segunda-feira, 16 de outubro de 2006

AS ÁRVORES TÊM ALMA

Foster Brown

Na semana passada, em Rio Branco, tive um encontro com o frei Heitor Turrini -na foto, à esquerda, ao lado do frei Paolino Baldassari-, que trocou a Itália pelo Brasil há mais de 50 anos. Veio viver no município de Sena Madureira, no Acre, onde até hoje cumpre seu ministério sagrado nas florestas.


Nos últimos anos, o frei tem ficado cada vez mais preocupado com a destruição da floresta amazônica. Os incêndios florestais do ano passado agravaram a bronquite dele, o que o forçou a buscar tratamento em São Paulo e na Italia nos últimos meses.

Ele já retornou para Sena Madureira e vai continuar a luta por uma vida digna do povo da região e pela conservação da floresta. Em fevereiro, Turrini e Baldassarri escreveram uma carta que foi apresentada no Seminário Estadual sobre Prevenção e Controle de Queimadas no Acre.

A carta forneceu doze sugestões. Algumas, como a criação de conselhos municipais de combate ao fogo, foram implementadas. Outras não, como "havendo as derrubadas e queimadas irregulares, não apenas aplicar multas que não servem para nada, mas tirar a posse da terra por meios legítimos", que surpreenderam e assustaram os particpantes.

Heitor Turrini está pensando em mobilizar uma campanha com a proposta de uma moratória de 10 anos contra derrubadas e queimadas na Amazônia.

No momento, procura pesquisadores que possam apresentar uma base científica para sustentar a defesa da moratória.


Tal base científica seria difícil de justificar há alguns anos. Mas, agora, com a aceleração das mudanças climáticas previstas e a nossa experiência com os incêndios de 2005, creio que existe uma base para estimar alguns dos custos ambientais de um continuado processo de desmatamento e queimadas.

Tudo indica que esta região vai estar sujeita cada vez mais a eventos climáticos extremos. Vamos precisar manter a cobertura florestal num ambiente onde o clima vai ser mais volátil. Fogo neste contexto pode ganhar uma força devastadora, empobrecendo a sociedade e o ambiente juntos.

É dificil dizer não ao frei Heitor Turrini. Assumi o compromisso de contatar colegas cientistas que podem ajudar na elaboração do documento.

Durante a despedida, o frei proferiu duas frases que me deixaram intrigado e ficaram gravadas na minha memória.


- Trilhões de árvores estão sorrindo hoje - afirmou.

Quando o encarei com mais seriedade, Heitor Turrini sorriu e completou:

- Lembra que as árvores têm alma.

Foster Brown é doutor em geoquímica pela Northwestern University (EUA). Desenvolve estudos nas áreas de dinâmica do uso da terra e florestas, gerenciamento e educação relacionados a recursos naturais e mudanças Globais. É pesquisador do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre. Assista ao depoimento de Heitor Turrini em vídeo gravado por Foster Brown.

7 comentários:

Anônimo disse...

E ainda dizem que não existem mais "bandeirantes" no Brasil!! Os freis são verdadeiros bandeirantes defensores de nossas terras e povos indigenas. Saudades dos dois "almas santas da floresta". Bandeirantes no sentido de explorar o lado bom, de preservar e alimentar a alma do povo.

Anônimo disse...

Segundo o Gilberto Braga, o Padre Paolino é um Acreanjo.

Anônimo disse...

Sim, meu amigo, o Frei está certíssimo.
As árvores têm alma e sangram suas dores, não por si, que nada fazem senão servir, mas pela cegueira dos homens que, matando-as, matam toda a esperança de futuro neste pequenino planeta.

beijos e boa semana para você.

Anônimo disse...

Saudações Altino!
Que bom que existe este blog, estás prestando um grande serviço à comunicação e integração do nosso povo. Mesmo eu aqui, no gélido outono nórdico, aqueço a saudade que me dá destas abençoadas terras tropicais, me conectando neste blog. Mas o motivo que me leva a enviar esta mensagem é a ameaça alarmante à nossa preciosa floresta e toda vida que há nela (afinal Alma não é privilégio só das árvores). Leia com atenção este texto e por favor, divulgue e ponha nossos santos freis em contato com a Woods Hole Research Center. Eu mesmo fiz uma tradução rápida, então te mando o original em inglês junto. (P.S. - não converti as medidas, ficaram no padrão norte-americano)

