segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

VEJA

A nota na qual critiquei a reportagem da revista Veja, onde a ministra Marina Silva é acusada de omissão na apuração de corrupção envolvendo crimes ambientais no Pará, foi enviada por mim à Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental. Os jornalistas Lúcio Flávio Pinto e Ney Gastal manifestaram-se de maneira inteligente e divergente. Vale a pena conferir:

CASSETA & PLANETA

Por Lúcio Flávio Pinto (*)

Confesso-lhe que não li a matéria ainda. Na situação em que me acho no momento, meu tempo ficou curto demais para a leitura. Procuro evitar dispersão.

Veja deixou de ser referência para mim. Não por discordar do que penso, mas pela forma de dizer que a revista adotou como regra. Seu jornalismo se amolecou. Não por ser irônico ou agressivo. Mas por maltratar os fatos e não respeitar a contradita dos que discordam do que diz ou são por ela criticados.

Que diferença em relação aos tempos de Mino Carta ou Elio Gaspari. Está faltando profissionalismo à revista, apreço à sua própria trajetória de 37 anos.

Por acaso, neste último número, que li durante uma rápida viagem, fiquei chocado com a mini-resenha (repleta de mega-adjetivos) sobre a biografia que Daniel Piza escreveu sobre Machado de Assis e a fotografia do Bussunda no lugar do Lula como ilustração a uma frase do presidente. Se é para ser Casseta & Planeta, que a revista mude de nome e seu humor seja mais apolíneo.

(*) Lúcio Flávio Pinto é jornalista e escritor paraense


MARINA NÃO PRECISA DISSO

Por Ney Gastal (*)

Tenho medo, quase pânico, da fé cega. Fé é fé, não admite o diálogo nem, muito menos, o contencioso. Quem tem fé não raciocina, acredita, apenas. E é capaz de tudo em nome de sua convicção absoluta. Nem Deus, que se existe é Deus, tem fé cega. Na Bíblia, vive testando o Homem, porque não acredita em sua criatura, e no correr da História não pára de aperfeiçoar a criação. Só o ser humano é capaz do exercício da fé cega, da destruição daquele que pensa diferente e da auto-imolação por sua fé. É algo que nos diferencia dos animais (para pior) e nos coloca em um lugar único da Natureza. É a crença que usa de nossa racionalidade para nos tornar mais limitados que os irracionais. E, o pior, todos estamos sujeitos a ataques deste mal, se não cuidarmos de lembrar sempre do exercício da dúvida e da tolerância.

Vejam o caso do texto em questão. Como sou antigo admirador da ambientalista Marina Silva, sua leitura me deixou profundamente irritado com "Veja". Tanto que me preparei para encaminhá-lo, divulgá-lo, enfim, participar da luta em defesa da ambientalista, hoje ministra, grosseiramente agredida e vilipendiada pelo repórter e pela revista. Isso é lá coisa que se faça? Criticar alguém no exercício do poder é uma coisa, ser grosseiro e injusto é outra.

E já estava pensando em meu manifesto, quando resolvi dar uma olhada no próprio texto da revista. Cadê a grosseria? Existem duas observações sobre a Ministra Marina.

Uma foi feita pelo deputado Sarney Filho, do PV do Maranhão, filho de José Sarney, aquele que esteve à favor de todos os governos do Brasil nas últimas décadas. "Sarneyzinho", como é chamado, declarou (e a revista transcreveu, entre aspas) que "a falta de reação da ministra Marina Silva é inconcebível", referindo-se às denúncias contidas na reportagem sobre corte ilegal de madeira. A revista complementou: "procurada pela reportagem, a ministra não se manifestou. Sua assessoria disse que ela estava em viagem, incomunicável, mas que aguarda os resultados dos processos disciplinares em curso no Ibama para tomar providências. A ministra parece ter sofrido uma recaída na letargia que acometeu a ela e a seu ministério e da qual parecia ter se recuperado, logo após a divulgação das primeiras denúncias de corrupção na Amazônia. Na ocasião, o governo iniciou uma faxina na área
ambiental." Só.

Isto é "grosseria"? Mais ainda, isto é "injustiça"? Ninguém ligado à área ambiental deixa de reconhecer a inação da ministra, o contraponto entre suas atividades antes de virar autoridade e depois. Algo muito parecido aconteceu com José Lutzenberger, que na Secretaria Nacional do Meio Ambiente (antecessora do Ministério) também decepcionou a gregos e troianos, e foi severamente criticado pelo que fez e pelo que deixou de fazer. O exercício do poder executivo por parte de ambientalistas parece não ser muito fácil, o que serve de justificativa aos que defendem que ONGs e seus militantes devem, sempre, se manter "não governamentais".

Muito pior foi dito e publicado, inclusive pela própria "Veja", sobre Lutzenberger. E muito bateram nele militantes "socioambientais" brasileiros, os mesmos que agora saem em defesa da Ministra. Por quê?

Talvez a resposta esteja na frase "será que ninguém vai protestar contra a grosseria do repórter e, principalmente, da revista que tudo tem feito para criar dificuldade para o governo e as lideranças mais expressivas do PT"? Para a parte fanática da militância do PT, aquela movida por fé cega, é o
partido que não pode ser contestado. É muito provável que se a Ministra fosse filiada a qualquer outro partido, mesmo que da coligação de governo, não receberia defesa tão exacerbada. E exagerada.

Marina, como Lutzenberger, é uma pessoa ótima, uma militante ambiental respeitável, dona de um currículo de lutas inatacável e de um passado exemplar. Mas, como Lutz, tropeçou nas limitações do exercício do poder. As críticas de "Veja", neste caso, são justas, além de educadas e contidas.
Elas apenas refletem o que reconhecemos todos e que é apontado até mesmo por aqueles que, parte do mesmo governo, desejam sua vaga para tentar fazer mais.

Langone, por exemplo, quer ser ministro por quê? Porque é muito menos ambientalista do que um político do meio ambiente, que se fez reconhecido como tal e que sabe se movimentar melhor nos meandros da burocracia executiva estatal, em busca de resultados práticos.

Marina é ótima, mas seu lugar é na militância ambiental ou, no máximo, no Legislativo. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, e ninguém que é bom numa deve ser, necessariamente, bom em outra. E a crítica, principalmente quando exercida dentro dos limites (o que aconteceu em "Veja"
desta vez, não é regra geral e não estou aqui defendendo a revista), deve ser ouvida e deglutida pelas figuras públicas.

Achar que o PT está acima de tudo, inclusive de receber críticas (ainda mais depois de tudo o que aconteceu no ano passado), é de uma arrogância inominável. Não dignifica a própria Marina que este tipo de argumento seja esgrimido em sua defesa.

Ela certamente não precisa disto.

(*) O jornalista Ney Gastal é ambientalista, presidente da Associação Brasileira para a Preservação Ambiental e diretor-executivo do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul.

KAMAN

Quando o moço da foto nasceu, perguntei ao meu amigo Joaquim Tashka Yawanawá como se chama cachorro na língua de seu povo.

Kaman tem agora 11 meses. Passeia e dorme na varanda. Gosta de esguiar-se no parapeito da janela para ganhar bolacha.

Para não assustá-los, pedi-lhe que não abrisse a boca.
É um legítimo exemplar da raça American Staffordshire Terrier.

MAIS VÍTIMA IMPORTANTE

O secretário de Fazenda do Acre, Orlando Sabino, poderia ter se livrado hoje, caso lesse esse modesto blog, do velho golpe do seqüestro virtual.

A antropóloga Mary Allegretti relatou aqui, no dia 11, em "Seqüestro virtual", o drama que viveu com o irmão Fernando, quando foram vítimas em Curitiba de uma uma extorção de mais de R$ 10 mil.

Desta vez, os bandidos extorquiram o secretário mediante a ameaça de matar o irmão dele, o deputado estadual Fernando Melo.

Mary Allegretti chegou a pedir para que seu drama fosse divulgado, como forma de evitar que outras pessoas caissem no golpe, mas a imprensa acreana ignorou seu apelo.

Embora leiam o blog, é bom que o governador Jorge Viana e o senador Tião Viana sejam alertados sobre a existência do golpe. Saiba mais no site Notícias da Hora.

PAVILHÃO ACREANO

Rio Acre e o Pavilhão Acreano, às 15h48, antes de começar o "Carnaval como Antigamente" no Calçadão da Gameleira, no 2 Distrito de Rio Branco.

domingo, 26 de fevereiro de 2006

FESTIVAL DE GUARAMIRANGA

Olá, Altino

Me preparando para uma entrevista com João Donato, aqui no Festival de Jazz de Guaramiranga (CE), encontrei seu blog. Procurei as informações que me interessavam, mas depois comecei a ler outros conteúdos. Não conheço o Acre. Só estive aí de passagem pelo aeroporto numa escala para Campo grande já vai um tempo. Minha informação atual é essa enchente, da qual o resto de Brasil parece pouco se interessar, visto que as enchentes de São Paulo e Rio de Janeiro é que interessam ao "mercado", vendem mais.

Enfim, deixa pra lá. O que quero dizer é que esqueci por momentos minha pauta, que é muito interessante, e mergulhei curiosa em todas as imagens, posts, questões ambientais, povos indígenas, polêmica do "kambô", imagens e mais imagens do cotidiano, do rio cheio, da população carente, dos saudosos dessa terra, cortes de cabelo, cenas de perigo, uma muito peculiar e de título super engraçado "Novo homem acreano"...gostei demais.

