quinta-feira, 26 de outubro de 2006

A BOLA ERA MAIOR

Leila Jalul

Estou esperando você para nosso jantarzinho. Sei que vai ser bom. Afinal, um encontro de gente de qualidade, tem, por consequência, que ser ótimo.

Nos três últimos dias, minha vida como enfermeira-chefe da mamãe foi um terror. Mato qualquer paciente antes do tempo!

Hoje, por volta das 1h40 da madrugada, li "O dono da bola" que a Glória Perez enviou.

Sabe, Altino, quem não tem do que lembrar, lembra do passado. A minha infância foi qualquer coisa beirando o sensacional.

Ninguém, ninguém mesmo, que não compartilhou da minha infância, pode saber da saborosa gargalhada da Dona Adélia, do seu Nilo. Era divinal.

Em redor da fonte, Maria Amélia, Madalena Fares, e outras figuras não menos luminosas, se refestalavam de brincar e se "desculhambavam" todas. Os vestidos rasgados, os laçarotes de fitas desmanchados, os cabelos desgrenhados. Um terror!

Lá vinha Dona Adélia, mulher sem filhos, e ajeitava todas.

- Minhas filhas, o cabelo é a moldura do rosto - ensinava.

Essa frase simples é dita até hoje, mas nunca com a mesma reverência de Dona Adélia. Isso era a melhor demonstração de como cuidar dos filhos dos outros como se seus fossem.

E dizer o que da Dona Eudóxia do Seu Clio Leite? E do Mário Ivo? E da Ila, da Iza? E do seu Bachi com a Dona Antissá? E das meninas Muséia, Sumaia, da Belkkiss, da Zarife, filhas do seu Benjamim Rachid, da menina que não lembro o nome, que era filha do governador Valério Caldas Magalhães. Todas meio doidinhas.

Tenho muito a ver com minha infância. As pessoas dizem que o passado é a única coisa palpável. E é! Minhas melhores paixões foram aquelas dos homens que nunca "relaram" um só dedo em mim.

Os outros, os da vida afora, foram desgastantes, insensíveis. Coisas que faço questão de tirar da memória. A bem da verdade, sem ressentimentos, é bom lembrar do que não se passou.

Meu prezado, não posso deixar de agradecer o fato de me remeter ao blog O Espírito da Coisa, do Toinho Alves. Vou ter o direito de cobrar algumas coisas como, por exemplo, a publicação de velhas e novas poesias inacabadas arquivadas nos velhos cadernos.

O Toinho, fruto do cruzamento de Lindaura e Vieira tem, sem querer querendo, despertado em nós (em mim, pelo menos) a vergonha de não saber dizer, claramente e sem delongas, a verdade dos fatos.

Sei a razão de você ter me chamado a atenção para o texto. Vou votar no Lula, sim, mas de nariz tampado. Afinal, cair na real é o melhor negócio e eu também não sou mulher de votar nulo.

Depois eu continuo. O dever me chama. Vou colocar o almoço da minha velhinha. Mãe é mãe, paca é paca, mulher é tudo vaca!

Antes que esqueça: quando eu conheci o Saulo, a bola era bem maior.

Beijão.

Leila Jalul é poeta e procuradora aposentada da Universidade Federal do Acre.

2 comentários:

Anônimo disse...

Altino, saudades dos dizeres de Leila!
Ela escreve tão bem quanto fala. É uma figura sensacional de se conversar. Conheci-a através do How. Não sei se ainda pinta, mas pintava divinamente bem, assim como escreve. Tenho um livro dela que é sensacional. Lê-la aqui no seu blog é muito, muito bom!

Anônimo disse...

Altino,
Ler-me aqui no seu blog foi mais do que verdadeiramente sensacional.
Quisera eu, pudera eu, escrevesse e pintasse divinamente bem.
Sempre tem gente que gosta da gente. Infelizmente há os que não gostam e são milessimanente numericamente superiores aos que gostam.