Algo está queimando na Amazônia

Ao menos metade da floresta tropical amazônica já está seca suficiente para virar fumaça, de acordo com um estudo recente de sete anos, conduzido por cientistas com o Woods Hole Research Center, em Massachusetts. De acordo com esta pesquisa, mesmo em seu mais prístino núcleo, a floresta está perigosamente seca e inflamável devido as derrubas e exploração de madeira, à queimadas deliberadas em suas bordas e ao EL Nino.
Em um teste em outubro, cientistas americanos e brasileiros jogaram um fósforo no querosene que tinha sido polvilhado numa pequena área de selva imperturbada na Amazonia oriental. Normalmente, a vegetação molhada não se queimaria, mas esta vez, 300 acres foram acima em chamas. Como parte de sua pesquisa, escavaram também eixos de 35 pés de profundidade no solo argiloso de floresta preservada na Amazônia brasileira, em cinco locais diferentes. Há alguns anos atrás, teriam golpeado depósitos de água nesta profundidade, mas não desta vez.
Esta pesquisa é a primeira dura evidência mostrando que o senário da Indonésia pode logo ser repetido pela Amazônia, levantando o fantasma de um disastre ecological mundial.
Aproximadamente 12% das 2 milhões de milhas quadradas da selva amazônica já se foi, e as queimadas nestes meses recentes tem sido intensas. De acordo com ao menos uma estimativa, se a metade da Amazônia queimasse, 35 bilhões de toneladas de carbono seriam liberadas na atmosfera - o equivalente ao valor de seis anos da emissão mundial de combustível fóssil.
Isto não somente provocaria acúmulo de carbono na atmosfera, também reduziria gravemente a capacidade da floresta de absorver grandes quantidades de dióxido de carbono, um dos gáses que acumulam calor solar e aumentam o aquecimento global.
Visite o seguinte local para mais informações:
Woods Hole Research Center
www.whrc.org
tradução : Txai Fernando

Something's Burnin' in the Amazon

At least half the Amazon rain forest is dry enough to go up in smoke according to a new seven year study conducted by scientists with the Woods Hole Research Center in Massachusetts. According to this research, even at its most pristine core, the rain forest is dangerously dry and flammable due to logging, deliberate burning around its edges and El Nino. In one test in October, American and Brazilian scientists threw a match on kerosene that had been sprinkled in a small parcel of undisturbed jungle in the eastern Amazon. Normally, the wet vegetation wouldn't burn, but this time, 300 acres went up in flames. As part of their research, they also dug 35 foot shafts into the clay soil of unlogged Brazilian rain forest at five different sites. Several years earlier, they had struck water deposits at this depth, but not this time.
The Woods Hole research is the first hard evidence to suggest that the Indonesia scenario may soon be repeated across the Amazon, raising the specter of a worldwide ecological disaster. About 12% of the 2 million square mile Amazon jungle is already gone, and burning in recent months has been intense. According to at least one estimate, if half the Amazon were to burn, 35 billion tons of carbon would be released into the atmosphere - the equivalent of six years' worth of worldwide fossil fuel emissions. Not only would this add to the atmosphere's carbon accumulation, it would seriously reduce the rainforest's capacity to absorb large amounts of carbon dioxide, one of the gases that traps solar heat and is thought to increase global warming.
Visit the following site for more information:
Woods Hole Research Center
www.whrc.org

É essa aí a dura realidade. É hora de ouvirmos a voz destes benditos freis e tomarmos responsabilidade para que estas abençoadas terras acreanas continuem sendo tropicais e nossas irmãs ávores continuem a sorrir...

muito agradecido, sinceramente,
Txai Fernando Oslo, 17.10.06

Anônimo disse...

Apenas um pequeno comentário, a propósito de uma informação no início do texto: a primeira paróquia de Padre Paulino, no Acre, foi Brasiléia, para onde foi designado, logo após sua chegada ao Brasil. Antes disso, apenas uns dias em São Paulo onde avançou seu conhecimento da língua portuguêsa. Muitos anos depois, tendo concluído a igreja que recebera praticamente apenas com os alicerces levantados de seu atencessor, Padre Alberto, Padre Paulino foi para Boca do Acre e, finalmente, fixou-se em Sena Madureira onde permanece até hoje. Em Brasiléia, participou do grupo de professores que iniciou o primeiro curso ginasial do município, na antiga Escola Normal Regional de Brasiléia.

Anônimo disse...

Mário, o Foster, no começo do texto, está se referindo ao Heitor e nao ao Paolino.

Anônimo disse...

diga nao as queimadas vamos preserva a natureza lembre,voce depende dela cuide dela com carinho deus fez somente para nos. pelo o amor de deus,vamos coida do qui enosso poope a natureza. com muito carinho hellenn rocha brone.