sábado, 21 de outubro de 2006

ACRE NA ROLLING STONE

PROJACRE

O Estado mais isolado do país prepara-se para entrar no cotidiano de milhões de brasileiros na nova e milionária minissérie global. Nas ruas cenográficas da capital Rio Branco, ficção e realidade se confundem, enquanto populismo, engajamento ecológico e o rock'n'roll embalam as histórias da terra da borracha




André Vieira


Soldados bolivianos na fortificação às margens do rio Acre, aguardam a ordem para atacar. O calor está insuportável e a maioria dos combatentes está esperando por esse momento, sob o sol a pino, desde a madrugada. Ao grito do comandante, todos, armas em punho, se precipitam em disparada barranco abaixo para conter o inimigo. Nada parece capaz de detê-los. Nem mesmo os gritos de "corta" do diretor Marcos Schechtman. A equipe pára, mas o ataque continua ainda por alguns minutos, com os soldados tomando posições defensivas na beira do rio como se o inimigo realmente estivesse já prestes a cruzá-lo. Os bolivianos da batalha são, na realidade, soldados do exército brasileiro, cedidos pelo quartel próximo como figurantes para a produção. A ironia de um trabalho como esse num momento de tensas relações diplomáticas com o país vizinho não os incomoda. "Talvez seja essa a única guerra de que a gente participe", pondera um dos soldados.

Schechtman, muito querido no set por ser avesso a gritos, desiste de tentar contê-los e aproveita o pequeno intervalo para se reunir com sua equipe e entregar a direção para Pedro Vasconcelos, estrela ascendente no plantel de diretores da Rede Globo, a quem faz abertos elogios por seu trabalho no dia anterior. Pedro vai tocar as filmagens pelo resto do dia. Amanhã, domingo, é folga geral e a maior parte da equipe técnica já está com a cabeça nos embalos do Flutuante, uma barcaça transformada em bar permanentemente ancorada a 50 quilômetros dali, nas águas do Rio Acre, que cortam a capital Rio Branco, onde o forró e o calypso (nome enfeitado para o popular brega paraense) rolam até o sol raiar. A atmosfera sobre as águas costuma ser frenética, com casais suados rodopiando em cada centímetro disponível. À boca pequena, este lugar também é conhecido na cidade como "Putanic". Comenta-se pela capital que a movimentação nos corredores do Hotel Pinheiro, onde se hospeda boa parte da equipe da Globo, costuma ser intensa em noites assim. Madrugada dessas, uma loura misteriosa foi vista vagando nua em busca de uma porta que a acolhesse.

Apesar de a cena contar com 450 figurantes e envolver o uso de explosivos e dublês, fico surpreso com a calma que reina no set. A batalha marca o fim da segunda semana de filmagens de "Amazônia, de Galvez a Chico Mendes", próxima minissérie global da dramaturga acreana Glória Perez, com estréia prevista para 2 de janeiro de 2007. A superprodução está custando a fábula de meio milhão de reais por capítulo, um Big Brother a cada dois dias, R$ 100 mil a mais do que a TV Globo gasta com obras semelhantes.

O folhetim pretende condensar, em 35 capítulos, 100 anos de história acreana, contada a partir dos feitos de seus principais heróis: Luis Galvez, um aventureiro espanhol que, no comando de uma companhia de coristas, tomou o estado das mãos bolivianas e declarou-o uma nação independente; Plácido de Castro, militar gaúcho que liderou a revolução que anexou o Acre definitvamente ao Brasil; e Chico Mendes, o líder seringueiro transformado em ícone ambientalista internacional ao ser assassinado no quintal de sua casa na cidade de Xapuri.

É uma história que, junto com o hino do estado, qualquer acreano que se preze sabe de cor e faz questão de repetir. "Somos o único povo que pegou em armas pelo direito de ser brasileiro" é o bordão que mais ouço pelas ruas de Rio Branco.

Talvez não exista no Brasil povo mais orgulhoso que o acreano. Dizer que moram no fim do mundo é ofendê-los profundamente. "Para a gente o mundo começa é aqui", ouço do historiador Marcos Vinícius, que está auxiliando Glória perez com os detalhes históricos da minissérie. A autora deixou o Acre aos 16 anos para estudar no Rio de Janeiro e passou anos sem visitar o estado. A relação com sua terra foi mantida pelos encontros anuais de expatriados acreanos no Rio, dos quais sempre participou. Levar para a televisão a história do Acre é sonho antigo. "Mas sempre me diziam que filmar na Amazônia era impossível", conta com exclusividade a autora.

Graças à evolução tecnológica dos equipamentos, no entanto, hoje em dia essa impossibilidade não existe mais e, para a realização dos sonhos de Glória, um mini-Projac foi construído numa fazenda a 50 quilômetros da capital acreana. Na cidade cenográfica trabalham 270 pessoas, 150 delas técnicos trazidos do Projac original, no Rio de Janeiro. Suas 13 edificações de madeira certificada reproduzem Puerto Alonso, pouco mais adiante na trama transformada por Galvez em Porto Acre, capital de seu império. A verdadeira Porto Acre está a apenas dez minutos dali. Uma outra locação, mais distante, reproduz um seringal, lar das duas famílias, uma de seringalista e outra de seringueiro, cujo saga conduzirá a trama ao longo da história. A inspiração para esse núcleo ficcional foi tirada por Glória da obra O Seringal, escrita pelo advogado Miguel Jeronymo Ferrante, seu pai.

