segunda-feira, 23 de outubro de 2006

A VOZ DO GUITARRISTA

João Eduardo

Altino!

Li com muito respeito as considerações e análises referentes ao Varadouro. Tenho a plena certeza que muitas delas serão pautas prioritárias em nossas reuniões "pós-festival". Mas existem alguns pontos que, ao meu ver, precisam ser argumentados. O Festival Varadouro é permeado por conceitos que vão além da conquista imediata de público e audiência, isso é visto como consequência. Integração, troca de tecnologias e experiências na área de produção musical são alguns pontos que regem a filosofia do Circuito Fora do Eixo e da Associação Brasileira de Festivais Independentes.

Trouxemos profissionais capacitados nas áreas de sonorização e palco, a custos baixos, para repassarem sua experiência às bandas e aos técnicos locais. As primeiras bandas, que aí pra fora sempre são prejudicadas pela falta de apoio técnico no palco, tiveram acesso àquilo que nós, Porongas e bandas do circuito, quase nunca temos, quando chegamos como mero desconhecidos nos eventos, apesar de sempre voltarmos com alguma matéria interessante na mão, que você mesmo já deve ter lido.


Essas mesmas bandas, como Nicles, Autreydd e Mamelucos já possuem convite para a participação nos Festivais "Grito do Rock" e "Calango", em Cuiabá, e certamente serão mencionadas em diversos canais de divulgação do país, como a revista Bizz, Folha de São Paulo, Jornal do Rock (RJ), Multishow, e o programa Alto-Falante, da Redeminas, que possui uma audiência de cerca de 10 milhões de pessoas no Brasil, e recentemente, em São Paulo, negociou com a TV Cultura um excelente horário no domingo, às 10h, onde atingiram na semana passada 1,2 pontos de audiência na grande São Paulo – mais ou menos meio milhão de pessoas. Santo de casa não faz milagre. É notório que o reconhecimento desses artistas locais pela mídia nacional revertam para cá a sua popularidade e aqueçam ainda mais a cena, como acontece com os Porongas. A foto do show do Porcas Borboletas parece mostrar um bom público entre os palcos, embora não mostre o momento em que umas 300 pessoas aplaudiam e pediam um "bis" em coro. No dia seguinte, já eram quinze comentários na comunidade da banda no Orkut.

Festivais europeus
Aqui em Rio Branco, se qualquer pessoa cair da cadeira nessa lanhouses, aonde escrevo agora esse artigo, possivelmente umas cinco pessoas ficarão sabendo do ocorrido amanhã. O que dizer dessas 300 que vibraram com o show? Como será o boca-a-boca disso? Diante disso, deparo-me com o saudosismo presente no parágrafo que cita os antigos festivais, sempre comentados por meu pai, o Zé Gilberto, e presentes no meu imaginário, como criança ligada em música, que dormia ao lado das caixas de som nos shows do Carlinhos Alvorada e de tantos outros artistas, em comícios do PT.

Agora questiono: onde estão esses artistas? Quais foram as metas e articulações desses festivais? Eles possuiam um apoio do governo também, não? O que foi consolidado na produção musical acreana nessa época? Onde estão os grandes músicos dessa cena passada? O que foi feito para preservar a forte essência e espírito da música acreana? Passaram-se quase vinte anos para isso ser retomado.


Permitimos que o público, grande ou não, tenha conhecido o que rola de alternativo ao que é vigente no quase falido sistema de produção musical nacional, que possui uma opinião um pouco parecida com a emitida no blog, onde o que importa é a audiência e o público. Para isso, pagam jabá e demitem aqueles que não vendem mais de 10 mil discos. Ser independente é isso, ficar longe desse sistema onde, se eu tocar pelos festivais que estão fervilhando pelo Brasil, fazer nome e vender 10 mil cópias a R$ 10,00 e ficar com pelo menos 50% desse lucro (que é o acertado nos acordos de selos independentes) terei uma renda de R$ 50 mil. Com a gravadora, possivelmente ganharei somente R$ 3 mil e por não atender aos seus interesses, irei para a famosa "geladeira" (onde a nossa vizinha Nitro/RO encontra-se hoje) ou serei demitido, como ocorreu com Lobão, Los Hermanos, Ludov, etc. Fugir disso é ser independente. E esse conceito do independente é completamente antagônico às dependências financeiras e estruturais que são fundamentais para a realização de um evento desses.