Que bom que existe esse blog pra divulgar mais um pedaço desse país imenso. Obrigada por me apresentar ao Acre.

Um abraço.


Alzira Aymoré
Revista Zona Nobre
Fortaleza - CE

Nota: o Ceará é nosso avozinho, Alzira. João Donato é o gênio da raça acreana. Essa enchente foi sem graça, pois o governo e a prefeitura estavam preparados demais e enfrentaram a situação de modo competente. Até show musical, missa e culto rolou nos abrigos. As águas já baixaram e as pessoas estão voltando para suas casas. A imprensa como sempre esquece de contar as histórias até o final. Fora daqui, fica essa sensação de que o Acre está inteiro debaixo dágua. Volte sempre. E dê um abraço no meu amigo João Donato - compositor, pianista e arranjador - que sobe aos palcos do VII Festival de Jazz & Blues de Guaramiranga para lançar o primeiro DVD da sua carreira de 57 anos. Artista homenageado pelo Festival, Donato se apresentará com quase toda banda que gravou o DVD “Donatural” (Biscoito Fino). Quando publicar a entrevista, envia uma cópia com fotos para replicar aqui. Bom trabalho!

SAUDADES DO ACRE

Caro Altino,

várias vezes me deparei com seu blog na internet, procurando por notícias acreanas. Meu nome é Eliane Fernandes, sou antropóloga e moro há 15 anos na Alemanha. Tive o imenso prazer de visitar três vezes o Acre, uma terra pela qual sou apaixonada desde criança. Meu sonho em conhecê-la se realizou em 2004.

Mas esta terra sempre me acompanhou pela infância e adolescência, pois meu bisavô Childerico José Fernandes de Queiroz Maia saiu do Rio Grande do Norte e foi para o Yaco.

Participou e colaborou na Revolução Acreana, amou estas terras, mas retornou para o Rio Grande do Norte após a queda da borracha, falecendo em 1938 no Rio de Janeiro.

Meu avô Guttemberg nasceu em solo acreano. Desde criança tinha orgulho em dizer na escola que ele havia nascido no Acre, esta terra longínqua, mas mágica e fascinante. Cresci ouvindo histórias da floresta e de seus habitantes, de seus frutos, seus perigos e seus encantos.

Hoje, aqui em Hamburgo, no norte da Alemanha, sofro querendo retornar a esta terra e a esta gente maravilhosa, que conquistou meu coração de vez.

Faço meu doutorado na Universidade de Bremen sobre o uso da internet pelos indígenas brasileiros e sua importância. Devido a isso estive no Acre para obter informações sobre o projeto "Rede Povos da Floresta", iniciado pelo CDI (Comitê para Democratização da Informática) e que possibilitou a implantação da Internet na aldeia Nova Esperança do povo Yawanawa e na aldeia Apiwtxa do povo Ashaninka.

Graças à pesquisa pude conhecer pessoas maravilhosas e guerreiras destes dois povos indígenas e também pude conhecer o belo trabalho da Comissão Pró-Índio do Acre e seus integrantes.

O Acre foi uma experiência maravilhosa, que desde então não quero mais sentir falta! Aí deixei amigos e aprendi muitas coisas bonitas da vida. Em julho tentarei voltar por poucos dias, só para uma visita. Vamos ver se conseguirei chegar até aí.

Quero parabenizá-lo e agradecê-lo por este belo trabalho de divulgação da cultura acreana, dando vozes a todos que aí habitam.

Sempre revejo pessoas que conheci durante minha estadia no Acre em seu blog e vídeos e me sinto novamente um pouquinho mais perto de vocês.

Muitíssimo interessante os textos e o video sobre a Expedição à Foz do Breu e também muito importante os textos sobre a questão da sabedoria tradicional indígena e a proteção destes conhecimentos e a luta contra a biopirataria.

Continuarei de olho em seu blog, saudosa, segurando o coração para não explodir de tristeza.

Abraços cordiais,

Eliane Fernandes Ferreira
Hamburg - Alemanha

Nota: É por manifestações como a sua que faço diariamente esse trabalho diletante. Realmente o Acre é uma terra mágica. Costumo dizer que é positivamente estranha. Agora que sabemos da existência um do outro, sinta-se a vontade para nos falar de seu trabalho e das histórias vividas neste verde sertão. "Se é grande essa floresta, é maior a solidão". Você está muito bem na foto tirada no ano passado no Juruá, o rio que banha a cidade onde nasci. Volte logo.

sábado, 25 de fevereiro de 2006

RESPEITEM ESSA MULHER

Dizer que os problemas ambientais no Brasil continuam, que a floresta continua sendo destruída em larga escala, e que ainda há muitos maus funcionários, que vendem autorizações para transporte de produtos florestais por vantagens pessoais é um fato que todos concordamos e deve ser combatido com energia.

Mas acusar a ministra Marina Silva de omissão com essas práticas é inaceitável. Quero ver como reagem as organizações socioambientais brasileiras diante do que o repórter Leonardo Coutinho, de Veja, escreveu em "A floresta pagou a conta do PT" a respeito de Marina Silva, reconhecida mundialmente pela seriedade e dedicação às causas ambientais.

Marina Silva não merece tamanha injustiça. Injustos também seremos nós se não sairmos em sua defesa. Gostaria de ler a opinião do Elson Martins, do Toinho Alves, do Lúcio Flávio Pinto, em síntese, dos grandes jornalistas ambientais deste país.

Será que ninguém vai protestar contra a grosseria do repórter e, principalmente, da revista que tudo tem feito para criar dificuldade para o governo e as lideranças mais expressivas do PT?

O mundo respeita Marina, mas a reportagem de Veja tenta lançá-la na vala comum daqueles que nada fizeram para mudar a realidade ambiental do país.


"Altino, vai aqui a segunda reação.
Um abraço".
Moisés Diniz

MUHAMMAD CAIPORA

Por Moisés Diniz (*)

Muhammad é o profeta e a caipora é a entidade protetora das matas e dos entes vivos da floresta. E, a cada dia, recebem ataques histéricos, que vêm dos caçadores da alma humana e suas angústias. É que, todo aquele que representa um sonho coletivo, recebe agressão pavorosa, ora em forma de mísseis, ora em forma de letras ou charges. Marina recebeu, há pouco, virulento ataque de Veja, um lixão tipográfico do baronato paulista.

Não faltarão ‘intelectuais’ e todo tipo de escriba para ironizar as minhas palavras. Até os ‘trombadinhas’ da política vão comentar nas esquinas. Que absurdo!, dirão. Como pode chamar de profetisa uma ex-seringueira, filha de pobre, negra, etecétera e tal? Que mal fez a revista Veja em acusar a ministra Marina de ser cúmplice da corrupção de produtos florestais? Será exatamente isso que eles dirão sobre a matéria da ‘revista’ Veja.

Revista? Aquilo não passa de uma pocilga das letras. Seus editores, cevados no regime militar, cúmplices da elite européia e norte-americana, que espoliou o meu país, não conseguem ‘engolir’ um presidente operário e uma ministra seringueira. Dói em suas almas fidalgas. Incomoda a tradição do baronato paulista. Eles precisam continuar acreditando que o subdesenvolvimento brasileiro pode ser mascarado com um presidente que fala inglês e estudou em Harvard.

Quando degustam as suas doses de uísque importado, em suas mansões protegidas e erguidas com a espoliação dos pobres, eles não conseguem imaginar outro mundo, além do deles. Eles não conhecem e até abominam o gosto ancestral da caiçuma indígena. Eles têm medo da floresta, eles têm medo dos pobres. Eles são pobres de espírito. Eles são frágeis, ficam incomodados e tristes, quando não têm o poder público a financiar as suas orgias.

Eles se assustam com o novo, especialmente se vier de baixo, da classe desprotegida dos pobres. Eles não têm alma, porque o rancor de classe a esvaziou, como água na areia. Eles produzem o medo e a incerteza. Eles precisam convencer o povo brasileiro de que a alma popular é tão suja quanto a alma dos escravocratas da mão de obra operária. Eles não podem ficar sozinhos na lama, precisam sujar tudo, até a alma dos profetas.

Que eles duvidem, mas, para uma parcela respeitável do Brasil, Marina é a nossa profetisa, da proteção da vida e da fé é um mundo sustentável. Eles defecam em suas privadas luxuosas, cospem na rua, despejam dióxido de carbono na atmosfera e vomitam seus caros menus. Eles são poluidores. Seus bens de consumo, sofisticados, maltratam o ar, a água e a vida. Nós limpamos!

Nós ficamos, aqui na Amazônia, cuidando dos rios, dos lagos, das matas e suas raízes. Milhares de povos indígenas, extrativistas e ribeirinhos. Ficamos, aqui, a limpar a sujeira que a civilização do dinheiro emporcalhou. Nós venceremos a morte dos bens naturais que sustentam a vida. Eles, ao contrário, vão continuar chorando as suas lágrimas de enxofre. Tipografando páginas sórdidas de celulose que sai da Amazônia, envenenando a democracia e o futuro. A ‘revista’ Veja se corrompeu e se acha no direito de colocar qualquer um no esgoto.

Nós não queimaremos exemplares da ‘revista’ Veja nas praças. Não faremos com ela o que os muçulmanos fizeram com o ‘jornal’ Jyllands-Posten. Venceremos com a indiferença. A sua provocação nos fará mais vigilantes. Iremos com mais vigor e rigor às ruas, bairros, escolas, seringais e aldeias indígenas. A nossa forma de defender a Marina é estar mais perto do povo e fazer vitorioso o projeto político que a sustenta.