Por ser ano eleitoral, o apoio dado pelo governo local a "Amazônia, de Galvez a Chico Mendes" é tratado por todos os envolvidos com a maior discrição, para evitar marolas políticas. Sentada na sala de sua casa de frente para a praia de Copacabana, no Rio, onde ainda escreve os capítulos da primeira fase da minissérie, a autora me garante que o estado do Acre se limita a dar apoio logístico. "Sem o governo não se faz minissérie em lugar nenhum", explica. Mas rumores de que a realicação da minissérie está custando fortunas aos cofres públicos voam pelas esquinas da capital acreana. Os boatos são alimentados pela personalidade um tanto iconoclasta daquele a quem muitos acusam de achar-se o quarto grande herói da história do Acre, o governador Jorge Viana. Jorge para o acreanos.

Filiado à Arena no início de sua vida política, Viana foi eleito pelo PT em 1998, aos 39 anos, para governar um estado arruinado e controlado pelo crime organizado. Oito anos depois conta com a aprovação de 83% da população por haver transformado o esquecido fim de mundo no que talvez seja a mais bem-sucedida administração petista no país. Em primeiro de janeiro de 2007 ele passará a faixa de governador a seu vice e ex-secretário de educação, Binho Marques, eleito no primeiro turno.

Nunca havia estado no Acre, mas já rodei muito pela Amazônia. Chegar em Rio Branco foi um choque. Ao contrário do caos e da sujeira que dominam as cidades da região, fui surpreendido por uma cidade limpa, com largas avenidas bem iluminadas e sinalizadas, e serviços públicos funcionando como devem. Dois enormes parques cruzam a capital, com quadras de esporte, conchas acústicas, ciclovias e restaurantes, todos incrivelmente bem cuidados. O centro histórico foi restaurado e parece uma cidade cenográfica. Bem diferente da Rio Branco cuja descrição li nas reportagens sobre a morte de Chico Mendes.

"A cidade pareceia o Líbano depois dos ataques israelenses. O Palácio Rio Branco, sede do governo, tinha goteiras, trepadeiras subindo pela parede e cogumelos crescendo dos carpetes. Era um horror", conta Altino Machado, jornalista autodidata e colega de juventude do governador, cujo weblog, altino.blogspot.com, é o veículo de comunicação mais temido e bem informado do estado.

Ex-correspondente de alguns dos mais importantes jornais do país, Altino acompanhou a nada fácil vida de Viana à frente do governo. Quando o governador quer que alguma notícia repercuta além da imprensa oficial, é para Altino que ele liga, apesar de eventualmente levar uma cutucada de seu blog. Deixando a isenção jornalística de lado, Machado me garante: "O Acre saiu das trevas para a luz".

Engenheiro florestal e um mestre do marketing, Viana adotou para o Acre o apelido de "O Estado da Floresta", simbolizado por uma seringueira, e capitalizou em cima da herança da luta de Chico Mendes para transformar o estado em símbolo-mor do desenvolvimento sustentável. Mais do que consertar o Acre, o governador se dedicou a recuperar a auto-estima dos acreanos. O hino estadual voltou a ser cantado nas escolas, acompanhando o hasteamento da bandeira criada por Galvez para seu país independente e depois adotada pelo estado. História do Acre passou a ser matéria de vestibular e seus heróis passaram a batizar as novas obras que surgiram por toda as partes, graças a parcerias com organismos internacionais entusiasmados em ajudar o governo na preservação. Seringueiros e outros trabalhadores extrativistas ganharam novo status como "os povos da floresta" e passaran a ser romantizados como heróis da acreanidade, assim como os camponeses o foram pela Revolução Russa.

Uma lei de incentivo fiscal e a criação de uma rede de rádio e televisão estatal, a TV e Rádio Aldeia, deram uma oxigenada na vida cultural, favorecendo o surgimento de uma vibrante cena rock que já começa a chegar aos radares do resto do país. Dois teatros bem equipados e festivais regulares promovem todas as manifestações artísticas da acreanidade. Até uma ópera é encenada anualmente louvando as glórias da revolução de Plácido de Castro.