Se o governo quer apoiar, que apóie. Não considero o festival um investimento desnecessário diante da repercussão que poderá gerar nas cenas local e nacional. E olha que sou quem mais se preocupa com essa relação com o poder público, a qual, você sabe muito bem, que em nosso meio, é a única alternativa para o fomento de uma cena, até conquistarmos interesse do setor privado e da sociedade civil organizada, já que estamos na Amazônia. Não sei se você sabe, mas muitos festivais da Europa possuem grandes parcerias com organizações ambientais, inclusive o famoso Glastonbury Festival, em Londres.

Pois bem, voltando ao Acre, mais especificamente há uns 45 dias atrás, lembro-me de estar numa das reuniões de organização do festival e ser informado de que a Agência Aquiry, da qual você faz parte, seria nossa parceira na divulgação do evento, e que Milena e Adaíldo teriam o acompanhamento da galera do Espaço Cubo de Cuiabá, que são considerados referência no que refere à produção musical alternativa, citados em revistas como BIZZ, Caros Amigos (matéria de 7 páginas), Bravo e Carta Capital. Achei muito interessante e acredito que essa parceria tenha dado certo, em virtude do trabalho desenvolvido na divulgação do festival, mesmo que com algumas dificuldades. Porém, também acredito que essa mesma parceria tenha sido deixada um pouco de lado, mais especificamente com relação a você (o trabalho dos meninos foi fenomenal), onde o post de seu blog, que cita alguns erros e deficiências importantes para o futuro andamento do festival, classifica o evento como "festinha", e algumas bandas como "lixo cultural".

Repercussão
Com relação à última expressão, gostaria de lembrar que todas as bandas participantes do festival possuem seu público, aqui ou fora do estado, e que você poderia ter esperado um pouco mais para analisar os comentários que serão emitidos pelo público local (que já estavam postados no Orkut horas depois do evento) e pelos jornalistas especializados, como Lúcio Ribeiro, programa Alto-Falante e Fernando Rosa (esse último, muito elogiado em uma entrevista também postada no blog), lembrando novamente de nossa parceria.

Acredito também que você poderia aguardar um pouco para a publicação de qualquer opinião sobre o público do Varadouro, ao invés de ter deixado de lado a importância que aquilo teve para aqueles que lá compareceram. Ainda nem sentamos com a equipe da bilheteria para analisar a frequência do festival. A grande maioria comprou meia entrada, e, por R$ 10,00, assistiram a 16 shows, entre as bandas maduras, originais e as bandas lixo cultural. Bilheteria essa que não pagará os custos excedentes do evento.

Bem, no mais é isso, desculpe a enorme quantidade de palavras, sei que a repercussão de seu post será enorme, devido ao grande número de visitantes do blog, e é isso que me instiga a argumentar dessa forma. Entretanto, fico um pouco frustrado com a maneira de pensar de uma pessoa que é parceira do festival, e logo na segunda-feira de manhã, publica algumas opiniões pessoais baseadas em conceitos que diferem da proposta já mencionada aqui, sem antes consultar seus próprios parceiros. Mesmo assim, ainda admiro seu grande potencial jornalístico em outras áreas, seu excelente número de acessos, e seu poder de articulação com os blogs de outros cantos do país.

Espero um dia poder analisarmos pessoalmente os prós e contras do festival, assim como faremos com todos os nossos parceiros.

João Eduardo é guitarrista da banda acreana Los Porongas. Sugiro a leitura do blog Conector, de Gustavo Mini, integrante da banda Walverdes, do Rio Grande do Sul. Ele relata seu encanto pelo Acre. Clique aqui.

12 comentários:

Anônimo disse...