Marina é nossa irmã, amiga inseparável do planeta e daqueles que o habitam. Marina sabe que a vida humana não está dissociada da vida de todos os seres vivos, do mamífero predador ao molusco mais insignificante. Até a mais imperceptível bactéria faz parte da ainda indecifrável cadeia vital. Ela resiste ao dominante discurso ‘desenvolvimentista’, que gera riqueza num pólo e exclui milhões na base da pirâmide social. Marina quer um desenvolvimento que inclua e se sustente por gerações.

Por isso, esse grito desesperado de ‘revistas’ como a Veja. Ao leitor desatento, apresenta um discurso de defesa do meio ambiente, mas seus tutores não passam de anjos do apocalipse. Eles sabem que a maior destruição do nosso espaço vital vem de suas indústrias desregradas, de seus milhões de carros possantes e de seus supérfluos bens de consumo. Eles sabem que a maior causadora da morte ambiental é o modelo de desenvolvimento que a elite brasileira produziu e sustenta. A vida privatizada é a madrasta de toda a poluição.

Eles sabem que 10% da população, a perdulária, consome 90% da riqueza, dos bens naturais. Eles poluem e matam e colocam a fatura no costado dos pobres. Satanizam os criadores de gado tradicionais da Amazônia, mas, permitem que a soja avance por aqui como um tsunami. Não investem um centavo de seus lucros em um transporte coletivo moderno e de qualidade, que reduzisse a quantidade assombrosa de carros de passeio. Eles sabem que, apenas isso, reduziria substancialmente o mortal dióxido de carbono.

Preferem a lipoaspiração criminosa de uma imagem. Sabem que desacreditar marina é abrir caminho para o tão propalado agronegócio na Amazônia. Eles olham pra os números da balança comercial e não querem ver que um de seus pratos, o dos excluídos, está desabastecido e penso. Só esquecem que nós estamos atentos.

E já estamos reagindo. O Acre é pequeno, mas, tem honra e substância. Até aqueles que, aqui, nos fazem oposição, vão compreender a importância de defender a Marina. Agredir Marina é atacar a Amazônia e a vida. Eu estou com Marina. E você?

Nota: Moisés Diniz é escritor e deputado estadual do PCdoB do Acre. Escreva para a revista. As mensagens devem ter o endereço, o número da cédula de identidade e o telefone do autor. Clique aqui.

RECORDE DA HORA



O site Erros da Hora desta vez superou-se. Foram cinco erros numa frase: "opreação", "vária", "vária prisões", "vária prisões de vários" e "lagadas". Prefiro os ratos dágua.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

O INCRÍVEL

O QUE É O KAMBÔ

Reproduzo a mensagem deixada no blog por Edna Yawanawá, que é uma liderança do povo yawanawá do Rio Gregório. Nada melhor que a manifestação dela para se contrapor à panacéia dos biopiratas e salteadores da floresta, que violam diariamente as leis brasileiras, os direitos dos povos indígenas e das populações tradicionais da Amazônia, especialmente do Acre.

Na comunidade "Kambô milagre indígena", no Orkut, criada por Raquel Dourado, a secreção do sapo kampô é alvo de propaganda enganosa e comercializada abertamente. Embora não haja nada de miraculoso no kambô, Raquel Dourado afirma, no tópico da comunidade:

- Os índios de Cruzeiro do Sul – Acre conhecem o remédio natural que pode combater até o câncer.

Segue o desafio da Edna Yawanawá:


QUERO VER A FORÇA E A CORAGEM DE QUEM É CONTRA NÓS

Por Edna Yawanawá


Nossa! Que confusão por causa de um sapo tão pequeno e tão bom de se comer. Bom, desde que começou essa discussão sobre o kanpun - o meu povo o chama assim -, eu, meu avô e outros companheiros indígenas, principalmente os katuquina, que na verdade são originalmente kamanáwa ou varináwa, além dos kaxinawa ou huni kui, temos participado direto dessa problemática.

Primeiro, não se está discutindo apenas a aplicação do sapo em alguém, mas sim a forma errada, desordenada e perigosa que se está ultilizando em não indios, principalmente, e, acima de tudo, o comércio ilegal e a propaganda enganosa.

Isso está parecendo aqueles médicos dando certeza de cura pelas células-tronco. Não importa se é índio ou não. Quem anda aplicando, qualquer um, podia ir numa terra indígena aprender e sair dizendo que é paje? Nao podia? Entao? Mas não é assim.

Tudo exige preparação espiritual e não é qualquer pessoa que aplica, não. E tambem: que tipo de dieta se está fazendo pra tomar o sapo? Quem está aplicando é pajé? É um bom caçador? Quem ele é? Ou é um preguiçoso, mentiroso, ladrão?

Se for, muito cuidado: nossa cultura é contra. Não existe nada comprovado na medicina que o sapo cura doença, mas na aldeia, na forma que ele é usado, de manhã cedo, madrugada, em jejum, com bastante caiçuma, aí sim, é diferente.

Nao é pra fazer comércio, não é pra vender. Os mais velhos quando souberam dessa história ficaram horrorizados, revoltados, tristes mesmo. Basta o nosso uni - cipó [da ayahuasca].

Concordo plenamente: temos que proteger nossos conhecimentos. Os brancos só sabem o supérfluo. Nós temos a essência, a pureza do saber. Isso nunca ninguém tira de um povo.

A Anvisa tem que proteger mesmo e o INPI tambem. Essa tal Sônia Menezes é uma aproveitadora. Os próprios katukina sabem disso. Até casamento ela inventou pra poder se dar bem. Que benefícios ela trouxe pra aldeia dos katukina? Que respeito ela mostrou aos velhos de lá? Nenhum.

Assim como muitos, é uma pessoa suja, cruel e ambiciosa. Temos que estar de olho em pessoas assim, que nos rodeiam a cada dia.

É isso aí: quem gostou, gostou, quem não gostou vai na minha aldeia que a gente toma sapo junto. Aí eu quero ver a força e a coragem de quem é contra nós!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

KAMBÔ E BIOPIRATAS

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda está providenciando a proibição do comércio da vacina do sapo kambô, mas desde abril do ano passado está suspensa, em todos os veículos de comunicação do Brasil, qualquer propaganda que atribua propriedades terapêuticas ao produto.

Caso veículos de comunicação, empresas e pessoas físicas descumpram a determinação, ficam sujeitos às penalidades previstas na Lei nº 6.437/77, como notificação, autuação e multas que variam de R$ 2 mil a R$ 1,5 milhão.

Vários charlatões no país, que se dizem "terapeutas indígenas", têm abusado da boa fé dos índios do Acre para obter a secreção cristalizada do sapo. Depois eles usam a internet para atrair pessoas com promessas de curas milagrosas para todos os males.

Em troca de algumas moedas, víveres e roupas, os charlatões obtêm dos índios do Acre as paletas com a "vacina" e as comercializam por R$ 18 mil, sobretudo no Rio, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte. Cada paleta contém cerca de 200 doses.

Caso emblemático envolve a "terapeuta indígena" Sônia Menezes, que no ano passado chegou a ser expulsa pelos índios katukina, com auxílio da Funai e da Polícia Federal, da aldeia Campinas, na BR-364, em Cruzeiro do Sul.

A biopirataria que vem sendo praticada contra os índios do Acre tem sido duramente criticada pelas organizações de apoio ao movimento indígena. A Anvisa, Ministério do Meio Ambiente, Funai e Polícia Federal investigam os envolvidos na propaganda e comércio do sapo kambô.

Quem for flagrado transportando kambô também pode responder processo por crime ambiental. Detalhes sobre a resolução da Anvisa que proibe a propaganda do kambô podem ser acessados clicando aqui.

DEIXEM A MATA EM PÉ

Por Padre Paolino Baldassari (*)


São Paulo, 9 de fevereiro de 2006

Exmo. e caríssimo Senador Tião Viana ,

Saudações cordiais.

Ano de eleição é ano de grande preocupação para mim que tenho cinqüenta anos de Acre e oitenta anos de idade. Neste tempo de disputa política, vejo os meus paroquianos a se dividirem até se odiarem e para mim, que conheço todo mundo e que vi a maioria nascer, os batizei, os casei e talvez batizei os filhos e os netos, para mim tempo de ano político, ano de eleição, se torna realmente um tormento porque vejo amigo contra amigo, vizinho contra vizinho.

Na propaganda política vejo cair numa amarga realidade o que era um santo dum verdadeiro programa das classes mais pobres.

Num clima tão estranho não posso esquecer o bom amigo que lutou com entusiasmo para a saúde da nossa gente. Deus conhece o íntimo da gente, é Ele que julga quando somos sinceros e transparentes e também humanos. Neste momento, que somos chamados a caminhar com muita prudência sobre as areias mutáveis da política, ainda quero acreditar numa luta honesta em favor da floresta.

Ainda temos um maravilhoso tapete de verde que nos protege e absorve as imensas nuvens de gás carbônico e de metano que usa para a própria vida vegetal e nos devolve toneladas e mais toneladas de oxigênio que serve para a nossa vida. Viajei para Santa Rosa do rio Purus e quanto me alegrava de admirar do alto com a vista aquele imenso tapete de verde não deturpada da ganância do fazendeiro e madeireiros que só visam o lucro fácil. Como me sentia feliz que ainda existisse tanta mata e com tanta mata tanta vida.