É tanto louvor cívico patrocinado pelo governo local que, às vezes, tem se a impressão de que o Acre é um estado socialista vivendo o auge de sua febre revolucionária. Comento com um amigo do governador que, para completar a utopia, só falta uma estátua de 40 metros do Grande Jorge na recém-reinagurada praça principal. "Se a gente deixar ele constrói", me responde rindo, "criamos o político popstar!". Se os habitantes de Rio Branco são orgulhosos demais pra tietar os globais que passeiam impunemente por suas ruas, mais à vontade de que costume pelo fato de não haver um paparazzi sequer na cidade, o mesmo nào acontece com o governador. "Quando saímos juntos é pra ele que pedem autógrafos", diz o ator José de Abreu, pouco antes de subir ao palco do Teatro dos Autonomistas - mais uma obra da era Jorge - para apresentar sua peça "Fala, Zé", em que faz uma retrospectiva crítica de seu envolvimento com a esquerda desde a adolescênncia. Na platéia, o senador reeleito Tião Viana, irmão de Jorge e outro campeão de popularidade, com 88,76% dos votoso do eleitorado acreano, rola de rir com as cutucadas de Zé de Abreu no politiburo petista, sobretudo em Zé Dirceu e Zé Mentor. Esa reportagem tentou durante dias conversar com Jorge Viana, sem sucesso, O governador estava ora em Brasília, ora no interior do estado, sempre ajudando na campanha de Binho Marques, seu candidato a governador. Quando enfim conseguimos marcar a entrevista, ela foi cancelada na véspera. O tio de Viana, o ex-governador Joaquim Macedo, foi atropelado por uma bicicleta, passou a noite em coma e faleceu. Consequentemente, cancelou todos seus compromissos (inclusive nosso encontro) e decretou luto oficial de três dias. Apesar de insistentes tentativas posteriores, jamais recebemos retorno.

A impressão de se estar numa república soviética, de fato, não está muito longe da realidade. Apesar de ter suas contas em dia e índice zero de inadimpl6encia, o governo do Acre, um estado com 660 mil habitantes, emprega 44 mil funcionários e é, de longe, o maior patrão do estado e principal consumidor de sua praticamente inexistente iniciativa privada. A indústria símbolo do governo, a extrativista, vive à base de subsídios estuduais. somandos-se seringueiros, castanheiros e o funcionalismo estadual aos mais de quatro mil funcionários da prefeitura de Rio Branco, também nas mãos do PT, aos cerca de dez mil ex-soldados da borracha e seus descendentes que recebem pensão do governo federal, aos 18 mil aposentados do campo que recebem um salário mínimo do Funrural e às 40 mil famílias recebedoras do Bolsa Família, é difícil encontrar alguém no Acre que não dependa do governador ou seu partido para viver. Mesmo as iniciativas capitalistas são tomadas pelo estado, que constrói indústrias como uma fábrica de camisinhas feitas com látex das reservas extrativistas para depois sair em busca de parceiros para tocá-las no sistema de concessões. O Acre talvez seja o lugar dos sonhos de muitos petistas que ainda não perderam a fé na revolução. Apesar de a proximidade de Jorge Viana com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deixar muitos em seu partido desconfortáveis, pode-se dizer que [não deu pro datilógrafo copiar] próximo do Eldorado que uma pessoa ainda crente na revolução pode chegar. É a Disney do PT, apesar da vitória local de Geraldo Alckmin sobre Lula no primeiro turno das eleições (51,79% a 42,62% dos votos).

Essa onipresença do "Estado de Jorge" incomoda muita gente. "Se você vai ao teatro é "O Governo do Estado apresenta", vai ao show é a mesma coisa, à festa junina, igual. Até a festa gay é o "Governo do Estado apresenta". A sociedade não faz mais nada", reclama o professor Gerson Rodrigues de Albuquerque, do departamento de história da Universidade Federal do Acre. Apesar de marxista convicto, Albuquerque se assusta com as características totalitárias do governo, manifestadas, sobretudo, na leitura que pretende dar à história do estado, a mesma, diga-se de passagem, da minissérie de Glória Perez. "Como você pode falar de uma lutta patriótica se não existe o Estado? O que houve foi uma luta pelo controle da borracha", afirma, contestando a versão oficial de que o acreano pegou em armas para ser brasileiro. "É muito frágil desmontar tal visão", prossegue Albuquerque. Essa história do Acre como Ilha da Fantasia não existe, as disputas dos coronéis daqui não são diferentes das dos coronëis do Nordeste". E dispara: "A minissérie nào traz o passado como ele foi, mas como é mais conveniente para quem está no poder".

O principal alvo do professor Albuquerque e seus colegas Elder Andrade de Paula e Francisco Bento da Silva é o modelo econômico baseado no extrativismo, supostamente inspirado na luta de Chico Mendes, de quem os três se consideram admiradores. "De 1999 a 2005, a taxa de desmatamento foi próxima ao período de maior desmatamento, que ocorreu durante a ditadura. No ano passado foi caótico. O Acre ficou coberto de fumaça de queimadas. Teve muita gente que morreu por causa de problemas respiratórios. Rio Branco ficou isolada, pois o aeroporto não tinha teto", conta o professor enquanto conversamos numa das salas de seu departamento. "E o governo conseguiu até importar a fumaça. Disse que veio da Bolívia, de Rondônia, de todo lugar, menos daqui", ironiza De Paula.

