sábado, 30 de dezembro de 2006

BINHO É UM CARA LEGAL




Fernando França


Há trinta e dois anos que eu sei que o Binho é um cara legal. Desde à sua chegada ao Colégio dos Padres (Instituto Nossa Senhora das Dores) em 1974 para cursar a 5ª série, onde eu já estudava desde a 1ª. Embora ele se sentasse lá na frente, no meio dos quietinhos e tidos como bons alunos (Amilton, Adauto, Carla Tanaka, Yara e Rosa), e eu, lá atrás, no meio dos avacalhados (Madeira, Francisco “gurilinha”, George Fortes, Marcos “rasga paiera” e o Hudson, que possuía o irreverente ato de bater o seu “instrumento” nas carteiras enquanto trocávamos as roupas para irmos para a Educação Física), o que já seria motivo mais do que suficiente para criar uma grande incompatibilidade não a proporcionou, pois nós tínhamos um amor em comum: (além é claro da Evangelina, irmã do Fernando Mello, que era amada por todo o Colégio) o amor pelo desenho, pela Arte.

Naquela época, o Binho desenhava muitos carros de corrida, pois era fissurado por automobilismo e por autoramas. Binho também se apaixonou por uma “magrela” que eu tinha, a primeira de Rio Branco, e me propôs trocá-la por sua “garelli”. Nunca realizamos o negócio. De vez em quando eu pedia para ver os seus cadernos, que eram cheios de desenhos. Também cheguei a visitar a sua casa com o Fernando Mello, umas duas vezes, para brincar de autorama, pois morávamos no mesmo bairro, o Ipase. Nessas visitas, eu que colecionava histórias em quadrinhos, fiquei encantado com a quantidade de revistas que vi na sua casa, pois o seu Arnóbio era o dono da Aeme Arte, a distribuidora de revistas da época. Assim foi a nossa tímida convivência até a 7ª série, pois em seguida fui “convidado” a me retirar do colégio, que tinha sido assumido pelos Irmãos Maristas.

Reencontrei o Binho na mesma sala e no mesmo colégio em 79, dessa vez, no CESEME. Nem eu era mais tão avacalhado nem ele sentava mais lá na frente. O nosso amor pela Arte tinha crescido junto com a gente e rapidamente eu e Branco, que eu havia conhecido um ano antes, e que desenhava melhor do que todos nós juntos, nos juntamos inseparavelmente a ele, que já tinha se juntado ao Sílvio, ao Cláudio e ao Johnson, que o Binho conhecera nos movimentos estudantis. Pouco tempo depois nascia o jornal Escola, um marco para os nossos questionamentos políticos, artísticos e amorosos. Em seguida, o Binho nos levaria para o Teatro Horta, momento definitivo para a nossa consciência artística e crítica. Todos pensávamos em ser artistas e vivemos esse sonho, que eu alimento até hoje.

O Binho, no entanto, já havia mostrado seu grande interesse e entusiasmo pela área política. Ingressou no curso de História em 1981 e, desde então, não parou mais. Eu, na minha ânsia de continuar artista, saí do Acre nesse mesmo ano. Retornei em 1982 e em 1983 parti para Fortaleza onde moro até hoje, com um retorno ao Acre em 1985, por quase um ano. Confesso que, nesse período, cheguei até a me sentir enciumado tal qual era o grau de entrega do Binho para o Partido dos Trabalhadores. Lembro que a sua casa tinha se transformado em um verdadeiro comitê, com mais de uma dezena de pessoas circulando de um lado para o outro, com panfletos por todos os cantos, e que seu carro tava todo quengado, de tanto rodar entupido de gente fazendo os trabalhos para o PT.

Não me tomem por mesquinho. Minha intenção é chamar a atenção justamente para a capacidade do Binho de se doar por inteiro à luta pelos seus ideais. Ideais que, com certeza, incluem a diminuição das desigualdades sociais, das injustiças, uma educação de qualidade para todos, a preservação de nossa floresta, enfim a melhoria de vida de nosso povo. Para a concretização de seus propósitos o Binho possui um elemento fundamental e que pode fazer a grande diferença: a sua percepção de artista.

Sei que há poucas semanas ele disse que se sentia muito mais artista do que governador. É muito bom ouvir isso do Binho, pois vejo que ele mantém essa chama ainda acesa. E é dessa percepção e dessa visão de artista que ele deve se valer para ver além do foco e do alcance meramente político. Torço para que ele deixe sua sensibilidade artística revestir todos os seus atos, pois o artista, por natureza, é inconformado com as regras e as mesmices estabelecidas e está sempre buscando transpô-las no vislumbre de novos horizontes, de novas possibilidades de expressão, o que faz com ele próprio se questione e tente se refazer, se reintegrar a cada nova experiência.