Estamos em tempo de chuvas. Os rios transbordam mas o tempo da estiagem se aproxima e o tempo das grandes secas e dos grandes fogos também se aproximam. Tenho medo que a gente esteja esquecendo a grande seca de 2005 e continue tranqüilo a derrubar mata e queimar pensando no grande negócio do gado e futuramente da soja, como estão fazendo no Mato Grosso e Rondônia, onde de fato ninguém respeita a lei.

Tenho medo que neste ano de política com fins eleitorais se dê licenças para derrubar a mata e ganhar votos como foi na outra eleição. Como seria bonito que se deixasse em pé a mata e se usasse da terra já degradada e empobrecida e com a tecnologia tão avançada a gente pudesse viver sem derrubar e queimar.

Em Santa Catarina, 50 anos atrás, onde fui dar aula, os colonos num hectare de terra colhiam 25 sacos de arroz e se consideravam felizes. Agora conseguem colher 180 sacas de arroz, isto é, nove toneladas que dá de comer a muita gente. Por que acontece isto? Porque se usou da tecnologia. Se gasta muito dinheiro em projetos que não dão em nada. Por que não se deve estudar seriamente o solo e fazer que possa produzir. Aqui no Acre não tem pedra, fazer estradas precisa um dinheiro imenso e manter os ramais é pior ainda. Pergunte-me por que não há ao longo do asfalto os agricultores e dar a eles verdadeira assistência em técnicas que saibam orientar e ter um verdadeiro progresso.

Sei que agora a maior preocupação é a eleição, mas na preocupação da eleição deve ter como finalidade primária a preservação da floresta amazônica. Esta preocupação deve ser a base de toda as preocupações. Acima de tudo é a vida. O progresso deve ser em favor da vida.

A destruição da floresta deve ser eliminada porque é a maior causa do fenômeno estufa. Precisamos de água e a grande seca do ano passado foi um sinal pra dizer não à devastação. As abundantes chuvas que vão de dezembro e abril são amparadas pelas grandes copas das árvores, que despejam depois, devagar, e vão alimentar as fontes hídricas que alimentam os igarapés e os rios. Além disto, a precipitação atmosférica que causa a chuva é provocada pela umidade da floresta, que protege dos raios do sol e que o contato com a corrente fria precipita em chuva.

A floresta é uma dinâmica distribuição da água, abundante fonte de vida, e um despejar abundante de oxigênio, fonte de vida. Portanto, a minha grande preocupação de fazer entender que se deve renunciar a um negócio lucrativo temporário, como é o gado e a soja, para um negócio eterno, que é a fonte da vida, como a água e o oxigênio.

Tenho oitenta anos e sempre lutei para o bem da vida. Sei que muitos não entendem isto, mas o bom amigo está por dentro de tudo isto e sabe que falo porque amo o nosso Brasil e o nosso Acre e, em modo especial, o grande e generoso pulmão da Terra que é a floresta amazônica.

Rezando sempre para o bom amigo e pedindo que Deus o ilumine na nobre missão de Senador, envio um grande abraço.

Nota: O padre Paolino Baldassari nasceu na Itália. Está no Brasil desde 1951. Em 1954, viveu e trabalhou em Boca do Acre (AM), Sena Madureira e Brasiléia (AC). Desde 1963 é vigário da Congregação Servos de Maria da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Sena Madureira. Ele costuma escrever com regularidade cartas ao senador Tião Viana (PT).

ROCK DA FLORESTA



Por Diogo Soares (*)

Duas bandas acreanas vão passar o carnaval em Cuiabá, a capital do Mato Grosso. Se alguém pensa que os roqueiros da terrinha vão para algum tipo de retiro espiritual, se enganou: Los Porongas [foto] e Camundogs foram convidadas a participar do IV Grito Rock, evento que abre o calendário anual de festivais independentes no Brasil.

O convite veio a partir da interação que a banda Los Porongas e o selo Catraia Records estabeleceram com produtores nacionais, a partir da realização do Festival Varadouro, em Rio Branco, no ano passado, e também pela participação de Daniel Zen (Catraia Records) e João Eduardo (guitarrista dos Porongas) nas discussões do 11º Goiânia Noise, onde foram articulados a Associação Brasileira de Festivais Independentes e o Circuito Fora do Eixo.

Para João Eduardo, esse é um momento ímpar:

- Mostrar as nossas músicas num evento como esse é possibilitar que muito mais gente escute o som do Acre, além de interagir com as bandas e produtores nacionais para fazer um Festival Varadouro, aqui no Estado, muito melhor - afirmou o músico.

O IV Grito Rock começa hoje e continua nos dias, 25, 26 e 27 de fevereiro. Los Porongas e Camundogs se apresentam amanhã, no sábado, 25. O evento é organizado pelo Espaço Cubo Produções. Além dos shows, vai agregar discussão a esse carnaval do rock. Várias entidades vão discutir o fortalecimento da integração entre as regiões. O Acre participará dos debate que acontecem no domingo, 26.

O festival, além de apresentar vários nomes da cena de Cuiabá para o Brasil, também vai contar com a presença de nomes conceituados no circuito independente brasileiro, como Zeferina Bomba(PB), Ecos Falsos (SP), Porcas Borboletas (MG) e Vangauart (MT). Quem quiser saber mais sobre o festival pode acessar o blog Espaço Cubo.

Os Camundogs lembraram que a banda foi apoiada pelo vereador Márcio Batista e pela bancada do PcdoB.
- O Márcio sempre foi um apoiador do rock no Acre e conseguiu articular nossas passagens com Edvaldo, Perpétua e Moisés Diniz pra gente mostrar nosso trabalho em Cuiabá - disse o vocalista da banda, Aarão Prado.

Os Los Porongas tiveram o apoio da Fundação Elias Mansour para essa empreitada musical.

- O presidente da Fundação, Assis Pereira, não poupou esforços para viabilizar as passagens, fator essencial para podermos representar o Acre lá fora. E esse é o papel da Fundação: apoiar quem está produzindo - afirmou Jorge Anzol, baterista do grupo.

(*) Diogo Soares é poeta e compositor da banda Los Porongas.

GRATO

"No momento em que surgem diversas informações ligadas à floresta, especificamente sobre a Amazônia, descobri seu blog.

Procurava por informação sobre um colega de curso de rastreamente e sobrevivência, um índio yawanawá, quando fiz uma busca a partir de uma página e acabei parando no seu blog.

Você está de parabéns. É modesto meu elogio, mas sincero. Vou ler mais informações, mas adianto que você está no caminho certo, irmão.

Tudo de bom".
Rogério Ferreira
Brasilia - DF


"Altino, belissima reportagem com Alceu Ranzi. Parabéns! Tenho aprendido muito com teu blog. Pax et bonum".
NN
Itália

"Acreana que sou, mas longe da nossa terrinha, são por demais enriquecedoras essas leituras através do teu blog. Parabéns pela reportagem com o prof. Alceu, um dos grandes apaixonados pelo Acre, que eu já conheci".

Sandra Costa

"À propósito, eu estava, justamente, pensando o quanto seu blog é bom, Altino... Às vezes me pego citando uma estória aqui, outra acolá, para a Senadora LV, para meu fiho, meus amigos, entao...volta e meia.Muito bom, quando faz ressonância, né???Congratulations! Vida longa e feliz. Ainda vamos nos conhecer, não? Digo, em carne e osso".

Mag
Brasília (DF)

VIVA HÉLIO MELO

PINTOR DA FLORESTA

Certo dia, Kátia e eu encontramos o artista
Hélio Melo no centro da cidade. Ela então encomendou uma tela. Chegou a sugerir que o velho seringueiro pintasse apenas uma árvore que expressasse a sua visão do que é a floresta. Sempre que o encontrávamos, perguntávamos se a tela estava pronta. Nunca estava. Até que, mais ou menos em maio de 1994, o encontrei outra vez no centro da cidade. Segurou-me pelo braço e foi arrastando-me e contando histórias até sua casa, no bairro da Base.

Hélio Melo havia comprado um computador e queria que eu o ajudasse a operá-lo. Passei várias horas ensinando-o e ouvindo suas histórias e piadas. Sua maior admiração foi com a opção clicar e arrastar. Quando viu os arquivos sendo transferidos de uma para outra pasta, ele adaptou o deverbal de rebolo:

- Hummm! O bicho arrebola, né?

Aproveitei a ocasião para saber se a tela estava pronta. Ele disse que sim. Pegou uma pilha de cartolina e tirou uma. Era a tela acima, na qual escreveu uma dedicatória antes de assiná-la:

- Para Kátia, um pedaço da mata.

Escrevo esse nariz-de-cera ao anunciar com exclusividade: na próxima edição da Bienal Internacional de São Paulo, de 7 de outubro a 17 de dezembro, com o tema "Como Viver Junto", o Acre vai mecerer uma ampla abordagem.

Ela se dará através de uma exposição do pintor Helio Melo e do trabalho de três artistas estrangeiros que deverão passar por um período de residência de um a três meses no Acre. Os artistas vão desenvolver trabalhos que deverão ser exposto na Bienal, estabelecendo intercâmbio cultural com as instituições locais através de atividades (oficinas e palestras).

Como os três artistas se interessam por questões sociais ou ligadas diretamente à extração de látex e da cultura da borracha, pessoas e instituições podem se preparar para oferecer apoio à empreitada. Quanto à mostra do pintor Helio Melo, a Bienal está a procura de colecionador ou galerista que possuam suas obras.