Os números fornecidos pelo próprio governo mostram que o modelo está longe de ser sustentável. Atrair investimentos têm sido uma tarefa difícil para o estado. O chamado "custo Acre" é muito alto, quase proibitivo. Os acreanos odeiam essa idéia, mas o estado realmente está no fim do mundo. A única estrada que liga Rio Branco ao resto do país foi asfaltada há menos de de 15 anos. Pelo ar, somente a Gol, entre as companhias nacionais, opera linhas regulares para outras capitais do país e o único vôo diário parte no inconveniente horário das duas da manhã. Outra opção é confiar na sorte e encarar o vôo pra Manaus com escala em Porto Velho no único avião a jato, um 737 em fim de carreira comprado da falida Vasp, da temida Rico Linhas Aéreas, mais conhecida na região como Risco. é a Rico que opera também o único vôo entre Rio Branco e a segunda maior cidade do estado, Cruzeiro do Sul, de 66 mil habitantes, onde uma Coca-Cola custa R$ 6. A estrada que liga as duas cidades é transitável por apenas três meses do ano. Na capital, o litro de gasolina chega a custar R$ 3. Até agora, pouquíssimas empresas foram seduzidas pelos generosos benefícios fiscais oferecidos pelo estado. Apesar de o governo Jorge ter quase quadruplicado a arrecadação de impostos, 73% do orçamento do estado ainda vem dos repasses da União.

Os três reclamam de estarem isolados na universidade, onde a maioria dos professores que não têm cargo público prestam consultoria ao governo ou sonham em fazê-lo. Suas críticas também não são bem recebidas pelo governo. Ano passado, albuquerque quis distribuir um panfleto contra o governo durante as comemorações de 7 de setembro e acabou saindo de camburão. Quando foi prestar queixa na delegacia, o oficial de plantão se recusou a registrar a ocorrência. Ao final, ainda cabou processado pelo Estado.

A justiça, aliás, parece ser o foro ondeo o governo de Jorge Viana prefere lidar com os que ousam criticá-lo. "Eles encharcam os opositores de ações judiciais. Não tem um opositor que nào tenha processo", garante Ednei Muniz, articulista do jornal O Rio Branco, o único de oposição. O periódico mantém artilharia permanente contra o governo. "Imagine [ilegível] sem dinheiro na Suiça. Aqui acontecem todas as práticas que acontecem no PT nacional. O governo controla 21 dos 24 deputados da Assembléia Legislativa. Em oito anos, apenas uma CPI foi aprovada, sobre os limites territoriais do estado. Há uma série de escândalos de corrupção que não chegam à tona", afirma Narciso Júnior, diretor do jornal e filho de Narciso Mendes, um dos principais deputados de oposição, não reeleito neste ano. Não é surpresa que O Rio Branco dê tratamento mais brando aos opositores do governo. Neutralidade jornalística não é um conceito popular na imprensa local. Ou se está com Jorge Viana, ou contra ele. Se o jornal de narciso Júnior está contra, seus quatro competidores em circulação na capital conseguem, por sua vez, ser mais situacionistas que o Diário Oficial.

Bom ou mal, Jorge Viana é, sem dúvida, um estrategista brilhante, que sabe passar para seu eleitorado uma imagem simpática e otimista, para o desespero da oposição. De governador pol6emio de um estado periférico, ele soube se transformar, junto com seu irmão Tião Viana, em uma das principais lideranças do PT nacional, cotadíssimo para um ministério num eventual segundo governo Lula. Com exceção dos seus opositores mais virulentos, não há quem não reconheça em sua pessoa um administrador obsessivo e incansável, mesmo que [ilegível] sua própria imagem.

No primeiro dia de 2007, sua missão a frente do estado termina. No dia seguinte. estréia a minissérie de Glória Perez, que conta a história do Acre, segundo a historiografia oficial, até a morte de Chico Mendes, período que marcou o início de Viana na vida pública. Vai caber ao eleitorado acreano, que deve parar o estado para assistir ao folhetim televisivo, decidir qual papel dará a Jorge em sua versão da história.


ACRE'N'ROLL


Com o apoio do governo e na base do improviso, a prolífica cena roqueira de Rio Branco rompe as barreiras regionais do isolamento

Pois é, existe, e a cena está conquistando seu espaço, como descobriram recentemente os vizinhos de Armando Pompermeier. Na sala da pequena e abafada casa de dois cômodos que divide com a namorada Bruna no Conjunto Tucumã, bairro pobre da periferia de Rio Branco, Armando e uns amigos começavam a parir a coletânea "Diversidade Coletiva", um quem é quem da cena alternativa acreana. REunir a galera e o equipamento já tinha sido uma conquista. O dinheiro para comprar a bateria coletiva foi conseguido reciclando latinhas. Uma guitarra foi trocada pela televisão da irmà de Armando, sem ela sabe, outra foi emprestada, assim como os baixos. O programa de gravação, um primitivo Audacity, foi baixado da inernet. O microfone, de karaokê, foi emprestado pelo DCE da universidade e, na falta de mesa de som, foi equalizado num pedal de guitarra. Mas a mobilização não sensibilizou o bairro, masi acostumado a forró brega, e a gravação foi obrigada a ser interrompdia pela chegada da polícia.

Poucos meses depois estou sentado na mesma casa abafada, dessa vez no outro cômo, o quarto, ouvindo o resultado com Armando e alguns amigos. O acordo com o vizinhos que o livrou da cadeia impede novas empreitadas semelhantes e limita o volume em que ouvimos o som. A maioria das bandas faz um punk tosco, com letras não muito elaboradas, mas algumas se destacam pela sonoridade mais melódica, como a Acon, de Armando. "o que une a gente é o tédio. Rio Branco fica no meio da selva, mas a gente tem uma vida urbana. Não nos identificamos com aquela música de violão falando de seringueira", conta Armando. "Eu nunca fui num seringal!", completa entre um gole e outro de pinga com Fanta laranja.