Com certeza o maior número de opiniões pode dar folego a este debate e também, parece, é uma proposta do próprio festival. entretanto as argumentações de lado a lado, fora as "paixões" não esclarecem e nem dizem realmente o que foi acescentado ou mudou na cena " independente" da música acreana. No mais fico por aqui somente lembrando que houve inclusive uma proposta altenativa chamada de " Excluidos"... dá pra entender?

Anônimo disse...

Parabéns João Eduardo. Acho que você conseguiu expressar bem a essência do festival e mostrou que as considerações do Altino foram fora de contexto. Essa coisa de só pensar em audiência, público, é que o torna nossa grande produção musical brasileira uma bela porcaria, com seus calypsos e Bruno e Marrone.

Anônimo disse...

Esse menino deve ter ficado o dia inteiro preocupado com uma criticazinha. Tanto que escreveu muito e desnecessáriamente. Imagine uma crítica da mídia nacional. Deve ficar um mês sem dormir. E ainda se diz preparado para ser o astro do rock nacional. Cresce mais.

Anônimo disse...

A Rosangela falou bem.Investir dinheiro público em "brincadeira de boyzinho"com tantos projetos culturais que podem ser colocados em prática para a população que precisar ter mais alternativas ao Bruno e Marrone,já citados.Acho que aqueles que se auto declarão os representantes do rock acreano,precisam de um pouco mais de humildade para rever as falhas que ocorreram.E pra finalizar,conheço muita gente além de mim,que digamos,não apreciaram muito o evento.

Anônimo disse...

Rosangela, toda crítica com contexto ou fora do contexto deve sim ser respondida da melhor forma possível para que haja diálogo entre as partes e que assim possa ser esclarecido alguma coisa.

Seu comentário parece coisa de mulher mal amada. Me desculpe a sinceridade. E me pergunto o que você faz para se sentir com um rei na barriga, deve ser alguma coisa com um cargo muito importante ou deve viver de passado.

Pois acredito que a criticazinha que você se refere foi feito por um jornalista que detem um blog referência para o estado do Acre e que sem dúvida nenhuma é uma boa pessoa e merece respeito e voz. E como eu o conheço, acredito que fez isso para levantar um diálogo sobre o festival varadouro.

E isso mostra que tanto o Altino quanto o pessoal do Festival Varadouro estão prontos para receberem críticas e defenderem seus pontos de vista. E isso ajuda a criar uma massa crítica cultural em nosso estado.

No ano passado o Festival Varadouro mal teve repercursão em nosso estado e hoje vejo uma cena totalmente diferente. E isso se deve a coragem do Altino em fazer a crítica e da sapiencia do pessoal do Varadouro em aceitar, e juntos promoverem a transparência do festival.

Coisa que nos festivais da época do Amapá e dentre outros festivais culturais que andam rolando ultimamente, com certeza não acontecia.

Anônimo disse...

Rosângela, nem sempre, quando você recebe uma crítica precisa aceitá-la. É preciso primeiro refletir sobre ela. Foi coerente? Foi justa? No meu trabalho já recebi críticas das quais não gostei, mas acabei concordando e tentei melhorar. Mas muitas vezes, certas críticas são injustas, fora de propósito, e surgem só para derrubar. Essa deve sim ser rebatida, sempre com argumentos, bons argumentos, como eu acho que fez João Eduardo. E como diz Adaildo, essa não foi uma criticazinha insignificante. Veio de uma pessoa que acompanhou o processo de construção do Festival, que deveria ter entendido seu propósito, e que poderia ter dispensado certas críticas injustas e fora de contexto.

Anônimo disse...

Atenção: 1) sou livre para opinar sobre o que bem entender; 2) desnecessário que alguém se sinta obrigado a assimilar ou contestar a minha opinião; 3) fiquei pagão até aos 20 anos, o que eliminou em mim qualquer possibilidade de conduta fanática; 4) já estou noutra, mas podem, se preferirem, continuar debatendo o festival. Comportem-se!

Anônimo disse...