Após o Carnaval, estará em Rio Branco o produtor cultural Bartolomeo Gelpi, da Fundação Bienal de São Paulo, a instituição que promove as Bienais Internacionais de Arte e de Arquitetura de São Paulo, além de representações brasileiras em Bienais de outros paises.

Ninguém retratou tão bem a paisagem acreana e o cotidiano do homem na floresta como Hélio Melo, que também era músico autodidata, compositor de choros, valsas e marchas. Sua técnica consistia em usar nanquim e tintas naturais sobre papel cartão. A tinta era elaborada pelo próprio artista, mediante a extração de sumo de folhas vegetais.

Clique aqui para saber mais a respeito do genial Hélio Melo em entrevista à jornalista Cristina Leite na revista "outraspalavras", onde ele afirma:

- Então, como aprendi sem professor, pode me chamar de pintor da floresta. Porque só quem viveu lá dentro é capaz de descobrir os mistérios da natureza através dos nossos irmãos índios, donos da floresta.

Eu não entendo porquê a gente deixou morrer Hélio Melo e a revista, duas expressões da acreanidade. Existe tanto lixo que merece ser varrido do mapa e a gente tropeça nele todo santo dia.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

ASHANINKA

O pajé Antonio Piyãko Ashaninka toca para o filho Moisés, na aldeia Apiwtxa, no rio Amônia, na fronteira do Brasil com o Peru. Conheça um pouco da música ashaninka clicando aqui. A foto é do Tiago Juruá.

AYAHUASCA

Moisés Piyãko Ashaninka acompanha o cozimento do cipó jagube e da folha chacrona na preparação da ayahuasca em três panelas. Foto: Tiago Juruá.

NUMA CASA ASHANINKA

Palentólogo Alceu Ranzi numa típica casa ashaninka: telhado de palha de jarina e chão de paxiúba. Foto: Tiago Juruá.

CRIANÇAS DA FLORESTA



Nada melhor que os versos do compositor Beto Brasiliense como legenda da foto tirada pelo Tiago Juruá na aldeia dos índios ashaninka:

"Essa floresta vai até onde a vista alcança
Tem onças, cobras, homens e muitas crianças
Ainda temos em nossa força uma esperança
Quem não esquece, um dia cresce e alcança"

Dê um clique sobre a foto.

MARIA DA GLÓRIA



ELA É MÃE DE 15 FILHOS AOS 44 ANOS

Por Elson Martins (texto) e Tiago Juruá (foto)

Ela é uma mulher de 44 anos, muito jovem para ser mãe de 15 filhos. Nós a encontramos na colocação Lago do Triunfo, na margem direita do rio Juruá, entre as cidades de Porto Walter e Thaumaturgo, cercada do carinho e respeito de nove deles. Formam uma escadinha a partir das adolescentes Elda, Maria e Jadene, uma delas surda e muda.

O marido tinha saído para serrar umas tábuas para terminar a casa nova que ele mesmo está construindo. Os outros seis filhos também se encontravam fora. O correto é dizer filhos e filhas, porque sete são mulheres. Três delas apareceram algum tempo depois quando havíamos encerrado a visita. Em tempo, mandaram recado que queriam ser fotografadas como os demais.

Quando nos aproximamos da casa, a família estava apinhada nas duas pequenas janelas da frente. Tinha quatro rostos numa e cinco na outra. O quintal é limpo com vassoura, como manda a tradição dos seringais, e cercado com arame farpado. A tradição protege os moradores contra animais da floresta, rastejantes ou não. À noite, com lua ou sem lua e com a ajuda das estrelas, dá pra ver qualquer corpo estranho que se mova nesse espaço limpo.

- A senhora parou a fábrica de meninos e meninas, não?

Ela não deu certeza. O mais novo, de cujo nome não lembrou na hora em que fizemos a pergunta, nasceu há menos de dois anos. Apenas admitiu, meio encabulada, que quer parar, como a dizer que isso não depende só dela. As mocinhas, exceto a surdo-muda, riram da situação.

Jadene, a mais extrovertida, disse que não vai casar. Não deve achar muito bom, presumimos, o exemplo que tem em casa. Ou, ao contrário, não quer despregar-se da numerosa e simpática família.

Da forma como se juntaram para sair na fotografia, fazem crer que são muito unidos mãe e filhos. Bem como satisfeitos com a vida que levam naquele espaço amazônico isolado.

- Aqui tem o que a gente precisa e não precisamos pagar nada: temos peixe, arroz, feijão, macaxeira...a escola melhorou. O que às vezes aperreia é o problema da saúde.

Para exemplificar ela puxou a camisa de um dos pequenos para exibir sua barriga com umas manchas estranhas. Disse que o levou a Porto Walter e a Marechal Thaumaturgo, mas nenhum médico diagnosticou a doença.

Dona Maria da Glória, de apelido Nena, é uma mulher magra, possui rosto que lembra alguma figura grega, de beleza clássica. Dá para ler nesse rosto algum sofrimento e muita dignidade. E dos pés a cabeça a certeza de que pertence a uma raça forte.

Na verdade, subindo o Juruá e parando nas margens desse belo e rigoroso rio os viajantes sensíveis percebem que penetram uma sociedade onde não cabe a hipocrisia; ou a vaidade; ou a desconfiança.

Nem medo ou desesperança e que as pessoas que a compõem se oferecem desarmadas para o afeto.

Dona Maria, dona Raimunda, dona Francisca, são tantas, emergindo do centro da mata para as margens dos rios com uma reca de meninos! E vemos que possuem uma cultura com pelo menos cem anos de diálogo dos humanos com a natureza.

Esse povo parece conectado, de alguma forma, com o humanismo que escapa das malogradas experiências entre ciência e bem estar social. Uma gente que alumia caminhos insuspeitos pelos que se julgam poderosos e sabidos.

Dona Maria da Glória e seus simpáticos 15 filhos recepcionam pessoas estranhas sem manifestar qualquer ofensa ou descaso. Insinuam fragilidade. Entretanto, estão a sugerir um possível mundo novo.

Nota: O jornalista Elson Martins e o biólogo Tiago Juruá participaram da Expedição à Foz do Breu.

ALCEU E TIAGO

Alceu Ranzi e Tiago Juruá. Pai e filho, meus amigos. Tive o prazer de receber hoje, aqui no alto mais bonito e seguro da cidade, a visita do paleontólogo e do biólogo e estudante de direito.

Eles participaram da Expedição à Foz do Breu: percorreram de barco, subindo o Rio Juruá, de Cruzeiro do Sul até Tipisca, a primeira cidade do território peruano naquela região.

Alceu trouxe um "moi" de tabaco de excelente qualidade, produzido pelos ribeirinhos do antigo seringal São João do Breu. Trouxe, ainda, um cachimbo confeccionado pelos ashaninka do Amônia, feito de côco, com piteira de osso de macaco prego.

Cheiramos rapé, demos boas baforadas e conversamos sobre a vida no sertão verde, na região mais ocidental do país. Assista (abaixo) a entrevista com Alceu Ranzi.

ALCEU RANZI

terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

VENDA DE KAMBÔ NO ORKUT

A acreana Rachel Dourado (foto) criou há um ano, no Orkut, a comunidade "Kambô Milagre Indígena", destinada a debates sobre o famoso sapo kambô. Já possui 313 membros, mas existem outras comunidades: "Kambô - Katukina", criada por uma tal de Elizana Terapeuta Indígena e "Kambo", onde o veneno do sapo "é indicado para qualquer distúrbio e desequilíbrio". Outra acreana, Hellen Padilha, também criou uma comunidade chamada "Phyllomedusa bicolor".

Uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do Ministério da Saúde proíbe a propaganda da "vacina" do sapo kambô (Phyllomedusa bicolor). Quem for flagrado transportando kambô pode responder processo por crime ambiental.

Mas o que não falta é gente desrespeitando a resolução e ganhando muito dinheiro com o comércio da aplicação da substância, além da exploração da boa fé de índios acreanos em grandes cidades.

Rachel Dourado escreveu no fórum da comunidade a seguinte inverdade:

- O governo do nosso Estado [do Acre] vai patentear para que não aconteça mais o que já ocorre, oportunistas levando nossoa animais par laboratórios.

Na comunidade "Kambô Milagre Indígena" os membros usam o fórum para consultar os preços do comércio da secreção do sapo em grandes cidades.

Jane Roessing, uma garota carioca de 17 anos, expôs as seguintes perguntas:

- Alguém poderia me informar quem aplica no RJ e quanto custaria? Quantidade de furos? Quanto tempo entre as aplicações? Grata por qualquer dica!

Um dos que deram dicas foi Marco Imperial, 48, que se declara músico, terapeuta, produtor rural, pai, amigo, irmão. Nos anos 90, Imperial andou bastante pelo Acre, envolvido com a expansão da ayahuasca no Rio.

- Tomei com a Nancy que vem de São Paulo, e aplica aqui no Rio, mas tem o Davi que veio de Cruzeiro do Sul. A Nancy cobrou 80 reais a aplicação, e a quantidade de furos vai depender. A Nancy está aplicando uma vez por mês aqui no Rio. Ela diz que a aplicação está tabelada pelos Katukinas em 120 reais. E a primeira aplicação geralmente é de cinco pontos. A próxima aplicação será nos primeiros dias de março próximo - informa Imperial, cujo e-mail (marcoimperial@uol.com.br) e telefones (21-24173565-31578152-99889303) estão publicados no perfil de sua página no Orkut.