Uma das grandes características da nova cena roqueira acreana é seu feroz anti-regionalismo, uma reação ao fato de acharem que no resto do Brasil pensam que são todos índios. Algumas comunidades no Orkut chegam até a questionar a existência do estado. "A gente se acha acreano, a gente ama esse lugar, mas a gente faz música universal", me garante Aarão Prado, vocalista do Camundogs, dentro do estúdio da Rádio Aldeia, mantida pelo governo do estado, onde apresenta um programa de rock.

Por muito tempo a cena acreana viveu, como o próprio estado, isolada do resto do mundo, realmente fazendo o que Aarão chama de "tambaqui music", mas com a internet a situaçào mudou. "A gente tá ouvindo as mesmas coisas que lá fora", me diz. E também começando a ser ouvidos lá fora.

A primeira banda local a romper as barreiras regionais foi o Los Porongas, que depois de uma turnê por Sào Paulo e Rio, já começa a ser tratada pela imprensa como revelação do rock nacional. O Camundogs, de Aarão, tem um som mais pop, inspirado no rock brasileiro dos 80, e já começa a trilhar o mesmo caminho. Junto com os Porongas, são eles os maiores agitadores da cena local.

A vida noturna de Rio Branco se resume a alguns poucos botecos e um número menor ainda de casas noturnas que, quando abrem espaço para música ao vivo, é para grupos de forró e brega. Sem ter onde tocar, as bandas são obrigadas a se virar. Diversos festivais promovidos pelas próprias bandas formam um calendário rock razoável na capital, atraindo públicos de até 500 pessoas.

Parece ser impossível falar do Acre sem falar do onipresente governador Jorge Viana, mas um dos grandes incentivos da cena é uma política de apoio cultural do governo do estado, seja diretamente por meio de sua fundação de cultura, seja de leis de isenção fiscal. É graças a esses incentivos que sorevive o único selo de rock do estado, o Catraia, que mantém um estúdio comunitário e gravou o primeiro álbum dos Porongas. O programa de Aarão na Rádio Aldeia também oferece às bandas locais um privilégio acessível a poucas bandas independentes no Brasil, tocar no rádio.

O envolvimento do estado com a cena é polêmico e provoca racha no meio. "Tem um pessoal que tem sempre uma infraestrutura à disposição e tem outros que nunca têm, que somos nós", reclama Armando, do Aeon, que crê que as bandas de sua cena, a maioria de origem pobre e autoproclamada anarquista, são discriminadas pelas verbas públicas. Apesar disso, as cenas se misturam e não existe rivalidade entre elas. "mas também não somos uma família".

O pessoal a que ele se refere são as bandas que se reúnem no estúdio Catraia, a maioria formada por músicos de classe média, alguns trabalhando para o governo - inevitável num estado em que o governo é praticamente o único empregador.

É no Catraia, improvisado em metade da casa de Karla Martins, uma das sócias do selo e funcionária de fundação de cultura, que a cena mais pop se reúne pra ensaiar. A promiscuidade entre as bandas é grande, todo mundo toca com todo mundo. Apesar das divergências políticas e sociais, bandas oriundas da cena mais alternativa, como Nicles e Mamelucos, são habituês por ali. A Nicles, que faz uma mistura de Nirvana e Pixies com Joy Division, por sinal, é apontada por Diogo, vocalista dos Porongas, como a provável sucessora de sua banda na cena nacional, apesar de fazerem sons completamente diferentes, e já está na fila, junto com o Mamelucos, com um som puxado para o blues, par ter um álbum lançado pelo selo Catraia.

Mas uma das bandas mais interessantes da cena acreana, a Caricatos, talvez nunca seja conhecida fora do círculo de frequentadores do estúdio. A banda tem nos vocais Carol Freitas, uma mistura de Cássia Eller com Vanessa da Mata, a melhor coisa que ouvi no Acre, tanto por sua voz incrível como pelo carisma ao cantar. Só que CArol, assim como Daniel Zen, seu baixista, também sócio do selo Catraia e considerado a consciência crítica da cena, se vê como uma agitadora de bastidores, mais preocupada em fazer o rock acreano brilhar do que em brilhar ela própria. A banda é apenas um hobby, um pretexto para poder tocar com os amigos espalhados por outras bandas.

A grande apoteose do rock acreano, no entanto, não divide cenas. É o Festival Varadouro, que acontece na semana que esta revista chega às bancas, reunindo oito bandas locais e oito convidados de outros estados, e faz parte do Circutio Fora do Eixo de Música Independente, que também também inclui o Abril Pro Rock, de REcife, e o Porão do Rock, na capital federal. Foi em sua primeira edição que o Los Porongas iniciou sua jornada para a cna nacional, descoberto pelos produtores e jornalistas presentes. Nessa segunda edição do festival os produtores se preocuparam em incluir representantes de todas as tribos do rock acreano, inclusive um da também forte cena metaleira, a banda de dull metal (é assim mesmo que escreve?) Auttreyd.