Por falar em "viver de passado", lembrem do inicio do rock que, até hoje e para sempre continuará maravilhoso.Lembrem os Beatles no "meio passado", quando eram apenas uns garotos de Liverpol procurando falar com suas guitarras. Adoro o que vivi, torço por essa garotada do presente e estou de olho no futuro desejando que também seja bom,como se diz, para os filhos e netos. Viva Varadouro!

Anônimo disse...

Reforço os comentários do João (Porongas).Não é simples o desafio de inserir o Acre no conxto cultural do resto do país, seja ele de que maneira for. Às vezes o que pode parecer absurdo para alguns é, para outros, mais um passo para projetar a cena cultural do Estado.
Eixo independente sim, afinal, lembro que não fazemos parte do "eixo formal" do rock nacional.
Como o Antonio ALves citou, muito mais se gasta, por exemplo, na festa do boi.
Mas, com certeza, muitos devem comentar sobre isso: "mas... muitos vão a expoacre". Com certeza que vão, mas temos de entender, também, que o bombardeio da mídia sobre aspectos ligados a essa "cultura popular" é muito mais intenso que à chamada "cultura da rebeldia", como o rock, por exemplo.
Assim, todo esforço em valorizar e incluir-nos no circuito nacional de eventos ligados ao rock é válido.
Realmente, cada momento é um aprendizado. Para nós, da banda Gogó de Sola foi uma oportunidade de pegarmos mais uma experiencia, um aprendizado.
Realmente não houve um grande público como se esperava, mas, como já citei anteriormente, vamos passo a passo. Temos de aproveitar enquanto o poder publico apoia essas iniciativas pois, como lembramos muito bem, até pouco tempo atrás praticamente não havia no Acre tantos movimentos culturais, seja no rock, seja no teatro, ou em outras expressões culturais.
Cada experiencia é um aprendizado e, para o futuro, com certeza esse festival irá cada vez mais se aprimorando.
Valeu a iniciativa da rapaziada dos Porongas, acho que é por aí.
O que precisamos é reforçar cada vez mais nosso movimento e mostrar que é bom termos os globelezas mostrando-nos para o país mas que também somos capazes de mostrarmo-nos, com nossas próprias caras, a "cara acreana", com nosso jeito acreano de ser.

Anônimo disse...

Para mim o público estava ótimo! Crítica especializada vindo do país inteiro p/ ouvir meu som, na minha casa, foi ótimo! Como diz o Fernando Rosa, o Varadouro é um marco na história da música acreana. Os Porongas, o Altino (q/ escreve bem pra caralho), td mundo tá de parabêns. Quem quizer saber mais sobre a cena musical, a repercussão do Festival, que venha pra perto, ouvir, especular, criticar...É isso aí, quem viver verá!

Anônimo disse...

É isso aí! O que será do Festival se não gerar esse bate-papo? Para mim, crítica especializada do país inteiro, ouvindo meu som, na minha casa, tá de bom tamanho. O público foi ótimo! O que vocês esperavam? Não era o Calcinha Preta que estava lá não. Entre outros colegas era a Kelen Mendes que estava lá e que neguinho pagou R$15,00 paus pra ouvir. É isso mesmo, só porque é daqui não tem valor? Além do mais como o próprio Gerson falou em seu depoimento pra Rolling Stones, o que que o Governo do Acre não paga por aqui? Do tacacá da D. Maria ao Varadouro. Por que não? Legal o que o Altino escreveu, é a visão de quem acompanha de longe, ele tem direito e escreve bem pra Caralho. Legal o que o João escreveu, acho q valorizou muito o Altino mas é porque nós nos amamos... Também tinha que explicar direitinho o que é nossa "festinha". Tem muita gente querendo entrar na festa...mas é isso que movimenta galera! Eu nunca teria entrado nesse blog se não fosse o Varadouro, olha aí o intercÂmbio, que massa! No mais...como essa é a terra do Santo Daime, muita luz, paz e amor. Continuem debatendo que está ótimo!

Anônimo disse...

Essa tal de kelen tambem mamou legal no festival com aquela musica horrível so podia ficar defendendo os organizadores. Papo é esse, moção.