ANVISA PROÍBE PROPAGANDA


Samara Leite, 26, de Brasília, também deu dicas para a garota interessada em comprar a vacina do sapo:

- Jane, eu conheço um índio do Acre, o José Gomes, que viaja pelo Brasil para fazer aplicações. Ele esteve aqui em Brasília até o final de outubro/05... disse que voltaria ao Acre para pegar mais material e depois iria passar um tempo no RJ e SP, retornando pra cá entre janeiro e fevereiro/06. Se quiser posso te passar o telefone para contato. Eu paguei 70 reais. Já a quantidade de furos varia de pessoa para pessoa. Se quiser mais alguma informação, deixa recadinho no meu orkut, ok?

A propaganda da "vacina do kambô" foi proibida pela Anvisa porque ainda não existe comprovação científica que garanta qualidade, segurança e eficácia da substância Phyllomedusa bicolor. Ela é extraída de uma rã conhecida como kambô e foi apelidada de "vacina do sapo".

A Anvisa não considera a "vacina" indicada para qualquer tipo de distúrbio, desequilíbrio ou tratamento de quaisquer processos agudos e crônicos.


A resolução da Anvisa, de abril de 2004, foi assinada por Franklin Rubinstein, para se contrapor às campanhas e matérias publicitárias que não esclarecem o consumidor sobre os riscos à saúde provocados pelo uso da "vacina", o que tem induzindo ao uso indiscriminado do produto.

RIO ACRE AMEAÇA CARNAVAL

A equipe de governo do Acre se reúne hoje com a comissão organizadora do carnaval de rua do Calçadão da Gameleira para começar a avaliar se realiza ou não o evento.

Dudé Lima, que chefia a comissão, disse que é contra a realização do Carnaval da Gameleira por falta de segurança.

- Não quero carregar no meu currículo o peso de eventuais mortes. O Riozinho do Rola, que deságua no Rio Acre, continua subindo, e o Rio Purus, no qual o Acre deságua, permanece com o seu nível estabilizado. Falta segurança. Para realizar o evento, com milhares de pessoas nessas condições, nem mesmo instalando uma rede sob a ponte para deter os corpos dos bêbados que podem morrer afogados. Mas quem vai decidir sobre essa questão é o governador Jorge Viana, possivelmente na sexta-feira - afirmou Dudé Lima.

CALÇADÃO DA GAMELEIRA

Embora mais de 30 mil pessoas tenham sido atingidas pela enchente do Rio Acre, o Calçadão da Gameleira, no 2º Distrito, está ornamentado para o carnaval de rua organizado anualmente pelo governo estadual. As condições de segurança preocupam o chefe da comissão organizadora.

PONTE

Rio Acre corre sob a ponte Francisco Wanderley Dantas, às 9h41.

BELEZA PURA

Taxista corta o cabelo de andarilho no centro da cidade.

SALTO

Menino aproveita a enchente para tomar banho no Rio Acre.

NÁUFRAGO

Calango tenta escapar da enchente do Rio Acre no Calçadão da Gameleira.

OREMOS AO SENHOR

O prefeito, o vice-prefeito, o diretor da empresa pública de distribuição de água de Rio Branco e pastores evangélicos enquanto imploravam chuva a Deus, no dia 14 de agosto. Deus os atendeu 56 dias depois. É preciso saber pedir. Quem me diz que eles não têm responsabilidade pela enchente? Agora, quando pedirem pra parar de chover, sejam habilidosos. Peçam pra Deus baixar só uns cinco metros, para evitar nova seca. A foto é do site Notícias da Hora.

RIO ACRE EM AGOSTO

O Rio Acre no dia 20 de agosto de 2005.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

TERRA DA FARINHA

Voltei hoje da feira de Cruzeiro do Sul. Trouxe feijão mudubim, feijão peruano, meio paneiro de farinha de macaxeira e outro tanto de farinha de tapioca, biscoito de goma e um moi de tabaco negro do Juruá.

A cidade continua isolada do mundo. Uma maçã custa R$ 1,00. O quilo de tomate R$ 7,00, a batata portuguesa idem. Um quilo de comida num self-service da vida, R$ 22,00.

O acesso à internet é discado ou via rádio com muita precariedade ao preço de R$ 4,00 a hora. A população se divide entre os desempregados e os funcionários públicos ou, ainda, entre a maioria pobre e a minoria rica.

Cruzeiro do Sul não se explica. Não há quem possa entender como aquela legião de pobres, desempregados e funcionários públicos tenha tanto dinheiro para movimentar a ostentação de seus barões, donos de mansões bregas, barcos, postos de gasolina, fazendas, máquinas pesadas, aviões, carros de luxo etc.

O país precisa conhecer a proeza dos homens rudes de Cruzeiro do Sul, que figuram entre os mais ricos da região. Instituições como a Fundação Getúlio Vargas e o Sebrae deveriam estudá-los e dar conhecimento ao país da facilidade com que os empresários daquela pacata cidade a transformaram numa verdadeira escola de empreendedorismo.

Um dos homens mais ricos do Acre atualmente, há pouco mais de 10 anos era empregado como atendente de balcão. Agora é dono de postos de gasolina, lojas e dos melhores imóveis e gera empregos. Na cidade existe sempre alguém sonhando em ser laranja de alguém.

Na terça-feira da semana passada, a fiscalização da Receita Federal no aeroporto de Rio Branco deteve a bagagem de várias pessoas que iam participar de um seminário sobre biodiversidade em Cruzeiro do Sul. A companhia aérea Rico não esperou o término da fiscalização.

O avião decolou com o grupo de passageiros, mas sem a bagagem, que só foi entregue no final da tarde de sexta-feira. Fizeram isso como se a cocaína saísse de Rio Branco para Cruzeiro do Sul e não de Cruzeiro do Sul para o resto do país.

Até um marceneiro e um artista plástico outro dia quase se enrolaram. Um enviou uma mesa recheada de cocaína e o outro a recebeu em Manaus. Noutro caso, uma companhia aérea demitiu no ano passado um carregador de cargas que de repente comprou à vista um caminhão novinho em folha.

Estava ainda em Cruzeiro do Sul quando recebi a seguinte mensagem do paleontólogo Alceu Ranzi, que participava da Expedição à Foz do Breu:

"Caro Altino:

Chegamos hoje de volta à Thaumaturgo. Ontem estivemos em Foz do Breu e Tipisca (Peru). Em Tipisca, o prefeito é um índio da etnia jamináua.

Estou levando, para sua apreciação, um "moi" de tabaco de S.João do Breu e ainda, para pitar, dois cachimbos do feitio dos ashaninka do Rio Amonia. Os cachimbos são feitos de cocão e as piteiras são de osso de macaco prego. Espero que possamos inaugurar os cachimbos e soltar umas boas baforadas, pois o "moi" de tabaco deve dar umas seis libras. Um abraço."

Vou chamar o Toinho Alves para apreciarmos com o Alceu Ranzi o tabaco negro de S. João do Breu e os cachimbos com piteira de osso de macaco. E vou aproveitar para contar o que não convém contar agora aqui.

CRUZEIRO DOS URUBUS

URUBU PEGA, MATA E COME

Valber Lima

Altino, por que é que não aparece um repórter dono da verdade pra escrever uma linha sobre a situação da cidade de Cruzeiro do Sul?

Todo mundo bate no Lula, todo mundo fala mal do Governo da Floresta, todo mundo quer ser herói falando dos erros da esquerda no poder, mas ninguém fala da Zila.


Por quê? Onde estão os repórteres da TV Gazeta, do Jornal A Tribuna, do O Rio Branco, onde estão? Estão todos com medo do Carcará? Pois é! Enquanto isso, os urubus estão tomando conta da cidade. Não há regularidade na coleta de lixo. A prefeita vive viajando, ninguém da imprensa fala nada.


Esta foto foi tirada ontem, atrás da Catedral Nossa Senhora da Glória, ao lado do Mercado do Agricultor, em frente ao antigo Cais do Porto.

Já que você está em Cruzeiro do Sul, por que não observa com os próprios olhos? Todos os dias é a mesma cena, principalmente no final da tarde. Os urubus e os cachorros soltos nas ruas entre os passantes.


A foto foi tirada num local onde deveria haver um centro de atração de turistas e um local de trabalho dos produtores. Bem, espero, Altino, que pelo menos você não esteja com medo do Carcará e leve a público o problema que os cruzeirenses precisam ver resolvido logo.

Afinal, ela, a Zila Bezerra, se elegeu prometendo acabar com os urubus, mas, ao contrário, o número triplicou no centro da cidade. Qual é?

Nota: Caro, realmente Cruzeiro do Sul está suja, com as ruas esburacadas e a população descontente com a prefeita Zila Bezerra. Na quinta-feira, com destino a Cruzeiro, encontrei-a dentro do Boeing. Hoje, ao retornar para Rio Branco, soube que a mesma já havia viajado novamente. "Ela vem pra Cruzeiro apenas tomar banho, mas viaja logo para se maquiar em outras cidades", disse um morador. Desse jeito, vale a pena o pessoal do jornal Voz do Norte fazer uma foto dela desembarcando de avião e tascar a seguinte manchete: "Zila visita Cruzeiro". Não entendo nada de política. Encontrei gente que votou em Zila, está dececpionada com a administração dela, mas disposta a continuar votando contra qualquer candidato da Frente Popular. O povo é o povo. Cruzeirense não é mesmo flor que se cheire. Acreano ele não é.