André Vieira é fotojornalista. Cobriu a guerra contra o regime Talibã no Afeganistão para a revista Newsweek, em 2001, e colabora com publicações como New York Times, Los Angeles Times, L'Express e National Geographic. "Datilografei" o texto a partir de fotos das quatro páginas da revista, que foram tiradas e enviadas por Francisco Grangeiro, leitor do blog em Brasília.

20 comentários:

Anônimo disse...

O que importa os comentários que não interessam? O que importa são os fatos e comentários de que o nosso ACRE estará sendo visto e falado em sua história magnífica e desconhecida da maioria dos brasileiros.

Anônimo disse...

"A primeira banda local a romper as barreiras regionais foi o Los Porongas, que depois de uma turnê por Sào Paulo e Rio, já começa a ser tratada pela imprensa como revelação do rock nacional."

Comentando com meu filho a passagem acima, falei que era resultado ou da preguiça ou preconceito do repórter. Meu filho cobrou-me: e o que tem isso a ver com atitude preconceituosa?

Muito simples, o repórter apóia-se na idéia de que, como resultado do que faz Jorge Viana, o Acre chega ao "mundo" agora. É como dizer, agora que as coisas começam a acontecer, nesse fim de mundo nada acontecia antes disso. E quebrou a cara: há coisa de uns trinta anos atrás, o Acre, mais precisamente Rio Branco, contou com duas bandas que circularam pelo país: Os Bárbaros e os Mugs. Nelas alguns músicos de excelente nível como Fernando Galo, Eduardo Saadi, Elisio e Eduardo Mansour, entre outros.

Anônimo disse...

Gostei muito da matéria, como gosto deste blog, para saber mais sobre o Acre que, realmente, fica muito longe do Espírito Santo, mas tem uma história muito interessante, com diversos lados, como todas as histórias...

Anônimo disse...

Acho ótimo que a garotada da cidade possa sentir que faz parte do mundo ao cruzar pelas ruas com os atores da rede globo...Eu vi gente que nunca, nunca foi ao teatro, como uma vizinha, sair de casa cheia de empolgação para ver José de Abreu no Teatrão. Acho também que o Acre é a pátria da megalomania. Nosso governador, por exemplo, tem algo de Augusto. Ele faz o que quer. A sua vontade própria se imprime, corta e recorta a memória da cidade a seu bel prazer.Passa por cima como um trator de esteira. Para os dele "tudo", para os opositores "nada". Por isso o intelectual que o ajudou a subir ao poder e hoje está desgostoso melhor se recolher a sua insignificância, porque ele não está nem aí, além disso, o povo do Acre não sabe nem onde fica o próprio Acre, muito menos a Rússia.Melhor deixar o povo feliz com a minisserie que está capitalizando quem já era capitalizado. Fátima Almeida....

Anônimo disse...

Caro, Altino


Antes de tudo, quero parabenizá-lo pelo seu blog, pois é por ele que mato a saudade da minha terra, já que estou exilado em porto velho, desde quando fui arrancado de minha terra - Rio Branco - na adolescência pelos meus pais. Adoro minha terra e Jorge, Tião, Binho, Marina e tantos outros companheiros, que apesar de não serem perfeitos dão o melhor pelo nosso Acre.
Quanto a reportagem da revista discordo de ser a nossa terra a mais afastada, acho que o Amazonas e sua capital é até mais, Amapá idem e Roraima nem se fala...
E também é uma pena que o réporter tenha se desinformado com os "narcisos" - há uma história, não sei se fictícia ou não - que Narciso pai declarou ser corrupto e corruptor,mas deixemos prá lá o povo acreano deu um recado nas urnas.
E quanto ao historiador, há eu conheço a retórica desse povo, fiz o curso de história na UFRO. A mania de Historiador é dizer que não existiu, nem a história, nem o personagem, mas no nosso caso eles só podem colocar em dúvida o primeiro. Não somo bobos também em não acreditar que toda história contada tem algo de romance. A história, história mesmo só aquela acontecida no tempo e espaço.
Ufa, falei demais, Altino.Um dia eu volto para minha terra. Estou pensando até em aceitar uma proposta de emprego em que eu ganho menos, só para poder estar aí e contribuir para o bem de minha terra.

José Emerson Costa

Anônimo disse...

Caro, Altino


Antes de tudo, quero parabenizá-lo pelo seu blog, pois é por ele que mato a saudade da minha terra, já que estou exilado em porto velho, desde quando fui arrancado de minha terra - Rio Branco - na adolescência pelos meus pais. Adoro minha terra e Jorge, Tião, Binho, Marina e tantos outros companheiros, que apesar de não serem perfeitos dão o melhor pelo nosso Acre.
Quanto a reportagem da revista discordo de ser a nossa terra a mais afastada, acho que o Amazonas e sua capital é até mais, Amapá idem e Roraima nem se fala...
E também é uma pena que o réporter tenha se desinformado com os "narcisos" - há uma história, não sei se fictícia ou não - que Narciso pai declarou ser corrupto e corruptor,mas deixemos prá lá o povo acreano deu um recado nas urnas.
E quanto ao historiador, há eu conheço a retórica desse povo, fiz o curso de história na UFRO. A mania de Historiador é dizer que não existiu, nem a história, nem o personagem, mas no nosso caso eles só podem colocar em dúvida o primeiro. Não somo bobos também em não acreditar que toda história contada tem algo de romance. A história, história mesmo só aquela acontecida no tempo e espaço.
Ufa, falei demais, Altino.Um dia eu volto para minha terra. Estou pensando até em aceitar uma proposta de emprego em que eu ganho menos, só para poder estar aí e contribuir para o bem de minha terra.