É, portanto, vivenciando esse processo de humanização ou re-humanização, proporcionado pela Arte, que o Binho poderá realizar um governo sábio, humanizado e com uma melhor compreensão da realidade. Fica claro, então, que o Binho compreende muito bem a importância da arte e da cultura para o desenvolvimento de um povo.

Espero, de todo o coração, que a partir de 1º de janeiro o povo acreano, assim como eu, tenha a certeza que o Binho é um cara legal. Um feliz ano novo para você, meu caro amigo!

Fernando França é artista plástico em Fortaleza. A primeira ilustração é um desenho de autoria do Branco Medeiros, do dia 10 de agosto de 1980. Nele estão retratados Fernando França, Branco, Sílvio Margarido e, em destaque, Binho Marques, fazendo mesura para os amigos em cima de uma nave espacial. A segunda ilustração, o desenho colorido, é de autoria do próprio Binho Marques, assinada no dia 4 de fevereiro de 1982. Dê um clique sobre as imagens para visualizá-las melhor. Ambas pertencem ao acervo do Fernando, que tem a mania de abrir o baú dele para surpreender velhos amigos. Saúde e paz em 2007, velho Socó.

2 comentários:

Anônimo disse...

Não seria elegante, eu sei, apropiar-me das palavras do Fernando... mas dá muita vontade. Grande Fernando, meu amigo de longos anos, partilhamos muitas coisas inclusive a escolha do Ceará como segunda residência. Claro, também nos une a grande amizade, renovada a intervalos pouco regulares, com o Binho. Sim ele é de fato tudo que você disse. (Acre)scento apenas que é uma das pessoas mais generosas que já conhecí.

As características que Fernando cita, e esta que humildemente lembro, farão do Binho um grande governador? Se não fizerem será mais um sinal de que o mundo precisa ser reinventado em outras bases.

Associo-me a você Fernando no apelo que faz aos acreanos (os com base no Acre, os desgarrados, os que acompanharão a mini-série...) a incoporarem estas características tão marcantes no NOSSO governador, ajudando na grande obra que é transformar pessoas, lugares...
VER O MUNDO COM OS OLHOS DE TODOS. Este é um grande desafio. Há pessoas com coragem para enfrentá-lo? Sim. E o BINHO certamente é uma delas.

Grande Abraço...

Johnson

Anônimo disse...

Querido Altino,
Mais uma vez lendo seu 'super blog', minha fonte de informação da terrinha,
pois bem, eu lí evidentemente o artigo do Fernando (França) que fala sobre o Binho.
Bem, eu estudei no Instituto São José (Colégio das freiras), meus irmãos que estudaram no
colégio do padres (I N S das Dores)... nós moravamos no limite dos bairros da Capoeira com Ipase (onde ainda temos uma casa),
meus tios moravam no Ipase, de maneira que eu (moleca de rua) ia brincar com meus primos (Tita, Júlio, Eliana)
e éramos tds muito sapeca mesmo (soltar papagaio, jogar pelada, trepar em árvores, etc).
Pois bem, havia chegado um menino novo no bairro .
Cabelos castanhos e magrinho e ele era quetinho. O nome dele era Binho.
Ele morava do lado da casa da Dona Almira, dos Mustafa... quase no alto da ladeira.
Eu fiquei muito impressionada com ele porque foi o primeiro moleque que me convidou ir na casa dele (!) e quando chegamos lá ele ofereceu
coalhada para eu comer.
Isso pode parecer insignificante para alguns mas para mim (e minha memória) de criança foi especial.
Na minha época a gente só comia algo (na cozinha da nossa casa ou dos vizinhos) se pedissse primeiro autorização para mãe ou pai.
E minha mãe era daquelas que não deixava eu ir pra casa dos outros comer, era assim e pronto.
Muitos meninos iam na nossa casa pois o quintal era muito grande, tinha banana, laranja-lima, cana, goiaba, cajá, manga, mas raríssima vezes eu ia pra casa dos outros.
O fato é que eu nunca esquecí disso e comentei com os outros meninos (sobre a coalhada) e todos concordaram comigo que aquele menino era "diferente" , o que eu interpretei - generoso.
Há muito que não moro mais em Rio Branco (desde 1976), quando mudamos pra Belém e muitos anos que não voltei mais lá...
Tenho uma dúvida:
Será que o Binho que me convidou na casa dele, abriu a geladeira e me ofereceu coalhada é o mesmo Binho que eu leio no jornais do Acre e que ganhou as eleições pelo PT?
Se fosse ele- diria- então - espero que ele não tenha mudado.
Queria te desejar um FELIZ 2007- e sucesso com seu blog!
Silvana (Maria Escócio Drummond Viana de Faria Ditcham)