CARTA DE PRINCÍPIOS

Carta de Princípios das Comunidades Locais e Povos Indígenas do Acre (Brasil), Madre de Dios (Peru) e Pando (Bolívia)

Nós povos indígenas, comunidades locais, extrativistas e ribeirinhos reunidos em Cruzeiro do Sul, Estado do Acre, no seminário "Cienência e Saber na Amazônia: valor do conhecimento", entre os dias 15 e 19 de fevereiro de 2006, tratando do tema pesquisa com acesso a biodiversidade, saberes ancestrais e conhecimentos tradicionais, foram acordados os princípios que:

1 – Toda forma de pesquisa tenha compromisso com a conservação da biodiversidade e uso sustentável dos recursos naturais;

2 – Todos saberes ancestrais e conhecimentos tradicionais pertencentes aos povos indígenas, extrativistas e ribeirinhos devam ser respeitados e reconhecidos como ciência;

3 – Todos saberes ancestrais e aos conhecimentos tradicionais povos indígenas, extrativistas e ribeirinhos não são de domínio público e são atemporais;

Os pesquisadores e instituições de pesquisa pública ou privada, que pretendem realizar pesquisa científica e bioprospecção a partir do acesso aos saberes e conhecimentos tradicionais associados à diversidade biológica dos povos indígenas e comunidades locais deverão pautar-se pelos seguintes procedimentos:

1 – Solicitar autorização prévia aos povos indígenas, comunidades locais, extrativistas e ribeirinhos a serem pesquisadas;

2 – Respeitar as normas existentes definidas por povos indígenas, comunidades locais, extrativistas e ribeirinhos;

3 – Qualquer tido de projeto de pesquisa necessita ter bem esclarecido seus objetivos, metas, critérios, normas e metodologia;

4 – Tudo que for acordado com povos indígenas e as comunidades locais deve ser formalizado por um termo de anuência prévia e/ou contrato;

5 – A pesquisa somente será autorizada se for considerada de interesse do povo indígena e das comunidades locais, extrativistas e ribeirinhos;

6 – Os povos indígenas e as comunidades locais, extrativistas e ribeirinhas tomarão como referência para aprovação da pesquisa, o retorno que esta poderá trazer de interesse relevante e inovador para a comunidade;

7 – Toda pesquisa deverá ser apresentada de forma a haver um nivelamento de linguagens, a fim de facilitar a acessibilidade de compreensão;

8 – Os povos indígenas, comunidades locais, extrativistas e ribeirinhos deverão acompanhar todos os passos da pesquisa;

9 – O pesquisador e/ou instituição deverão assinar um termo de sigilo com os povos indígenas, comunidades locais, extrativistas e ribeirinhos;

10 – O pesquisador e/ou instituição que se desviar do foco da pesquisa terá cancelada sua autorização de pesquisa, bem como sofrer sanções penais e administrativas;

11 – O pesquisador e/ou instituição deverá apresentar aos povos indígenas, comunidades locais, extrativistas e ribeirinhos um histórico de sua atuação em pesquisa.

Recomendações:

Toda pesquisa tem por obrigação garantir retorno aos povos indígenas, comunidades locais, extrativistas e ribeirinhos envolvidas:

1 – O retorno da pesquisa poderá ser feito monetariamente, entre outros, através de capacitação e/ou formação técnica do povo e comunidades, ou de repasse de informações e/ou tecnologias e financiamento de projetos, a partir de acordo prévio com a comunidade requerida;

2 – No caso da pesquisa revelar a possibilidade de desenvolvimento de produtos comerciais, deverá ser exigida a capacitação e/ou formação técnica da população e que a cadeia produtiva seja desenvolvida na floresta com a referida comunidade. Nesta situação um novo contrato deverá ser firmado.

3 – O cumprimento dos princípios acima não exime o pesquisador de cumprir a legislação vigente.

domingo, 19 de fevereiro de 2006

TÁ NA HORA DO EMPATE

A platéia fez máximo silêncio quando a advogada paraense Eliane Moreira começou a falar a respeito da valorização e defesa dos direitos dos povos tradicionais sobre os seus conhecimento, durante o seminário "Ciência e Saber na Amazônia", em Cruzeiro do Sul (AC). Ela chamou a atenção de lideranças indígenas, ribeirinhos, seringueiros e extrativistas não apenas pela beleza e simpatia, mas sobretudo por defendê-los a partir de uma lógica apaixonada e competente. Ao término da palestra, foi bastante aplaudida e cumprimentada.

Eliane Moreira é professora do curso de direito ambiental do Centro Universsitário do Pará (Cesupa), mestre em direitos difusos e coletivos pela PUC de São Paulo e doutoranda em desenvolvimento sustentável do trópico úmido pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará.

Ela coordena o Núcleo de Propriedade Intelectual do Cesupa, que é o responsável pela gestão institucional da propriedade intelectual. Por seu intermédio são construídas as pontes entre as instituições que geram conhecimentos e tecnologias e o setor produtivo, transformando os resultados das pesquisas em produtos e serviços que propiciem a melhoria da qualidade de vida da população.

- O Acre é o grande ponto de referência de todas as pessoas que trabalham com os direitos socioambientais. Vejo que, do Acre, com certeza, deve emergir uma movimentação que garanta a discussão sobre os direitos dos povos tradicionais, mas que caminhe no sentido das garantias desses povos. Esses povos precisam olhar para o passado de Chico Mendes e fazer o "empate" agora, para impedir que os direitos deles sejam derrubados - aconselha a paraense.

Assista (abaixo) o bate-papo com Eliana Moreira.

ELIANE MOREIRA

CÃO E URUBUS VADIOS

Um cão brinca com os urubus em frente à redação do jornal A Voz do Norte, no centro de Cruzeiro do Sul (AC).

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

BIOPIRATARIA DO KAMBÔ

Em dezembro do ano passado, escrevi aqui a nota "Kambô e charlatanismo", advertindo que, embora uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do Ministério da Saúde tenha proibido a propaganda da "vacina" do sapo kambô (Phyllomedusa bicolor), o que não falta é gente desrespeitando-a e ganhando muito dinheiro com o comércio e a aplicação da substância, além da exploração da boa fé de índios acreanos em grandes cidades.

Revelei que Sônia Menezes, que se declara "terapeuta indígena", havia se aliado ao psiquiatra Paulo Urban para promoverem numa clínica em São Paulo a "Semana de Medicina Indígena" com aplicações de kambô. O caso foi denunciado pelo movimento indígena ao Ministério da Justiça e a Polícia Federal então passou a investigar a biopiratia.

Sônia Menezes vendia um "palito" com 200 doses de kambô por R$ 18 mil. Quando se viu perseguida pela PF, desapareceu e abandonou em São Paulo e Belo Horizonte o grupo de cinco índios katukina que havia levado para auxiliá-la no comércio de kambô nas grandes cidades.

Três deles já conseguiram retornar para Cruzeiro do Sul no dia 10 de janeiro, mas um homem, o pajé Francisco de Assis e uma mulher, conhecida como Lucimilda, permanecem abandonados em Curitiba. Não falam português e não têm dinheiro para custear a viagem de volta ao Acre.

Anteontem, os dois conseguiram telefonar para o parente Fernando Katukina, que é uma liderança na aldeia Campinas. O pajé chorou e demonstrou arrependimento pelo que fez. Sônia Menezes havia levado o grupo contrariando recomendações da maioria da comunidade.

Conversei hoje com o Fernando Katukina, que vai recorrer à Funai para ajudá-lo a trazer os dois índios de volta ao Acre. O caso ilustra bem como a biopirataria pode causar sérios problemas numa comunidade. Assista (abaixo) a entrevista com o agente de saúde indígena, que participa aqui em Cruzeiro do Sul do seminário "Ciência e saber na Amazônia: o valor do conhecimento".

FERNANDO KATUKINA

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

O MAIS OCIDENTAL

Estou em Cruzeiro do Sul, a cidade onde nasci e vivi até os 15 anos de idade. Às 18h01, na saída do aeroporto, avistei essa paisagem. É aqui onde o Sol deixa de iluminar por último quem vive no extremo-oeste do Brasil.

ARCO-ÍRIS



Arco-íris em Cruzeiro do Sul, às 17h58.

SUSTO NA EXPEDIÇÃO



Por Elson Martins

Faltou pouco para que a Expedição Foz do Breu II perdesse, por volta das 14 horas de quarta-feira, 15, três de seus membros: o desembargador Arquilau de Castro Melo, o paleontólogo Alceu Ranzi e o jornalista Elson Martins, além do cabo Eder do Corpo de Bombeiros.

Os quatro ocupavam a lancha "voadeira" cujo motor falhou na saída do porto de Thaumaturgo e, em poucos segundos, foram arrastados pela forte correnteza do rio Juruá contra uma balsa ancorada, perigosamente, um pouco abaixo.

"Trepem na balsa: a canoa vai virar!" –gritaram os experientes tripulantes do barco Bruno encostado no barranco a 50 metros, enquanto uma segunda "voadeira" (conduzida pelo também cabo, J.Soares) se aproximava jogando uma corda para puxar a embarcação em risco.

O desembargador, o jornalista e o paleontólogo se salvaram agarrando nas grades da balsa; com isso a canoa, mais leve sem a carga foi puxada. O procurador e cineasta Rodrigo Neves fotografou a cena (ver fotos) mostrando a gravidade da situação.