José Emerson Costa

Anônimo disse...

Que bom ouvir uma voz de fora.

Mas serah que Vieira nao falou mesmo com Jorge Viana? Altino, no seu blog vc escreveu que ele tirou um dia para acompanhar o governador...

Obrigado por disponibilizar o artigo.

Anônimo disse...

Matthew, ele tirou um dia pra falar com o governador. Porém, no dia, faleceu o ex-governador Joaquim Macedo, tio do Jorge. Vieira conta isso na reportagem. Apareça!

Anônimo disse...

Altino, boa noite.

Que beleza de matéria!
É o Acre se mostrando neste mundão, com todas as suas histórias florestais, com sua beleza e seu povo maravilhoso que aprendi a amar aqui neste blog.

beijos e boa semana para você.

Anônimo disse...

Mário, não é preguiça do repórter. É que os Mugs e os Bárbaros, de quem meu pai falava muito bem e que realmente contava com excelentes músicos, eram bandas covers, ou seja, não tinham produção autoral. O repórter se refere a artistas que produzem músicas próprias, e, nesse universo, os Los Porongas são de fatos os primeiros a ganhar repercussão nacional

Anônimo disse...

Huummmm, sei.

Anônimo disse...

No ano de 1996, mais precisamente domingo 17 de novembro de 1996, o jornal "O Liberal" de Americana-SP trazia a seguinte manchete: Rock prevalece na final de hoje do FECA (Festival Estudantil da Canção). Na reportagem da página 5 do jornal tem uma foto da extinta Ethos Tribal, acima a manchete: "Melhores do FECA serão conhecidos hoje", abaixo da foto: "Ethos Tribal", do Acre, está na finalíssima deste domingo.

O jornal a tribuna, (sexta-feira, 22 de novembro de 1996) daqui de Rio Branco, trouxe a seguinte manchete, "Rock acreano faz festa em São Paulo".
Competindo com 123 bandas de todo o Brasil e com 369 músicas, na cidade de Americana/SP, a banda de rock acreana "ETHOS TRIBAL" ficou com o 7º lugar geral no X Festival Estudantil da Canção. Os meninos do Acre, que há cinco anos trabalham juntos, ficaram surpresos com o resultado, já que a participação no festival era encarada apenas como mais uma experiência.

Pena não ter nenhuma versão desses jornais na internet, por ser muito antigo, tenho apenas versões impressa e algumas informações no site http://www.cys.mus.br/especial_metal-acre.htm
Assim como o Mário, também acho que o repórter foi infeliz, deveria se informar melhor, pois além da Ethos, deve ter mais bandas que já alcançaram algumas façanhas à nível nacional.
Nada contra os Los Porongas que tem sim seus méritos e realmente rompeu as barreiras nacionais, mas é que essa informação sairá distorcida, Los Porongas não foram os primeiros. 


OBS: O festival exigia material próprio das bandas, ou seja, músicas próprias para poder participar. Não sei se é por ironia, mas umas das músicas da Ethos Tribal chamava-se “Cross the Sky”, ou seja, “cruzando o céu”, falando em romper barreiras...

Anônimo disse...

Na lógica do argumento do Daniel Zen, teríamos de considerar, então, o Osmeth Duque (não lembro a grafia do nome, essa é chute). Osmeth teve uma música gravada pelo Waldick Soriano, na época uma estrela de primeira grandeza do mundo brega. Ou seja, a música foi tocada pra burro por esse Brasil afora!

Anônimo disse...

É, realmente, a música acreana, autoral e de qualidade, há muito já ultrapassou as fronteiras do norte brasileiro. Seria necessário ao repórter obter mais informações acerca da cena cultural acreana, que já existia bem antes de nos carimbarem com o "selo da floresta".

Anônimo disse...

Tenho 21 anos e infelizmente não conheço muito do passado musical acreano. Mas há pelo menos 6 anos acompanho tudo que sai na imprensa nacional sobre música, inclusive em grandes veículos especializados, como a Revista da MTV, Folha Teen, Bizz, etc. E posso dizer que, pela primeira vez, vejo uma banda acreana sendo reconhecida nacionalmente, e ganhando destaque nesses veículos. E isso parece ser só o começo. Talvez esteja sendo injusto, mas o que me parece é que nenhuma das bandas que foram citadas aqui chegaram tão longe quanto o Los Porongas, o que não tira seus méritos, mas estabelece uma diferença entre elas. Não é papo de fã, é puro reconhecimento. Quanto ao comentário do Mario, acho que não faz sentido fazer uma comparação com um cantor de música brega, uma vez que a matéria da Rolling Stone faz referência à um único estilo musical, o rock.

