontólogos, pois o tema ocupação humana, megafauna e savana/floresta é recorrente neste campo de trabalho. Há espaço, portanto, para a participação de todos, não só na pesquisa de campo, estudos, publicações, como também na utilização do material já registrado e disponível para consulta e análise.

Alceu Ranzi"

O QUE FAZER NESTE VERÃO

O jornalista Antonio Alves, do blog O Espírito da Coisa, segue dedicado em organizar uma publicação de emergência sobre o que fazer neste verão na Amazônia, especialmente no Acre, onde os cientistas têm advertido que a estiagem será mais grave do que foi no ano passado.

Numa das últimas reuniões que organizou, Toinho Alves e Sílvio Margarido filmaram o que um grupo de estudantes do ensino médio, de escolas públicas e particulares, pensa a respeito de meio-ambiente.

Após o encontro, no confortável chão de paxiúba de uma casa coberta de palha, nos fundos da Secretaria dos Povos Indígenas, os estudantes decidiram pela criação de uma comunidade no Orkut e pela mobilização de reunião mais ampla no sábado, a partir das 17 horas, na Concha Acústica do Parque da Maternidade.

O que você vai fazer neste verão?

OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA

O site Observatório da Imprensa, que é atualizado toda terça-feira, reproduz na edição da semana, na seção Ciência, o artigo "Jornalismo furreca - Acusações infundadas contra cientistas", publicado ontem neste modesto blog.

REPÓRTER VESGO E GAGO

Clique aqui para ler as notas de autoria do Leonildo Rosas, publicadas hoje na coluna Poronga, do Página 20, em resposta ao comentário intitulado "Jornalismo furreca", a respeito da acusação contra o paleontólogo Alceu Ranzi e a arqueóloga Denise Schaan.

Conversei ontem com Leonildo Rosas e ele explicou que permanece como redator da coluna, mas deixou de assiná-la há algum tempo para evitar ser responsabilizado judicialmente pelo conteúdo.

Oh! Quase chorei ao ler a afirmação, segundo a qual, direto do Alto Santo, miro os desafetos e desfiro os golpes. Surpreende que o preconceito seja exposto publicamente por um repórter que enfrenta a deficiência de ser vesgo e gago.

Ele não mira e, mais uma vez, faz pontaria e erra o alvo.

P.S.: Apesar das farpas já trocadas, Leonildo Rosas e eu conversamos e chegamos a um entendimento hoje pela manhã. Lamentamos porque não fomos escolhidos pré-candidato a vice-governador de Binho Marques, em que pese sejamos de Cruzeiro do Sul e amigos desde a infância. Dito isso, chegou a hora da onça beber água: o historiador Marcos Vinícius Neves, presidente da Fundação Garibaldi Brasil, precisa assumir publicamente as acusações que faz ao Alceu Ranzi, pois é a fonte do Leo Rosas no Página 20. E também está na hora de Alceu Ranzi e Denise Schaan se manifestarem a respeito das acusações já publicadas. O debate aberto e transparente é sempre esclarecedor. É o que mais tem faltado à imprensa acreana. Esse agora, sobre os geoglifos, Leonildo e eu nos comprometemos a mediá-lo.

segunda-feira, 22 de maio de 2006

UM PEDAÇO DA MATA

Olá Altino!

Como vão as coisas? Espero que esteja tudo bem. Já estou com saudades do tacacá da Base e mesmo daqueles que se encontravam em barraquinhas mais simples por toda Rio Branco, que diversas vezes me alimentaram. Como vai o blog? Faz tempo que eu não vejo, pois o pique por aqui já vai acelerado. Estou escrevendo para lhe informar que o trabalho de sua coleção foi selecionado a participar da exposição de Hélio Melo na 27ª Bienal Internacional de São Paulo! Espero que você e a Kátia se alegrem com a notícia. Eu fiquei contente quando vi a seleção.

Como há uma série de procedimentos a serem tomados (relacionados ao transporte, seguro etc), a parte de documentação será organizada com o apoio da Fundação Elias Mansour, que possui a relação completa das obras em Rio Branco que estão sendo convidadas a participar da mostra de Hélio Melo.

A curadoria da Bienal gostaria de montar todos os trabalhos em moldura nova, com material antimofo e antiácido, para melhor acabamento e segurança dos mesmos. Este trabalho, naturalmente, será executado por mão-de-obra especializada.

Você autoriza tal operação? Neste momento, para que possamos fazer o “Compromisso de Empréstimo”, é imprescindível que tenhamos estas informações o quanto antes, para que isso não comprometa os arranjos e a exposição ocorra da melhor forma possível.

Bem, é isso aí: tome um tacacá por mim, ok?!.

Abraço,

Bartolomeo Gelpi

O Bartolomeo Gelpi é produtor cultural da Fundação Bienal de São Paulo, onde o Acre será destaque na próxima edição, de 7 de outubro a 17 de dezembro. O tema da próxima Bienal é "Como Viver Junto". A abordagem sobre o Acre se dará com uma exposição do pintor Hélio Melo e dos trabalhos de três artistas estrangeiros que já cumprem um período de residência no Acre. Gelpi já recebeu a nossa autorização para os procedimentos necessários. A friagem deixou o dia propício para um saboroso tacacá. É o que farei para matar a saudade da gula de meu amigo paulistano. A história do trabalho selecionado está em Viva Hélio Melo!. "Para Kátia, um pedaço da mata", escreveu no quadro o saudoso seringueiro. Não tem preço.