Um acidente semelhante aconteceu na manhã seguinte: a baleeira de 22 toneladas alugada ao Governo do Estado, para o programa Luz para Todos, foi também jogada de encontro à balsa. O dono, Joilson Melo, sofreu prejuízos com a quebra do mastro e do balaústre dianteiro do barco.

Os moradores de Thaumaturgo lembram de outros acidentes em decorrência da posição inconveniente da balsa naquele porto. Mas ninguém reclama, oficialmente, porque a embarcação está ocupada por soldados do exército, que a utilizam como dormitório.

Desembargador herói
A "voadeira" da expedição Foz do Breu II não emborcou e foi arrastada para baixo da balsa com seus ocupantes porque o desembargador Arquilau, que se encontrava no banco da frente, segurou por alguns instantes, com firmeza, a corda lançada pelo cabo João, da outra canoa. A corda retesou, ele caiu, mesmo assim conseguiu amarra-la e se levantar para também se pendurar nas grades da balsa, enquanto o cabo Eder permanecia agarrado ao motor.

O jornalista Elson Martins, 66, com problemas de pressão alta, não soube explicar depois onde conseguiu forças para se pendurar na grade que fica a cerca de um metro e meio da lâmina d’água. Mas, permaneceu com as pernas tremendo por algum tempo depois do susto.

Bem humorados, os membros da expedição brincaram com o final feliz do acidente. Passaram a chamar o desembargador de "Meu Herói"; e, ao jornalista, de "Homem Aranha".

Brincadeiras à parte, a balsa ocupada pelos militares do exército continua no local como uma armadilha contra os navegantes da região. O prefeito de Thaumaturgo, Itamar de Sá, informou que já fez ofício ao exército pedindo que mandasse ancorar a embarcação em outro local, mas não recebeu resposta.

Possuindo grande calado, e ancorada em posição transversal à correnteza do rio Juruá, a balsa funciona como uma pedreira barrando o curso normal das águas e gerando uma força que as empurra para baixo. Quem cair ali, não importa que saiba nadar bem ou esteja protegido por salva-vidas, vai para o fundo; e dificilmente escapará de morrer asfixiado.

(*) Elson Martins é jornalista e colaborador do blog. Foto: Rodrigues neves.

CALANGO



O crédito da foto é da Jael Bimi Jaccoud Machado.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

EXPEDIÇÃO FOZ DO BREU



Por Elson Martins (*)

A Expedição Foz do Breu II que sobe o rio Juruá refazendo o roteiro da primeira expedição realizada há três anos, já se encontra em Taumaturgo, na metade do caminho. O grupo partiu da cidade de Cruzeiro do Sul domingo à noite, num barco de porte médio com 15 pessoas a bordo.

A viagem até a Foz do Breu deve durar 10 dias, parando na ida e na volta em cidades, vilas e comunidades do Juruá. Foi incluída no roteiro uma visita a Vacapista, vila do Peru ocupada por cerca de 500 civis e militares.

Da foz, no rio Amazonas, até as nascentes, no Peru, o rio Juruá tem 3.283 quilômetros de extensão, um terço em território acreano. É um rio que faz muitas voltas e se rompe de tempos em tempos formando lagos piscosos. Nesta época de muita chuva, porém, os peixes somem e a população ribeirinha encontra dificuldades para manter sua dieta alimentar. A escassez é menor nas cabeceiras e nos afluentes.

Alimentação, entretanto, não tem sido a queixa mais freqüente feita aos membros da expedição; as famílias recorrem a alimentos como farinha, feijão, macaxeira e animais de criação (galinha e porco), afora alguma caça miúda. A reclamação é maior contra a falta de atendimento de saúde em toda região. A malária, sobretudo, grassa no vale, que possui poucos médicos e quase nenhum medicamento.

No Juruá-Mirim, afluente da margem esquerda do Juruá distante 12 horas, de barco a motor, de Cruzeiro do Sul, a expedição encontrou comunidades em situação triste.

Na Vista Bela, por exemplo, onde funciona uma escolinha precária, mas heroicamente conduzida pela professora Rosinha, existe um posto médico fechado há meses.

- É um dormitório de morcegos – define o professor José Lourival Gonçalves, da comunidade vizinha, Porongaba.

(*) Elson Martins é jornalista e colaborador do blog.

BARCA ORDINÁRIA

A barca-hospital adquirida pelo governo do Estado durante a administração do ex-governador Orleir Cameli e repassada em seguida para a Marinha, através de um trato que previa prestação de serviços médicos e distribuição de medicamentos pela corporação, navega apenas uma vez por ano nas águas do Juruá. É bela, mas ordinária, a julgar pelos comentários de quem precisa de socorros médicos.

O experiente delegado Renato Mota - com 35 anos de trabalho na Polícia Civil no Juruá e hoje residente em Thaumaturgo, - informou que na cidade o atendimento foi feito pelos médicos locais. Os pacientes iam até a balsa apenas para apanhar 3 a 4 remédios comuns. Segundo ele, o paciente nem consegue entrar na balsa, sendo atendido na ponta da prancha.

Quando os membros da expedição se encontravam na cidade de Porto Walter, na tarde de segunda-feira, a suntuosa embarcação que vinha da Foz do Breu ancorou por lá. Ela é de fato um espetáculo de construção naval, com beleza e luxo para ser apreciada à distância.

Os membros da expedição – desembargador Arquilau Melo, paleontólogo Alceu Ranzi, jornalista Elson Martins, procurador do Estado e cineasta Rodrigo Neves, artista plástico Marqueson Pereira, biólogo Thiado Ranzi e cinegrafista Neovan Negreiros – viajam em barco comum, dormem em redes e fazem comida a bordo.

Durante as paradas sofrem com os ataques de mosquitos. O local onde a presença dos insetos pareceu mais intensa, até agora, foi o Juruá Mirim.

- Aqui é a central dos mosquitos - explicou um morador, rindo da agonia dos visitantes.

- Talvez por isso nosso rio seja esquecido pelas autoridades - emendou outro morador.


O rio Juruá está cheio, mas com leve sinal de vazante, o que torna a subida nos barrancos enlameados bem penosa. A previsão, entretanto, é de que o nível das águas vai subir logo porque chove muito nas cabeceiras dos rios.

Essa previsão deve se confirmar com a chuva forte que recepcionou a expedição na chegada a Thaumaturgo e que se manteve na quarta-feira impedindo que os expedicionários fossem visitar os índios ashaninka no rio Amônia, utilizando lanchas voadeiras.
(E.M)

PROJETO CIDADÃO

A Expedição acompanhou até Mal. Taumaturgo a equipe do Projeto Cidadão que vai desenvolver atividades na cidade, de quinta a sábado, expedindo documentos e oferecendo outros serviços.

O atendimento se estenderá até a região do Breu e neste ano tem como novidade o credenciamento de diretores (ou professores) de 20 escolas, que passarão a fornecer certidão de nascimento a crianças de zero a seis anos.

Outra novidade é o registro de espingardas e rifles de seringueiros e ribeirinhos considerados "caçadores de subsistência". O registro, que será feito por policiais federais (integrando pela primeira vez o Projeto Cidadão), permitirá aos trabalhadores da floresta facilidades para comprar no comércio a munição necessária.


O Projeto Cidadão completou 10 anos de existência exibindo números dos quais se orgulha muito: no período expediu 285 mil documentos beneficiando pessoas que não conseguiam ter acesso a esse serviço. O projeto tem a coordenação do Poder Judiciário acreano e conta com a participação de diversos órgãos (estaduais e federais), entidades e empresas.

Na semana passada, mais de 100 pessoas trabalharam no município de Rodrigues Alves, cidade próxima de Cruzeiro do Sul na margem esquerda do Juruá. No domingo, 48 delas subiram o rio, no barco Bruno, e se encontram em Thaumaturgo. A turma, numerosa, animada e organizada se encontra instalada na Escola Justiniano Serpa, no centro da cidade. (E.M)

BIODIVERSIDADE

Começou hoje em Cruzeiro do Sul (AC), no extremo-oeste brasileiro, o seminário "Ciência e saber na Amazônia: o valor do conhecimento", onde estão sendo discutidos princípios para proteção, pesquisa e uso dos conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade. O evento, que é uma iniciativa da organização não governamental Amazonlink, termina no domingo.

Ele está sendo viabilizado por meio do Projeto Aldeias Vigilantes, em co-organização com o Projeto de Gestão Ambiental Integrado (PGAI), Programa de Proteção à Biodiversidade (PPBIO) e a Procuradoria Geral do Estado.

Como proteger nossos conhecimentos? Quais são as leis que protegem nossos saberes? O que é essa tal de biopirataria? Como a gente faz para denunciar coisas que ocorrem na nossa área que não estejam de nosso acordo? Quem quiser saber sobre nossos conhecimentos deve fazer o quê? Como a gente lida com essa gente? Quem são essas pessoas? Se a gente faz um acordo com esse povo (pesquisadores, empresários, curiosos), quem fica com o quê?

Essas são algumas das perguntas que permeiam reuniões comunitárias em aldeias indígenas, ribeirinhos, seringueiros da Amazônia, mesmo que o foco da reunião não seja a questão da biopirataria. Mais informações estão disponíveis neste blog e no site da Amazonlink. Assista, abaixo, a entrevista com o presidente da organização, Michael F. Schmidlehner.