Anônimo disse...

Tá bem, meu caro Thiago Fialho. Vamos ficar no cenário do rock: Edu, Fernando Galo, Elísio tinham composições também. Porque parece teremos de ficar nisso: compunha ou só tocava dos outros? E sem essa de banco cover. Bárbaros e Mugs não eram isso. E, tenho certeza, cometeram suas composições, sim. Fora disso, existem outras experiências também na área 'pop', como fala a matéria. O filho do Osmir Lima andou gravando alguns - ou algum, não sei - discos numa tentativa de construir uma carreira como roqueiro. E se falava em composições dele. Quiséssemos aprofundar o assunto, ainda teríamos de conversar com Sonia Mubárac. Não tenho certeza, mas parece que ela andou tocando uma carreira pelo sudeste e tenho notícias de que, também, compunha - ou compõe - no que se diz ser essa versão de world music ou pop, sei lá.

Na época dos Bárbaros e Mugs os canais de TV eram locais e não existia essa enorme profusão de canais especializados como hoje. Também não exitia o número atual de publicações dedicadas, como hoje. Mas, mesmo assim, você poderia passar com o Elísio e ele terá alguma material jornalistico o giro deles. Certamente, não receberam o reconhecimento nacional a ponto de gravar numa grande gravadora, ser solicitados para os canais mais importantes de tv, etc. etc, mas...

O problema maior dessas reportagens, caro Thiago, e este é o foco do meu comentário, é que repórteres chegam numa localidade, com verba curta e muito pouco tempo, e já começam a falar de História. Por quê o Altino é tão paparicado pelos jornalistas que transitam pelo Acre? Certamente não será para experimentar o cigarro de fumo forte sobre o qual ele vive falando. É que o Altino, além de ser da região, tem longo tempo de trabalho como jornalista, logo, detentor de um acervo invejável. Teria fonte melhor? Consulta ao Elson Martins sobre o cerco que ele sofre diariamente de jornalistas de outras regiões? Enquanto matéria sobre o evento Varadouro, essa da Rolling Stone tudo bem. A principal fonte são as bandas da atualidade mesmo. Mas é muito pouco para começar a falar de História. Começar a dar pitaco em assuntos históricos exige coberturas mais estruturadas, mais amplas do que uma conversa de fim de tarde com um ou outro personagem da atualidade.

Nos últimos tempos, a História Regional começou a enfrentar um processo terrível de perda ou transformação de conteúdos. Levantamentos apressados, mal conduzidos, preconceituosos ou mesmo mal intencionados geram resultados muito perversos para a realidade regional. Isso é o que, na maioria das vezes, incomoda e nos leva a interferir num debate que, na aparência, é da maior "inocência" ou sem nenhuma importância.

Anônimo disse...

É Txai: o Acre tá virando assunto de gente grande e isto tá criando um clima meio barra pesada...(Será que algum Trotsky destas plagas soviéticas vai ser fuzilado em breve?).

Mas o que mais me impressiona - e que queria muito um comentário do nosso querido Txai Terri, ou do meu querido mestre Mauro Almeida - é que se fala, fala, fala do Acre....e o "deep Acre" que é o Acre dos verdadeiros seringueiros (aqueles que moram no Alto Tejo, afluente do Juruá lá onde o Padre José perdeu as botas), os Acre dos Huni Kui, dos Ashaninka e das 14 etnias desta meialua, nunca dão as caras, ou melhor, nunca saem na foto. É a velha classe média auto-recursiva e etnocêntrica se mestigando neste canto de mundo, sem buscar nas cabeceiras o sentido da alma deste povo tão guerreiro (como guerreiro é o povo brasileiro que vai votar no LULA neste fim-de-semana)...

Salve, salve os pajés desta Terra que estão todos morrendo...

Abraços.

Alexandre Goulart de Andrade

Anônimo disse...

Seu blog é ótimo.

Agora me desculpa, mas essa reportagem está horrível, tão profunda quanto um pires. Ele realmente deve cobrir guerras e coisas do tipo... Mortos não podem ler e reclamar rs.

Anônimo disse...

Caro Altino, sou jornalista e moro em São Paulo. Soube a respeito de seu prestigiado blog por intermédio da Rolling Stone, nesta matéria que retrata a cena roqueira de Rio Branco. Não vou entrar no mérito das questões históricas citadas pelo repórter, pois já vi pelos comentários que o texto gerou polêmica. O fato é que o lado musical despertou a minha curiosidade. Como autor de um modesto blog que fala sobre rock brasileiro, gostaria de saber se os amigos aqui podem me ajudar a falar com o pessoal dessas bandas citadas na revista. Tentei baixar qualquer coisa na internet mas não tive sorte. Alguém aí me ajuda? Abraço paulistano aos amigos acreanos.
Arnaldo

Anônimo disse...

Arnaldo,

faça contato com Diogo Soares (diogo.soares@ac.trf1.gov.br) ou acesse o site www.festivalvaradouro.com.br. Abraço